Acadêmica Ludmila Kloczak
Caros confrades, confreiras e convidados! Bem-vindos à reunião ordinária da Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina!
Em meio ao frescor do outono, os ipês roxos transbordam sua beleza em enormes buquês a contrastar com o azul límpido do céu de Londrina, típico desta época. Inspiram-nos a contemplar o Belo. Inspiram a buscar e a pensar no Amor.
O amor romântico está em desuso, perdeu seu prestígio. Contribuí, ao longo da minha carreira docente para a revisão do amor romântico e a desilusão, ao propor discussões acerca do lugar da mulher como a figura idealizada no contexto do amor romântico. O que se percebia é que a mulher sofria um efeito de atender a uma expectativa de perfeição impossível de realizar. Esta condição frágil em essência, impediria à mulher colocar-se como um ser capaz de usar dos seus recursos para se afirmar com independência, autonomia e liberdade. Esta expectativa, no entanto, vale nas duas direções. Ambos, homem e mulher, esperavam encontrar a completude, a perfeição no outro. Acima de tudo, o apaziguamento da angústia e dor advindos da finitude.
Falar de amor é falar da pulsão de vida, de Eros, que busca integrar o impulso de conservação e o impulso amoroso, ou seja, a arte de criar vínculos. Conservar o ser humano e criar vínculos dependem da libido, que é a energia que brota das pulsões sexuais, excitações que se espalham por todo o corpo, com ênfase nas zonas erógenas. À medida em que as sensações que tomam conta do corpo ao longo do desenvolvimento humano, ganham uma forma simbólica e transformam-se em pensamento, surgem duas formas básicas de amor, o amor narcisista e o amor objetal.
Para a forma de amar narcisista só existe o sujeito. O possível objeto de amor é aceito apenas como uma extensão de si mesmo. Trata-se de uma forma de amar infantil. O sujeito não se separou da figura materna, fonte e modelo da experiência primitiva de amor. O amor objetal, contudo, se fundamenta no reconhecimento do outro como um indivíduo separado, independente e com vontade própria, a permitir uma forma madura de amar. Este tipo de amor só se estabelece à medida em que há um abandono, sempre difícil, do amor narcisista, sem perder, no entanto, o amor-próprio.
Conforme a humanidade avança, cada sociedade constituída busca formas sociais e culturais para atender a esta ambiguidade. Surgem movimentos culturais que demarcam épocas e definem práticas de convívio amoroso. Assim, o Romantismo, ao final do século XVIII e ao longo do XIX, colheu do Iluminismo a defesa do direito individual ao prazer, mas investiu na valorização dos sentimentos, das sensações e da imaginação, como contrapontos à frieza da análise racional iluminista, que considerava os afetos uma fraqueza humana. Para os românticos, buscar a completude no outro seria uma solução para evitar e compensar a fragilidade inerente ao viver humano.
Entretanto, as frustrações inevitáveis à vida amorosa em geral, e à vida conjugal, em particular, colocam em questão a capacidade de aceitar as limitações humanas. Ou seja, o outro nunca vai nos completar totalmente. É uma constatação que dificulta sustentar o romantismo, golpeado ainda mais pelos excessos de estimulação que liberam o desejo desmedido. Ao invés de amor, sexo em quantidade. Associar amor e sexo, comprometer-se com o outro, aceitar limitações, descobrir formas criativas de convívio amoroso maduro são dilemas que perpassam a sociedade pós-moderna. Bauman, autor da obra Amor Líquido, destacou que mais do que em qualquer época necessitamos de um companheiro leal “até que a morte nos separe”. Falar de amor é falar de comprometimento e disposição para a autocontenção em prol do parceiro. Paradoxalmente, contar com alguém constante em nossas vidas é o que mais nos assusta. Coisas ou pessoas definitivas são vistas como impedimentos para nosso modelo e nosso ritmo de vida. Precisamos estar livres e desimpedidos. É como se a permanência de alguém ao nosso lado colocasse em risco a promessa (sempre ilusória) de algo melhor no futuro. O medo do futuro, da finitude, de ficar sozinho é tão grande quanto o medo de se comprometer. É uma tentativa de escamotear a finitude, característica da sociedade pós-moderna.
