PALAVRA DO PRESIDENTE
Resta-nos, agora, tratar do segundo aspecto : “A solidariedade”.
A solidariedade pode ser entendida a partir da “Descoberta do outro”. Essa descoberta acontece mediante o processo de experiência religiosa.
Entre os estudiosos do fenômeno religioso, na modernidade, devemos evidenciar três autores: William James (1842-1910), que em seu livro “As variedades da experiência religiosa” analisa a vida religiosa sob a ótica do pragmatismo; Rudolf Otto (1869-1937), que em “A ideia do sagrado” traça uma caracterização transcendental da vivência religiosa; e Mircea Eliade (1907-1986), que em “O sagrado e o profano” estuda o fenômeno religioso usando o método fenomenológico.
Na presente reflexão, vamos ter como referencia o texto de Rudolf Otto: A ideia do sagrado.
Rudolf Otto foi professor em diversas universidades alemãs, tendo chegado a titular de teologia em Breslau, transferindo-se em seguida para Marburgo, onde se aposentou em 1929.
Em sua analise, Rudolf Otto inspira-se em Kant. Para Kant, como para o neokantismo, o que sustenta o conhecimento cientifico e lhe assegura validade universal são determinados conceitos (categorias) que não provém da experiência. São chamados a priori. Para Rudolf Otto, o conceito fundamental de que procede a vivência religiosa é o de numinoso.
O termo provem da palavra latina numen, que significa divindade. O sufixo oso corresponde a cheio de, (medroso=cheio de medo; numinoso = cheio de divindade).
Rudolf Otto quer aprender o racional e o irracional na ideia de Deus; para tanto procede a analises histórica, psicológica e semântica do conceito de numinoso. Tratando-se de um a priori ( ou seja, que não provém da experiência ) não pode ser definido, mas pode ser descrito. Pela força de reflexão da razão podemos identificar o numinoso como um conhecimento puro, ou seja, que confere objetividade, e a priori, ou seja, que brota do fundo da alma e que é, portanto, irredutível à experiência.
Objetivamente, O que é e como é, tal como o sinto fora de mim, isso que chamamos de numinoso?
O primeiro sentimento que acompanha ao numen é expresso pelo adjetivo tremendum. Temor não é o mesmo que medo. O sentimento do tremendo provém do desconhecido, do misterioso, do absolutamente outro; enquanto que para o medo podemos identificar causas naturais.
O segundo sentimento que acompanha ao numen é expresso pelo substantivo majestas, majestade. O numinoso apresenta-se na experiência mística (que constitui o cerne e a forma mais elevada da experiência religiosa) fundamentalmente como majestade tremenda. O conceito de majestade indica poder, potência, onipotência. A esse elemento de majestade, de onipotência, responde como o seu correlato no sujeito, como a sua sombra e reflexo subjetivo, aquele sentimento de criatura que surge do contraste com essa potência superior, como sentimento da própria submissão, da anulação, do aniquilamento, do ser terra, pó, cinza, a matéria prima numinosa para o sentimento da humildade religiosa.
O terceiro sentimento que acompanha ao numen é expresso pelo substantivo energia. Essa qualidade do numen percebe-se como “orgé” ou ira e é traduzida mediante expressões como vida, paixão, essência afetiva, vontade, força, movimento, agitação, impulso. Subjaz tal sentimento à expressão mística do amor divino que consome. “O amor – frisa um místico citado por Rudolfo Otto – não é mais do que ira extinta”.
Em relação aos três sentimentos despertados pelo numen, os gregos criaram a palavra eusébeia, que significa “a relação de emoção e de servidão face ao divino”.
Após caracterizar os sentimentos que acompanham ao numinoso, Rudolf Otto evidencia o que denomina de aspecto fascinante. Ele observa: o fato mais marcante, da história da religião, é o contraste que se estabelece, na vivência do numinoso, entre os sentimentos de terror e de atração. Ao longo de todas as épocas, a humanidade vivenciou o mysterium tremendum, suspensa entre os sentimentos contraditórios do retraimento perante o divino e de atração fascinante perante uma realidade plena, majestática, maravilhosa; entre os sentimentos de pavor diante da majestosidade do divino e de fascínio que esse divino inspira. Essa dimensão vertical da vivência religiosa é constituída de uma relação de temor da criatura diante do criador e, ao mesmo tempo, de amor pela bondade que inspira a figura de Deus Pai. Permitam-me de lembrar como eu vi meu pai ao longo da minha existência: a imagem de Deus, severo e bondoso. Uma bondade cativante e uma justa severidade. Essa imagem é que inspira o divino, de bondade e severidade.
