REUNIÃO NA MODALIDADE REMOTA EM 08/08/2021

 



Acadêmica Ludmila Kloczak
Caros confrades, confreiras, convidados e visitantes!
Bem-vindos à reunião da Alcal, de um estranho mês de agosto que, ao invés dos ventos a propulsar pipas coloridas pelos céus de Londrina, convida a nos proteger do frio intenso, dentro de casa!
Este é o mês em que se comemora o Dia dos Pais! Falar dos pais é falar do homem! E o homem neste século XXI está na berlinda. Sua conduta é escrutinada, suas fraquezas são expostas. O propósito explícito seria para torná-lo melhor para o convívio social. Esperamos que contribua para uma sociedade mais pacífica, mais humana. Um dos efeitos que tem surgido está em um movimento, cuja sigla em inglês é MGTOW, que quer dizer: “ men going through own way” (homens seguindo através do seu próprio caminho). Homens que passaram a entender que a vida comunitária, não precisa passar, necessariamente, pela formação do casal e família. Preferem criar modos próprios e solitários de convívio, a ter que entender e conviver com este outro que é a mulher. 
A partir da leitura de textos que analisam o clássico Odisseia, de Homero, gostaria de acompanhar a trajetória do personagem, com o intuito de refletir sobre o homem de hoje. Ulisses não queria abandonar seu lar, deixar Penélope com seu filho ainda bebê e lutar contra os troianos. A pressão do poder dos seus correligionários o levou a deixar Ítaca e vencer os troianos. Entretanto, ao irritar Poseidon, deus dos mares e terremotos, é impedido de retornar ao lar, ao seu reino. Passa a vaguear, por quase vinte anos, pelas ilhas gregas e a ser desafiado a enfrentar as características da sua natureza. É uma viagem em busca do seu interior. Ao conhecer a ninfa Calipso, que o salva do naufrágio, descobre que ao confiar a ela sua vida, e deixar-se seduzir por seus encantos, será aprisionado, engolfado, escondido longe de todos e de tudo que lhe poderia ser mais caro. Ele, cujo nome, Odisseu, significava o ‘homem da dor’, se recolheria a uma profunda depressão. Escapa de Calipso, mas encontra outros perigos. Circe transforma os homens que seduz em porcos. Noutra ilha lhe é oferecida a poção do esquecimento. Sua vontade de continuar em seu retorno o faz encontrar quem lhe ofereça a imortalidade e a beleza. Entende que o tempo é finito e precisa continuar. Encontra os Cíclopes, comedores de humanos. Sua astúcia garante a fuga. Adota um nome: sou’ Ninguém’. 
Assim, de aventura em aventura, perde-se no esforço de encontrar-se. Até que a deusa Atena, despertada pelo clamor de Telêmaco, o filho deixado bebê, no colo da mãe, hoje um jovem em busca da sua identidade, que reclama da falta de um pai, modelo e apoio em sua busca e construção da identidade, da masculinidade, do esforço em compreender o feminino, do entendimento do lugar que se ocupa no mundo, ajuda Ulisses a retornar a Ítaca e a conquistar o reino, sua esposa e seu filho. 
A travessia que deve levar a um casamento em que exista homophrosyne (homofrosina), ou seja, o pensar e o conhecer compartilhado entre duas pessoas.  Não apenas o ajustamento entre corpos, mas o encontro das mentes que resulta em viverem juntos, mas, sobretudo, compartilharem uma verdade comum.  Telêmaco, cujo significado é  ‘atirador distante’, desenvolve em seu interior a capacidade de criar um elo invisível inconsciente com seu pai distante, mas cada vez mais disposto a encontra-lo. Seu pai interno lhe fala de forma significativa, amorosa, sem veleidades.
Tornar-se pai significa capacidade interna de acolher o filho.  É um trabalho longo e exaustivo, que só vale a pena porque é um belo exercício de Amor.
Feliz Dia dos Pais, aos pais presentes e ausentes, que permanecem em nossas lembranças!