O amor romântico está em desuso, perdeu seu prestígio. Contribuí, ao longo da minha carreira docente para a revisão do amor romântico e a desilusão, ao propor discussões acerca do lugar da mulher como a figura idealizada no contexto do amor romântico. O que se percebia é que a mulher sofria um efeito de atender a uma expectativa de perfeição impossível de realizar. Esta condição frágil em essência, impediria à mulher colocar-se como um ser capaz de usar dos seus recursos para se afirmar com independência, autonomia e liberdade. Esta expectativa, no entanto, vale nas duas direções. Ambos, homem e mulher, esperavam encontrar a completude, a perfeição no outro. Acima de tudo, o apaziguamento da angústia e dor advindos da finitude.
Falar de amor é falar da pulsão de vida, de Eros, que busca integrar o impulso de conservação e o impulso amoroso, ou seja, a arte de criar vínculos. Conservar o ser humano e criar vínculos dependem da libido, que é a energia que brota das pulsões sexuais, excitações que se espalham por todo o corpo, com ênfase nas zonas erógenas. À medida em que as sensações que tomam conta do corpo ao longo do desenvolvimento humano, ganham uma forma simbólica e transformam-se em pensamento, surgem duas formas básicas de amor, o amor narcisista e o amor objetal.
Para a forma de amar narcisista só existe o sujeito. O possível objeto de amor é aceito apenas como uma extensão de si mesmo. Trata-se de uma forma de amar infantil. O sujeito não se separou da figura materna, fonte e modelo da experiência primitiva de amor. O amor objetal, contudo, se fundamenta no reconhecimento do outro como um indivíduo separado, independente e com vontade própria, a permitir uma forma madura de amar. Este tipo de amor só se estabelece à medida em que há um abandono, sempre difícil, do amor narcisista, sem perder, no entanto, o amor-próprio.
Conforme a humanidade avança, cada sociedade constituída busca formas sociais e culturais para atender a esta ambiguidade. Surgem movimentos culturais que demarcam épocas e definem práticas de convívio amoroso. Assim, o Romantismo, ao final do século XVIII e ao longo do XIX, colheu do Iluminismo a defesa do direito individual ao prazer, mas investiu na valorização dos sentimentos, das sensações e da imaginação, como contrapontos à frieza da análise racional iluminista, que considerava os afetos uma fraqueza humana. Para os românticos, buscar a completude no outro seria uma solução para evitar e compensar a fragilidade inerente ao viver humano.
Entretanto, as frustrações inevitáveis à vida amorosa em geral, e à vida conjugal, em particular, colocam em questão a capacidade de aceitar as limitações humanas. Ou seja, o outro nunca vai nos completar totalmente. É uma constatação que dificulta sustentar o romantismo, golpeado ainda mais pelos excessos de estimulação que liberam o desejo desmedido. Ao invés de amor, sexo em quantidade. Associar amor e sexo, comprometer-se com o outro, aceitar limitações, descobrir formas criativas de convívio amoroso maduro são dilemas que perpassam a sociedade pós-moderna. Bauman, autor da obra Amor Líquido, destacou que mais do que em qualquer época necessitamos de um companheiro leal “até que a morte nos separe”. Falar de amor é falar de comprometimento e disposição para a autocontenção em prol do parceiro. Paradoxalmente, contar com alguém constante em nossas vidas é o que mais nos assusta. Coisas ou pessoas definitivas são vistas como impedimentos para nosso modelo e nosso ritmo de vida. Precisamos estar livres e desimpedidos. É como se a permanência de alguém ao nosso lado colocasse em risco a promessa (sempre ilusória) de algo melhor no futuro. O medo do futuro, da finitude, de ficar sozinho é tão grande quanto o medo de se comprometer. É uma tentativa de escamotear a finitude, característica da sociedade pós-moderna.
Obs.: Este ensaio foi inspirado no texto: Costa, Gley P.: “Ensaio sobre a íntima e complexa relação entre o amor e o sexo”. Revista IDE: Amores. Lis Gráfica e Editora Ltda. Nº 52; v. 34.
