Extratos da nossa reunião virtual de 09/08/2020

A Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina não poderia deixar de realizar seus encontros culturais mensais. Assim, foi realizada a primeira reunião na modalidade remota. O anfitrião (coordenador do programa virtual) da reunião foi o Acadêmico Miguel Contani. O resultado foi uma experiência muito gratificante para os participantes!

Vista parcial dos participantes

CREDO ACADÊMICO
 O Acadêmico Clodomiro Bannwart Jr, Vice-Presidente da Academia, procedeu à leitura do Credo Acadêmico e conduziu a reunião 

VÍDEO: A HISTÓRIA DA ACADEMIA


Foi exibido um breve vídeo, contando a História da nossa Academia, com criação e produção do Acadêmico Julio Bahr, adaptando textos históricos parciais da Acadêmica Leonilda Yvonneti Spina

PALAVRA DA PRESIDENTE
Acadêmica Ludmila Kloczak

Caros acadêmicos e visitantes que nos honram com a sua presença nesta primeira reunião virtual. 
Os livros de história relatam a história da peste negra que assolou a Europa na Idade Média. A peste teve o seu início no antigo porto de Kerson, fundado pelos gregos, na Criméia. Para se livrar dos corpos infectados, seus habitantes os jogavam por cima dos muros da cidade. Marinheiros que circulavam pelo movimentado porto comercial contaminaram-se e levaram a Peste à Europa. O mundo global da época incluía os países banhados pelo mar Mediterrâneo, Europa, Oriente Médio. Outros países mais distantes, mesmo que tivessem contato comercial com estes povos, estavam longe demais. As caravanas e os navios lentos demais para os contaminarem. Houve significativas perdas materiais, desestruturação social, mudanças de rumo políticas e perdas significativas de vidas. Tanto tempo se passou e, no entanto, esta experiência humana é sempre recordada. Se não houvesse vidas perdidas, sua ocorrência seria registrada em poucos parágrafos. Entretanto, até hoje ecoam os sons das vozes daqueles que viveram, sofreram, perderam ou sobreviveram ao impacto traumático da Peste. Os eventos históricos se perpetuam no imaginário humano pela intensidade e pela amplitude dos seus efeitos sobre o ser humano. Século XXI. Ano 2020. À medida em que o vírus Sars-Cov-2 se espraiava pelos continentes a dizimar milhares de pessoas através da patologia Covid-19, uma das primeiras referências retrospectivas associou à calamidade gerada pela Peste. Em seguida, foi lembrada a gripe espanhola.  Buscávamos entender em qual experiência estávamos mergulhados. Se tínhamos algo a aprender para evitar a fatalidade da contaminação. Acima de tudo, estávamos e estamos a tentar compreender que experiência é essa que nos surpreende, retira nosso conforto rotineiro e nos obriga a criar novas formas de existência com o intuito precípuo de sobreviver. Estamos a nos referir ao trauma. Há algo específico na natureza do trauma. A repentina modificação das nossas vidas produz um impacto mental. Nossas mentes necessitam de muitos recursos e muito esforço mental para absorver, quer dizer, dar um sentido ao choque vivido. A supressão da nossa rotina nos desorganiza emocionalmente, porque a rotina é necessária para a nossa estabilidade interior, para a nossa economia afetiva. A situação traumática encontra cada ser humano num momento específico de sua história. Ela se torna um ingrediente a mais ou o ingrediente principal a determinar a reorganização da vida. Algo não programado e não esperado. Num primeiro momento, o trauma é desorganizador da mente. Cada um de nós sofrerá seus efeitos conforme sua estrutura psíquica. Não há fórmula, não há padrão. O trabalho mental não se limitará ao período da pandemia. Nosso esforço atual é o de sobreviver emocionalmente. Só mais tarde, quando os perigos da contaminação tiverem passado, nosso psiquismo buscará significar este momento, incorporá-lo à nossa vida mental. Ou seja, encontrar um lugar interno que possibilite conviver com a experiência traumática que, de fato, nunca nos abandonará. Daí porque os efeitos das grandes catástrofes humanas ecoam ao longo dos séculos. Passam a fazer parte do nosso imaginário. Passam a integrar a experiência humana. A memória dos que sucumbem é registrada pelo testemunho daqueles que sobrevivem. O processo de elaboração atravessa gerações e os séculos. Mais do que sacrifícios materiais, o esforço humano em sobreviver e compreender a dimensão traumática dos eventos inesperados que nos acometem em nossa existência, perdura e demarca a história da comunidade e da humanidade. É um processo singular. Cada um de nós conta com a sua própria subjetividade para ressignificar o sentido deste fenômeno traumático.  O que importa, ao final, é que possamos contar com a nossa capacidade de nos transformar e de investir na vida.

