Mesa diretiva, com o palestrante Acadêmico Paulo Briguet, a presidente Pilar Alvares Gonzaga Vieira e a Vice-Presidente Maria Lucia Victor Barbosa
Nosso Mestre de Cerimônias Jonas Rodrigues de Matos
conduziu a reunião
O Acadêmico Paulo Briguet foi convidado a ler o nosso Credo Acadêmico
O Acadêmico Paulo Briguet foi convidado a ler o nosso Credo Acadêmico
Nossa convidada para o Momento de Arte foi a artista plástica Pillar Cristina Cremonezi Santana, da vizinha cidade de Cambé. Trouxe para exibição duas telas grandes e contou sobre sua trajetória artística: ela pinta desde criança. Sua preferência é o expressionismo, utilizando técnicas de óleo, pastel e grafite, mas diversifica sua produção, criando inclusive caricaturas e produzindo artesanato. Já exportou para a Europa e divide seu tempo dando aulas de pintura.
Pilar Alvares Gonzaga Vieira
Em homenagem a todos os pais, no dia que lhes é consagrado, segundo domingo do mês de agosto, farei da poesia que nosso Confrade, FAHED DAHER, fez para mim quando assumi a Governadoria do Distrito 4.710 de Rotary Internacional.FAHED DAHER encontra-se afastado de nosso convívio, por motivo de saúde.
REALIZEMOS O SONHO
Fahed Daher
Moisés, do alto do monte nos diria:
Águia arrojada, o sonho é o pensamento
ultrapassando o céu, o firmamento,
para alcançar o sol do eterno dia.
Ser visionário é um grau de semideus,
Capaz de vislumbrar grandes tarefas
No bem da humanidade.
Não se limita esforço só aos seus,
Mas tem o dom sublime dos profetas,
Ao som da eternidade.
O sonho há de ser grande e magistral
E que distinga a gente do animal,
Na luta com vigor,
A projetar a vida pelo espaço
Sem medir a distancia ou o cansaço
Coberto pelo amor.
A nós nos cabe mergulhar na vida
Buscando uma tarefa, a mais renhida,
Sabendo do impossível,
Para transformar o mundo criticado
No mundo mais sublime, mais sagrado
Herói bravo e invencível.
O sonho é a qualidade mais humana,
Lutando, a gente sempre mais se irmana
Pra tê-lo realizado.
Ao fim de uma tarefa completada
Nós seguiremos numa nova estrada
Buscando um novo fado.
Realizemos os sonhos de todos os pais, de que seus filhos tenham chances de um futuro promissor; de que todas as crianças a saúde, através da melhoria do ambiente em que vivem e do acesso a atendimento médico e de alimentação adequada ao seu desenvolvimento.
Realizemos os sonhos de todos os pais, tendo a certeza de que mais crianças estão indo à escola, pois é somente através da educação que o ciclo nocivo da pobreza pode ser interrompido.
Que os sonhos de cada pai, em relação a seus filhos sejam realizados; de infância risonhas e seguras, que se transformarão em vidas adultas coroadas de sucesso e conquistas.
Feliz Dia dos Pais a todos e que seus sonhos se tornem realidade, são os desejos de todos os Acadêmicos da Academia de Letras, Ciência e Artes de Londrina.
Contamos com a participação do aluno Guilherme Gomes da Escola Estadual São José – Ensino de Tempo Integral – Cambé PR, que faz parte do grupo "Pequenos Poetas". Ele declamou poesia de autoria da nossa Acadêmica Fátima Mandelli, em homenagem ao Dia dos Pais:
"Pai"
Sentimento guardado, por muitos manifestado
Palavra sonora, suave pandora
Pai, parte de nós, jamais algoz.
Caminhos tortuosos motor
Estradas largas sinuosas, vigor
Minas, morros bucólicos, saudades.
Partidas, despedidas, celeiro
Portas abertas, idas e vindas, tentativas
Confiança serena, abraço apertado
Histórias contadas.
