Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, mago da comunicação brasileira


Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, mais conhecido como Assis Chateaubriand ou Chatô (Umbuzeiro, 4 de outubro de 1892), foi um jornalista, empresário, político e destacou-se como um dos homens públicos mais influentes do Brasil nas décadas de 1940 e 1960. Foi também advogado, professor de direito, escritor e membro da Academia Brasileira de Letras.
Quem aqui não ouviu expressão em fazer nas coxas?
Na Bahia e região era comum moldar telhas de barro nas coxas, por facilitar o contorno e, consequentemente fazer a cobertura. Acredito que muitos dos presentes tenham conhecimento dessa frase. Mas, Assis Chateaubriand não tinha seu tempo ocioso de modo algum. Seus artigos eram contundentes quer enaltecendo o cliente ou destilando seu veneno, quando agredira suas vítimas, pois era detentor de uma pena ácida e convencia com o seu alto poder de persuasão, o fazia “nas coxas”, quer dizer no colo, no próprio avião quando viajava. Chateaubriand foi um magnata das comunicações no Brasil entre o final dos anos 1930 e início dos anos 1960, dono dos Diários Associados, que foi o maior conglomerado de mídia da América Latina, que em seu auge contou com mais de cem jornais, emissoras de rádio e TV, revistas e agência telegráfica.  Também é conhecido como o co-criador e fundador, em 1947, do Museu de Arte de São Paulo (MASP), junto com Pietro Maria Bardi, e ainda como o responsável pela chegada da televisão ao Brasil, inaugurando em 1950 a primeira emissora de TV do país, a TV Tupi. Foi Senador da República entre 1952 e 1957.
A título de elucidação, com informação de nosso confrade Júlio Ernesto Bahr, em 1950, na sede dos Diários Associados à Rua Sete de Abril, iniciou a primeira transmissão de televisão da América Latina, a PRF3 TV Tupi, em preto e branco, precariamente, com aparelhos expostos no saguão do seu edifício. Foi também Chateaubriand o patrono, fundador da Escola de Propaganda de São Paulo (hoje a ESPM), cedendo um conjunto no mesmo prédio dos Diários. Bahr lembrou que pertenceu à turma de 1958 da Escola de Propaganda e, vez por outra cruzava com Chateaubriand, já numa cadeira de rodas.
 Chateaubriand era uma figura polêmica e controversa, odiado e temido, chegou a ser chamado de Cidadão Kane brasileiro, e acusado de falta de ética por chantagear empresas que não anunciavam em seus veículos e por insultar empresários com mentiras, como o industrial Francisco Matarazzo Jr. Seu império teria sido construído com base em interesses e compromissos políticos, incluindo uma proximidade tumultuada, porém rentável com o Presidente Getúlio Vargas.
Foi um dos primeiros a usar a vulgata maquiavélica para se referir à habilidade política de Vargas.
Carreira
Nasceu na Paraíba e formou-se pela Faculdade de Direito do Recife. A estreia no jornalismo aconteceu aos quinze anos, na Gazeta do Norte, escrevendo para o Jornal Pequeno e para o veterano Diário de Pernambuco. Apenas a título de informação, o Diário de Pernambuco é o mais antigo da América Latina, com a mesma linha editorial. Neste matutino, enfrentou uma situação inusitada: teve que dormir na redação do jornal, chegando a pegar em armas, para se defender da multidão que se empoleirava em frente do jornal em protesto contra a vitória do candidato Francisco de Assis Rosa e Silva (proprietário do diário). Em 1917, já no Rio de Janeiro, colaborou para o Correio da Manhã, em cujas páginas publicariam impressões da viagem à Europa que realizou em 1920.
Em 1924, assumiu a direção d’O Jornal – denominado “órgão líder dos Diários Associados” – e, no mesmo ano, consegue comprá-lo graças a recursos financeiros fornecidos por alguns “barões do café” liderados por Carlos Leôncio de Magalhães (Nhonhô Magalhães), e por Percival Farquhar, de quem Chateaubriand, alegadamente, teria recebido honorários advocatícios. Substituiu artigos monótonos por reportagens instigantes e deu certo. A partir de então, começou a constituir um império jornalístico, ao qual foi agregando importantes jornais, como o Diário de Pernambuco, o jornal diário mais antigo da América Latina, e o Jornal do Commercio, o mais antigo do Rio de Janeiro. No ano seguinte, Chatô arrebatou o Diário da Noite, de São Paulo. À altura, já possuía os jornais líderes de mercado das principais capitais brasileiras.
