REUNIÃO NA MODALIDADE REMOTA EM 09/05/2021




Acadêmica Ludmila Kloczak

Caros acadêmicos, convidados e visitantes à reunião da Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina,
Estamos em pleno outono, neste mês de maio em que se comemoram eventos significativos para a história e a cultura. Celebramos o trabalho e os trabalhadores e o ato que determinou a libertação dos escravos africanos no Brasil. Homenageamos e agradecemos às mães a sua contribuição fundamental para a estrutura da sociedade humana. Respeitamos a experiência místico-religiosa de Nossa Senhora de Fátima, vivida em Portugal que fortaleceu o espírito cristão em terras portuguesas e brasileiras.
Recentemente, assisti a um vídeo em que se perguntava às pessoas, caso pudessem realizar, o que escolheriam para fazer que lhes traria felicidade? As respostas variaram entre visitar os pais, ficar mais tempo com os filhos em casa, convidar amigos para uma roda de conversa, viajar, ouvir música em casa, sozinhos. Chamou-me a atenção que não houve qualquer resposta que mencionasse alguma atividade relacionada ao trabalho. O que traz felicidade tem a qualidade de nos afastar o mais distante possível do trabalho. Nossas expectativas nos levam a imaginar oportunidades de relaxar, desligar, libertar-se do trabalho.  O que nos ocupa a maior parte das nossas horas diárias e, se considerarmos que a vida escolar não deixa de ser uma forma de trabalho, no mínimo dois terços das nossas vidas, é dedicada ao trabalho. Esta atividade organizada em todas as sociedades para mantê-las vivas e em funcionamento, não é vista como fonte de felicidade.
É uma constatação que remete ao propósito da vida. O que o ser humano deseja é ser feliz. Ser feliz envolve ausência de sofrimento e de desprazer e a realização de experiências de mais intenso prazer. O que determina o propósito da vida é regido por todos os aspectos que envolvem o princípio do prazer, o qual ocupa e direciona nossas mentes desde o princípio. Entretanto, se a condição para a felicidade depende de atender plenamente ao princípio do prazer, estamos condenados ao insucesso. No sentido mais ponderado do termo, a busca pelo prazer está contida nas respostas dos entrevistados. Esperam obter satisfação de necessidades inibidas, represadas, cujo resultado é efêmero e pontual. Nossa constituição mental reconhece experiências de prazer intenso por contraste com a carência. Aproveitamos pouco das situações de bem-estar prolongadas como fonte de prazer. Acabamos por nos cansar e entediar. 
 Por outro lado, a infelicidade é uma companheira muito mais presente em nossas vidas, seja pela condição do nosso corpo que tende à decadência e à morte anunciada; seja pelo que o mundo externo nos oferece em desafios, derrotas, agressões e destruição; seja pelas frustrações advindas dos nossos relacionamentos com nossos semelhantes. Esta ambivalência que nos constitui, levou a moderar nossas reivindicações de prazer pleno e absoluto e a aceitar a influência das condições do mundo externo que submeteu a meta do princípio do prazer ao princípio da realidade. Na prática, esta transformação salvou o homem de si mesmo. 
Entretanto, não há outra atividade humana tão bem constituída para prender o indivíduo à realidade do que a dedicação dispensada ao trabalho. Este fornece-lhe um lugar seguro e definido na comunidade humana. Mas, a atividade laboral e profissional só se constitui fonte de satisfação prazerosa quando se assenta no uso das inclinações pessoais, das identificações, ou seja, de impulsos constitucionais persistentes e reforçados em direção à natureza do trabalho exercido. É inevitável que nem sempre seja possível escolher livremente a atividade a exercer. E a grande maioria das pessoas só trabalha pressionada pela necessidade. Neste caso, dificilmente, o trabalho tomará o lugar de fonte do princípio do prazer. 
Há de se considerar que é da natureza do trabalho, uma ambiguidade constitucional. Mesmo que ele possa proporcionar satisfações, sua vinculação ao suprimento das necessidades de sobrevivência, ao sofrimento da luta pela vida, transforma-o em objeto do grande acordo psíquico individual e social entre o princípio do prazer e a realidade. Uma parcela bem pequena da população humana faz do trabalho sua fonte de sublimação dos instintos e transformação dos mesmos em prazer criativo. 
Obs: Ensaio inspirado em: Freud, S. (1930) O Mal-Estar na Civilização. Standard Brasileira, v. XXI, pp. 81-171.



