Acadêmica Ludmila Kloczak
Caros confrades, confreiras, convidados e visitantes,
Bem- vindos à reunião da Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina
As pessoas vivem em seus bairros e cuidam das suas vidas anônimas, interessadas em construir a sua história. Passam umas ao lado das outras, asseguradas do seu sentimento de pertença ao grupo, à comunidade. Essa experiência diária, quase imperceptível, não racionalizada, em parte, inconsciente, mantém os elos do convívio e fortalece uma harmonia interna com o agrupamento mais próximo, com a Nação e com o Universo. Até que a casa do vizinho desaba. As pessoas são sacudidas na sua rotina e passam a se perguntar – Quem é? Como é o vizinho que jaz sob os escombros? Não havia necessidade de conhecer a identidade ou a história daquele vizinho. Ao desabar a casa, foi necessário identificar e personificar esse vizinho.
É uma longa história. Vou tentar oferecer seus traços mais relevantes. Vamos começar pelo nome, que sintetiza sua história: Ucrânia – Ucraína. É o que está na margem, nos confins, na fronteira. Terreno plano, fértil, fácil de ser colonizado, sem defesas naturais contra invasores. Aparentemente, o registro deste nome começou a surgir em crônicas, a partir do ano de 1187.
As tribos eslavas que circulavam pela região alcançaram ao nordeste as terras fino-úgricas, até o rio Oka e o alto Volga; ao oeste alcançaram o rio Elba, ao norte da atual Alemanha; entretanto, a concentração mais populosa de assentamentos deu-se ao sul, devido as terras férteis dos Balcãs, clima mais ameno e as ricas cidades na orla do mar Negro. A língua eslava original, no século VI, já se subdividia em três grupos consistentes: o eslavo ocidental, que resultou no polonês, tcheco e eslovaco; o eslavo do sul, que resultou no búlgaro, macedônio e o servo-croata; o eslavo oriental, do qual surgiram o ucraniano, bielo-russo e o russo.
Há três versões para a fundação do principado de Kiev . Não vou me ater aos detalhes das diversas versões. O destaque fundamental é que as várias tribos, tendo à frente, os polianos, tribo eslava mais organizada e numerosa que ocupava toda a vasta planície central da região que, mais tarde, foi denominada Ucrânia, viviam em permanente disputa de território e de bens. Diga-se de passagem, que fazia parte do mundo medieval, atacar e pilhar aldeias das tribos vizinhas.
Quando os normandos ou vikings ou varangios, denominações dos povos escandinavos que circulavam pelos rios Oka, Volga e Dnieper para comercializar com o Bizâncio, e sua capital Constantinopla ou Tsarhorod, como era mais conhecida entre os eslavos, decidiram se fixar às margens do rio Dnieper, nos inícios do século IX, fortificar seu assentamento e criar as bases para o seu principado, beneficiaram toda a vasta região e seus habitantes. Os escandinavos que ocuparam essa região, pertenciam à tribo denominada Rus (pronunciava-se Rush). Assim, criaram o principado de Kievo Rus. A família ou o clã que havia, anteriormente, fundado o assentamento de Novhorod, mais a noroeste, e se deslocado a sudeste para Kiev, chamava-se Riurik. A aliança deste povo com os eslavos foi bem-vinda. De fato, até meados do século X, todos os príncipes do então florescente principado de Kievo Rus, possuíam nomes de origem escandinava.
Não vou resistir a contar a encantadora lenda que retrata as origens de Kiev (Keiv). A cidade teria sido fundada por Key, na companhia de seus irmãos Khoriv e Shchek, e sua irmã, Lebed (cisne, em ucraniano – metáfora do amor, pela extrema fidelidade do casal, cuja união nem a morte separa: se um morre, o outro se suicida). Os irmãos teriam vindo num grande barco, aportado num lugar aprazível e seguro, transformando-o na sua morada. Assim, aos poucos, deitaram as raízes do que viria a ser o principado de Kievo Rus, a primeira, mais importante e significativa civilização eslava no centro da Europa medieval.
Entre os marcos históricos, temos que a cristianização oficial foi conduzida pelo príncipe Volodimyr I, em 988, quando a população da cidade e, ele próprio, foram batizados no rio Dnieper.
Seu filho Yaroslav I, o Sábio, governou entre os anos de 1019 a 1054 e alcançou o auge do esplendor kievano. Talvez o feito mais importante do seu governo, e daí o reconhecimento de sua sabedoria, foi a outorga da “Ruska Pravda”, a primeira constituição em terras eslavas, um código de leis que orientava desde a vida comunitária, até o comércio, a política e a continuidade da dinastia, com suas regras de sucessão. Um fato interessante é que sua filha, Anna, que celebrou núpcias com o rei da França, Henrique II, tornou-se regente do trono francês durante a minoridade do seu filho Felipe.
Sua visão de uma grandeza estatal e poder político e econômico resultantes da unidade em torno de um governo forte e bem estruturado, não foi herdada pelos seus sucessores, os quais puseram a perder pelos seguintes sessenta anos, um enorme estado que já fora rico e poderoso.