Obs. Este texto foi inspirado na leitura de: 
“A Odisseia do Analista: restaurando objetos internos”, da autora Meg Harris Williams; 
publicado na revista IDE: vol. 43, n. 71, junho 2021


"Telêmaco Borba: um paranaense em destaque"
Acadêmica Fátima Mandelli
Telêmaco Augusto Enéas Morosini Borba era um dos doze filhos do paulista Vicente Antônio Rodrigues Borba, o Capitão Borba, veterano da Guerra da Independência e da Campanha Cisplatina. O Capitão Borba possuía admiração e prestígio pelo bandeirante paulista Manuel de Borba Gato, sendo descendente da família Borba Gato e de portugueses. Vicente Antônio Rodrigues Borba foi sargento-mor na antiga Cisplatina, ao lado do general Fructuoso Rivera, e lá conheceu a uruguaia, descendente de espanhóis e italianos, Joana Hilária Morosini. Nascida em Montevidéo, seu pai era de Sacramento, os avós paternos de Veneza, Itália, e os avós maternos de Andaluzia, Espanha. Ainda no Uruguai, Borba e Joana, tiveram o primeiro filho, que faleceu prematuramente e foi batizado com o nome de Ulisses Epaminondas Borba. Entre os demais filhos, estão: Jocelin, Claudiana, Emília, Sofia, Porcina, Telêmaco e Nestor.
Telêmaco casou-se com Rita Marques do Amaral em Porto de Cima, em 25 de dezembro de 1860. Rita era filha do comerciante Lupércio José do Amaral. O casal deixou inúmeros descendentes, formando uma célebre família paranaense. Tiveram oito filhos: Luiza Borba, Martiniano Morosini Borba, Eusébio Borba, Eliza Borba, Joana Borba, Hermínia Borba, Maria Augusta Borba. Entre os seus descendentes ilustres estão Rogério Morosini Borba (filho), Guataçara Borba Carneiro (neto), Hermínia Rolim Lupion (neta), Abelardo Lupion (trineto) e Túlio Vargas (bisneto).
Rara foto de
Tekêmaco Borba
Descendente de portugueses, espanhóis e italianos, era autodidata e poliglota, falava além da língua portuguesa, o espanhol, o francês, o italiano, o caingangue e o guarani. Aceitando uma vida perigosa e arriscada, decide complementar a tarefa missionária dos padres capuchinhos, e aos 23 anos é nomeado para dirigir o Aldeamento Indígena de São Pedro de Alcântara, iniciando suas atividades de sertanista. Permaneceu dez anos exercendo tal ofício. Em 1878 fundou o Toldo Indígena de Barreiro, no município de Reserva, tendo sido, no momento subsequente, nomeado como Diretor dos Índios no Amparo, município de Tibagi. Na cidade de Tibagi fundou o Museu do Índio. Era tolerante com as questões espirituais, jamais impedindo que os membros de sua família cumprissem com os deveres religiosos. Telêmaco, contudo, era cético, de orientação gnóstica, não ateu.
Escritor
Em 1882, escreve o Pequeno vocabulário das línguas Portuguêsa e Kaigangues ou Coroados acompanhado de outro Vocabulário das línguas Cayuguas e Chavantes, ambos publicados no Catálogo dos Objetos do Museu Paranaense, obras de real valia, que por notícias, até os dias atuais são as únicas existentes no gênero.
Escreveu também Actualidade Indígena, um compêndio de informações indígenas, em 1908. Em 1883, publicou na Revista Sociedade de Geografia de Lisboa, o artigo Breve notícia sobre os Índios Caigangues, que foi reeditada em 1935, em Viena, na Revista Internacional de Etnologia e Lingüística Anthropos. Passou a externar seus pensamentos num pequeno semanário chamado “O Tibagy”, no ano de 1904, durante dois anos. Seus estudos levaram-no a sócio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense.
Explorador
Como explorador, Telêmaco foi igualmente surpreendente. Lamenha Lins, então presidente da Província do Paraná, resolveu executar o projeto de uma estrada férrea no sentido do Mato Grosso, cujo traçado previa uma ponte sobre o Salto, em Guairá, Telêmaco aceitou o comando da empreitada, buscando quebrar o mito de atingir seu objetivo pela via aquática. Após 45 dias, Telêmaco e seus comandados, atingem seus objetivos. Conquistam Sete Quedas, cumprindo a missão impossível que lhe havia sido confiado. O registro desse acontecimento foi feito com a fixação de uma inscrição em pedra, retratada por diversos historiadores, nas gargantas de Sete Quedas, na cidade de Guairá.
Político
Telêmaco não se limitou à vida sertaneja. O vasto círculo de suas relações, arrastou-o para a política provinciana. O senso crítico o tornou um rebelado. Cerrou fileiras na Revolução Federalista de 1894, o que lhe rendeu, ao final da revolta contida, longos meses de exílio no Uruguai.
Após a anistia, retornou ao Brasil, elegendo-se deputado provincial, para o biênio 1882/83 e deputado ao Congresso Legislativo Estadual, nos anos de 1891, 1897, 1899, 1908, 1910, 1912, 1914, 1916 e 1918, vice-presidente do Estado no período 1916/1917, primeiro prefeito eleito de Tibagi, cargo que ocupou por nove gestões, inspetor escolar, sub-delegado de polícia, exercendo todos esses cargos com imensa abnegação, prestando em todo o período relevantes serviços à causa pública do Paraná.
Foi Telêmaco Borba quem percebeu serem as terras do norte do estado ideais ao plantio do café, tendo defendido ardorosamente a construção de estrada para aquela região. Lutou para livrar o magistério da influência política que lhe impingia o governo estadual. Criticou a contratação de obras públicas pelo governo sem concorrência pública, entre tantas outras intervenções. Era um político que se preocupava com o ofício.
Já velho, possuidor de rara autocrítica, dono de vasto conhecimento adquirido através de estudos e pesquisas, prefeito vitalício de Tibagi, determina, por testamento, a doação das coleções de seu museu particular ao acervo do Museu Paranaense.
Morreu aos setenta e oito nos, vítima de gripe espanhola, em Tibagi. Muitas homenagens foram feita os ao Coronel Telêmaco Borba no Congresso Legislativo Paranaense e pelo Museu Paranaense.
Apesar do seu vasto currículo, de uma vida dedicada à causa indígena, Telêmaco é um personagem caluniado. Atribui-se a ele a matança de índios, entre outras impropriedades. Tal afirmação é contestada, tendo sua memória transformada em um leque de dúvidas e difamações.