Sobre a liberdade: breves considerações reflexivas
Acadêmico Sergio Alves Gomes*

No  momento “Palavra do Orador”, o Acadêmico Sergio Alves Gomes, Orador da ALCAL, após breve saudação aos presentes à reunião, apresentou, sinteticamente, comunicação intitulada “Sobre a Liberdade: breves considerações”. Segue o texto integral em que se baseou sua participação na reunião. 

Em 21 de abril, o Brasil homenageia Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, “Mártir da Independência”, que, em 1792, foi levado ao cadafalso, por participar da “Inconfidência Mineira”. Os integrantes deste movimento se opunham ao pagamento à Coroa Portuguesa da quinta parte do ouro encontrado nas minas em exploração e lutavam pelo fim da submissão a Portugal. “Tiradentes foi enforcado num cenário típico das execuções no Antigo Regime” (1). Uma morte histórica e simbólica, na luta pela liberdade.
No dia 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel, então Princesa Regente, sancionou a Lei Imperial 3353, que extinguiu, a partir daquela data, a escravidão no Brasil. Obviamente, tem-se aí um outro marco histórico em prol da liberdade. No entanto, a história registra que “a abolição da escravatura não eliminou o problema do negro. A opção pelo trabalhador imigrante, nas áreas regionais mais dinâmicas da economia, e as escassas oportunidades abertas ao ex-escravo, em outras áreas, resultaram em uma profunda desigualdade social da população negra. Fruto em parte do preconceito, essa desigualdade acabou por reforçar o próprio preconceito contra o negro. Sobretudo nas regiões de forte imigração, ele foi considerado um ser inferior, perigoso, vadio e propenso ao crime; mas útil quando subserviente” (2)
O tema da aspiração por liberdade se faz presente em múltiplas manifestações artísticas, aqui exemplificadas pela composição musical  “Upa Neguinho”, de EDU LOBO, quando diz: “Upa neguinho na estrada, upa pra lá e prá cá, vixi que coisa mais linda, upa neguinho começando a andar, começando a andar. E já começa a apanhar”[...] Capoeira, posso ensinar. Ziquizira, posso tirar. Valentia, posso emprestar. Mas liberdade só posso esperar.” 
O “Hino da Proclamação da República” faz da liberdade o seu refrão, ao dizer: “Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós!”. Evidencia assim que não haverá verdadeira República onde não houver liberdade garantida para todos. Também não há democracia sem liberdade, por ser esta um dos “valores supremos” do Estado Democrático de Direito e, por isso mesmo, um direito fundamental, conforme preceituam, respectivamente, o preâmbulo e o art. 5º da Constituição Federal. 
Mas o que é liberdade? Quais são as suas dimensões? Qual sua relação com outros valores e direitos como a vida, a igualdade, a segurança, a justiça, a propriedade? Como a liberdade é considerada no âmbito da Democracia? É possível liberdade sem desenvolvimento e sem redução das desigualdades sociais? 
O filósofo ISAIAH BERLIN (3) apresenta dois conceitos de liberdade: liberdade negativa e liberdade positiva. Negativa é a liberdade que responde a seguinte pergunta: “Qual é a área que o sujeito - uma pessoa ou um grupo de pessoas – deve ter ou receber para fazer o que pode fazer, ou ser o que pode ser, sem que outras pessoas interfiram?” Liberdade positiva tem a ver com a aspiração do indivíduo de ser seu próprio senhor. Nas palavras de Berlin: “Quero ser alguém e não ninguém, alguém capaz de fazer - decidindo, sem que decidam por mim, autoconduzido e não sofrendo influências de natureza externa ou de outros homens como se eu fosse uma coisa, um animal, um escravo incapaz de interpretar um papel humano, isto é, de conceber metas e diretrizes inteiramente minhas, e de concretizá-las. Eis aí – exclama, pelo menos parte do que quero expressar quando digo que sou racional e que é minha razão que me distingue, por ser humano, de todo o resto do mundo”. (4)
BENJAMIN CONSTANT, pensador e político franco-suiço, proferiu em 1819, no Ateneu Real de Paris, um célebre discurso intitulado “A liberdade dos antigos comparada à dos modernos” (De la liberté des anciens comparée a celle des modernes”), que, pela sua atualidade, merece ser trazido à reflexão.  Para ele, a liberdade dos modernos “é para cada um o direito de não ser submetido senão às leis, de não poder ser preso, detido, condenado à morte nem maltratado de maneira alguma pela só vontade arbitrária de um ou de vários indivíduos. É para cada um o direito de manifestar sua opinião, de escolher sua profissão e de exercê-la; de dispor de sua propriedade ou mesmo de abusar dela; de ir e vir sem precisar de permissão e sem prestar contas dos seus motivos ou dos seus passos. É para cada um, o direito de reunir-se com outros indivíduos, seja para debater sobre seus interesses, seja para professar o culto preferido por ele por seus companheiros; seja, simplesmente, para preencher seus dias e suas horas da maneira mais conforme às suas inclinações, às suas fantasias. Enfim, é o direito de cada um influir sobre a administração do governo, seja pela nomeação de todos ou de certos funcionários, seja pelas representações, petições e requerimentos que a autoridade é mais ou menos obrigada a levar em consideração.” 
Em seguida, CONSTANT compara a liberdade dos modernos com a dos antigos, mostrando que para estes a liberdade “consistia em exercer coletivamente, mas de forma direta, muitas partes da própria soberania, em deliberar, em praça pública, sobre a guerra e a paz, em celebrar com os estrangeiros tratados de aliança, a votar as leis, em realizar os julgamentos, em examinar as contas, os atos, a gestão dos magistrados, em fazê-los comparecer perante todo o povo, em acusa-los, em condená-los ou em absolvê-los. Mas ao mesmo tempo em que isso era denominado pelos antigos de liberdade, eles admitiam, como compatível com essa liberdade coletiva, a sujeição completa do indivíduo à autoridade do conjunto”[...]. (5)