DESTAQUES ACADÊMICOS
Acadêmica Fátima Mandelli 
(Homenagem ao Dia dos Pais)

PAI

Sentimento guardado, por muitos manifestado
Palavra sonora, suave pandora
Pai, parte de nós, jamais algoz.

Caminhos tortuosos motor 
Estradas largas, sinuosas, vigor
Minas, morros bucólicos, saudades.

Partidas, despedidas, celeiro
Portas abertas, idas e vindas, tentativas
Confiança serena, abraço apertado
Histórias contadas.

Infância, unidade, saudade
Viagens festivas
Trabalho, ilusões vividas.

Vida marcada, netos, bisnetas
Superação do alcoolismo
Presença constante
Laços de amor, perdão
Sábias provações.

Tecendo o bem, o mau vai para além
União, mocidade
Juventude acumulada.

Os tempos passaram, os pássaros voaram
Em outros ninhos retornaram
Pousaram, mas sempre abastecendo de carinho.

Lembranças, heranças, esperança
Agradeço ao provedor eterno,
Exemplo do Belo,
Pai dos pais.

Misericordioso, bondoso, pai do bem
Que nos deu o nosso pai também
Obrigado, amém!


Autora: Fátima Mandelli
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Lucrécia Welter
Presidente da ALCA - Associação das Academias de Letras do Paraná

A Presidente da ALCA, Lucrecia Welter, fez uma breve intervenção na reunião, falando do projeto apresentado pela presidente da Academia de Letras José de Alencar, Anita Zippin, que consiste em redigirem-se textos sobre o período de quarentena. Textos que retratem a atual conjuntura, sem contemplar os males causados pelo SARS-COV2. Não são recomendados textos tristes. O objetivo do projeto é compor uma coletânea, tendo cada Academia paranaense o espaço de cinco textos. 
O prazo de entrega do material para a presidente Anita Zippin é dia 01/10/2020. 
MOMENTO DE ARTE



Música
Contamos com a honrosa participação do Prof. Shamir Giuppato, Coordenador da Escola de Música Mãe de Deus, em Londrina, que nos brindou com belíssimas apresentações ao piano.
Ouça alguns trechos abrindo o link da reunião, abaixo.