Uma análise do Acadêmico José Ruivo 
(leitura da Acadêmica Neusi Berbel)
(A propósito da intervenção da nossa confreira 
Leonilda Yvonneti Spina sob o tema “Dia do Trovador. 
A Trova em Londrina", na reunião de 11/07/2021)
A dada altura, falou a nossa ilustre Confreira, a respeito dos Trovadores medievais e sua repercussão em Portugal. Entre nós sempre houve fortes ligações culturais com a França. E os Trovadores provençais eram conhecidos entre nós. E os reis portugueses todos eles tiveram uma primorosa educação cultural.
Ainda antes de haver Portugal, cerca dos anos de 900 – no testamento da Condessa Mumadona se faz menção da sua biblioteca como bem disponível.
O Conde D. Henrique, primeiro titular do Condado Portucalense e Pai do primeiro Rei de Portugal, D. Afonso Henriques, era primo do grande São Bernardo de Claraval que dizia ser “um mosteiro sem biblioteca como um canhão sem balas”. E aos frades de São Bernardo, D. Afonso Henriques confiou o Mosteiro de Alcobaça onde, em 1154 nasceu a primeira escola pública em Portugal. Escolas ligadas às sedes episcopais e paroquiais já existiam.
D. Dinis, o fundador das Escolas Gerais em 1299 era um notável cultor das “cantigas de amor ou cantigas de escárnio e malvadeza” dos trovadores medievais - cujo espírito ainda hoje se pode encontrar na poesia popular.
Ao ouvi-la relembrei algumas quadras que aqui quero transmitir.
Nasceram elas do sentimento do poeta contemporâneo (séc. XIX e XX) ou do espírito do povo que guardou em si as trovadorescas e medievais cantigas de “amor e amigo”, ou cantigas de “escárnio e malvadeza”.
E o ridículo a que se expunham os homens públicos tiveram tanto poder que chegaram a causar demissão de um Ministro de Estado, no governo de Salazar.
I – Se aquilo que a gente sente
Cá dentro tivesse voz ...
Muita gente; toda a gente!
Teria pena de nós!!!
II- Com três letrinhas apenas
Se escreve a palavra Mãe
É das palavras pequenas
A maior que o Mundo tem!
João de Deus (?)
Do espírito popular:
III- Oh minha Mãe, minha Mãe
Oh minha Mãe minha amada
Quem tem uma Mãe tem tudo
Quem não tem um Mãe, não tem nada.
IV- Filho és,
Pai serás,
Assim como fizeres,
Assim acharás...
Do filme português - “O Costa do Castelo”
V- O amor só se alimenta
Com afagos e carinhos:
Ao almoço três abraços,
Ao jantar, quatro beijinhos.
E dos vasos de manjericos que existiam nos arraiais das festas populares, nas bandeirinhas que os enfeitavam:
VI- Manjerico
Meu manjericão.
Amor da minh ‘alma
Dá-me a tua mão.
E do grande Manuel Maria Barbosa du Bocage.
Saindo do Café Nicola, ao deparar-se com uma guarda noturna sob as ordens do Intendente Geral da Polícia – Pina Manique. Às perguntas: Quem és? De onde vens? Para onde vais?
Respondeu
VII- Eu, sou o Bocage.
Venho, do Nicola.
Vou, para o outro mundo,
Se disparas a pistola!
O poeta, escritor e intelectual de grande valor que foi Trindade Coelho, era Ministro, creio que da Educação num dos governos de Salazar. E parece ter alguma simpatia pelas ideias fascistas de Mussolini.
Ora numa entrevista concedida por Salazar ao jornalista António Ferro, este perguntara-lhe: “O senhor é fascista?”
Ao que Salazar respondeu: “Eu não posso ser fascista porque estou limitado pela moral”.
E a moral a que Salazar se referiu era a moral católica.
Alguém, com a finalidade de ridicularizar o Ministro Trindade Coelho, fez circular esta quadra que, em menos de quarenta e oito horas percorreu Portugal de Norte a Sul.