As lições de ISAIAH BERLIN e  BENJAMIN CONSTANT nos instigam a contemplar a liberdade, na  Constituição do Estado Democrático de Direito, como direito fundamental que se apresenta com múltiplas dimensões -  por ex. liberdade de locomoção, liberdade religiosa e de culto, de consciência, de reunião, de ensino, de imprensa... -  e perguntar sobre quais  aspectos da liberdade  dos antigos e dos modernos são conciliáveis na construção da democracia para os tempos atuais. Talvez algum lampejo sobre isso seja aqui possível.
A Carta Magna de 1988 é fruto da superação de um contexto histórico autoritário em que a liberdade foi violada em vários aspectos. Exatamente para assegurar as múltiplas dimensões da liberdade, alçada à qualidade de direito fundamental, que vários dispositivos constitucionais a asseguram. No entanto, a liberdade não está isolada dos demais direitos, para que possa efetivamente realizar-se.  A Constituição requer interpretação sistemática e teleológica, ou seja, nenhum dispositivo constitucional pode ser interpretado isoladamente e sem conexão com os fins (objetivos) visados pelo texto constitucional. No regime democrático, os direitos são complementares e interdependentes. Por isso, a liberdade, enquanto direito, pressupõe outros direitos também fundamentais: o “direito à vida, à igualdade, à segurança, à propriedade, à saúde, à educação, ao trabalho digno, ao meio-ambiente saudável e, sobretudo, é a liberdade que encontra limites no próprio ordenamento jurídico democrático, a fim de que todos possam gozar de liberdade sem transformá-la em opressão, abuso e domínio do outro e da “coisa pública”. A ausência de limites democraticamente estabelecidos em prol do “bem comum” ou o rompimento destes já não corresponderia nem à liberdade dos antigos, nem a dos modernos, analisadas por Constant. Embora sejam concepções distintas, em ambas há limites considerados por seus defensores como legítimos ao exercício da liberdade.   
É fundamental destacar também a conexão entre liberdade e responsabilidade, tanto nas atividades privadas quanto naquelas exercidas no espaço público. A responsabilidade pressupõe liberdade para escolher, decidir e agir. Por outro lado, a liberdade implica responsabilidade de quem age livremente pelas consequências de seu agir, pois responde não apenas perante sua consciência, mas também deve prestar contas à sociedade, conforme a natureza e a relevância jurídica dos atos praticados, sejam estes lícitos ou ilícitos.     
Assim, os princípios que regem a República e o Estado Democrático de Direito, conforme previsão constitucional, atestam que ninguém tem liberdade garantida por lei para agir irresponsavelmente. Em outras palavras: em termos de liberdade, a Constituição só garante o seu exercício responsável. 
A irresponsabilidade adotada nos regimes monárquicos absolutistas não encontra respaldo no âmbito da democracia, mesmo quando se queira ignorar a evolução da história e das instituições. O Estado absolutista assumia por princípio o lema “The king can do no wrong” ( o rei não erra). Destarte, sustentados pela teoria da origem divina do poder, muitos monarcas entendiam que somente a Deus deviam prestar contas, mas  nunca ao povo. A Constituição do Império do Brasil, de 1824, em seu artigo 99, evidenciando a perigosa e nefasta mistura entre religião e política dizia literalmente: “A pessoa do Imperador é inviolável e sagrada: Ele não está sujeito a responsabilidade alguma”. (6)
Vê-se, assim, que enquanto milhões de seres humanos viviam reduzidos à condição de escravos e sonhavam por liberdade, os monarcas absolutistas, com seus arbítrios sem limites, protegiam-se de qualquer punição, sob o manto da legal e garantida irresponsabilidade. E isso ao longo de séculos, especialmente nos países colonizadores. Todavia, a história não é estática. 
Na Democracia, o exercício responsável da liberdade significa respeito ao “bem comum”. No contexto democrático, todo indivíduo é pessoa dotada de dignidade. E exatamente por ser tal dignidade inerente a todos os humanos, torna-se inadmissível a coisificação do outro, o menosprezo e ataques a princípios e a direitos fundamentais garantidos constitucionalmente. A democracia é construção que se dá no convívio das múltiplas liberdades. As limitações a estas se reduz àquelas expressamente previstas na Constituição e leis com esta consonantes, a fim de que o convívio social seja harmônico, pacífico e o mais justo possível, sem arbitrariedades e abuso de qualquer espécie de Poder, de modo a se garantir, sem qualquer discriminação preconceituosa, o respeito à dignidade, aos direitos humanos e fundamentais em todas as suas dimensões(direitos civis, políticos, econômicos, culturais, ambientais...). Não há liberdade e ausência de opressão sem a criação das condições políticas, econômicas e sociais que possibilitem seu efetivo exercício por todos. Nem há liberdade garantida para menosprezar, lesar ou ameaçar qualquer outro direito fundamental (ex. vida, saúde, educação, meio ambiente saudável...). Em liberdade se vive não apenas no âmbito privado e individual. A livre participação da vida no espaço público dos interesses coletivos é dimensão essencial da cidadania. Mas, para isso, é preciso enfrentar outro grande desafio: propiciar a toda a população benefícios decorrentes não apenas do crescimento  mas do efetivo desenvolvimento (7) sócio-econômico e cultural,  impulsionado pela condição de possibilidade deste: uma bem qualificada EDUCAÇÃO PARA A LIBERDADE.  
Por último, a fim de   motivar o empenho para que tal ocorra, é bom concluir evocando uma vez mais o “Hino da Proclamação da República”
“Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!”