Desse aspecto de fascínio, atração, surge o sentido horizontal da vivência religiosa, o amor e a solidariedade. É a descoberta do outro que completa a descoberta do eu; Quanto mais o meu eu se aproxima do outro, tanto mais se distancia do egoísmo, que é a frustração do eu e mais perto dá-se o encontro do meu verdadeiro eu, plenamente realizado.
Essa vivência deve ser facilitada pela educação religiosa, de que se incumbe a igreja.
Facilitar significa apresentar modelos inspiradores, pela palavra e pelo exemplo e não imposição, visto que a crença religiosa deve ser aceita por decisão voluntária. A imposição é uma violência.
Aqui, também, deve-se pensar na estreita colaboração entre família e igreja.
A vida sem a dimensão religiosa perde sentido.
Prof. Leonardo Prota
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Mães de Todo Jeito e Feitio
Pela Acadêmica, Socióloga e
Profa. Maria Lucia Victor Barbosa
Profa. Maria Lucia Victor Barbosa
A Acadêmica apresentou palestra homenageando o Dia das Mães, abordando a maternidade, que pode ser definida como o amor mais puro, o laço mais profundo, a doação mais perfeita, a integração mais divina representada por mãe e filho, não importando a cor, a cultura, a classe social. Em todas as sociedades, em todos os tempos, a figura materna é uma das mais respeitadas.
Citou a palestrante os antigos, que viam seu mundo dividido entre duas metades: a masculina e a feminina. Falou dos cultos a deusas, especialmente Ísis e Osíris, que os egípcios antigos buscavam para sua segurança e para auxiliá-los na morte.
Citou também Zeus e Deméter da Grécia Antiga, pais de Perséfone, que foi raptada por Hades para ser sua esposa, permanecendo com ele por quatro meses e o resto do ano com a mãe, simbolizando o retorno da primavera. E no hinduísmo, onde a deusa-mãe se manifesta tanto como consorte das principais divindades masculinas hindus quanto de forma genérica que encerra milhares de deusas locais ou devis. No cristianismo falou da figura não de uma deusa, mas de uma Mãe de Deus, que porta várias denominações, mas é apenas uma.
Mencionou as mães de todos os jeitos e feitios: as que não podendo gerar um filho de sua carne geram um filho do seu coração, as mães adotivas. A tia que é mãe. A irmã que é mãe. A mãe que é pai e até o pai que é mãe. Falou da mãe desnaturada que mata, abandona o filho ou o trata de forma indiferente. Lembrou das conquistas das mulheres no lado profissional, da necessidade das mães modernas de repensar um meio de progredir como seres humanos e aproveitar espaços para conviverem o máximo com seus filhos.
Lembrou as constantes separações de casais e suas consequências nos relacionamentos entre pais, filhos e irmãos. Das avós, chamadas de mães com açúcar, duplamente mães, duplamente privilegiadas e homenageou as mães que perderam seus filhos ou cujos filhos nasceram com problemas de saúde. E terminou a apresentação com uma poesia de Khalil Gibran sobre filhos:
Seus filhos não são teus filhos,
São filhos e filhas da Vida por si mesma.
Eles vêm através de ti, mas não de ti,
E embora estejam contigo não te pertencem.
Poderás dar-lhes teu amor, mas não teus pensamentos,
Pois eles têm seus próprios pensamentos.
Poderás acolher seus corpos, mas não suas almas,
Pois suas almas habitam a mansão do amanhã
Que não podes visitar nem mesmo em sonhos.
Poderás ser como eles, mas não tentes
Torná-los semelhantes a ti,
Pois a vida não para nem se atrasa com o dia passado.