PALESTRA
Acadêmico Edilson Elias
A história vitoriosa de Assis Chateaubriand

    Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, mais conhecido como Assis Chateaubriand ou Chatô nascido em Umbuzeiro, na Paraíba, a 4 de outubro de 1892. 
    Filho de Francisco José Bandeira de Melo e de Maria Carmem Guedes Gondim foi batizado Francisco de Assis por ter nascido no dia dedicado ao santo, devido sua mãe ser devota. O nome “Chateaubriand” tem origem na admiração do pai pelo poeta e pensador francês François-René de Chateaubriand, a ponto de comprar uma escola em meados do século XIX, na região de São João do Cariri, dando-lhe o nome do pensador francês. Logo, Francisco José passou a ser conhecido na região como “seu José do Chateaubriand”, que, por corruptela, derivou para “José Chateaubriand”. O nome ficou tão vinculado a Francisco José que ele batizou seus filhos com o sobrenome francês.
    Chateaubriand casou-se uma vez apenas, com Maria Henriqueta Barroso do Amaral, filha do juiz Zózimo Barroso do Amaral. Teve três filhos: Fernando, Gilberto e Teresa. Em 1934 desquitou-se e uniu-se a uma jovem de nome Corita, com quem teve uma filha, Teresa, que decidira deixar Chatô, e levou a filha com ela. Chatô consegue sequestrar a própria filha, assumindo a paternidade e, com o apoio de Getúlio Vargas, obtém o pátrio poder. 
    Suas relações, especialmente com os filhos, sempre foram conturbadas e repletas de grandes conflitos e separações radicais.
    Foi jornalista, empresário, político e mecenas (Mecenas – a título de elucidação – são os indivíduos ou instituições que protegem as letras e as artes, ou que patrocinam e investem
em arte e cultura, e nos eventos culturais), e destacou-se como um dos homens públicos mais influentes do Brasil nas décadas de 1940 e 1960. Foi também advogado, professor de direito, escritor e membro da Academia Brasileira de Letras.
    Quem aqui não ouviu a expressão fazer nas coxas?
    Acredito que muitos dos presentes tenham conhecimento dessa frase.
    Na região norte era comum o trabalho de oleiros que confeccionavam telhas nas coxas para a cobertura de suas casas, mas, essa frase ficou estigmatizada com Chateaubriand, quando escrevia em viagem. Ele não tinha seu tempo ocioso de modo algum.
    Seus artigos eram contundentes quer enaltecendo o cliente ou destilando seu veneno, quando agredira suas vítimas, pois era detentor de uma pena ácida e convencia com o seu alto poder de persuasão, o fazia “nas cochas”, quer dizer no colo, no próprio avião quando viajava.
    Chateaubriand foi um magnata das comunicações no Brasil entre o final dos anos 1930 e início dos anos 1960, dono dos Diários Associados, que foi o maior conglomerado de mídia da América Latina, que em seu auge contou com mais de cem jornais, emissoras de rádio e TV, revistas e agência telegráfica.  Também foi conhecido como o cocriador e fundador, em 1947, do Museu de Arte de São Paulo (MASP), junto com Pietro Maria Bardi, e ainda como o responsável pela chegada da televisão ao Brasil, inaugurando em 1950 a primeira emissora de TV do país, a TV Tupi. Fez doação de 200 aparelhos de TV aos mais chegados, pois não tinha ainda no Brasil. Foi Senador da República entre 1952 e 1957.
A título de elucidação, com informação de nosso confrade Júlio Ernest Bahr, em 1950, na sede dos Diários Associados à Rua Sete de Abril, observou o início da primeira transmissão de televisão da América Latina, a PRF3 TV Tupi, em preto e branco, precariamente, com equipamentos expostos no saguão do seu edifício. Foi também Chateaubriand o patrono, fundador da Escola de Propaganda de São Paulo (hoje a ESPM), cedendo um conjunto no mesmo prédio dos Diários. E Bahr lembrou que pertenceu à turma de 1958 da Escola de Propaganda e, vez por outra cruzava com Chateaubriand – ele já numa cadeira de rodas -, segundo suas informações julgava ser vítima de um (AVC).
    Figura polêmica e controversa, odiado e temido, Chateaubriand já foi chamado de Cidadão Kane brasileiro, e acusado de falta de ética por chantagear empresas que não anunciavam em seus veículos e por insultar empresários com mentiras, como o industrial Francisco Matarazzo Jr. Seu império teria sido construído com base em interesses e compromissos políticos, incluindo uma proximidade tumultuada, porém rentável com o Presidente Getúlio Vargas.
   Foi um dos primeiros a usar a vulgata maquiavélica para se referir à habilidade política de Vargas.
Carreira
    Paraibano formou-se pela Faculdade de Direito do Recife. A estreia no jornalismo aconteceu aos quinze anos, na Gazeta do Norte, escrevendo para o Jornal Pequeno e para o veterano Diário de Pernambuco. Apenas a título de informação, é o mais antigo da América Latina, com a mesma linha editorial, inclusive, com o sistema virtual entre os mais modernos do mundo. Neste matutino, enfrentou uma situação inusitada: teve que dormir na redação do jornal, chegando a pegar em armas, para se defender da multidão que se empoleirava a frente do jornal em protesto contra a vitória do candidato Francisco de Assis Rosa e Silva (proprietário do diário). Em 1917, já no Rio de Janeiro, colaborou para o Correio da Manhã, em cujas páginas publicariam impressões do Diário de Pernambuco viagem à Europa que realizou em 1920.