Notas:
(1) FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 1997, p.117.
(2) Idem. Ibidem, p.221.
(3) Apud GARCIA, Maria. Desobediência Civil: Direito Fundamental. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994, p.22.
(4) Idem. Ibidem, p.22.
(5) CONSTANT, Benjamin. A Liberdade dos Antigos Comparada à dos Modernos. São Paulo: Atlas, 2015 (Coleção Clássicos do Direito), p.77-78.
(6) BRASIL. [Constituição (1824)]. Constituições Brasileiras de 1824 a 1988. Organizado por Vanuza Cavalcanti e Antonio Becker. Rio de Janeiro: Letra Legal, 2004, p.16.
(7) AMARTYA SEN, ganhador do Prêmio Nobel em Economia (1988), faz a seguinte relação entre liberdade e desenvolvimento: “ O desenvolvimento requer que se removam as principais fontes de privação de liberdade: pobreza e tirania, carência de oportunidades econômicas e destituição social sistemática, negligência dos serviços públicos e intolerância ou interferência excessiva de Estados repressivos. A despeito de aumentos sem precedentes na opulência global, o mundo atual nega liberdades elementares a um grande número de pessoas – talvez até mesmo à maioria. Às vezes a ausência de liberdades substantivas relaciona-se diretamente com a pobreza econômica, que rouba das pessoas a liberdade de saciar a fome, de obter uma nutrição satisfatória ou remédios para doenças tratáveis, a oportunidade de vestir-se ou morar de modo apropriado, de ter acesso a água tratada ou saneamento básico. Em outros casos, a privação de liberdade vincula-se estreitamente à carência de serviços públicos e assistência social, como por exemplo a ausência de programas epidemiológicos, de um sistema bem planejado de assistência médica e educação ou de instituições eficazes para a manutenção da paz e da ordem locais. Em outros casos, a violação da liberdade resulta diretamente de uma negação de liberdades políticas e civis por regimes autoritários e de restrições impostas à liberdade de participar da vida social, política e econômica da comunidade”. Cf. SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade,3ªreimp. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p.18.