A ascensão do império jornalístico de Assis Chateaubriand deve ser entendida no quadro das transformações políticas do Brasil durante as décadas de 1920 e 1930, quando o consenso político oligárquico e fechado da República Velha, centrado em torno da elite agrária de São Paulo, começou a ser contestado por elites burguesas emergentes da periferia do país; não é uma coincidência que Chateaubriand tenha apoiado o movimento revolucionário de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder, assim como, durante toda sua vida, tenha ‘fanfarroneado’ a condição de provinciano que chegou ao centro do poder como uma espécie de bucaneiro político. A ética quase nunca constava da estratégia empresarial: chantageava as empresas que não anunciassem em seus veículos, publicava poesias dos maiores anunciantes nos diários e mentia descaradamente para agredir os inimigos. Farto de ver o nome na lista de insultos, o industrial Francisco Matarazzo ameaçou “resolver a questão à moda napolitana: pé no peito e navalha na garganta”. Chateaubriand devolveu: “Responderei com métodos paraibanos, usando a peixeira para cortar mais embaixo”. Foi também inimigo declarado de Rui Barbosa e de Rubem Braga. Apesar disso, Chatô teve relações cordiais (e sempre movidas a interesses econômicos) com muitas pessoas influentes: Francisco Matarazzo, Rodrigues Alves, Alexander Mackenzie (presidente do poderoso truste canadense de utilidades públicas São Paulo Tramway, Light and Power Company), o empresário americano Percival Farquhar (Farcuer) e Getúlio Vargas.
Durante o Estado Novo, consegue de Getúlio Vargas a promulgação de um decreto que lhe dá direito à guarda de uma filha, após a separação da mulher. Nesse episódio, profere uma frase célebre: “Se a lei é contra mim, vamos ter que mudar a lei”. Em 1952, é eleito senador pela Paraíba e, em 1955, pelo Maranhão, em duas eleições escandalosamente fraudulentas.
Caracterizou-se, muito embora fosse um representante típico da burguesia nacional emergente da época, pelas posturas pró-capital estrangeiro e pró-imperialismo, primeiro o britânico, depois o americano: além de muito ligado aos interesses da City londrina (a escandalosa embaixada na Inglaterra, na década de 1950, foi a realização de um velho sonho pessoal), conta a anedota que ele teria uma vez dito que o Brasil, perante os EUA, estava na condição de uma “mulata sestrosa” que tinha de aceder às vontades dos seu gigolô. Era temido pelas campanhas jornalísticas que movia, como a em defesa do capital estrangeiro e contra a criação da Petrobrás.
Publicou mais de 11870 artigos assinados nos jornais, dando oportunidades a escritores e artistas desconhecidos que depois virariam grandes nomes da literatura, do jornalismo e da pintura, como: Graça Aranha, Millôr Fernandes, Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Cândido Portinari e outros.
Presidiu, entre 1941 e 1943, a Federação Nacional da Imprensa (FENAI - FAIBRA).
Com o tempo, Chateaubriand foi dando menos importância aos jornais e focando em novas empreitadas, como o rádio e a televisão.
Com o suicídio de Getúlio Vargas, assume a cadeira 37 da Academia Brasileira de Letras.
Em fevereiro de 1960 Assis Chateaubriand foi acometido de uma trombose. Morreu em 4 de abril de 1968, em São Paulo, depois da pertinaz doença, a que ele resistiu por longos anos, continuando, mesmo paraplégico e impossibilitado de falar, a escrever seus artigos. Foi velado ao lado de duas pinturas dos grandes mestres: um cardeal de Ticiano e um nu de Renoir, simbolizando, segundo seu protegido, o arquiteto italiano e organizador do acervo do MASP Pietro Maria Bardi, as três coisas que mais amou na vida: O poder, a arte e a mulher pelada. Seu cortejo fúnebre reuniu mais de 60 mil pessoas pelas ruas de São Paulo. Está sepultado no Cemitério do Araçá. Mais detalhes serão mencionados quando do convite para mencionar a respeito do Mago da Comunicação do Brasil em reunião na nossa Academia de Letras de Londrina.




Acadêmico Edilson Elias
Jornalista e Historiador

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