VIII- Mussolini, Duce, Itália,
Saúde e fascividade.
Quis seguir os teus caminhos
Tramei-me, teu Trindade.
E como consequência do ridículo, este teve tal força que o levou a ser demitido de imediato do cargo de Ministro.
E para não fugir ao tema “Salazar” no jornal português “O Diabo” publicado em 02 de julho de 2021, e que com atraso me chegou às mãos, veio a seguinte notícia:
Salazar quis ser sepultado em campa rasa no cemitério de sua Terra Natal. O povo seu conterrâneo colocou algumas placas de mármore em sua volta com alguns dizeres. Os idiotas, inúteis incapazes e depredadores que agora se espalharam pelo mundo, procuraram destruir uma placa que a seguir copio. O povo saiu em sua defesa e houve quatro mortes em consequência da luta. Estava escrito:
IX- Aqui jaz o homem
A quem Portugal mais a dever ficou!
Ao País deu tudo de si!
Do País nada para si tirou!
Mas este veneno de destruição por aqueles que são incapazes de fazer qualquer coisa e não suportam a presença dos que pensam, vem de muitos séculos. Santo Alberto Magno, no século XII, deles se queixava. E, numa palestra que ouvi em Lisboa sob o tema Arte Moderna, o orador pura e simplesmente defendia que toda a pintura, escultura e outras valiosas obras de arte que são a riqueza cultural da humanidade, deveriam ser destruídas.
Ao lhe ser perguntado: “e que colocareis em seu lugar? – respondeu: “Ah, isso não sabemos”. Destruir somente por destruir é obra de Satanás - “o inimigo”.
E olhando o Portugal de hoje podemos chegar a dizer:
X- A heroica “revolução dos cravos”
Depois de quarenta anos vividos,
Está deixando o País” encravado”
E por três vezes “falido”.
A União Europeia e os banqueiros internacionais têm vindo em seu socorro – (do qual o ex - Primeiro-Ministro Sócrates fez desaparecer 63 bilhões de Euros sem deixar rastro).
Mas esse socorro tem um preço: o dinheiro terá de ser devolvido com juros escorchantes; e desde já se está perdendo a Soberania e a Independência Nacionais.
Portugal - Província da E.U.
E para finalizar já que o tempo urge: há muitos anos, talvez séculos, a sabedoria popular portuguesa nos ensinava: “... de poeta, médico e louco, todos temos um pouco”.
Vimos a pequena quadra de agradecimento que o povo, sempre o povo humilde, sincero e verdadeiro colocou na campa rasa de Salazar.
Recuemos no tempo, mais ou menos 1390: agora o povo português que lutou heroicamente para continuar a ser uma nação independente de Castela, buscava o grande homem que foi, no mundo e no convento, Nuno Alvares Pereira, o condestável que nos deu as vitórias que o permitiram continuar a ser.
Os nobres e os grandes senhores ciosos de garantirem suas prerrogativas acompanhavam em grande maioria, os reis de Castela. E na batalha de Aljubarrota em 1835 em que cerca de 5 mil portugueses derrotaram estrondosamente 37 mil castelhanos, nela morreram dois irmãos de D. Nunes Alvares Pereira que acompanhavam o rei de Castela.
E o povo agradecido cantou:
Nobre condestabre
Alma pura e bela
Vós que nos livraste
Do leão de Castela
Recebereis las gracias e
Mas les berces
De quem ama a Pátria 
E é português.
Hoje a igreja reconhecendo as virtudes de D. Nuno, o seu desapego pelas honras e poder, o seu amor profundo pela Senhora Santa Maria, o colocou nos altares com o nome religioso de carmelita descalço como São Nuno de Santa Maria.