* Sergio Alves Gomes é Doutor em Direito: Filosofia do Direito e do Estado, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); Professor Associado da Universidade Estadual de Londrina (Departamento de Direito Público), na qual é também Professor colaborador do Programa de Mestrado/Doutorado em Direito Negocial; Magistrado (Juiz de Direito aposentado) e Ocupante da Cadeira 36 (Patrono: Hugo Gutierrez Simas) da Academia de Letras, Ciências e Arte de Londrina.


Wagner Costa*
"O violino no período barroco"

Nosso Momento de Arte contou com o premiado violonista londrinense, Wagner Costa, apresentando as músicas de J. S. Bach (Partita 2 em Ré menor Allemande e Partita 2 em Ré menor Sarabande) e de G. P. Telermann (Fantasia n. 1 em Si bemol). 


* Natural de Belém do Pará, iniciou seus estudos musicais aos seis anos de idade no Conservatório Carlos Gomes, onde integrou a Orquestra Sinfônica do Teatro da Paz. 
É integrante da Orquestra Sinfônica da Universidade  Estadual de Londrina e da Orquestra de Câmara Solistas de Londrina. 
Graduado em licenciatura em música pela Universidade Estadual de Londrina, foi o único representante do Paraná na Orquestra Sinfônica Brasileira Jovem que contou com representantes de todos os estados do País.
Participou de alguns dos mais importantes festivais do cenário nacional, dentre eles: FEMUSC (Festival de Música de Santa Catarina), Festival Internacional do Pará, Festival de Música de Londrina, Oficina de Música de Curitiba e Festival de Inverno de Campos do Jordão. 
Em 2019 ganhou uma bolsa de estudos de um mês no Conservatório Cesare Pollini, Pádova – Itália.
Atualmente estuda com Davi Graton, spalla assistente da OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo). Teve master classes com importantes professores do cenário nacional e internacional, dentre eles: Evgueni Ratchev (BUL), Eva Székely (EUA), Elisa Fukuda (BRA), Emmanuele Baldini (ITA) , Elio Orio (ITA) , Cármelo de los Santos (BRA) e Carla Rincon (VEN).