"O barroco de Rameau e o romantismo de Chaminade"
Paula Manoel Crnkovic e Ana Beatriz Marcondes Marra *
Clique nos links para apreciar as músicas:
* Paula Manoel Crnkovic iniciou os estudos de piano em São Carlos e aperfeiçoou-se com os professores Homero Magalhães e Antonio Bezan. Participou de vários festivais de música em Curitiba, Juiz de Fora e foi bolsista de Campos do Jordão. Tem atuado como professora de piano e pianista em conjuntos de música de câmara destacando-se duos com clarinete, violino, trios e atualmente integra o duo de piano a 4 mãos com a pianista Ana Beatriz Marra. Além de atividades artísticas, exerce também atividades acadêmicas na área de pedagogia e química na USP e UFSCar.
Ana Beatriz Marcondes Marra é graduada em Piano pela Universidade de Ribeirão Preto (aluna de Miguel Angel Scebba – Argentina), Mestre em Educação pela Universidade Federal de São Carlos e docente do curso de Educação Musical a distância da UFSCar. Atua como pianista solista e em diferentes formações de conjuntos de câmara e, desde 2019, formou o Duo de Piano a 4 mãos com a pianista Paula Crnkovic. Atualmente realiza estudos sobre o ensino da Leitura Musical e sobre o Método Russo da pedagogia do piano.
Queremos que o mundo permaneça?
Acadêmica Maria Cristina Müller
Proponho como estímulo à reflexão as perguntas: Desejamos que o mundo permaneça? Queremos salvar o mundo da ruína que, de tempos em tempos, parece nos assombrar? Amamos suficientemente o mundo e as novas gerações para protegê-las ao mesmo tempo em que abrimos espaço para o novo?
Hannah Arendt é a filósofa que empresta suas reflexões para o exercício de compreensão proposto. Na obra A condição humana Arendt (2010, p. 316) descreve criticamente o homem moderno como alienado em relação ao mundo; as preocupações são exclusivamente consigo mesmo; a referência é o homem e não os homens. A filosofia moderna radicaliza essa referência e a ideia de homem é reduzida a outra unidade, a humanidade. A consequência desastrosa da alienação do homem moderno, que se desinteressou do mundo, é a ruína do próprio mundo. O homem ensimesmado perde-se e, simultaneamente, perde-se o mundo.
Mundo, para Arendt, corresponde ao domínio dos assuntos humanos comuns. O mundo se encontra entre-os-homens; desse modo, simultaneamente, une e separa: une as pessoas em volta do que é comum e as separa naquilo que cada uma tem de distinto, uma vez que cada personalidade humana é única, singular. Mundo é construído pelos que nele adentram e por meio do discurso expressam seus pontos de vista, aparecem. Mundo não se reduz ao planeta terra, mesmo que este seja imprescindível. O mundo e todas as coisas do mundo não são expressões de uma natureza humana inevitável e dada, mas resultam da artificialidade humana, da capacidade humana de criar mundos e tornar os seres humanos algo radicalmente não natural, ou seja, Homem e Mulher.
Como adentramos o mundo? Arendt (2010, pp. 221-222) explicita que os seres humanos são seres natais. O nascimento, o vir ao mundo como fato da vida biológica, é representativo do novo, do início. O desabrochar de uma nova vida para o mundo traz esperança, pois há neste recém-chegado a potência da novidade e do inédito. João Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas, pronuncia: “Um menino nasceu – o mundo tornou a começar”.
O ser humano, por ter nascido e ser um começo, pode agir no mundo; ao agir, confirma seu aparecimento físico original – seu primeiro nascimento – e, principalmente, sua capacidade de começar; age porque ele mesmo é um início. A capacidade humana de agir é representativa de um segundo nascimento: a cada nova ação humana reafirma-se a novidade no mundo e através dela, a renovação do mundo. Nesse sentido, a natalidade, enquanto condição humana, representa o potencial de renovação do mundo.
Os novos, os recém-chegados, nascem em um mundo já existente, que os precede; cabe aos adultos – aqueles que chegaram antes – a preservação do mundo enquanto mundo público no sentido de ter um lugar para o qual o recém-chegado se conduzirá; este lugar, como espaço público, deve permitir a ação daqueles que o adentram. Nesse contexto, a pergunta título dessa reflexão é recoloca: queremos que o mundo permaneça?