Infância, unidade, saudade
Viagens festivas
Trabalho, ilusões vividas.
Vida marcada, netos, bisnetos
Superação do alcoolismo
Presença constante
Laços de amor, perdão
Sábias provações
Tecendo o bem, o mal vai para além
União, mocidade
Juventude acumulada.
Os tempos passaram, os pássaros voaram
Em outros ninhos retornaram
Pousaram, mas sempre abastecendo de carinho.
Lembranças, heranças, esperança
Agradeço ao provedor eterno,
Exemplo do Belo,
Pai dos pais.
Misericordioso, bondoso, pai do bem
Que nos deu o nosso pai também
Obrigado, amém!
____________________________
Dona Adelaide
(Crônica)
Victor Bernardo De Pompei Gouvêa *
Ela desceu do céu para uma visitinha aqui na Terra.
Veio sem avisar, mas como cheguei numa idade em que nada mais é surpresa, achei legal.
Ainda mais a Dona Adelaide, por quem sempre tive muito carinho, mas pouca convivência, já que ele ficava “tricotando” com minha mãe Maria, lembrando da São Paulo antiga, restaurante Fasano e a padaria São Domingos, lá no Bixiga.
Então, caminhando distraído pela Avenida Paulista, eis que surge ao meu lado a dona Adelaide
- Olá Victor, lembra de mim?
- Claro dona Adelaide! O que a traz por aqui? Respondi sem demonstrar surpresa.
- Queria saber como andavam as coisas por essas bandas. Ah! O Club Homs, passei bons momentos aqui. Mas mudou muito, todos esses prédios em lugar dos casarões.
- Verdade, algumas coisas mudaram, depois de tantos anos...Vê aquela moto, por
exemplo, está entregando galões de água, coisa que não tinha no seu tempo!
- Mas água é um bem da natureza – disse indignada dona Adelaide. Não fabricam mais o filtro de barro São João? Não me diga que estão vendendo água?! Então pagamos pela água que bebemos? Deus do meu céu!
- Isso mesmo.
Passando em frente à galeria do Conjunto Nacional, na esquina com a famosa rua Augusta, ela sentiu aquele friozinho do ar condicionado.
- Puxa, esfriou de repente!
- É o ar condicionado, dona Adelaide.
- Ar o quê?
- Condicionado. São aparelhos elétricos que esfriam o ar em ambientes muito quentes.
- Não me diga! E os ventiladores Walita, não existem mais? Quer dizer que vocês também estão pagando pelo ar que respiram? Não acredito! As coisas mudaram muito.
- A senhora não viu nada. No seu tempo já existia televisão, certo? Pois hoje a gente paga para assistir programas um pouco melhores. E a grande mudança são os computadores!!!
- Nem quero saber de computadores, me explica só o que é essa coisinha que você tem na mão e eu já vou subir lá pro meu cantinho.
- Isso é um telefone celular, dona Adelaide. Quase todas as pessoas possuem o seu.
- Como assim, pra quê?
- Pra facilitar a vida. A gente fala, envia mensagens, pesquisa na Inter...ops!
- Mas tão pequenininho, faz tudo isso?
- A senhora nem imagina o que ele faz.
- Mas isso não custa nada, custa?
- Custa sim.
- Então vocês também pagam pelas palavras que usam? Isso é o fim do mundo!
- Pode ser mesmo- respondi.
Mal sabe ela que estão querendo cobrar pelos nossos pensamentos no facebook (“no que
você está pensando?”)
- Alí, alí – falou empolgada dona Adelaide - a igreja de São Luís, meu neto estudou no Colégio São Luís. Vamos entrar. Vou rezar um pouco pra esse mundo tão mudado.
- Verdade, dona Adelaide. As igrejas são das poucas coisas que permanecem como eram, a não ser pelo fato dos padres dizerem a missa voltados para os fiéis e não de costas, como no seu tempo.