CIÊNCIA: A BOA SENHORA QUE NOS ILUMINA E CONDUZ
Acadêmico Marco Antonio Fabiani

Gostemos ou não, somos legítimos descendentes do Iluminismo. Filhos do século XVIII, ou século das luzes, com seu fervilhar de pensamentos inovadores, muitas vezes caóticos, contraditórios, (tão comuns no surgimento de ideias ainda imaturas), que fundou uma nova era. E estamos nela ainda. Vivemos sob a égide do choque de pensamentos que rivalizavam entre si para explicar a máquina do mundo. Foi no século XVIII o encontro e a fusão de conceitos lentamente construídos pela humanidade, sobretudo nos meados do sec. XVI e XVII. Brotaram à época as sementes plantadas na antiguidade clássica, na renascença, na longuíssima idade média. Uma transformação como poucas vezes se viu. 
Se não foi um tempo inventor, foi de florescimento. E nos deu uma de suas flores mais belas, a ciência. Um impacto mental que a tudo desenhou sobre bases novas, sistematizadas, assentada na observação atenta da natureza e na explicação de seus fenômenos a partir da percepção dos sentidos. Vale o que se vê, o que se toca, o que se ouve. A dúvida torna-se soberana ocupando o lugar das certezas petrificadas. Data desse período as inovações que fundaram o progresso técnico que viria a se desenvolver através dos séculos. Num sentido amplo sempre fizemos ciência, mas não com rigor e amplitude que o iluminismo nos deu. Somos devedores a ele.
“Com a grande revolução científica e filosófica do sec. XVII, foi se formando e reforçando um determinado modo de conceber a ciência que, embora atacado de muitos lados e por várias razões, ainda está presente no mundo contemporâneo. Que a ciência seja uma lenta construção, nunca concluída à qual cada um, nos limites de suas forças e suas capacidades, pode trazer a sua contribuição; que a sua colaboração, a cooperação e, portanto, a criação de ‘institutos’ sociais e linguísticos adequados sejam essenciais para o progresso da ciência; que a pesquisa científica tenha o benefício não de uma única pessoa, raça ou grupo, mas de todo o gênero humano.” (Paolo Rossi)1  
O método da ciência se funda no experimento. Na hipótese científica, que se pode confirmar ou não. E a confirmação só pode estar na realidade das coisas. Por isso mesmo, ela, a ciência, habita o país das verdades transitórias e dos diferentes graus de incertezas.  
Vem daí resistências e incompreensões. Podemos compreender que os antigos representantes da fé vissem nesse método uma ameaça a verdades estabelecidas por séculos. Fatos históricos como o embate de Galileu com a igreja católica sobre a centralidade da terra foi o mais famoso e atravessa os séculos. No entanto, até hoje observamos um antagonismo confuso criado entre a ciência e a fé, como se fossem excludentes. O que tem sido um erro grave a semear confusão e aumentar a intolerância que lamentavelmente vem dividindo sociedades. Quando, a bem da verdade, a ciência e a fé tratam de esferas diferentes da infinita condição humana. Têm objetos diferentes e não competem entre si. 
Para a ciência não há o metafísico e foi graças a esse discurso que chegamos ao século XXI com progressos notáveis. Descobrimos o mundo dos átomos (em outras palavras o funcionamento íntimo da matéria), os microrganismos, a estrutura básica da célula e da reprodução da vida. E, como recomenda o autor citado, em benefício de toda a humanidade. Ao longo dos séculos entendemos as doenças, como preveni-las, como trata-las. O que se pode perceber num fato próximo a nós. A erradicação de doenças como a varíola, poliomielite, o controle de moléstia que eram um flagelo como tuberculose. E, o fato maravilhoso de que o Brasil aumentou, em pouco mais de meio século, 20 anos a expectativa média de vida ao nascer. 
Independente do uso que se faça do conhecimento ele é, em si, positivo. Mesmo aqueles como a fissão nuclear, cujo efeito colateral levou a um poder destruidor sem precedentes. Ou o uso distorcido e inaceitável da genética para validar teorias supremacistas. No entanto, ao serem recolocados dentro de balizas éticas, deixaram um legado que superou amplamente os aspectos negativos. Como, por exemplo, tratamentos à base de radioterapias e conhecimento sobre doenças hereditárias.
“Tendo rejeitado o antigo jugo, os homens fixarão suas novas leis e normas com a ajuda de meios puramente humanos – já não há mais lugar, aqui, para a magia nem para a revelação. À certeza da luz descida do alto substituir-se-á a pluralidade de luzes que se difundem de pessoa para pessoa. A primeira autonomia conquistada é a do conhecimento. Este parte do princípio de que nenhuma autoridade, por mais bem estabelecida e prestigiosa que seja, está livre da critica. O conhecimento só tem duas fontes, a razão e a experiência e, ambas são acessíveis a todos.” (Tzvetan Todorov)2.
Mas é fundamental lembrar que a planície ensolarada do saber nunca está livre de sombras e obscuridades. Hoje vivemos a maior tragédia sanitária mundial em mais de cem anos e, no entanto, em contraposição à ciência e suas luzes, cresce o fantasma da negação. Não se trata aqui do compreensível receio que as pessoas comuns possam ter diante do desconhecido, tanto da pandemia como das soluções propostas. Mas, mais profundo e mais grave, uma sistemática e organizada agressão a recomendações cientificamente provadas. A origem desse negacionismo encontra-se em grande medida enraizada no solo fundamentalista, além de partidos político, de várias denominações religiosas. São concepções de fé que não evoluíram e repousam em preceitos arcaicos abandonados pelas principais correntes. Basta lembrar simbolismo do Papa Francisco a orar numa praça de São Pedro vazia e triste no pior momento da pandemia na Itália. Um ritual que serviu de alento e esperança e que não se contrapôs às recomendações científicas.  A autoridade máxima da igreja católica, por sua vez, sempre atendeu e recomendou as proposições da ciência.  
A sombra negacionista minimiza a dimensão da pandemia, duvida das estatísticas e, o que é mais grave, solapa as bases das soluções propostas. Em plena pandemia, por exemplo, vemos crescer, sem qualquer argumento plausível, movimentos antivacinas. Em vários países, e entre eles o Brasil, aumenta a resistência a recomendações simples, mas fundamentais, infinitas vezes utilizadas, como distanciamento social e uso de máscaras. São medidas não farmacológicas eficazes, mas contestadas com argumentos só podem ser classificados como anticientíficos. E, apesar das dificuldades inerentes ao enfrentamento de situações dessa dimensão, os que seguiram as orientações pautadas no conhecimento obtiveram melhores resultados. Vidas poupadas e vem superando, num tempo menor, a catástrofe. Voltemos os olhos, portanto, à ciência e o bom saber. Como lembra o professor Todorov, em seu trabalho sobre as Luzes:
“O princípio de autonomia revoluciona tanto a vida do indivíduo quanto a das sociedades. O combate pela liberdade de consciência, que deixa a cada um a escolha de sua religião, não é novo, mas deve ser perpetuamente recomeçado; ele se prolonga numa demanda de liberdade de opinião, de expressão, de publicação. Aceitar que o ser humano seja fonte de sua lei é também aceitá-lo por inteiro tal como é, e não como deveria ser. Ora, ele é corpo e espírito, paixões e razão, sensualidade e meditação.”(Tzvetan Todorov)3.
 A duras penas vamos aprendendo que a luz do conhecimento é uma flor extremamente frágil, constantemente atacada pelo obscurantismo, pelo autoritarismo, crendices e manipulações de toda a ordem. É necessário constantemente rega-la com a água pura do saber, buscar nos pensadores do passado e do presente o bom adubo. Só assim podemos olhar com iluminada esperança, o futuro.
      1-“Os filósofos e as máquinas.”  Edição Companhia das letras - Paolo Rossi 
      2 e 3-“O espírito das Luzes” Edição Barcarola – Tzvetan Todorov
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De carbono e ferro são feitas as mães
Acadêmico Paulo Briguet

