Extratos da reunião de 08/09/2019

(A abertura dos trabalhos coube ao nosso Mestre de Cerimônias
Jonas Rodrigues de Mattos)

A mesa diretiva, com a presidente Pilar Alvares Gonzaga ao centro, 
o palestrante do dia Dr. Luis Parellada Ruiz à esquerda 
e nosso Orador, Acadêmico Sergio Alves Gomes à direita

O Acadêmico Bruno Fuga foi convidado
para a leitura do Credo Acadêmico

O Acadêmico Edilson Elias falou rapidamente do livro "Fatos do Paraná" e agradeceu a todos aqueles que prestigiaram seu lançamento recente no Instituto José Gonzaga Vieira

A Presidente da Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina, Pilar Alvares Gonzaga Vieira, deu as boas-vindas aos presentes - Acadêmicos, visitantes e familiares - e, ao invés da sua tradicional reflexão, cedeu seu tempo para aqueles que se apresentariam em seguida.
Frisou a importância que representará o 14o. Encontro das Academias do Paraná e, mais uma vez, solicitou a participação de todos os nossos Acadêmicos para integrarem comissões de trabalho e colaborarem para o sucesso do evento.

Nosso Momento de Arte contou com uma breve apresentação de algumas aquarelas criadas pela nossa Acadêmica Neusi Berbel.
Para a Acadêmica, a arte é um hobby , por isso não vende seus quadros, mas gosta de mostrá-los, sempre que convidada.  
Neusi pinta aquarelas a  partir de fotos que busca sobre seus temas e de que gosta, ou de suas  próprias, no estilo hiper-realista, em que trabalha nos mínimos detalhes, o que as difere das aquarelas abstratas.
Como explicou, a técnica da aquarela constitui uma mistura de pigmento e água sobre o papel e pode apresentar-se da perfeita exatidão ao desordenado, da aguada à quase fotografia, que é o seu caso.
Neusi tem focalizado seu trabalho em flores, borboletas e pássaros. Já expôs suas obras em diferentes espaços em Londrina.
Uma das aquarelas apresentadas pela artista

Os Destaques Acadêmicos ficaram por conta do Acadêmico Marco Antonio Fabiani, que falou sobre seu livro "Um Bourbon para Faulkner". 
O livro conta a história do ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1949, William Faulkner, que veio ao Brasil em 1954 para participar, como convidado especial, de um Congresso de Escritores hospedando-se em hotel na cidade de São Paulo. Ao invés de comparecer às programações organizadas pelo Consulado americano, passou os dias (e noites) no bar do hotel, travando amizade com um garçom de origem americana, que também falava inglês (o autor mistura realidade com ficção), o que resultou em intermináveis conversas. O livro originou uma peça de teatro, já apresentada por diversas vezes em Londrina, com salas lotadas, obtendo enorme receptividade e sucesso.
A Rota de Dom Quixote
Dr. Luis Parellada Ruiz *

O palestrante deleitou os presentes, dividindo sua palestra em duas partes. Na primeira, apresentou um filme produzido na Espanha, sob o título "O retábulo do mestre Pedro", que mistura opereta, dança e marionetes. 
O personagem Dom Quixote, apresentado no filme
A opereta aborda inúmeros personagens além de Dom Quixote, como Melisendra, Dom Gaiferos, o Imperador Carlos Magno, Dom Roldão, o rei Marsílio de Sansonha e Dulcinéia, todos integrantes do livro de Miguel de Cervantes. 
Na segunda parte da palestra, o palestrante narrou com detalhes sua jornada pelas várias cidades em que Miguel de Cervantes viveu, trilhando a chamada "Rota de Dom Quixote", apresentando fotografias de sua autoria que mostram as casas onde o escritor espanhol residiu - a maioria hoje transformada em museus. 
Alcala De Henares, Espanha. Museu e casa berço de Miguel de Cervantes,
com estátuas de Quixote e Sancho Pança
O livro Don Quixote de La Mancha teve sua primeira edição publicada em Madrid no ano de 1605. É composto por 126 capítulos, divididos em duas partes: a primeira surgida em 1605 e a outra em 1615. É o segundo livro mais publicado no mundo, apenas superado pela Bíblia.
Várias fotos apresentadas mostraram esculturas da dupla Dom Quixote e Sancho Pança moldadas em materiais diversos e espalhadas pelo país, além de algumas das caracterizações gráficas sob forma de pinturas e desenhos, inclusive pelo mestre Pablo Picasso.
Os famosos moinhos de vento, que povoaram a história de Dom Quixote
O palestrante explicou que hoje existem inúmeras rotas turísticas na Espanha que percorrem o longo caminho trilhado por Dom Quixote; as rotas são sinalizadas, todas com uma pequena placa indicativa verde e que nos remetem a algum pedaço da mirabolante história de Cervantes.

