Navegando o vasto oceano, via ao longe se afastando as imagens derradeiras de minha Terra Natal... Algumas liras nas algibeiras... Braços fortes, determinação! Vibrando n’alma o grande ideal de prosperar nesta Nação. Tão comovente fora nossa partida... Tangendo no peito saudade dorida! Eis que aporto, enfim, em terras brasileiras, paraíso de pássaros, palmeiras! Aqui, aos poucos fui fincando raízes, tão profundas, que não guardo cicatrizes de algum descaso dos primeiros anos, quando nos chamavam de carcamanos... Quantos segredos escondidos nas terras lavradas com enxadas forjadas na fé! Viçosas lavouras contornando as serras com imensos rosários de pés de café. As cerejas maduras, no véu da saudade, traziam-me lembranças da feliz mocidade na Itália distante, de alegres tarantelas... As ragazze dançando, tão jovens, tão belas! Brasil!... Berço que me embalou com carinho! Solo abençoado, que me deu um lar, um ninho, onde criei os filhos, me vi envelhecer... E onde, em meu sono infinito irei adormecer! De sol a sol, ombro a ombro, lutamos. Persistentes um espaço conquistamos. Somos exemplos de audazes imigrantes, com a garra e a coragem dos bandeirantes. O sangue italiano pulsa na indústria, lavoura, comércio, no cafezal. Na voz dos padres em sagrada messe. Na herança ancestral de piedosa prece! Nessa labuta por um ideal, nossa presença ficou na comida: - No risoto, polenta, pizza, vinho... Na lida do gado, no parreiral. Vejam as roças, videiras mil! Mesas fartas, macarronadas... Gerações bonitas mescladas com traços de Itália e Brasil! O medo de desventura ou engano perdeu-se no passado distante, pois, no peito de cada italiano palpita o orgulho de ser Imigrante!