Mãe não entende se você não come tudo que está no prato.
Mãe não aceita desculpas do tipo "Se os outros podem, por que eu não posso?"
Mãe responde: “Os outros não são meus filhos”.
Mãe adora ouvir o barulho da fechadura quando o filho chega.
Mãe tem cheiro de banho, tem cheiro de bolo, tem cheiro de casa limpa.
Mãe fica assustada quando vê o caso daquela modelo que morreu de anorexia: “Eu já falei pra você comer tudo!”
Mãe fica assustada quando lê notícia de assalto. Mãe fica assustada quando lê notícia de acidente.
Mãe fica assustada quando lê notícia de briga. Mãe fica assustada quando lê notícia. Mãe fica assustada.
Mãe não está nem aí para os que os outros pensam.
Mãe foge com o filho para o Egito, montada em burrico.
Mãe tem sonho. Mãe tem pressentimento.
Mãe tem sexto sentido — e sétimo, oitavo, nono. Mãe não faz sentido (para quem não é mãe).
Mãe chora ao pé da cruz. Mãe chora em rebelião. Mãe chora se o filho é Messias ou bandido.
Mãe acredita.
Mãe não pode ser testemunha no tribunal. Mãe é café com leite.
Café com leite, pão com manteiga, biscoito, bolacha de água e sal, banana cozida.
E ainda faz você levar um pedaço de bolo pra casa.
Mãe só tem uma, mas é tudo igual. Mãe espera o telefone tocar. Mãe espera a campainha tocar.
Mãe espera o resultado do vestibular. Mãe espera o carteiro. Mãe espera o telefonema. Mãe espera e-mail. 
Mãe espera. Mãe sempre espera.
Mãe ama. Assim, verbo intransitivo, como queria Mário de Andrade.
Porque, se é mãe, já se sabe o que ela ama.
A culpa é da mãe, dizem os freudianos superficiais.
Os verdadeiros freudianos sabem que, sem mãe, nada feito.
Uma amiga costuma dizer: “Pai é palhaço, mãe é de aço!”.
A frase é interessante, porque o aço é uma liga de ferro e carbono.
Ferro é o símbolo da força; carbono é o elemento presente em todos os organismos vivos.
A mãe constitui a liga entre a fragilidade e a força do indivíduo.
Não há algo mais vulnerável e mais sólido que a maternidade. Mãe é de aço.
Só fica difícil fazer um poema em homenagem a ela. 
Sabe por quê? Mãe só rima com mãe.