Somente em 1113, assume o trono do grão principado a convite do povo kievano, o neto de Yaroslav I, príncipe de Novgorod, Volodimir Monomach, cuja mãe, Anna Monomach, era irmã do imperador bizantino. Sob seu governo foram recuperadas três quartos das terras do antigo principado de Kievo Rus. Consegue pacificar e integrar os outros príncipes de modo a estabelecer relativa calma em todo o território. Amplia a “Ruska Pravda”, e adapta-a aos novos tempos. Sua obra “Conselhos aos Filhos” possui um profundo sentido moral, senso de justiça e humanismo. Dentre várias observações de cunho prático e filosóficas, exorta seus filhos a serem cuidadosos ao julgar ‘o mais simples camponês ou a mais pobre viúva’ de modo que estes nunca fossem injustiçados. Deveriam ser respeitosos com os estrangeiros e os comerciantes porque ambos ‘divulgariam ao mundo as boas e as más qualidades’ do governante e de seu país. Casa-se com Guita, filha do rei inglês, Harold II.
Integrado ao grão-principado Kievo Rus, nas densas florestas e pântanos entre os rios Volga e Oka, situava-se o principado de Rostov-Suzdal. Habitado, originariamente, pelas tribos fino-úgricas, que resistiram muito à colonização dos eslavos. Eram refratários às influências colonizadoras que vinham do sul e sudeste, bem como, do restante da Europa.
O príncipe Monomach designou este principado ao seu filho ilegítimo, tido com uma mulher Kuman, enviando-o ainda criança para ocupa-lo. Yuriy Dovgorukei (Mão Comprida) foi, talvez, um dos primeiros príncipes a se fixar na Suzdália e administrar com competência seu principado. Seu desejo de apropriar-se das terras do sul e sentar no trono kievano revela-se no uso deliberado de uma solução engenhosa político administrativa, de fundar povoados com os nomes das cidades do principado de Kiev, como a recriar e rivalizar com Kievo Rus, no seu principado de Rostov-Suzdal. Deve-se a ele a fundação de Moscou, em 1147, às margens do rio Móskva.
Seu filho, Andrei Bogoliubskei (que ama a Deus), completamente desinteressado da história e tradições kievanas, organiza e define a orientação política autocrática que, doravante, marcará os destinos do principado de Rostov-Suzdal, da cidade de Vladimir, mais tarde, incorporados ao Grão-principado de Moscou. Desgostoso com a possível competição que Kiev pudesse ainda lhe fazer e, quem sabe, desejoso de apagar do mapa, os traços de uma cidade que rivalizasse, mesmo em lembrança com a sua Vladimir, invadiu-a em 1169 e promoveu a maior pilhagem que esta cidade já havia conhecido. Não pretendia ocupar o trono. Melhor seria que estivesse vago e inexpressivo, o que possibilitaria maior liberdade para prosseguir o seu próprio caminho. Qualquer semelhança com o que ocorre hoje, não é mera coincidência.
Gostaria de acrescentar que, ao atravessar os rios gelados no inverno de 1240, cercar a cidade de Kiev e conquistá-la, os mongóis encontraram o espectro de um Estado que já se transformara em história e lenda.
Grupo Vocal "Entre Nós" *
Clique em cada link abaixo para assistir
> "Arrastão" (Vinicius de Moraes e Edu Lobo)
> "O Circo Místico" (Chico Buarque e Edu Lobo)
* Fundado em 2010, o “Grupo Vocal Entre Nós” é formado, em sua maioria, por alunos e ex-alunos do curso de música da Universidade Estadual de Londrina - UEL. O grupo conta com quinze músicos, sendo quatorze cantores e um pianista. Hoje, o grupo é coordenado por Monique Kodama - Especialista em Regência e participante do grupo desde sua formação. Em sua formação inicial, o grupo tinha como objetivo somente o estudo e interpretação de arranjos vocais, com destaque para nomes importantes da área, como Marcos Leite, Pablo Trindade e Celso Branco. Em 2014, após alguns anos trabalhando somente com o trabalho vocal, o grupo passou a realizar uma proposta interdisciplinar, integrando música e teatro em seus espetáculos que, além de enriquecer o trabalho, agregou um novo público.
Contando um conto
"Marlene e a Pandemia"
Acadêmico Julio Ernesto Bahr *
O conto "Marlene e a Pandemia", de sua autoria, mostra duas situações que se entrelaçam: a fragilidade sentimental de uma mulher (Marlene) e a malandragem urdida por um homem. Já na meia idade, ela busca através de um site de relacionamentos algum companheiro para preencher o vazio da sua vida.
O escolhido foi Richard, que é convidado para morar em sua casa no auge da pandemia do Coronavírus.
Richard, vigarista de carteirinha, manipulador e controlador, aproveita-se do pânico que a pandemia provocou em Marlene e aplica-lhe um golpe - sua intenção desde o início - apropriando-se de todos os bens e posses da companheira.
* Paulistano, é londrinense desde 2004. Publicitário, atuou nas áreas de criação, redação e design gráfico. É articulista, contista e blogueiro. Recebeu vários prêmios literários e tem contos publicados em antologias. Publicou os livros de contos, "Encontro na barca... e outras histórias de bahr" e "Tia Belinha e a grande cartada... e novas histórias de bahr", ambos patrocinados pelo PROMIC - Programa Municipal de Incentivo à Cultura, de Londrina.
Escreveu também o E-book "Criações Gráficas nos Tempos Pré-Computador" (disponível no site da Amazon).
Dois novos livros aguardam impressão gráfica.
Criou os blogs "Bahr-Baridades", "Visual de Londrina" (denunciando a poluição visual na cidade e que foi o estopim para a decretação da Lei Cidade Limpa), "Conversas de bahr em bahr" e "Publicidade, prazer em conhecer", os dois últimos ativos na rede mundial.
Nenhum comentário:
Postar um comentário