- Isso eu gostei de saber, pois achava um desrespeito dar as costas e falar em latim, uma língua que quase ninguém entende. Se bem que eu gostava de ouvir aquele “Dominus Vobiscum. Et cum spiritu tuo”.
-E o “Surssum Corda. Habemos ad dominum?” – respondi com um largo sorriso.
- Foi muito bom, Victor. Vou voltar pro meu céu. Talvez eu desça de novo pra rever as coisas de antigamente, dos tempos “que Berta fiava”.
- Como é?!
- Nada, nada, não é do seu tempo.
* Publicitário, paulistano radicado em Londrina,
especializado em redação, autor do livro "Palavras Poderosas",
uma ferramenta para novos redatores e criativos publicitários
"30 Anos este Muro"
Acadêmico Paulo Briguet
“O Senhor é meu pastor, nada me faltará. Em verdes prados ele me faz repousar. Conduz-me junto às águas refrescantes, restaura as forças de minha alma. Pelos caminhos retos ele me leva, por amor do seu nome. Ainda que eu atravesse os vales escuros, nada temerei, pois estais comigo.”
Hoje vamos falar de um dos vales escuros na história contemporânea, um vale escuro que ficou conhecido como Muro de Berlim, ou Muro da Vergonha, construído em 1961 para separar a capital alemã em dois setores, o oriental e o ocidental.
Eu sou um escritor, um simples cronista. Não um sociólogo, nem um cientista político, muito menos um economista. Não esperem de mim, portanto, uma análise objetiva daquele acontecimento histórico verificado no dia 9 de novembro de 1989.
O professor Olavo de Carvalho identificou quatro níveis de discurso na obra de Aristóteles: são eles o discurso poético (ou imaginativo), o discurso retórico, o discurso dialético e o discurso lógico. Para falar do Muro de Berlim, eu adotarei o caminho da imaginação literária, que tem o poder de atingir o coração humano.
Para falar de 1989, eu usarei três fontes: um romance e um filme. Minha terceira fonte será a experiência pessoal.
Há 30 anos, eu era um estudante do primeiro ano de jornalismo na UEL e um militante esquerdista. Usava uma estrelinha no peito e fazia campanha para o sr. Luiz Inácio Lula da Silva, candidato presidencial pelo Partido dos Trabalhadores. Lembro como se fosse hoje do discurso de Lula no coreto da Avenida Paraná, em novembro de 1989, poucos dias antes da queda do Muro de Berlim. (O coreto da Avenida Paraná, a exemplo do Muro de Berlim, foi derrubado. Hoje ali existe um chafariz.)
Mas o Lula, naquele dia, falava em “socialismo democrático”. Era o que ele iria implantar no Brasil, caso vencesse a eleição. Demoraria algum tempo para eu descobrir que a expressão “socialismo democrático” é uma contradição em termos, mas ou menos como trevas luminosas ou círculo quadrado. Mas eu sempre fui muito piadista. E sinto que comecei a desconfiar que essa história de socialismo não dava certo ao ouvir as piadas que vinham do Leste Europeu.
Uma delas era sobre o todo-poderoso Erich Honecker, ditador da Alemanha Oriental:
De manhã, Honecker abria a janela do seu gabinete e dizia:
— Bom dia, camarada Sol!
O Sol respondia:
— Bom dia, camarada Honecker!
À tarde, Honecker dizia:
— Boa tarde, camarada Sol!
E o Sol respondia:
— Boa tarde, camarada Honecker!
À noite, Honecker dizia:
— Boa noite, camarada Sol!
Silêncio. Honecker repetia:
— Boa noite, camarada Sol!
Nada. Honecker, já furioso, gritava:
— BOA NOITE, camarada Sol!
Então o Sol finalmente respondia:
— Não me enche o saco que agora eu tô no Ocidente.
Naquele ano, porém, outros acontecimentos nada engraçados acenderiam a luz amarela em minhas ideias vermelhas. Em junho de 1989, aconteceu o massacre dos estudantes chineses na Praça da Paz Celestial. E no Natal daquele ano, o ditador Nicolae Ceausescu seria fuzilado na Romênia. Morreu cantando o hino da Internacional Socialista.