Que exista mundo; que a cultura esteja preservada; que a história seja contada, que a verdade fatual venha à luz; que haja espaço de aparecimento das singularidades; que a pluralidade seja respeitada. As condições para a ação, para o iniciar, e para a livre expressão de opiniões devem ser oferecidas. Tudo isso deve ser garantido com o objetivo de que o novo venha para abater o velho: “[...] proteger a criança contra o mundo, o mundo contra a criança, o novo contra o velho, o velho contra o novo [...]” disse Arendt no ensaio A crise na educação (1992, p. 242).
A importância do amor para com os recém-chegados é revelada; amor capaz de protegê-los ao mesmo tempo que os impele para a suplantação do mundo que está velho. Amor como philanthropia; a ideia grega de partilhar o mundo com os outros seres humanos. Neste sentido observa-se que o próprio mundo só se forma nos espaços de diálogo entre os seres humanos em toda sua diversidade, da mesma forma que a própria humanidade do homem aparece no espaço do entre-os-homens preservado pelo diálogo. Sem o amor ao recém-chegado e ao mundo, o próprio mundo não é renovado e a razão de ser da educação não é cumprida.
Não por acaso, o sentido da educação e o papel que cabe aos educadores nas civilizações humanas é cuidar e acolher os recém-chegados; entende-se educadores como todos os adultos, não apenas os profissionais da educação. A tarefa dos educadores é introduzir e conduzir os jovens em um mundo velho que eles tornarão novo, apresentar às novas gerações o tesouro das gerações anteriores, seus feitos e seus malfeitos, proteger esses recém-chegados de tudo que for nocivo e prejudicial ao desenvolvimento de suas qualidades e talentos. Cabe aos mais velhos preservar o mundo para que não ocorra sua ruína, no sentido de que possa seguir a existir como espaço para os novos e, principalmente, para a novidade inerente ao fato de os recém-chegados serem iniciadores e começos.
Tais considerações suscitam a reflexão sobre o mundo e a responsabilidade de cada adulto pelo mundo. O espaço público do mundo é o espaço da ação livre e os adultos que nele adentram precisam estar habilitados a se movimentar com autonomia, capazes de apresentar suas opiniões em meio à pluralidade de outras opiniões. O respeito à diversidade, às singularidades, é norte a guiar. A educação não ensina a agir, pois esta é atividade viva, dinâmica, de responsabilidade de cada adulto que está no mundo; cabe à educação conduzir para o mundo público uma personalidade humana singular, apta a apresentar seu ponto de vista, não um autômato que repete procedimentos e processos desgastados e, qual a um marionete, gesticula o que outros lhe comandam.
Concluindo: a argumentação de Arendt remete para o sentido mesmo da educação naquilo que lhe é mais caro: a escolha pela permanência e renovação do mundo como espaço de respeito à pluralidade, como âmbito da liberdade e do aparecimento pleno da singularidade. As reflexões de Arendt referem-se à preservação do mundo que subsiste à tensão entre o velho e o novo, entre a conservação do mundo e a renovação dele, entre o reconhecimento da autoridade e da tradição e a urgência da novidade. Preservar não alude a um bloco monolítico inquebrantável, mas o seu contrário: preserva-se o mundo humano como espaço em que a novidade é esperada, bem-vinda e estimulada. É nesse sentido que se compreende que a essência da educação é a natalidade e que a educação é o ponto em que se decide a permanência ou não do mundo.
Muito obrigada!
Referências
ARENDT, H. A condição humana. Trad. Roberto Raposo; revisão e apresentação de Adriano Correia. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010.
ARENDT, H. A crise na educação. In: ARENDT, H. Entre o passado e o futuro. 3. ed. Trad. Mauro W. Barbosa de Almeida. São Paulo: Editora Perspectiva, 1992. pp. 221-247.
Versão completa desse artigo pode ser lida em: MÜLLER, Maria Cristina. O sentido da educação em contextos diversos: Contribuições para a formação docente. In: MALETTA, Ana Paula; STARLING, Cláudia; SANTOS, Neide Elisa Portes dos. Processos educativos em contextos diversos: interrogando a formação. São Carlos: De Castro, 2021. p.37-51. https://editoradecastro.com.br/produto/esgotado-processos-educativos-em-contextos-diversos-interrogando-a-formacao/
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Victor Gouveia *
Livro que traça um comparativo entre Brasil e Portugal.
