(Texto apresentado na Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina em 2010)
O problema é que os erros em textos publicitários, principalmente quando impressos, chamam tanto a atenção que acabam sofrendo críticas, chacotas e até processos.
Como, por exemplo, uma empresa de Listas Telefônicas, que foi condenada a restituir alguns milhares de reais pagos por um colégio, acrescido de multa contratual de 10%, correção monetária e juros moratórios à taxa de 1% ao mês. A empresa sofreu o processo devido à publicação de um anúncio com erro de português. A palavra ensino foi escrita como "insino" no anúncio publicado na lista. Segundo o colégio, o erro foi ainda mais danoso por se tratar de anúncio de instituição cujo produto oferecido era exatamente a educação.
Para o colégio, o erro colocou em questão a qualidade dos seus serviços e desde a publicação do anúncio recebeu inúmeros telefonemas desabonadores da sua credibilidade.
No horário eleitoral gratuito em agosto de 2008, enquanto candidatos a vereador em Goiânia apregoavam suas “virtudes”, um doutor em letras da Universidade Estadual Paulista (Unesp) teve a paciência de ficar caçando erros de português – e os encontrou em nada menos do que 93% das legendas. A maioria dos erros era de pontuação. Porém alguns deles eram verdadeiros atentados à gramática, segundo o especialista. Resta a dúvida: qual foi o percentual de perda de votos desses candidatos por causa dos erros? Isso se o horário eleitoral contou mesmo alguma audiência...
Um filme publicitário do Tribunal Superior Eleitoral em fevereiro de 2008, que fazia parte da campanha "Heróis pela Democracia", trazia o seguinte texto: "Heróis existem. Não desperdice o direito que eles tanto lutaram e conquistaram para você. Vote”.
Segundo um professor coordenador de redação e interpretação de texto de cursinho no Rio de Janeiro, a frase continha um "erro grave de regência". "Quem luta, luta por alguma coisa. É estranho que uma comunicação oficial do governo tenha um erro desses". De acordo com o professor, uma opção correta seria dizer: "Não desperdice o direito pelo qual eles tanto lutaram e que conquistaram para você".
Agora, uma outra história que foi bastante divulgada. Uma quadrilha que pretendia invadir um condomínio de luxo em São Paulo, se fazendo passar por entregadores de cestas de natal, foi presa por conta de um erro de português.
"Do ponto de vista operacional, eles são muito bons. Mas, do ponto de vista gramatical, são péssimos", disse o delegado titular que os capturou. A ação dos criminosos estava sendo monitorada pela polícia, que ficou surpresa ao ler "impório" em vez de "empório" no veículo que continha as cestas e vinhos a serem entregues em um apartamento. O alvo seria o cofre desse apartamento. A sucessão de trapalhadas foi além. A mesma palavra escrita erroneamente foi bordada em duas camisas que eles usavam para tentar enganar os porteiros. "Ninguém em sã consciência vai manter exposta uma propaganda com um erro tão grosseiro", afirmou o delegado.
Em Criciúma, as autoridades decidiram começar a multar as agências de propaganda pelos erros gramaticais ou ortográficos nos anúncios publicitários espalhados pelas ruas. Os inúmeros anúncios com erros de português indignaram de tal forma as autoridades da cidade, que estes decidiram aplicar multas de 500 dólares às agências publicitárias responsáveis pelos cartazes. A lei foi aprovada pela Câmara local, e permitia a qualquer cidadão denunciar os erros à autarquia. Caso a empresa responsável não corrigisse os erros, incorreria na multa.
A Universidade Católica de Pelotas atravessou um período difícil por ocasião do Dia das Mães, já que ninguém da agência de propaganda, da reitoria ou da assessoria de comunicação foi capaz de perceber dois erros grosseiros de português num texto impresso de nove palavras. O texto dizia:
“Mãe que ama,
Que proteje,
Que educa,
Simplismente mãe.
Universidade Católica de Pelotas
Distração também deve ter sido a causa de uma derrapada feia da Apple, que publicou um anúncio cuja ilustração do iPod continha a seguinte frase: “Feito especialmente para voçê”. O problema é que escreveram você, com cê-cedilha.
De tudo isso se conclui que, se nos colégios e faculdades os erros de português resultam em notas baixas e eventualmente em reprovações nos exames, na publicidade os prejuízos podem ser muito maiores. Desde a perda de eleição até processos, de chacotas a queda de credibilidade, além de críticas nos jornais, sites e em outros meios de comunicação.
Fica a pergunta: “herrar é umano” (como pichadores estampavam nos muros em São Paulo) ou será falta de aprendizado e de atenção?
Acadêmico Julio Ernesto Bahr
Publicitário, escritor, blogueiro e designer gráfico
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