Mas vejam que curioso: naquele mesmo instante em que eu ouvia admirado as palavras de Lula no coreto da Avenida Paraná, um jovem brasileiro, cearense, militante de esquerda, bolsista do governo alemão oriental, estudante de filosofia em Leipzig, testemunhava os últimos dias do regime comunista. O brasileiro Karleno Márcio Bocarro assistiu à queda do Muro ao vivo.
Anos depois, de volta ao Brasil, Karleno Márcio — cujo nome é uma homenagem a Karl Marx — escreveu o romance “As almas que se quebram no chão”. O título “As almas que se quebram no chão” é a citação de um poema de Karl Marx, e descreve o que acontece na vida de um grupo de estudantes brasileiros que viram a queda do Muro.
Esses jovens — que tinham bolsas de estudo do governo comunista — ficam absolutamente perdidos. Dois deles resolvem ocupar o subterrâneo de um prédio abandonado da ex-Alemanha Oriental e abrir um bar que vende apenas dois produtos: caipirinha e cocaína. O bar se chama Fawela — e existiu de verdade! O clima do romance lembra muito as obras de Dostoievski, especialmente Memórias do Subsolo e Os Demônios, com as longas discussões entre os personagens e o clima sombrio que a todos envolve. O personagem Bocas — dono do bar e vilão de história — é uma impressionante representação do mal na literatura brasileira. Esse personagem, brasileiro, estudou na Rússia comunista. Quando penso em Bocas, eu me lembro de Nossa Senhora dizendo aos pastorzinhos em Fátima: “Os erros da Rússia se espalharão pelo mundo”. Notem que ela não usa o termo comunismo, mas diz “os erros da Rússia”. Nunca é demais lembrar que o sr. Vladimir Putin era agente da KGB na Alemanha Oriental.
Uma das cenas marcantes do livro é baseada em um fato real. Aquele mesmo senhor que discursava no coreto da Avenida Paraná em 1989 esteve na antiga Alemanha Oriental meses depois da queda do Muro e lá se encontrou com militantes esquerdistas e ex-apoiadores do regime derrubado.
Em resumo, o que Lula disse para aqueles militantes? “Nós precisamos recuperar na América Latina aquilo que nós perdemos aqui”. Logo depois dessa viagem, Lula e Fidel Castro criaram o Foro de S. Paulo, que reuniu cerca de 200 partidos e movimentos de esquerda latino-americana e que tinha por principal objetivo criar a Pátria Grande socialista na América Latina. Eu não preciso me estender muito sobre os resultados dessa política... Todos nós sabemos o que aconteceu nos anos seguintes.
Em resumo, o que Lula disse para aqueles militantes? “Nós precisamos recuperar na América Latina aquilo que nós perdemos aqui”. Logo depois dessa viagem, Lula e Fidel Castro criaram o Foro de S. Paulo, que reuniu cerca de 200 partidos e movimentos de esquerda latino-americana e que tinha por principal objetivo criar a Pátria Grande socialista na América Latina. Eu não preciso me estender muito sobre os resultados dessa política... Todos nós sabemos o que aconteceu nos anos seguintes.
(Aqui eu abro parêntese para uma pequena análise. A queda do Muro de Berlim não é o fim da história, mas apenas um capítulo do enorme conflito civilizacional em que estamos mergulhados. Foi um momento de readequação das três forças que lutam para instaurar um governo mundial: o globalismo americano e europeu; o chamado bloco russo-chinês (comunista); e o califado islâmico. Mas isso é assunto para outra palestra e outro palestrante. Vamos voltar à crônica dos tempos.)