"Poemas para aquecer uma manhã de domingo"
Acadêmica Leonilda Yvonneti Spina*
Fomos brindados com a apresentação de três declamações belíssimas. Confira:

* Natural de Bragança Paulista/SP, reside no Paraná desde 1964.
Professora, advogada, escritora, poetisa, declamadora.
Integrante do coral da Universidade Estadual de Londrina – UEL, desde 1987.
Pertence à Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina (ALCAL), desde 1994, sendo Titular da Cadeira n. 4. 
Exerceu o cargo de Presidente da ALCAL na gestão 2016/2017.
Presidente da União Brasileira de Trovadores/UBT/Londrina.
Sócia correspondente da ASES - Associação de Escritores de Bragança Paulista/SP.
Publicou quatro livros de poesias: FOLHAS DE OUTONO, GIRASSÓIS, ROSA-DOS-VENTOS e VEREDAS DA ALMA. 
Lançou o CD  ESSÊNCIA, com quinze poemas de sua autoria, declamados ao som de piano.
Seu trabalho mais recente foi o Prefácio da Antologia AOS TEMPOS DO ENVELOPE E DO SELO, lançada virtualmente no dia 20 de junho/21, pela ASES - Associação de Escritores de Bragança Paulista. 
Essa ANTOLOGIA contou com trabalhos de trinta e quatro escritores.
Participou de inúmeras Coletâneas e recebeu um número considerável de troféus, medalhas e certificados em Concursos de Poesias e Trovas, nacionais e internacionais.
Recebeu o título de Comendadora, outorgado pela Prefeitura Municipal de Bragança Paulista/SP, pelos relevantes serviços prestados à cultura da cidade. 


O silêncio do Leste: refugiados do stalinismo no Paraná
André Ulysses De Salis *


* Concluiu a graduação em História na UNESP de Assis em 1998.  
Concluiu o mestrado na PUC/SP em 2001, com a dissertação intitulada: A IMIGRAÇÃO SUÍÇA NO ESTADO DE SÃO PAULO: OS SUÍÇOS NAS “FRANJAS PIONEIRAS”DO OESTE PAULISTA.
Concluiu o doutorado na PUC/SP em 2020, sob a orientação da Prof. Dra. Maria Izilda Santos de Matos, com a tese intitulada: O SILÊNCIO DO LESTE: REFUGIADOS DO STALINISMO NO PARANÁ.
Lecionou na Universidade Paranaense de 2002-2006 e como professor colaborador na Unicentro/ Gurarapuava de 2009-2016. 
E lecionou na pós-graduação (lacto sensu) no Instituto ESAP e Alfa. 