    Em 1924, assumiu a direção d’O Jornal – denominado “órgão líder dos Diários Associados” – e, no mesmo ano, consegue comprá-lo graças a recursos financeiros fornecidos por alguns “barões do café” liderados por Carlos Leôncio de Magalhães (Nhonhô Magalhães), e por Percival Farquhar, de quem Chateaubriand, alegadamente, teria recebido como honorários advocatícios. Substituiu artigos monótonos por reportagens instigantes e deu certo. A partir de então, começou a constituir um império jornalístico, ao qual foi agregando importantes jornais, como o Diário de Pernambuco e o Jornal do Commercio, o mais antigo do Rio de Janeiro. No ano seguinte, Chatô arrebatou o Diário da Noite, de São Paulo. A essa altura, já possuía os jornais líderes de mercado das principais capitais brasileiras.
    A ascensão do império jornalístico de Assis Chateaubriand deve ser entendida no quadro das transformações políticas do Brasil durante as décadas de 1920 e 1930, quando o consenso político oligárquico e fechado da República Velha era centrado em torno da elite agrária de São Paulo, começou a ser contestado por elites burguesas emergentes da periferia do país; não é uma coincidência que Chateaubriand tenha apoiado o movimento revolucionário de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder, assim como, durante toda sua vida, tenha fanfarroneado a condição de provinciano que chegou ao centro do poder como uma espécie de bucaneiro político. Para uma definição da palavra (Os bucaneiros foram piratas originários dos portos do Caribe, que inicialmente atacavam os navios e cidades espanholas no Caribe e na América Central). A ética quase nunca constava da estratégia empresarial: chantageava as empresas que não anunciassem em seus veículos, publicava poesias dos maiores anunciantes nos diários e mentia descaradamente para agredir os inimigos. Farto de ver o nome na lista de insultos, o industrial Francisco Matarazzo ameaçou “resolver a questão à moda napolitana: pé no peito e navalha na garganta”. Chateaubriand devolveu: “Responderei com métodos paraibanos, usando a peixeira para cortar mais embaixo”. Foi também inimigo declarado de Rui Barbosa e de Rubem Braga. Apesar disso, Chatô teve relações cordiais (e sempre movidas a interesses econômicos) com muitas pessoas influentes: Francisco Matarazzo, Rodrigues Alves, Alexander Mackenzie (presidente do poderoso truste canadense de utilidades públicas São Paulo Tramway, Light and Power Company), o empresário americano Percival Farquhar (Farcuer) e Getúlio Vargas.
    Durante o Estado Novo, Getúlio Vargas consegue a promulgação de um decreto que lhe dá direito à guarda de uma filha, após a separação da mulher. Nesse episódio, profere uma frase célebre: “Se a lei é contra mim, vamos ter que mudar a lei”. Em 1952, é eleito senador pela Paraíba e, em 1955, pelo Maranhão, em duas eleições escandalosamente fraudulentas.
    Caracterizou-se, muito embora fosse um representante típico da burguesia nacional emergente à época, pelas posturas pró-capital estrangeiro e pró-imperialismo, primeiro o britânico, depois o americano: além de muito ligado aos interesses da City londrina (a escandalosa embaixada na Inglaterra, na década de 1950, foi a realização de um velho sonho pessoal), conta a anedota que ele teria uma vez dito que o Brasil, perante os EUA, estava na condição de uma “mulata sestrosa” que tinha de ceder às vontades do seu gigolô. Era temido pelas campanhas jornalísticas que movia, como a em defesa do capital estrangeiro e contra a criação da Petrobras.
    Chateaubriand sempre buscou adquirir novas tecnologias para os Diários Associados. Foi assim com a Multicolor, a mais moderna máquina rotativa da época, sendo o grupo de Chateaubriand o primeiro e único a possuir uma por longo tempo, na América Latina; foi assim também com os serviços fotográficos da Wide World Photo, que possibilitava a transmissão de fotos do exterior com uma rapidez muito maior do que possuía qualquer outro veículo nacional. O mesmo se deu com a publicidade: grandes contratos de exclusividade para lançamento de produtos com a General Electric e para o pó achocolatado Toddy, cujos anúncios estavam sempre nas páginas dos jornais e revistas. A orientação publicitária de Chateaubriand para seus veículos começou a funcionar tão bem que os jornais dos Diários Associados passaram a anunciar os mais diversos produtos e serviços, desde modess a cheques bancários, algo tido como inédito na década de 1930, no Brasil.
    Publicou nada menos que 11870 artigos assinados nos jornais, dando oportunidades a escritores e artistas desconhecidos que depois virariam grandes nomes da literatura, do jornalismo e da pintura, como: Graça Aranha, Millôr Fernandes, Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Cândido Portinari e outros.
    Presidiu, entre 1941 e 1943, a Federação Nacional da Imprensa (FENAI - FAIBRA). 
    Com o tempo, Chateaubriand foi dando menos importância aos jornais e focando em novas empreitadas, como o rádio e a televisão. Pioneiro na transmissão de televisão brasileira cria a TV Tupi, em 1950. Na década de 1960, os jornais atolavam-se em dívidas e trocavam as grandes reportagens por matérias pagas. Dois dos veículos de comunicação lançados no início da década de 1960 por Assis Chateaubriand, o jornal Correio Braziliense e a TV Brasília, foram fundados em 21 de abril, no mesmo dia da fundação da capital federal.