O Muro de Berlim é muito mais do que uma construção de pedra. A sua função básica não era apenas separar os homens, mas sobretudo ocultar a verdade. Estou falando do muro da mentira, o muro da ideologia que oculta a realidade. E a verdade é que o regime socialista foi, até hoje, o maior genocídio da história. Se a tragédia do comunismo russo foi retratada nos livros de Alexandr Soljenítsin, especialmente “Arquipélago Gulag”, o filme alemão “A Vida dos Outros”, de 2007, é um comovente retrato do episódio que estamos discutindo aqui.
Não há dúvida de que a economia de mercado é a única forma aceitável de organização econômica. O exemplo da Alemanha é claríssimo nesse sentido. Mas eu não estou entre aqueles que consideram a falta de eficiência econômica como o maior problema do socialismo. Muito mais grave é a supressão da liberdade, o aniquilamento do indivíduo. E isso o filme “A Vida dos Outros” mostra de maneira brilhante.
Muito mais danoso que o muro de pedra, era um muro chamado Stasi — a polícia secreta da Alemanha Oriental. O lema da Stasi era “Schild und Schwert der Partei” (“Escudo e espada do Partido”). A Stasi não conhecia limites. Em 1989, quando caiu o Muro de Berlim, a polícia secreta tinha a seu serviço 91.015 agentes especiais. Como a população da Alemanha Oriental era de 16 milhões, isso significava um espião da Stasi para cada 175 habitantes. Isso sem contar os Inoffiziellen Mitarbeitern (colaboradores informais), que em 1989 eram 173.081. Os “hackers” comunistas da época utilizavam todos os meios possíveis para espionar os cidadãos: escutas telefônicas, violação de correspondências, instalação de câmeras e gravadores nas residências, cooptação de familiares e amigos das vítimas. Para a Stasi, inexistia a vida privada. Tudo era interesse do Partido. Vocês já viram isso em algum lugar?
Nas primeiras cenas de “A Vida dos Outros”, vemos um agente da Stasi dando uma aula sobre o interrogatório dos inimigos. Um dos métodos de tortura da Stasi consistia em deixar o acusado sem dormir, até que ele confessasse alguma coisa. Mas o método mais largamente utilizado pela Stasi chamava-se Zersetzung, que significa decomposição. Em outras palavras, a Stasi agia para destruir psicologicamente os possíveis adversários do regime. De posse das informações coletadas por espionagem, a polícia secreta montava um perfil político e psicológico do cidadão considerado inimigo e para atacá-lo usava seus pontos fracos — como por exemplo alcoolismo, traição conjugal, interesse por pornografia, dependências em geral. As práticas incluíam disseminação de boatos, sabotagem de carros, danos materiais, envenenamento de alimentos, tratamento médico inadequado proposital, denúncias anônimas, cartas anônimas, escutas telefônicas, telefonemas misteriosos, fotos comprometedoras (muitas vezes falsificadas). Com tudo isso a Stasi desestruturava amizades, namoros, casamentos e até o relacionamento entre pais e filhos. Pior é que vítimas em geral não sabiam que a Stasi era responsável por tudo isso. O objetivo era esgotar, desestruturar psicologicamente as pessoas para que ninguém tivesse força para contestar o regime. Esse terror psicológico transformava a vida das pessoas em um inferno. O filme “A Vida dos Outros” conta apenas um desses casos. E toca numa questão importante: os métodos da Stasi levaram a um aumento assustador do número de suicídios na Alemanha Oriental. Em 1977, a República Democrática de Alemanha se tornou o país com o maior índice de suicídios na Europa, superando a Hungria (também um regime comunista).