Um tributo a Anísio Teixeira
(Patrono da Cadeira 19 da nossa Academia)

Acadêmica Neusi Aparecida Navas Berbel*




Referências utilizadas para a palestra:

ABREU, Jaime et al. Anísio Teixeira: Pensamento e Ação. Col. Retratos do
Brasil 3. ed. Civilização Brasileira,1960.
COUTINHO, Afrânio. Discurso proferido na Academia Brasileira de Letras.
Folha de São Paulo, 3 de abril de 1971. In: Geribello, Wanda Pompeu. Anísio
Teixeira. Análise e sistematização de sua obra. São Paulo, Atlas, 1977. P 37.
GERIBELLO, Wanda Pompeu. Anísio Teixeira. Análise e sistematização de sua
obra. São Paulo, Atlas, 1977.
RIBEIRO, Darcy. Anísio Teixeira, pensador e homem de ação. In: Anísio
Teixeira: Pensamento e Ação. Vários autores. Col. Retratos do Brasil 3. ed.
Civilização Brasileira,1960.
Santos Assunção , Kelli Regina dos. As contribuições do educador Anísio
Teixeira para a formação do pensamento pedagógico da educação brasileira.
Revista Travessias. v. 8, n. 1, 2014.
TEIXEIRA, Anísio Spínola. A educação escolar no Brasil. In: FORACCHI,
Marialice M.; PEREIRA, Luiz. Educação e sociedade: leituras de sociologia da
educação. 12 ed. São Paulo: Editora Nacional, 1985, p. 388-413.
TEIXEIRA, Anísio Spínola. Educação é um direito. São Paulo: Editora
Nacional, 1967. 221 p.
TEIXEIRA, Anísio. Pequena introdução à filosofia da educação: a escola
progressiva ou a transformação da escola. São Paulo: Cia. Editora Nacional,
1968.
VIANA FILHO, Luís. Anísio Teixeira: a polêmica da educação. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1990.


* Pedagoga pela Universidade Estadual de Londrina (1971), Mestre em Educação pela Universidade Federal Fluminense (1982), Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (1992), Pós-doutora em educação pela UNICAMP (2010). Atuação na UEL desde 1972. Aposentada da UEL em abril/2015. Experiência na área de Educação, com temas pedagógicos, com ênfase em: Metodologia da Problematização com o Arco de Maguerez, Avaliação da aprendizagem, Formação de professores e Pesquisa. Cerca de 20 livros publicados, de autoria individual e/ou compartilhada, 22 capítulos de livros e 29 artigos publicados em revistas científicas.
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