    Trabalha até o final da vida, mesmo depois de uma trombose ocorrida em 1960, que o deixa paralisado e capaz de comunicar-se apenas por balbucios e por uma máquina de escrever adaptada. Em 1968, morria Chateaubriand, velado ao lado de duas pinturas dos grandes mestres: um cardeal de Ticiano e um nu de Renoir, simbolizando, segundo o protegido Pietro Maria Bardi, organizador do acervo do MASP (casado com Lina arquiteta do edifício), as três coisas que mais amou na vida: O poder, a arte e a mulher pelada. Morreu também com o império se esfacelando e com o surgimento do reinado de Roberto Marinho que, parece-nos estar ruindo, com a insistência em se manter à esquerda na política brasileira.
    Foi um dos homens mais influentes do Brasil nas décadas de 1940 e de 1950 em vários campos da sociedade brasileira. Assis Chateaubriand criou e dirigiu a maior cadeia de imprensa do país, os Diários Associados: 34 jornais, 36 emissoras de rádio, 18 estações de televisão, uma agência de notícias, uma revista semanal (O Cruzeiro), uma mensal (A Cigarra), várias revistas infantis (iniciada com a publicação da revista em quadrinhos O Guri em 1940), e a editora O Cruzeiro.
    Deixou os Diários Associados para um grupo de vinte e dois funcionários, que foram liderados por Álvaro Teixeira da Costa. O Condomínio Acionário das Emissoras e Diários Associados é, conjuntamente, o terceiro maior grupo de comunicações do país. Tendo como carro chefe cinco jornais em grandes cidades do Brasil, líderes em suas respectivas praças (dos quinze que ainda restaram). 
Projetos culturais
Em 1941, promoveu a Campanha nacional da aviação, com o lema “Deem asas ao Brasil”, na qual foi criada a maioria dos atuais aeroclubes pelo interior do país, juntamente com Joaquim Pedro Salgado Filho, então Ministro da Guerra do governo Vargas. Com o suicídio de Getúlio Vargas, assume a cadeira 37 da Academia Brasileira de Letras.
    Funda o Museu de Arte de São Paulo (MASP) em 1947, com uma coleção particular de pinturas de grandes mestres europeus que ele adquiriu a preços de ocasião na Europa empobrecida do pós-Segunda Guerra Mundial (em aquisições por vezes financiadas à base de chantagem de empresários brasileiros), coleção esta que o presidente Juscelino Kubitschek havia tido o bom senso de, durante seu governo, colocar sob a gestão de uma fundação, em troca de auxílio governamental ao pagamento de parte da astronômica dívida do Condomínio Associado.
    Em 10 de agosto de 1967, Assis Chateaubriand entregou ao reitor da Fundação Universidade Regional do Nordeste (hoje Universidade Estadual da Paraíba – UEPB), Edvaldo de Souza do Ó, o primeiro acervo do Museu Regional de Campina Grande, localizado em Campina Grande, Paraíba. O acervo foi chamado de “Coleção Assis Chateaubriand”, com cento e vinte peças. A partir de então, o museu passou a ser chamado de “Museu de Artes Assis Chateaubriand”. 
Representações na cultura
    Filmes, documentários
   Assis Chateaubriand já foi retratado como personagem no cinema e na televisão, interpretado por Luiz Ramalho no filme “Chateaubriand, Cabeça de Paraíba” (2000) e por Antonio Calloni em trecho da minissérie “Um Só Coração” (2004).
  Quero destacar ainda de que foi homenageado  no carnaval do Rio de Janeiro, em 1999. Guilherme Fontes adquiriu os direitos de adaptação para o cinema do livro Chatô, o Rei do Brasil, de Fernando Morais. O projeto começou a ser produzido em 1995, foi interrompido em 1999. O filme Chatô, o Rei do Brasil, lançado em 2015, tem Marco Ricca no papel de Chateaubriand. Em 2006, Fontes foi condenado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) a devolver 15 milhões de reais pela não-entrega da série de 36 documentários 500 Anos de História do Brasil. O Tribunal julgou irregulares as contas da Guilherme Fontes Filmes Ltda. Embora treze episódios tenham sido produzidos e até mesmo exibidos no canal a cabo GNT, a série, um subproduto do projeto Chatô, não havia sido concluída. 
Chateaubriand – Cabeça de Paraíba
    Marcos Manhães Marins escreveu, dirigiu e concluiu o filme "Chateaubriand – Cabeça de Paraíba", em 2000, tendo sido selecionado para quinze festivais e mostras no Brasil e no exterior, sendo uma na Bélgica e outra na França. Foi exibido na TVE e na TV Cultura, na TV Senado, Canal Brasil, TV O Norte na Paraíba, entre outras. 
    No carnaval de 1999, o Acadêmicos do Grande Rio homenageou com o enredo "Ei, ei, ei, Chateau é o nosso rei!" obtendo o 6.º lugar entre as escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro. A Inocentes de Belford Roxo também homenageou com o enredo "Chatô – a fanfarra do homem sério mais engraçado do Brasil", terminando em 2.º lugar entre as escolas de samba do Grupo de Acesso B, quase perto de subir para o Grupo de Acesso A. 
Academia Brasileira de Letras
    Foi o quarto ocupante da cadeira 37, eleito em 30 de dezembro de 1954, na sucessão de Getúlio Vargas, recebido pelo acadêmico Aníbal Freire da Fonseca em 27 de agosto de 1955. 
Morte
    Em fevereiro de 1960 Assis Chateaubriand foi acometido de uma trombose. Morreu em 4 de abril de 1968, em São Paulo, depois da pertinaz doença, a que ele resistiu por longos anos, continuando, mesmo paraplégico e impossibilitado de falar, a escrever seus artigos. Foi velado ao lado de duas pinturas dos grandes mestres: um cardeal de Ticiano e um nu de Renoir, simbolizando, segundo seu protegido, o arquiteto italiano e organizador do acervo do MASP Pietro Maria Bardi, As três coisas que mais amou na vida: O poder, a arte e a mulher pelada. Seu cortejo fúnebre reuniu mais de 60 mil pessoas pelas ruas de São Paulo. Está sepultado no Cemitério do Araçá.