No entanto, mesmo em um panorama tão sombrio e desolador, há lugar para a esperança. O personagem mais surpreendente em “A Vida dos Outros” é o capitão Gerd Wiesler, oficial da Stasi. Ao ser designado para espionar um casal de artistas de teatro, o capitão Wiesler consegue enxergar o absurdo do sistema para o qual trabalhava. Toma-se de compaixão pelas vítimas inocentes e decide arriscar a carreira e a própria vida para ajudá-las. É como se o capitão da Stasi derrubasse o muro que o separava do mundo real e da condição humana. “A Vida dos Outros” demonstra que a coragem de um homem bom pode alterar o curso da história. Curiosamente, o ator Ulrich Mühe, que interpretou o capitão Wiesler, teve um papel relevante na derrubada do muro. Depois de ter trabalhado na juventude como operário na construção do muro e guarda de fronteira, ele se revoltou contra o sistema comunista e fez um discurso histórico em defesa da liberdade na Alexanderplatz, em Berlim, em 4 de novembro de 1989, cinco dias antes da queda do Muro. Mühe, um dos grandes atores do teatro alemão moderno, faleceu precocemente em 2007, pouco depois que “A Vida dos Outros” recebeu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
O Muro de Berlim caiu, mas o muro das sombras continua em pé. Aquele garoto que há 30 anos fazia campanha para Lula levaria muito tempo até derrubar o muro de autoengano e ilusões ideológicas que hoje toma conta de grande parte do nosso sistema educacional e midiático. Derrubar esse muro das sombras é uma tarefa que só pode ser feita individualmente, no silêncio da alma de cada um. A crise civilizacional em que estamos mergulhados exige essa tomada de consciência individual, esse abrir de olhos, essa coragem moral para que o Muro da desinformação, do crime e da inversão moral não nos separe da realidade em nosso país e nosso mundo. Temos que lutar contra o muro de mentiras para que as nossas almas não se quebrem no chão.
“Pelos caminhos retos ele me leva, por amor do seu nome. Ainda que eu atravesse os vales escuros, nada temerei, pois estais comigo.”
Acadêmico Sergio Alves Gomes
Para finalizar a pauta da Reunião, o Acadêmico SERGIO ALVES GOMES, na qualidade de Orador da Academia, fez uso da palavra, como já de praxe, para destacar ideias inspiradas em algum(ns) dos temas apresentados na reunião.
O Orador começou por lembrar que a data de 11 de agosto – a qual, no corrente ano, coincide, no Brasil, com o “dia dos pais” - é também data de comemoração da fundação dos primeiros cursos jurídicos no País, ocorrida em 11 de agosto de 1827. Naquele dia, D. Pedro I sancionou, após votada pela Assembleia Geral, a “Carta de lei” que instituiu “dois Cursos de ciências jurídicas e sociais, um na cidade de S. Paulo e outro na de Olinda” (art.1º da referida Carta de lei). Ao relembrar tal evento, o Orador destacou que os professores de tais cursos recebiam os mesmos vencimentos e gozavam “das mesmas honras” atribuídos aos desembargadores de então (art. 3º), denotando com isso a valorização do magistério jurídico pelo governo imperial então vigente. A mesma Carta estabelecia a exigência de compatibilidade dos ensinamentos a serem ministrados em tais cursos “com o sistema jurado pela nação” (art. 7º) (Cf. VENÂNCIO FILHO, Alberto. Das Arcadas ao Bacharelismo. São Paulo: Perspectiva e Secretaria da Cultura, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, 1977, p. 28 e seguintes). Percebe-se aí, ressaltou o Orador, a busca de coerência entre o contido na Constituição (Lei Fundamental do país) e o ensino jurídico. É o que se espera também hoje, no Brasil, frisou GOMES, dando como exemplo os dispositivos contidos nos artigos 2º e 3º do estatuto da Universidade Estadual de Londrina que estão em total consonância com princípios constitucionais do Estado Democrático de Direito. Dentre tais dispositivos se inserem, dentre outros, por exemplo, “ o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; valorizar o ser humano, a vida, a cultura e o saber; promover o desenvolvimento científico, tecnológico, econômico, social, artístico e cultural da sociedade; conservar e difundir os valores éticos e de liberdade, igualdade e democracia”. Refletir sobre tais princípios, ressaltou o Orador, é fundamental para se compreender o papel social da Universidade e o quanto deve ser valorizada por isso, a fim de cumprir o seu relevante múnus na construção e desenvolvimento do País, visando a promoção do “bem de todos” (Constituição Federal, art. 3º, IV).