Este projeto em elaboração foi apresentado nos "Destaques Acadêmicos" pelo publicitário/escritor Victor Gouveia.
* Formado em Direito pela Universidade de São Paulo. Inúmeros cursos da Escola Superior de Propaganda e Marketing.
Ex-sócio do Clube de Criação de São Paulo e membro da APP de Londrina.
Atualmente proprietário do Studio V e autor do livro "Palavras Poderosas" para novos redatores e criativos.
Guilherme Gonçalves Guerchmann *
* Formado em engenharia da computação pela Universidade Norte do Paraná.
Proprietário da Guerch Software.
Atuante no mercado de cripto ativos há 3 anos
Reunião da Academia: um diálogo construtivo entre Letras, Ciências e Artes
Acadêmico Sergio Alves Gomes
Ao lhe ser concedida a palavra, o Acadêmico e Orador SERGIO ALVES GOMES saudou os participantes e agradeceu à Presidente Ludmila Kloczak pela oportunidade de manifestar-se. Em seguida, passou às suas considerações, nas quais desenvolveu uma breve reflexão com base no conteúdo dos diversos temas e apresentações que integraram a reunião do dia.
O primeiro aspecto ressaltado pelo Orador referiu-se à diversidade das temáticas que se fizeram presentes, pertencentes a diferentes campos do conhecimento, comprovando a fidelidade da Academia à vasta seara das Letras, Ciências e Artes, representadas na reunião desta data pela Psicologia, Música, Filosofia, Geografia e Economia, reflexos do que é professado no Credo Acadêmico.
Destacou que:
a) na “palavra da Presidente” Ludmila Kloczak, ao abrir a reunião, viu-se claramente uma imersão no âmbito da Psicologia, quando comentou sobre algumas manifestações da afetividade humana e trouxe à tona noções sobre “amor objetal, amor narcisista, eros, libido...” e outras vinculadas à esfera dos sentimentos.
b) no “Momento de Arte”, a Música se fez presente por meio das Pianistas Paula Manoel e Ana Beatriz que possibilitaram, como exímias intérpretes, a presença do compositor Jean-Philippe RAMEAU (1683-1764) e da compositora Cécile Louise Stéphanie CHAMINADE (1857-1944). No âmbito da História da Música, as obras do primeiro integram o período barroco; as da segunda fazem parte do romantismo;
c) nos “Destaques Acadêmicos”, ocorreram duas importantes participações: a primeira delas com a Acadêmica e Professora Maria Cristina Müller, que, inspirada e embasada em texto da filósofa Hannah Arendt (1906-1975), intitulado “A Crise na Educação” (que integra a obra “Entre o Passado e o Futuro”), desenvolveu brilhante reflexão indagando a partir do título de sua comunicação: “Queremos que o mundo permaneça?”. A segunda, pelo ilustre convidado Victor Gouveia, sobre o instigante tema “semelhantes diferenças”, em que traçou um paralelo entre vários aspectos da natureza e da cultura, em Portugal e no Brasil, com suas similitudes e peculiaridades próprias;
d) a palestra do dia foi apresentada pelo ilustre convidado Guilherme Guerchmann e teve por tema “Bitcoin e a ordem financeira”, cujo título evidencia por si a atualidade do assunto, em um mundo globalizado e digitalizado, especialmente no âmbito financeiro.
Na sequência, o Orador teceu comentários reflexivos, agregando-os à temática da Educação, como elemento indispensável à “permanência” do mundo (alusão à pergunta posta pela Acadêmica Maria Cristina Müller). Salientou também a necessidade da Filosofia, frequentemente atacada pelos detratores do pensamento crítico indispensável para engendrar a reflexão e formação do ser humano, tendo em vista a convivência democrática. Além disso, relembrou que todas as manifestações ocorridas na reunião do dia são reflexos das múltiplas dimensões humanas, pois toda pessoa é única - somos todos diferentes uns dos outros, embora semelhantes - e traz em si a centelha do divino e os elementos de sua contínua formação a impulsionar a criatividade e as possibilidades de aperfeiçoamento e transformação de si e do mundo no qual se encontra. Acrescentou também que tais possibilidades dependem muito do efetivo acolhimento que a pessoa obtém quando chega ao mundo (nascer), razão pela qual a educação é fator fundamental para a qualidade de tal recepção. Os comentários do Orador foram ilustrados com várias citações do filósofo Karl Jaspers (1883-1969), extraídas da obra “Introdução ao Pensamento Filosófico” (título original: Kleine Schule Des Philosophischen Denkens).(1) O Orador esclareceu sobre a escolha do referido autor em razão da atualidade de seu pensamento que, certamente, influiu no pensar de Hannah Arendt, em alguma medida, inclusive ao orientá-la em sua tese de doutorado, na Universidade de Heidelberg. Os excertos da obra de Jaspers podem servir de pista a quem quiser pesquisar sobre a busca de tais influências.
