Internet, e-mails e a língua portuguesa

Na introdução do meu livro “Encontro na barca e outras histórias de bahr” incluí alguns dados publicados na Revista Veja daquele ano (2005) reportando que 91% dos alunos da rede pública que terminavam o ensino fundamental simplesmente não conseguiam compreender os textos que liam.
As pesquisas atuais sugerem que nada mudou nestes quinze anos. Talvez tenha até piorado. Temo que não sejam apenas os alunos do ensino fundamental que tenham essa dificuldade. Quando leio alguns textos de estudantes universitários e até de profissionais formados respondendo e comentando artigos publicados nos blogs, portais de notícias e jornais, fico estupefato com as conclusões absurdas que emitem, geralmente fora do contexto principal do tema... sem contar o português pessimamente escrito. São pessoas que aparentam não entender nada de sátira, duplo sentido, escárnio, paródia ou de interpretações pessoais nos textos. São apenas leitores, no sentido literal.
Essa incompreensão tem origem na falta de leitura e nas deficiências do ensino. É por isso que aparecem tantos erros de escrita em e-mails, cartas, opiniões dos leitores, artigos de jornais e portais, comentários nas redes sociais e nos textos dos próprios jornalistas. Concordância, palavras e frases erradas, além de tempos de verbos mal utilizados, surgem com uma frequência assustadora. 
A informalidade na escrita não deveria ser confundida com a liberalidade de se utilizar um linguajar chulo, ofensivo e pleno de erros, como muitos fazem. 
Vários professores universitários com quem conversei já ficaram rubros de raiva em alguma ocasião ao revisarem provas e dissertações dos seus alunos, pois raros são os que conseguem escrever bem. 
A língua é o maior tesouro de uma nação. É a língua bem escrita e bem falada que abre as oportunidades de emprego, convivência, sucesso e realizações das pessoas. 
Espero que não seja a minha intolerância causada pela idade que me impeça de enxergar, talvez, o futuro da comunicação entre as pessoas. Estarei eventualmente ignorando que essa linguagem misturada a hieróglifos, símbolos, sinais, erros e palavrões seja a nova linguagem internacional, o substituto do Esperanto, idioma criado em 1887 pelo filólogo polonês Ludovic Lazarus Zamenhof e que deveria unir todos os povos do mundo? 
Para ilustrar como a ignorância se espalha, seguem algumas frases estapafúrdias escritas por especialistas forenses, que recebi de um amigo por e-mail:

- Laudo descritivo de um perito judicial:
"um barracão com pé direito de 5 metros e pé esquerdo de 4 metros"

- Frase de um termo de encerramento de laudo judicial de processo na Vara Cível do Fórum João Mendes em São Paulo:
"Os anexos seguem em separado". 

- Relatório de um perito do Banco do Brasil:
"Visitamos um açude nos fundos da fazenda e depois de longos e demorados estudos constatamos que o mesmo estava vazio"  

- Avaliação feita por um oficial de justiça:
“Incluir na penhora um crucifixo, em madeira, estilo country - colonial, marca INRI, sem número de série" 

Acadêmico Julio Ernesto Bahr