O mapa da Espanha, mostrando a região da Mancha
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* Dr. Luis Parellada Ruiz é médico formado pela Universidade Saragossa – Espanha em 1956 e revalidado na faculdade de Medicina da Universidade do Recife – PE em 1963; especialista em Patologia Clínica, Medicina Laboratorial pela AMB em 1967; participou de 53 cursos e 58 congressos e jornadas cientificas. Proferiu 50 conferências em cursos e congressos. Autor ou colaborador em 51 trabalhos científicos, três deles premiados. Foi professor assistente de microbiologia clínica da UEL, presidente da associação médica de Apucarana e superintendente da Unimed de Londrina. Criador e diretor titular do Laboratório Labimagem em Londrina.

Acadêmico Sergio Alves Gomes
Para cumprir o último tópico do programa da reunião ordinária da Academia (“Palavra do Orador”), fez uso da palavra o Acadêmico e Orador Sergio Alves Gomes. Sua reflexão foi inspirada especialmente pela efeméride de 07 de setembro, data em que se celebra a proclamação da independência do Brasil em relação à coroa portuguesa. Iniciou pelas considerações sobre a palavra “independência”. 
Para tanto o Orador valeu-se dos ensinamentos do Pe. FERNANDO DE BASTOS DE ÁVILA S.J. que analisa o verbete “independência”, começando pela etimologia do termo:  do latim “in”= privativo ou negativo + “dependere” = depender: condição de não dependência. Segundo o referido autor, “o termo é tomado em vários sentidos, conforme o sujeito e o objeto da não dependência. O sujeito pode ser a pessoa, os grupos ou as comunidades; o objeto pode referir-se à não dependência de vínculos legais ou políticos, de condicionamentos econômicos, sociais ou culturais”. ÁVILA aponta três sentidos para o substantivo independência”.  O primeiro sentido é o de “emancipação que define a passagem à maioridade”. Lembra que os “jovens sempre manifestaram o desejo de afirmar sua independência em face de seus pais e demais autoridades”. E frisa o mesmo autor que “a única maneira de prepará-los para a independência é deferir-lhes crescentes responsabilidades. Sem o exercício de responsabilidades, ninguém se prepara para o uso responsável da liberdade”. O segundo sentido (de independência), “refere-se à independência socioeconômico  do indivíduo, que, por seu próprio trabalho e recurso, pode prover à sua subsistência e à daqueles que tem sob sua responsabilidade. O terceiro sentido  consiste na “independência cultural da pessoa que se pretende conservar isenta das influências de quaisquer padrões de pensamento ou ação”  Bastos de Ávila observa que “nesta mesma chave, entraria a independência política de quem se mantém à margem de qualquer filiação partidária ou de quem, mesmo dentro de um partido, se reserva o direito de crítica de opções políticas.”
Em seguida, Gomes destacou que o autor do verbete “independência” reflete  sobre a aplicação de tal conceito  ao convívio social.  E com tal intuito assevera:  “Aplicados aos grupos ou comunidades o conceito de independência caracteriza uma condição de soberania política, econômica e cultural pela qual o sujeito coletivo detém os comandos de sua autodeterminação e se opõe a qualquer forma de imperialismo [...]. Pela independência política, um povo se constitui em nação, como sujeito de deveres e direitos internacionais [...]  E acrescenta o autor do verbete: “Todo homem, como toda nação, deve manter sempre viva uma justa aspiração de independência contra qualquer entrave que impeça sua promoção e o desenvolvimento de suas potencialidades e recursos. Nenhum homem, como nenhuma nação, entretanto podem esquecer que hoje ninguém é totalmente independente.   Todos são tributários uns dos outros. Para que eu possa agora comer um pedaço de pão, dependo de uma legião imensa de outras pessoas e de uma rede indestrinçável de serviços, sem os quais meu gesto de comer seria impossível [...] Uma aspiração de independência que se traduzisse em exigências de isolacionismo estaria fora do grande vetor da história e votada inelutavelmente à defecção.  Independência hoje só tem sentido como condição para o uso responsável da liberdade, orientado para o maior bem comum das pessoas e das nações”. (IN: PEQUENA ENCICLOPÉDIA DE MORAL E CIVISMO, FENAME - Fundação Nacional  de Material Escolar, 1972).
Na sequência, a partir destas noções sobre “independência”, o Orador Sergio Alves Gomes lembrou que   o “princípio da independência nacional” figura no elenco dos dez (10) princípios que regem a República Federativa do Brasil nas suas relações internacionais, conforme consta no artigo 4º, incisos I a X, da Constituição Federal, promulgada em  05 de outubro de 1988. Frisou que, segundo a melhor doutrina jurídica vigente e a sedimentada jurisprudência, os princípios constitucionais são as normas jurídicas mais importantes do ordenamento jurídico. São seus pilares e, por isso, além de servirem de sustentáculos da ordem constitucional (que é ao mesmo tempo jurídica, política, econômica, social, cultural, ambiental...) irradiam seus comandos para todo o arcabouço normativo e institucional do País. Não são conselhos.  São normas jurídicas da mais alta hierarquia da ordem jurídica, dotadas de coercibilidade. Por isso, exigem respeito e efetiva aplicação.  Sua observância acarreta efeitos positivos na construção dos objetivos visados pela nação ao adotar tais princípios em sua Carta Magna. Seu desrespeito, ao contrário, traz consequências deletérias, destrutivas, no âmbito das relações internacionais que ocorrem cotidianamente entre o Brasil e demais nações com as quais o País se relaciona. 
O Orador observou também que o alcance do princípio da “independência nacional” (C.F. art. 4º, inciso I) só pode ser determinado mediante a interpretação sistemática da Constituição Federal (considerada em seu todo, como um sistema coerente) e não por meio de interpretação isolada de tal dispositivo. Este deve ser compreendido em consonância com os demais princípios que tratam da mesma matéria constitucional (relações internacionais da República Federativa do Brasil), tais como: prevalência dos direitos humanos, cooperação entre os povos para o progresso da humanidade, defesa da paz, repúdio ao terrorismo e ao racismo, solução pacífica dos conflitos e outros. 
Destacou ainda o Orador que a verdadeira independência se faz mediante a observância de tais princípios e, sobretudo, valorizando a cooperação internacional no enfrentamento de problemas que ultrapassam as fronteiras de qualquer Estado-nação, como são, por exemplo, aqueles decorrentes de fenômenos da natureza (aquecimento global, secas, inundações, terremotos, furacões, imigrações em massa...). Para fazer frente a tais desafios é indispensável a cooperação entre os Estados -nação, o que comprova a assertiva de que vivemos em tempos que demonstram - a quem tem um mínimo de sensatez - que toda proclamada independência se faz cada vez mais relativa, porque no mundo atual, da sociedade global em rede, somos todos – seja enquanto indivíduos ou nações – cada vez mais interdependentes. Precisamos uns dos outros. Por isso, o diálogo respeitoso é o caminho para o recíproco entendimento. Evitar palavras e gestos ofensivos é fundamental na construção do frutífero diálogo.   Isso requer de todos os países o fortalecimento e valorização da diplomacia a substituir grosserias, ameaças e exibicionismo de forças bélicas que ainda encantam a vaidade de certos governantes que não conseguem esconder o que mais os motivam: uma insaciável sede de perpetuação no poder, em favor de si mesmos. E, lamentavelmente, com tais atitudes, causam grave dano não apenas aos países que governam, mas a todo o mundo, em razão dos reflexos negativos de suas imaturas e antidemocráticas atitudes e ações motivadas pela fantasia de uma absoluta e ilusória independência. 
Por último, com o intuito de chamar atenção para as chamas que estão a destruir velozmente as florestas brasileiras, neste crítico momento de múltiplas, imensas e devastadoras queimadas, o Orador leu um poema de Madalena Oliveira de Souza intitulado “Apelo da mãe natureza para sua filha Natália”(Cf. GAUDEDA, Natália. O Voo da Filha da Terra. Curitiba: 2019, p.77) dedicada  à Professora  NATÁLIA GAUDEDA, homenageada em São Gabriel do Oeste-MS, em 2002, pelo seu trabalho como educadora, em meio aos desafios dos tempos contemporâneos,  inclusive à sofrível e indispensável EDUCAÇÃO, sem a qual o ser humano destrói a si mesmo, começando tal auto aniquilação (suicídio) pela destruição de seu próprio “habitat”, sua morada natural e de todos os viventes. 
Diz o poema:

