Dia dos Namorados


Véspera da Festa Litúrgica em comemoração a Santo Antônio de Lisboa.


(Fernão de Bulhões, que tomou à religião o nome de Antônio, nasceu numa casa junto da Sé Patriarcal de Lisboa; cresceu, estudou, viveu e entregou-se a Deus em Portugal e levou o seu saber e santidade à Itália e à França.) 

História de sua escolha como Patrono dos Namorados:

Pelos anos de 1450, viviam em Nápoles uma viúva e sua filha única, de rara beleza, virtude e espiritualidade. Originárias de família nobre, caíram na pobreza. A mãe, pensando que é a riqueza que dá aceitação social, e não tendo meios para dotar a filha de modo a permitir-lhe um casamento condigno, insistia em que a filha, usando de sua beleza, se prostituísse aos numerosos pretendentes que a assediavam. Ciosa da sua castidade, e fervorosa devota de Santo Antônio, dirigiu-se à igreja e prostrada diante da imagem do Santo, dolorosamente lhe pediu que lhe valesse. A imagem do Santo curvou-se; em sua mão trazia um papel em que estava escrito: “Dê a esta donzela, portadora deste papel, o peso do mesmo em moedas para constituir seu dote matrimonial”. E à moça, que estava de joelhos a seus pés, disse: “Vai à casa do mercador chamado... e da minha parte entrega-lhe este papel”. A menina obedeceu. Ao ler o escrito, o mercador deu uma risada trocista e mandou vir uma balança; num dos pratos colocou o papel e no outro, uma pequena moeda de mínimo valor. Mas a balança não se moveu. Então acrescentou mais uma outra moeda; e a balança continuou imóvel. E foi colocando moedas e mais moedas até que, atingindo 400 moedas de prata, a balança se equilibrou. Lembrou-se então o mercador que tempos passados prometera doar 400 moedas de prata a Santo Antônio, se conseguisse realizar um negócio em que ganhou muito mais. Esquecera-se da promessa e nunca a cumprira. Santo Antônio veio então pedir-lhe o seu cumprimento. A donzela conseguiu o seu dote e pôde casar honestamente segundo as leis da Santa Madre Igreja. 

Este é um fato. E por que é festejada à véspera? Nos tempos antigos, em que não havia as facilidades que existem nos dias de hoje, as peregrinações aos lugares sagrados eram feitas a pé, ou quando muito, em carroças puxadas a cavalos ou carros de bois. A viagem demorava dias e era calculada de modo a chegar, ao local da festa, na véspera de sua realização. Nessa noite, então, ao redor de uma fogueira, se fazia uma outra festa popular: o arraial. Com comida, bebidas, cantos e danças se trocavam os tradicionais vasinhos com manjericos, com cravo de papel espetado e, em cima, uma quadra. (Manjerico, meu manjericão; Amor da minh’alma, dá-me a tua mão.) Alcachofras se queimavam e se plantavam na terra. Se, no dia seguinte estivesse florido, em breve seria encontrado um marido. (Uma esperança para as solteironas.) E se o Santo não atendesse ao pedido, então a sua imagem era pendurada de cabeça para baixo, no poço do quintal até que atendesse os desejos.

Bons tempos! Em que a religiosidade, a ingenuidade, e a fé andavam de mãos dadas. Disse o Senhor: “Se não vos tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos Céus”.





Acadêmico José Ruivo da Silva   
Médico