Na sequência, o Orador inspirado no tema da palestra “30 Anos da Queda do Muro de Berlim”, apresentada com excelente competência didática pelo Acadêmico PAULO BRIGUET, lembrou e frisou que muitos muros não físicos persistem no relacionamento humano a impedir o diálogo e a convivência fraterna. São os muros do preconceito, da ganância de poder e do desejo de dominação, da desconsideração do outro como “pessoa”. Em razão deles, vê-se um mundo com muitas formas de desequilíbrio, de miséria, de desespero que afetam milhões de pessoas, apesar de ser um mundo com o mais avançado nível tecnológico e científico nunca antes alcançado pelo homem. Por isso, lembrou o Orador, vê-se um mundo doente em muitos aspectos e que precisa de cura, razão pela qual citou vários trechos da obra “ A cura do mundo”, de FRÉDÉRIC LENOIR, filósofo e pesquisador associado da “École des Hautes Études en Sciences Sociales” de Paris (Cf. Lenoir, Fréderic. A Cura do mundo. São Paulo: Loyola, 2014). Para LENOIR, há necessidade de se buscar um reequilíbrio no interior do indivíduo, pois “pode-se constatar que o ser humano, particularmente o homem ocidental, criou toda uma série de desequilíbrios que são [...] chaves essenciais para compreender a maior parte dos problemas com os quais nos defrontamos hoje em dia[...]: excessiva disparidade de renda, excesso de materialismo, excesso de liberdade sem comunhão nem responsabilidades ou, inversamente, excesso de laços comunitários sufocantes para o indivíduo.” E acrescenta o pensador nascido em Madagáscar: “ Há vários séculos privilegiamos a exterioridade em relação à interioridade. O ocidental moderno tornou-se um puro extravertido, no sentido em que ele se preocupa muito mais com as coisas exteriores, materiais, que com seu próprio universo interior. A transformação do mundo tornou-se seu principal objetivo. Ele se projetou inteiramente para fora de si mesmo para conquistar a matéria e para modelá-la segundo sua vontade. Em sua vida pessoal, ele privilegia também o que tem relação com o exterior: o aumento de seu conforto material, seu sucesso no âmbito da sociedade, sua aparência física. Não suportando mais ficar a sós consigo mesmo, o homem moderno é um angustiado que foge perpetuamente no agito, na relação, na distração. Incapaz de viver serenamente no instante presente, ele se projeta perpetuamente no futuro (que ao mesmo tempo o angustia) e torna-se escravo dos novos meios de comunicação, que o extraem de si mesmo permanentemente.” Mais adiante, LENOIR acentua: “Para desenvolver-se, o ser humano precisa tanto da interioridade como da exterioridade, tanto de meditação quanto de ação, tanto de conhecer a si mesmo como de ir ao encontro dos outros. Além disso, quanto mais sua ação for importante, quanto maior for a sua projeção no mundo, quanto mais o corpo e a matéria ocuparem um lugar determinante em sua vida, mais ele precisará se recentrar, ir rumo à interioridade, para realmente assumir seu peso e dominar suas consequências”.
