Lá da minha janela...
Eu avistava a torre de microondas instalada na Av. Madre
Leônia.
Eu avistava o céu azul e as nuvens formando as mesmas
figuras que povoavam meus sonhos de infância.
Eu avistava as revoadas barulhentas de passarinhos no
comecinho da manhã e ao pôr do sol.
Eu avistava os descampados verde-claros e as árvores que os
pintavam de verde escuro.
Eu avistava os morros e montanhas que delimitavam o
infinito.
De repente, assim do nada, quase de frente para a janela começaram
a erguer duas torres de mais de vinte andares.
Logo depois, o ruído de máquinas denunciava a preparação de
mais um terreno pronto para receber outros dois espigões.
E mais um. E outro. E outro mais.
Simultaneamente, surgiram irritantes ruídos de marteladas, guindastes, caminhões,
máquinas, roldanas, carga e descarga.
Agora, da vista pela janela, só restarão lembranças. Estou cercado de torres,
espigões e gente por todos os lados.
As construtoras chamam isso de progresso.
A Prefeitura chama isso de aumento de arrecadação.
Os jornais chamam isso de valorização da região.
Os publicitários chamam isso de oportunidade para
faturamento.
O Estado chama isso de redução do desemprego.
A União chama isso de aumento de moradias.
Eu mesmo ainda não sei como chamar.
Julio Ernesto Bahr
Crônica apresentada em 2012 na
Academia de Letras de Londrina,
Academia de Letras de Londrina,
quando se iniciou o "boom"
de construções na região
da Gleba Palhano, Londrina
de construções na região
da Gleba Palhano, Londrina
Verdadeiro, maravilhoso, é o preço do "progresso". Estamos pagando caro. Que saudades do passado quando éramos felizes e não sabíamos. Parabéns, Júlio, voltei ao passado. Como Deus te deu excepcionalmente e maravilhosamente o dom de escrever um lindo e verdadeiro texto , onde vc pode viajar no passado.
ResponderExcluirObrigado pelo seu comentário. Realmente, há ocasiões em que nossas lembranças nos conduzem ao passado. Épocas melhores ou piores. Neste caso da crônica, sim, eram tempos melhores.
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