PALAVRA DO ORADOR
Acadêmico Sergio Alves Gomes 
Breve  Elogio à Ciência e à Sensatez em Tempos de Pandemia 

Estamos na Academia, morada das Letras, Ciências e Artes. Este espaço institucional foi criado para o cultivo do conhecimento tecido e entretecido no diálogo desta tríade.  Aqui Letras, Ciências e Artes se encontram para iluminar mentes e corações compromissados com a difusão dos aspectos construtivos da cultura humana, visando à humanização do ser humano e de sua própria cultura. 
Neste momento de simultâneas crises, as Letras e as Artes se unem para homenagear a Ciência. Especialmente, porque percebem que a Ciência vem sendo por demais menosprezada, atacada, agredida, em pleno século XXI.  A humanidade sempre precisou de luz, por não aceitar o mundo como uma escura caverna. A Bíblia, no Gêneses, capítulo 1, 3-5, ao narrar o ato da criação, diz: “E Deus disse: Exista a luz. E a luz existiu. E Deus viu que a luz era boa; e separou a luz das trevas”. Conta-se que o grande poeta alemão JOHANN WOLFGANG GOËTHE, pronunciou, ao expirar, as seguintes palavras: “DEIXEM ENTRAR A LUZ”. Também o iluminismo (sec. XVIII) configurou uma exaltação às “luzes do conhecimento” fundado na razão e na sensibilidade, estimulando o respeito ao valor das ciências. 
Estamos em tempos de sofisticados aparatos científicos e tecnológicos mas, por paradoxal que possa parecer, ainda encontramos pessoas que negam o valor e as constatações da ciência. Isso é espantoso e preocupante porque muitas dessas pessoas ocupam parcelas significativas de poder: poder político, poder bélico, poder econômico... E com suas atitudes negacionistas – visando a manutenção ou o alcance de mais poder, ainda que ao custo de vidas humanas - propiciam situações que culminam na morte de milhares de pessoas, mortes que poderiam ser evitadas se fossem respeitadas em mais alta escala as orientações embasadas na Ciência. Especialmente nas ciências que têm por objeto a saúde. Mas o que é saúde para a população brasileira?    Importa aqui destacar apenas a dimensão jurídica da saúde. Diz  a Constituição Federal (CF), a lei maior do País, em seu artigo 196: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. 
O Estado Democrático de Direito (Cf. CF, art.1º) é  instituição criada  para estruturar, organizar e governar o convívio social, fazendo cumprir o que diz a Constituição, por meio da qual foi instituído (em 05/10/1988). E com base nela seus governantes são, democraticamente, eleitos. Todos juraram e juram, em ato público e solene, antes do exercício do mandato, o cumprimento do que dispõe a Lei Magna.  
Já em 1776, no preâmbulo da Declaração de Independência dos Estados Unidos, estabeleceu-se que todos os homens “são dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis; que entre estes estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade. Que para assegurar esses direitos, são instituídos entre os homens governos os quais derivam seus justos poderes do consentimento dos governados; (grifo do autor desta comunicação); que, sempre que uma forma de governo se torne destrutiva destes fins, é direito do povo alterá-lo ou aboli-lo e instituir novo governo, fundamentando-o nesses princípios e organizando-lhe os poderes da forma que lhe pareça mais conveniente para realizar-lhe a segurança e a felicidade”.  Portanto, governos se legitimam quando atuam de forma equilibrada e justa, em favor do bem de todos, identificada na Declaração com a palavra “felicidade”. 
 A pergunta necessária a ser feita - neste triste momento em que o Brasil atinge o aterrador índice de mais de 100.000 mortos pelo “Coronavirus” -  é a seguinte: como os governantes do País (em nível  federal, estadual e municipal) têm-se comportado em relação ao dever jurídico, político e social de garantir o acesso “universal (a todos) e igualitário às ações e serviços de saúde, visando à proteger, promover e recuperar a saúde da população brasileira?  É tarefa de todo cidadão, responsável, nas eleições,  pela escolha de seus governantes, colocar tal pergunta e aprofundar sobre ela sua análise e reflexão indispensáveis nestes “tempos pandêmicos”. E como são estes tempos? Multifacetados. 