APELO DA MÃE NATUREZA PARA SUA FILHA NATÁLIA

Ó filha Natália
Com a sua sabedoria
Trabalhando dia a dia 
Muito tem cuidado de mim
Mas nem todos põem na mente
Que estou muito doente
Quase chegando ao fim.

Diga que o meu sofrimento
Vem do grande desmatamento
Destruindo o meu pulmão
Os meus rios estão secando
Peixes não mais encontrando 
Por causa da invasão

Minha fauna destruída
Muitos sem dó tiram a vida
Os animais que querem viver
Minha flora se acabando
As doenças aumentando
Que fazer? Que fazer. (sic)

Grite bem alto filha minha
Doce e meiga rainha 
Que o criador escolheu
Para não fazer queimadas
Pois estou desesperada
Em mim as chamas doeu.

Por onde você tem passado
Muitas sementes têm semeado
Para não me ver chorar
Sei que das tuas lindas mãos
Vão germinar muitos grãos
Para me recuperar.

Eu tenho observado
Pelos meus índios tem lutado
Para defender os direitos seus
Mas quando você deste mundo partir...
Quem lutará para mim?
Pergunte aos filhos meus.
(Madalena Oliveira de Souza)
Em seguida, o Orador agradeceu aos presentes pela atenção dando por encerrada sua fala. 
Entrega do Certificado de Participação
ao palestrante Dr. Luis Parellada Ruiz
pela Acadêmica Fátima Mandelli
Ao término da reunião, a Acadêmica Fátima Mandelli convidou os Acadêmicos para comparecerem no dia 27 deste mês de setembro na Câmara Municipal de Cambé, município vizinho a Londrina, oportunidade em receberá Menção Honrosa pelo seu trabalho na Educação.
Endereço: Av. Inglaterra, 655, em frente ao Colégio Olavo Bilac. Horário 19:30h