Na sequência, lembrou o Orador que, além da questão alusiva à exterioridade e interioridade, LENOIR destaca a supervalorização do hemisfério esquerdo do cérebro e o menosprezo para com o hemisfério direito, como causa de sérios desequilíbrios. Diz ele: “A dimensão lógica e racional, a do hemisfério esquerdo, desenvolveu-se pois amplamente em detrimento da dimensão intuitiva, emocional e sensitiva do hemisfério direito. [...] Ao longo dos milênios, particularmente nos últimos cinco séculos no Ocidente, esse desequilíbrio acentuou-se constantemente. A dimensão lógica, racional, verbal tem muito mais peso atualmente que a dimensão intuitiva, emocional e relacional. As qualidades do cérebro direito foram até mesmo desconsideradas como limitações – hoje em dia elas seriam consideradas freios à competitividade. Os sonhadores, os emotivos, os intuitivos, os místicos foram vistos como personagens atípicos, relegados às margens dessas sociedades cuja aceleração eles não conseguiam, ou não queriam seguir. Agora é preciso ser reativo, metódico, racional, eficiente, duro. Esse desequilíbrio interno ao nosso cérebro não deixa de ter consequências: muitas vezes perdemos nossas capacidades intuitivas, tão preciosas; desqualificamos as emoções, seja reprimindo-as sob a crítica do mental, seja, inversamente, dando-lhes livre curso de modo anárquico; somos habitados pela fantasia de poder controlar totalmente nossa existência pela razão; intelectualizamos e codificamos o sagrado em vez de aprender a senti-lo etc. Como demonstrou Jean-Pierre Changeux, ao reorganizar nossa vida, ao organizar nosso mundo, imprimimos a marca de nosso novo ambiente em nosso cérebro. Se procurarmos desenvolver as qualidades de nosso cérebro direito, poderemos ver o surgimento de potencialidades ocultas por séculos de rejeição – que não as aniquilaram, mas apenas as deixaram em estado dormente. Cabe a nós, portanto, por meio de uma atenção e de uma mudança de atitude, proceder a um reequilíbrio entre nossos hemisférios cerebrais.”
Ao concluir a obra em apreço, FRÉDÉRIC LENOIR alerta: “A cura do mundo é um objetivo que nunca será definitivamente atingido, pois os egoísmos, os medos e os conflitos de interesses existirão sempre. Mas é um processo no qual é preciso engajar-se para inverter o declive atual que nos conduz ao desastre. Um caminho longo e exigente, mas realista. Basta saber, querer isso e colocar-se a caminho, cada pessoa em seu nível. Este é o objetivo deste livro: mostrar que existe a possibilidade de um outro estado do mundo, que as lógicas mortíferas ainda dominantes não são inevitáveis, que um caminho de cura é possível”.
Por último - diante da temática alusiva ao “muro de Berlim” que remete para tantos outros “muros” que dividem e separam pessoas no mundo atual (muros, fronteiras, cercas), impedindo uma convivência solidária e fraterna, bem ao contrário do que consta da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 10.12.1948, (Art I: Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade) - O orador SERGIO ALVES GOMES leu o poema “A ponte e a Cerca”, de autoria de MARILENE MEES PRETTI (integralmente disponível para leitura na Internet), do qual fazem parte os seguintes trechos:
A Ponte e a Cerca
“Na vida...
Podemos escolher entre ser ponte...
Que une uma margem à outra de um rio.
Ou ser uma cerca...
Que separa um território de outro.
[...]
Se formos cerca...
Estaremos dividindo... Marcando espaço...
Quando poderíamos formar elos...
Entre mundos em duelos.
Como ponte...
Podemos aumentar amizades...
Fazer elos de ligações entre comunidades...
Amar com mais intensidade...
Juntar forças entre dois extremos em inimizades.
Como cerca...
Aumentamos divisões...Isolamentos...
Deixamos a vida mais solitária...
Esquecemos de ser humanitários...
Quando poderíamos nos unir a quem necessita...
De alguém mais solidário.
Sejamos nesta vida rápida e passageira...
Ponte que une... Mensageira...
Elo de ligação...Entre nações estrangeiras...
Ponto de união...
Simples...como flor de laranjeira...
Lançando perfume com notas sublimes...
A solitários e sofridos corações...
Que tanto o mundo reprime.
[...]
É jubiloso se sentir ponte...
Ser para nossos semelhantes, verdadeira fonte...
De amizade...União...
Alguém que na hora necessária conosco conte...
Para que possamos sentir saudável o coração.
A Vice-Presidente Maria Lucia Victor Barbosa entrega o Certificado de Participação ao palestrante Paulo Briguet |
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