Tu és o arco pelo qual teus filhos, como flechas
Vivas são projetados.
O arqueiro vê o alvo no caminho do infinito e Ele
Te dá força para que suas flechas voem céleres
Para longe.
Que a tua firmeza pela mão do arqueiro seja para a
Alegria:
Pois assim como Ele ama a flecha que voa, ama
também o arco que permanece estável.
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"Mãe"
Poesia de Mario Quintana, apresentada pela
Acadêmica e Profa. Aparecida de Fátima Pedrosa Mandelli
São três letras apenas,
As desse nome bendito:
Três letrinhas, nada mais...
E nelas cabe o infinito
E palavra tão pequena - confessam mesmo os ateus -
És do tamanho do céu
E apenas menor do que Deus!
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O novo Leviathã Norte-Americano e as falcatruas do ex-primeiro-ministro de Portugal
Pelo Acadêmico e Médico Dr. José Ruivo
Em breve intervenção, o Acadêmico discorreu sobre o chamado novo Leviathã norte-americano, que sepultou mais de 2.500 anos de civilização ocidental por defender a tese de que não é por ter mais poder que se pode fazer aquilo que mais convier aos próprios interesses, que não é por ser mais forte que se é mais justo. Mencionou também que o novo Leviathã será formado por meio de um pacto social e imposto pelo poder de armas a todos os países que não forem do interesse dos EE.UU.
Discorreu ainda sobre o desvio de 62 bilhões de euros por parte do ex-primeiro-ministro de Portugal José Sócrates, valor desaparecido dos fundos da União Europeia. Lembrou que Sócrates é grande amigo do ex-presidente Lula, autor do prefácio do seu livro "A Confiança no Mundo".
Como fundamentação, colocou dois textos à disposição dos presentes.
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A arte e o olhar: o universo dos sentidos na obra de Vik Muniz
Profa. Dra. Thais Jerônimo Duarte
Doutora em Estudos da Linguagem pela UEL, graduada em Comunicação Social
e Especialista em planejamento e gerenciamento estratégico
O presente ensaio propõe uma análise acerca da obra de Vik Muniz (1961-atual), artista plástico brasileiro que obteve em terras estrangeiras o reconhecimento por seu trabalho inovador. A produção de Vik Muniz evoca o experimental. São fragmentos, codependentes, que apontam para a complexidade de uma estrutura maior, indicando uma obra aberta, onde a direção está ligada a questões que emergem durante o próprio processo de construção. No trabalho do artista, uma obra leva à outra, de forma até instintiva. Durante a criação das obras ocorre uma retroalimentação, de modo que mutações estruturais podem ser observadas, a começar pela evolução técnica.
Ao apropriar-se, ludicamente, de ícones, traduzindo-os por meio de materiais inusitados, as imagens de Vik desafiam o olhar. Por meio de experimentações, o artista cria e recria obras de arte que, posteriormente, são fotografadas e apresentadas ao público. A obra de Vik Muniz manifesta-se de forma complexa, permitindo a aproximação de vários tipos de público, com diferentes conhecimentos sobre a arte. Além da necessidade de servir de palco para as obras, a escolha pela fotografia contribui também para a aproximação do público. Neutralizados por ela, os materiais apresentam-se como pigmentos compondo a imagem de um quadro. Após uma primeira interpretação, quase literal, dos elementos presentes na própria fotografia, a apreciação da obra ativa o repertório do observador, estimulando novas possibilidades de leitura.
Vik Muniz declara que sua primeira motivação para fazer arte é justamente o intercâmbio com o observador e as diferentes maneiras como cada indivíduo percebe o mundo visual. Para ele, “o artista faz somente metade da obra, o observador faz o resto, e é a autoridade do observador que confere à arte sua força miraculosa”. Assim como o artista, entendemos que compreender a relação entre a estética da criação, construída pelo emissor, e a atribuição de sentidos, efetivada pelo receptor, é fundamental para ter o conhecimento holístico da obra, em sua plenitude, da gênese à fruição.