São tempos solitários, solidários, de saudades, lembranças, ansiedade, tristeza, compaixão, dor, inquietação, horror,  medo e esperança.
Tempos pandêmicos, onde para muitos a vida não continua.  
Tempos de pandemia que já matou milhares e não de uma simples “gripezinha”.
Tempos de destaque da ciência e da luz, em confronto com a acirrada e difusa ignorância que arrasta  para a escuridão,  para o cemitério, e  às  trevas da ignorância.
Tempos pandêmicos são tempos de extremadas posições, eu versus tu, tu versus eu; nós contra eles, eles contra nós.  
Tempos pandêmicos, tempos de entendimentos e de confrontos, de parcerias animadoras e de conluios lucrativos a quem destes participa. 
Tempos pandêmicos, tempos da “cultura do cancelamento”, da vingança anônima, da negação da ciência e de propaganda para impor mentiras como verdades, na proliferação de “fake news”.
Tempos pandêmicos, tempos de anestésica insensibilidade  de quem só mira o poder, de ausência de empatia, compaixão e respeito à dor alheia. A quem assim age, cabe lembrar a canção de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, “a Flor e o Espinho”: “Tire seu sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor”. Tempos em que o sofrimento, o luto e o pranto de milhões a sepultarem seus entes queridos clamam por apoio e solidariedade em lugar da cruel indiferença.
Tempos pandêmicos, tempos em que um corpúsculo invisível desafia a humanidade, ceifando vidas humanas em todos os continentes e alcançando velozmente a cifra que supera 100.000 mortos no Brasil. 
Tempos pandêmicos, tempos em que as máscaras de tecido  tomam conta e pedem a retirada das máscaras do poder exigindo-lhe transparência e empenho a serviço de todas as pessoas e, especialmente, em socorro dos mais frágeis e fragilizados, dos mais vulneráveis infectados  pela pandemia que diariamente  imploram por um respirador e não o encontram disponível. Tempos pandêmicos de carência de leitos em hospitais e de expansão das improvisadas covas  nos cemitérios. 
Tempos pandêmicos, tempos que desafiam a inércia, a omissão e que denunciam  todo aquele que devendo e podendo socorrer  uma, dez, cem ou milhares de pessoas, se omite e concorre com sua omissão para a morte, seja de uma,  dez, cem ou de milhares de pessoas.
Tempos pandêmicos, tempo de repensar o papel das instituições políticas, de rever a ideologia que apregoa o Estado mínimo ou a ausência do Estado nas relações sociais. Tempos de repensar sobre o discurso economicista que engendra a omissão de políticas públicas indispensáveis a salvar vidas e a preservar a natureza em escalada destruição. 
Tempos pandêmicos, tempos de explosões catastróficas, incêndios criminosos, cegueira e ganância que destroem florestas, fauna, flora e empesteiam os ares. 
Tempos pandêmicos, de fumaça sufocante, de secas aterradoras, de inundações e terremotos.
Tempos pandêmicos, tempos de acordar para um “novo desconhecido” gerador de incertezas. Tempos pandêmicos, tempos de encontros a distância, de imagens que cruzam os continentes, de união alimentada pela esperança. Esperança de que, apesar destes assustadores e sombrios tempos, a luz da vida, do conhecimento, da fé equilibrada com a razão, do amor e da fraternidade preponderem e vençam estes difíceis tempos. E que Deus tenha piedade do gênero humano, pela estultice daqueles que, visando apenas o gozo egoístico do poder, negam a verdade científica, fruto do saber - desenvolvido pela inteligência humana, reflexo do próprio Criador. É hora de bradar, com o poeta Goëthe: “Deixem entrar a luz!” Que a luz da sensatez faça desaparecerem as trevas do negacionismo científico que conduz à barbárie. Que saibamos manter a luz do amor, da compaixão, da fraternidade, da solidariedade, da empatia, do encontro, do diálogo, do todos juntos no enfrentamento da pandemia. 
E assim, tempos pandêmicos também são tempos de esperança. Fiat lux! Fiat lux! Fiat lux! Deixem entrar a luz, deixem a luz entrar, deixemos entrar a luz. 
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Após a palestra, teceram comentários o jornalista Francismar Lemes, que produz o programa "Apontamentos" na Rádio UEL FM e Cezar Benevides, professor e escritor, que nos honraram com sua participação