 "Sobre a Academia e o Poder da Palavra"
Sergio Alves Gomes (*)

No  momento “Palavra do Orador”, o Acadêmico Sergio Alves Gomes, Orador da ALCAL, após breve saudação aos presentes à reunião, agradeceu à Presidência pela concessão da palavra e apresentou considerações reflexivas inspiradas nos conteúdos da reunião, destacando, sobretudo o papel social da Academia e o  Poder da Palavra na construção de elos civilizatórios entre os seres humanos.
O Orador começou por referir-se ao “Credo Acadêmico”, que congrega e sintetiza o conjunto de valores cultuados pela Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina, dentre os quais se situa a busca do conhecimento para superar a ignorância e possibilitar  ao ser humano, mediante o pensar e o agir construtivos, uma convivência justa, pacífica e democrática.
Em seguida, destacou a menção feita pela Acadêmica e Presidente Ludmila Kloczak ao personagem Odisseu, de Homero (Ulisses na mitologia romana), o qual, após a vitória dos gregos sobre os troianos, empreende uma longa viagem de volta à Ítaca, para reencontrar sua esposa Penélope. Em tal trajeto, o herói Odisseu é desafiado por uma multiplicidade de perigos vencidos por sua força e virtudes. Diante de tal narrativa, o Orador utilizou-se de metáfora para apontar a “vida como uma viagem”, plena de riscos e obstáculos a serem superados mediante esforços e entendimento entre os humanos. Ao aludir  a  tais perigos destacou a noção grega de “HYBRIS” (desmedida, ausência de limites, excesso) que impossibilita o convívio ordenado, justo e equilibrado. Neste sentido, o convívio também requer construção da arte de viver, a qual é sempre um “viver com o outro”, um viver em que a alteridade (presença do outro) é levada a sério, mediante o mútuo respeito. E é neste sentido que se faz a convivência democrática, a qual vem sofrendo sérias ameaças e abalos em vários países do mundo, inclusive no Brasil. 
Ao mencionar a palavra “arte”, em razão do “Momento de Arte” previsto no programa da reunião do dia, o Orador lembrou quão polêmica e complexa é a seara em que se discute o conceito de arte, discussão esta que não caberia em sua  breve reflexão.  No entanto, frisou valer à pena lembrar que, para LEON TOLSTÓI, “a arte é um dos meios que unem os homens”.(1)   Enquanto que para Ivan S. TURGNEV, “ a arte de um povo é a sua alma viva, o seu pensamento, a sua língua no significado mais alto da palavra; quando atinge sua plena expressão, torna-se patrimônio de toda a humanidade, quase mais do que a ciência, justamente porque a arte é a alma falante e pensante do homem, e a alma não morre, mas sobrevive à existência física do corpo e do povo”.(2)
É com este intuito de deixar a alma falar, que no “Momento de Arte” podem ser ouvidos “poemas para aquecer uma manhã de domingo”, na impecável declamação da Acadêmica e poetisa Leonilda Yvonneti Spina, frisou o Orador.
Na sequência, inspirando-se na Palestra do Prof. André Ulysses De Salis, intitulada “O Silêncio do Leste: refugiados do stalinismo no Paraná”, chamou atenção para a oposição entre silêncio e palavra (termo corresponde a um dos significados da palavra grega “logos”). Frisou que o silêncio destacado no título da palestra não é o silêncio reflexivo, necessário ao aprofundar do pensamento e preparador da palavra sensata, mas sim o silêncio imposto pela força, pelo terror e pelo medo. É o silêncio que esconde a fome, engendra a fuga e produz a expropriação. É o silêncio que tira do “outro” a possibilidade da fala, de ter voz, de se afirmar como igual, como pessoa. É o silêncio totalitário e ditatorial. É contra este silêncio que a Democracia se apresenta como única alternativa para a liberdade de pensar e de expressar o pensamento. Construir pontes e não cercas (ou muros) é próprio da convivência democrática, diz o Orador. Neste sentido, citou versos do poema “A Ponte e a Cerca”, de Marilene Mees Pretti, que dizem: 
“Se formos cerca... 
Estaremos dividindo...Marcando espaço...
Quando poderíamos formar elos...
Entre mundo em duelos”. 
Destacou ainda que, na formação dos elos de fraternidade e solidariedade, é imenso o poder da palavra, lembrando que “fazemos coisas com as palavras”, (3) boas e ruins. Com palavras exaltamos virtudes de uma pessoa ou de um país, mas podemos, também, com palavras maledicentes, conspurcar e destruir tal reputação. 
Tem-se no mundo contemporâneo uma “sociedade em rede”,4) conectada mediante um sistema mundial de computadores e diversos aparatos que possibilitam a imediata comunicação a todos os continentes de tudo o que acontece. Todavia, tal realidade não torna por si só o mundo melhor. Todo instrumento pode ser utilizado para fins construtivos ou destrutivos. A “Internet” não se isenta desta realidade. Pode unir ou separar, divulgar a verdade científica ou ser usada para “fake news” e disseminação do ódio.(5)  Neste sentido, o Orador citou trecho de MUNIZ SODRÉ (6) que afirma: “a rede é uma “cidade” sem cidadania, todos os habitantes eletronicamente juntos, mas humanamente separados, a exemplo de um agrupamento de autômatos. Separação é a palavra-chave de uma nova equação civilizatória, lastreada por uma dinâmica “incivil”.
Diante disso, frisou  o Orador que é preciso unir esforços e agir no sentido oposto da incivilidade e que tal ação faz parte da necessária “cura do mundo” (7), a qual pode ser dita também de forma poética, como na versão em português da canção original de Michael Jackson, “heal the world” (cure o mundo), em forma de persuasivo convite:
“Se você for capaz de soltar a sua voz
Pelo ar, como prece de criança
Deve então começar, outros vão te acompanhar
E cantar com harmonia e esperança
Deixe que esse canto lave o pranto do mundo
Pra trazer perdão e dividir o pão.