Sabemos que toda imagem é fortemente marcada por escolhas históricas e culturais do indivíduo. É irreal pensar em imagens sem subjetividade. A parcela de escolha individual, e cultural, na criação de imagens, demonstra a perspectiva usada para construí-las e, de certa forma, molda a maneira como serão interpretadas. Todo o fenômeno da visualidade é marcado pela capacidade das imagens de agirem à distância, deflagrando diferentes leituras, de acordo com os modos de percepção.
Enquanto a visão é uma função fisiológica, a percepção é um processo mental que organiza os estímulos visuais, interpretando-os. Percebemos forma e conteúdo enquanto vivenciamos nossas interpretações. Em função da percepção, todo nosso ser sensível é mobilizado, permitindo, por meio de associações e da própria imaginação, nossa compreensão de mundo.
Todo o domínio do visível está diretamente relacionado ao movimento do olhar. A visão, contudo, acontece em parte por meio dos olhos, mas não só através deles. Outros sentidos estão inevitavelmente envolvidos e a visão é constantemente alterada pelos sentimentos. O ato de ver, de olhar, não está relacionado somente ao visível, mas ao invisível, definido pela imaginação, tornando tal universo ilimitado. Merleau-Ponty afirma que “assim como não se pode fazer um inventário limitativo das utilizações possíveis de uma língua, ou simplesmente do seu vocabulário e das suas variantes, tampouco se pode fazê-lo em relação ao visível”.
O que uma pessoa vê é constantemente alterado por seus conhecimentos e pelo contexto que a envolve. Quando já tivemos a experiência visual de alguma coisa, mesmo que ela não esteja ali, é possível enxergá-la, por meio da imaginação, pelos olhos da mente. Tudo que vemos é mediado por nossos conceitos e valores, além da perspectiva de observação. É por meio da imaginação que produzimos e deciframos as imagens. Tratam-se de códigos que traduzem eventos em cenas, são uma espécie de mediação entre o homem e o mundo, a partir do momento em que o representa.
"Luciana" |
Ao observar uma imagem há uma exploração que raramente é inocente. Busca-se a integração de uma multiplicidade de fixações particulares sucessivas que acabam por definir a forma da visualidade. De acordo com o contexto, enquadramos os diversos estímulos recebidos em padrões, a fim de que façam sentido e possam ser ordenados e integrados em uma síntese. A forma como percebemos o mundo é uma constante sucessão dessas sínteses.
As obras de arte não são produtos naturais, mas humanos, criadas para o homem e dirigindo-se à sua sensibilidade. Toda obra tem um fim particular que lhe é imanente. Durante a criação, o inesgotável poder estético do pensamento permite que o projeto se desenvolva e que a obra tome sua forma, buscando uma imagem mental, já formatada pelo artista. O estilo vai se
moldando e revelando o artista como um todo. A obra passa a representar um todo artístico que se traduz em forma, conteúdo e estilo.
O ato criador abrange a capacidade de compreender e esta,
"Valentina" |
As imagens de Vik Muniz refletem o sentido da percepção como uma construção social, dependente do alargamento da capacidade de recepção do indivíduo, ou seja, da capacidade de ver, ouvir e sentir. A capacidade estética, subjetiva, é formada a partir das relações objetivas da vivência social de cada um. Antes de ser uma realidade tangível, e visível, a obra de arte existe na mente criadora. Como um produto do espírito, exige, simultaneamente, uma atividade subjetiva de quem cria e um apelo à sensibilidade de quem observa.
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Maurício Fernandes Leonardo |
Breves intervenções na Reunião
Antes do término da nossa reunião mensal, tivemos o privilégio de ouvir três intervenções: o Acadêmico Maurício F. Leonardo declamou duas poesias de Lygia Sarmento ("Deus é vida" e "Deus é Deus").
Edilson Elias |
O Colaborador Cultural Edilson Elias declamou uma breve poesia alusiva ao Dia das Mães, de sua autoria.
Sergio Alves Gomes |
O Acadêmico e Prof. Sergio Alves Gomes, Orador de nossa Academia, aproveitou o ensejo da data para falar da mãe-educadora e dos conflitos ocorridos recentemente em Curitiba, quando do movimento de reivindicações dos professores, criticando a forma como a "Pátria Educadora" trata seus filhos.