Haicai da poça d'água


José Marins*


Em reunião semanal de leitura de livros de haicai lemos 33 autores. Percebemos várias vezes a repetição do haicai da poça d'água. Alguns se mostraram interessantes, outros caíram no lugar comum. Haveria algum haicai que teria começado esse tipo de registro?


Afrânio Peixoto, pioneiro do haicai brasileiro, publicou em 1931:

Na poça de lama
Como no divino céu,
Também passa a lua.  

O poema não chamou a atenção o suficiente para ser imitado em publicações posteriores.

É provável que tenha sido um haicai de Millôr Fernandes que estimulou a realização de haicais da poça d'água, com ou sem lua e outros reflexos:

Na poça da rua
O vira-lata
Lambe a Lua.

Este haicai saiu em 1968 no livro do Millôr, Hai-Kais, pela editora Senzala. E se manteve nas edições posteriores (Nórdica, 1986 e L&PM 1997). Com certeza a notoriedade e a constância dos poemas, textos e desenhos do autor ao longo dos anos em O Cruzeiro, Veja e livros, ajudaram a fazer a fama do haicai da poça d'água.

Recebi outro dia da poeta Rose Mendes a foto de uma poça de chuva na qual aparece pousado um pássaro com a sombra refletida. A configuração é, por si só, uma ótima imagem de haicai. Rose tentou fazê-lo mas desistiu. Ela fez outro anteriormente, com inovação e graça, publicado no seu livro Nas Ondas do Haicai:

Depois do aguaceiro
brincam os passarinhos
na poça d’água

Resolvi convidar alguns poetas de haicai para a brincadeira: tomar a foto como referência e realizarem o poema. Comento a seguir algumas colaborações que gentilmente me foram
enviadas, e que, penso, têm um foco na cena retratada naquela foto: 

A. A. de Assis:

Pássaro na poça.
Nem só de canto ele vive,
mas também de insetos.

– A sugestão do poema é a de que o pássaro só está na poça em razão de caçar para sobreviver. Portanto, nada de reflexos, mas a luta do dia a dia.

Carlos Bueno:

a poça d’água
reflete o pássaro, sua
única companhia

– Aqui temos uma inusitada imagem para o reflexo na poça: a solidão do pássaro.

Edu Hoffman:

pássaro na poça
faz lembrar minha infância
meu olhar adoça

– Um haicai guilhermino no qual pássaro e poça remetem à lembrança, mas sobretudo a um momento de ternura.

José Marins:

da chuva a poça – 
do pássaro o pouso
para uma foto

– Um haicai livre que brinca com os verbos pousar e posar.

Suzana Lyra Strapasson:

A terra molhada
Sustenta na poça o
Pássaro cantante.

– Outro haicai ligado a canto e sustento. A sugestão faz uma delicada ligação entre poça e canto, beleza e humildade.

Teresa Cristina Cerqueira:

A água da poça –
Sabe-se feliz o pássaro
Que vive na roça

– Se vive na roça, basta uma poça para ser feliz? Talvez o pássaro é que sabe.

Van Zimerman:

tarde fria – 
nas cores da poça d'água
o pássaro

– Um haicai livre com uma bela sugestão: ao invés do reflexo são as cores que trazem o pássaro.

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Curitiba, outono de 2017

Fernandes, Millôr. Hai-Kais. Rio de Janeiro: Senzala, 1968.
Mendes, Rose. Nas ondas do haicai. Jundiaí: In House, 2014.
Peixoto, Afrânio. Miçangas. São Paulo: Editora Nacional, 1931.


* José Marins é poeta. 
Publicou, entre outros livros, as coletâneas de 
haicais Poezen (1985) e Pinhapinhão, 
pinhão-pinheiro (2004) e os minicontos de 
A brisa é você (2010). 
Vive em Curitiba (PR).