Só o amor muda o que já se fez
E a força da paz junta todos outra vez
Venha, já é hora de acender a chama da vida
E fazer a terra inteira feliz.
Para concluir, o Orador ressaltou que a reunião da Academia evidencia ser esta o lugar da palavra (“logos”), do cultivo da Ciência, das Letras e das Artes, mediante o exercício criativo da liberdade responsável e da comunicação do pensamento. E a união em torno dos valores que norteiam suas atividades faz lembrar a todos que se quisermos a “cura do mundo” é  necessário sempre e cada vez mais que as pessoas se unam por meio do diálogo, da admiração e do respeito mútuo; que o silêncio seja rompido não por termos e gestos agressivos, chulos, ofensivos, mas sim, pela palavra construtiva e transformadora. Tal palavra é aquela que expressa conhecimento, civilidade, hospitalidade, acolhimento e afabilidade em relação ao “outro”, especialmente quando este se apresenta como vítima da miséria, de catástrofes e guerras, como ocorre com os refugiados espalhados pelo mundo a procura de um abrigo, de um lar, de uma pátria. Compreender isso e lutar por uma convivência mais humana no planeta é fundamental para que possamos merecer o nome de “humanidade”. Torna-se evidente que a humanização do homem só ocorre se na convivência social forem tecidos e fortalecidos laços de fraternidade.   
Ao encerrar sua reflexão, o Acadêmico e Orador Sergio Alves Gomes  agradeceu a todos pela atenção e passou  a palavra ao cerimonial da reunião. 

NOTAS:
(1) Cf. BARELLI, Ettore; PENNACCHIETTI, Sergio. Dicionário das Citações. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p.63.
(2) Idem, ibidem
(3) Sobre ações feitas com palavras, cf. AUSTIN, J.L. “Quando Dizer é Fazer” (título original: How To Do Things With Words). Porto Alegre: Artes Médicas 1990. 
(4) Cf. CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, 2002. 
(5) Cf. MELLO, Patrícia Campos. A Máquina do Ódio. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.
(6) SODRÉ, Muniz. A Sociedade Incivil. Petrópolis: Vozes, 2021, p. 14.
(7) Preocupado com a “cura do mundo”, diz o pensador Frédéric Lenoir: “para desenvolver-se, o ser humano precisa tanto da interioridade como da exterioridade, tanto de meditação quanto de ação, tanto de conhecer a si mesmo como de ir ao encontro dos outros. Além disso, quanto mais sua ação for importante, quanto maior for a sua projeção no mundo, quanto mais o corpo e a matéria ocuparem um lugar determinante em sua vida, mais ele precisará se recentrar, ir rumo à interioridade, para realmente assumir seu peso e dominar suas consequências.” (Cf.LENOIR, Frédéric. A Cura do Mundo. São Paulo: Loyola, 2014, p.196).