Gomes lembrou que, para Karl Jaspers, é na boa convivência com seus semelhantes que o ser humano se desenvolve. Diz o filósofo: “O homem acha-se sozinho em meio a uma natureza de que, não obstante é parte. Somente com seus companheiros de destino ele se transforma em homem, em si mesmo e deixa de estar solitário.” (2)
E como se dá tal desenvolvimento? Jaspers acrescenta: “o homem não pode ser concebido como um ser imutável[...]. Longe disso, a essência do homem é mutação: o homem não pode permanecer como é. Seu ser social está em evolução constante. Contrariamente aos animais, ele não é um ser que se repete de geração para geração. Ultrapassa o estado em que é dado a si mesmo. O homem nasce em condições novas. Embora preso a linhas prescritas, cada novo nascimento corresponde a um começo novo.” (3)
E mais adiante, ainda sobre o ser humano, continua Karl Jaspers: “Exilado em seu existente, o homem quer ultrapassar-se. Não se satisfaz com ser, numa quietude fechada em si mesma, o perpétuo retorno do existente. Não mais se reconheceria autenticamente como homem, se se contentasse com ser o homem que hoje é. [...] Só na ação sobre si mesmo e sobre o mundo, em suas realizações é que ele adquire consciência de ser ele próprio, é que ele domina a vida e se ultrapassa. Isso ocorre de duas maneiras: por ilimitado progresso no mundo e pelo infinito que se faz presente a ele em sua relação com o transcendente.” (4)
Por último, o Orador destacou trechos em que o referido pensador analisa o papel da “Filosofia no Mundo”. Segundo Jaspers, “muitos políticos veem facilitado seu nefasto trabalho pela ausência da filosofia. Massas e funcionários são mais fáceis de manipular quando não pensam, mas tão-somente usam de uma inteligência de rebanho. É preciso impedir que os homens se tornem sensatos. Mais vale, portanto, que a filosofia seja vista como algo entediante. Oxalá desparecessem as cátedras de filosofia. Quanto mais vaidades se ensine, menos estarão os homens arriscados a se deixar tocar pela luz da filosofia.” Em outro trecho, o mesmo filósofo adverte: “No mundo ocidental, o econômico predomina sobre o político. E isso equivale a dizer que o Ocidente está cavando a própria cova. Nele, a liberdade política se reduz constantemente. É, com frequência, incompreendida. Assiste-se a desaparição do sentimento de liberdade e do espírito de sacrifício”. (5)
E, com o intuito de melhor destacar a indispensabilidade do pensamento filosófico para orientar o ser humano, especialmente em tempos de crise (embora não somente), Jaspers, diante da pergunta sobre “o papel da filosofia”, enfatiza que esta “ensina, pelo menos, a não nos deixarmos iludir. Não permite que se descarte fato algum e nenhuma possibilidade. Ensina a encarar de frente a catástrofe possível. Em meio à serenidade do mundo, ela faz surgir a inquietude. Mas proíbe a atitude tola de considerar inevitável a catástrofe. Com efeito, apesar de tudo, o futuro depende também de nós”.(6)
Por último, cabe observar que, ao enfatizar a relevância da Educação na formação do ser humano, Gomes entremeou as citações de Jaspers com versos de autoria do próprio Orador, a exemplo da seguinte estrofe de seu poema inédito “A Semente”:
“Educar é muito mais que profissãoRompe as correntes e trevas do não-saberJunta o pensar, o querer e o coraçãoAcende as luzes que revelam um novo ser”
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