(*) Sergio Alves Gomes é Doutor em Direito: Filosofia do Direito e do Estado, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); Professor Associado da Universidade Estadual de Londrina (Departamento de Direito Público), na qual é também Professor Colaborador do Programa de Mestrado/Doutorado em Direito Negocial; Magistrado (Juiz de Direito aposentado) e Ocupante da Cadeira 36 (Patrono: Hugo Gutierrez Simas) da Academia de Letras, Ciências e Arte de Londrina.
__________________________________

Extraído do "chat" da reunião:
From Clodomiro Jose Bannwart Junior to Everyone:  10:05 AM
Jonas, bom dia!
From Murilo Rebecchi to Everyone:  10:06 AM
Bom dia! Docente da Faculdade UniAlfa Umuarama!
From Sueli to Everyone:  10:11 AM
Bom dia a todos!
From M. Henrique P. Brügge to Everyone:  10:12 AM
Bom dia a todos!
From Jonas to Everyone:  10:15 AM
Bom dia a todos e a todas, saudade do contato presencial, saudade do nosso café, da conversa de canto e de todos os encantos da vida
From Izilda Matos to Everyone:  10:17 AM
Bom dia a todos
From Sueli to Everyone:  10:21 AM
Linda homenagem!
From Izilda Matos to Everyone:  10:23 AM
Prazer estar participando desta sessão, sou Profa. da PUC/SP e agradeço a possibilidade da divulgação da excelente tese de André Salis.
From Marco to Everyone:  10:28 AM
Maravilhosa exposição da nossa presidente. Coincidentemente li essa semana um belo poema de Konstantinos Kavafis, poeta grego, chamado Itaca, que recomendo!
From Clodomiro Jose Bannwart Junior to Everyone:  10:47 AM
Excelente!
From M. Henrique P. Brügge to Everyone:  10:48 AM
Meu coração está emocionado com as declamações
From Murilo Rebecchi to Everyone:  11:03 AM
Prof. André !!! Saudades. Prof. André foi meu professor na graduação de História !!!
From Clodomiro Jose Bannwart Junior to Everyone:  11:36 AM
Parabéns ao André pela excelente exposição. Muito bom!
From Izilda Matos to Everyone:  11:36 AM
Parabéns
From Neusi Berbel to Everyone:  11:37 AM
Parabéns, Prof. André!!!!
From Maysa to Everyone:  11:37 AM
Parabens Andre. Obrigadissima
From Sueli to Everyone:  11:51 AM
Parabéns Dr. André!
From Sueli to Everyone:  11:52 AM
Parabéns Dr. André! Trabalho profundo e de muito valor.
From André Salis to Everyone:  11:52 AM
Muito obrigado! Agradeço demais a atenção de todos
From Leonilda Spina to Everyone:  11:53 AM
Parabéns, Prof. André!
From André Salis to Everyone:  11:53 AM
Link para a tese:
https://sapientia.pucsp.br/handle/handle/23238
From Sueli to Everyone:  11:53 AM
Muito obrigada a todos pelas profundas reflexões que têm  nos promovido..
Parabéns a todos pais! Muito obrigada Dra. Neusi pelo convite.
From Neusi Berbel to Everyone:  12:00 PM
Agradeço, Sueli, pela sua presença e participação!!!
Que reunião magnífica!  Parabéns e obrigada a todos!!!!
From M. Henrique P. Brügge to Everyone:  12:05 PM
Agradeço a oportunidade de ter recebido tanto conhecimento e reflexões magníficas aqui feitas.