Homenagens ao Prof. Leonardo Prota
(in memoriam)
A primeira parte da reunião deste dia 10 de abril foi dedicada a uma sucessão de homenagens ao Prof. Leonardo Prota, Presidente da nossa Academia, falecido no dia 19 de março. Vários Acadêmicos ocuparam a tribuna e contaram fatos da vida e obra deste grande homem, de múltiplas facetas - filósofo, professor, padre, educador, realizador e, principalmente, um grande amigo. Uma perda irreparável para nossa Academia, para o saber e para os amigos.
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Na homenagem póstuma prestada ao seu ex-presidente Leonardo Prota (falecido em 19/03/16), o Acadêmico Professor Dr. SERGIO ALVES GOMES apresentou uma série de destaques relacionados com a biografia do homenageado:
Da obra “Racionalidade, Modernidade e Universidade: Festschrift em homenagem a Leonardo Prota”, organizada por GILVAN LUIZ HANSEN e ELVE MIGUEL CENCI, com prefácio de Aquiles Côrtes Guimarães, CEFIL: Ed.UEL, 2000, destacou trechos do capítulo final “Leonardo Prota: biobibliografia”, de autoria de GILVAN LUIZ HANSEN.
No referido texto, HANSEN escreve: “ Quando o pequeno Leonardo Prota nasceu, aos 18 de julho de 1930, seus pais mal podiam imaginar que aquele “bambino”, gerado no contexto de uma Europa destruída e repleta de conflitos herdados da Primeira Grande Guerra, pudesse “voar” tão alto e para tão longe. Após uma infância marcada de boas lembranças familiares e outras lembranças nem tão boas advindas do ambiente que culminou com a Segunda Guerra Mundial, Leonardo ingressou no Seminário dos Padres Oblatos de São José, anos mais tarde, tornou-se sacerdote. Foi então que aos 26 anos, sua vida começou a mudar: aceitando o desígnio de seus superiores da Congregação, Leonardo foi trabalhar como missionário junto às povoações indígenas do México. Seu trabalho em solo mexicano lhe valeu convite para lá permanecer, na qualidade de professor, dado o trabalho desenvolvido na Escola de Artes e Ofícios por ele fundada, e para ingressar na carreira política. Firme em seu propósito de sacerdote, contudo, Leonardo declinou de tal convite e, novamente sob determinação de sua Congregação, foi complementar sua formação na área humanista nos Estados Unidos onde, dentre outras atividades, cursou Mestrado em Educação na “City University of Los Angeles”. Nesse momento é que surgiu o Brasil na caminhada do jovem humanista Leonardo. Enviado para trabalhar na área de educação junto às Escolas administradas pela sua Congregação no Brasil, Leonardo aqui chegou em 1963, radicando-se no norte do Paraná. A identificação com o Brasil e a ânsia de colaborar na solução dos problemas sociais e educacionais deste país fizeram com que Leonardo optasse por naturalizar-se brasileiro, ainda na década de 70.”
Gilvan Hensen continua sua narrativa sobre a vida de Prota, mencionando que em tal trajetória, o biografado “destacou-se como educador, organizando colégios no norte do Paraná e, posteriormente, uma das primeiras escolas brasileiras na área de informática (Faculdades Associadas de São Paulo)”. Ademais, fez “seu doutorado em Filosofia no Rio de Janeiro, na Universidade Gama Filho (1981)” e, em 1982 foi contratado pela Universidade Estadual de Londrina, onde teve profícua atuação, especialmente para a “implantação do curso de Graduação em Filosofia”, em meados da década de 90, bem como “na criação de novos Cursos de Especialização (Bioética; Filosofia Política) e na estruturação de um projeto de Mestrado em Filosofia[...].
Hansen também acentua que “além da atuação na UEL, Leonardo Prota desenvolveu [...] várias atividades voltadas para a educação, para a formação humanista e para a discussão das questões brasileiras: é um dos fundadores do Instituto de Humanidades [...]. Criou, ao final da década de 80, o Centro de Estudos Filosóficos de Londrina (CEFIL) [...].
Na sequência, HANSEN arrola ampla bibliografia de autoria de Leonardo Prota, para, ao final concluir: “Em face de toda essa trajetória já vivida, Leonardo Prota foi imortalizado como um expoente da cultura brasileira, tendo um verbete com seu nome incluído no Dicionário Biobibliográfico de Autores Brasileiros (Brasília:Senado Federal, 1999, p. 388-389. Coleção Biblioteca Básica Brasileira). Pertence à Academia Brasileira de Filosofia, ocupando a cadeira nº 26, cujo patrono é Amoroso Costa e à Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina. É por esse percurso, que ainda está longe de se encerrar, que podemos ter esperança no sentido de aguardar novas e importantes realizações desse filósofo, humanista e cidadão do mundo Leonardo Prota, um ser humano notável que “voou” para bem longe de sua amada Itália e nos brindou com trabalho competente, amizade incondicionada e fé inabalável na espécie humana, requisitos raros de serem encontrados, mas tão necessários para a construção de um mundo melhor para todos”.
Prosseguindo com os destaques bibliográficos alusivos ao homenageado, o Acadêmico SERGIO ALVES GOMES:
a) mencionou trecho de artigo de JORGE JAIME, fundador da Academia Brasileira de Filosofia (RJ), intitulado: “ Leonardo Prota e sua Obra”, publicado nos Anais do 7º Encontro Nacional de Professores e Pesquisadores da Filosofia Brasileira (realizado em Londrina, no período de 13 a 15 de setembro de 2001), Ed. CEFIL, 2003. No referido artigo, seu autor assevera que “a formação primordial de Leonardo Prota foi, indiscutivelmente, moldada nos fundamentos pedagógicos de Dom Bosco, secundada pelo reformador John Dewey. Foi a época das grandes iniciativas educacionais que resultou, no Brasil, no empenho de Anísio Teixeira, fazendo inovações proveitosas com inúmeras reformas educacionais”;
b) destacou a importância da tese de doutorado de Leonardo Prota, intitulada “Um Novo Modelo de Universidade”, publicada pela Editora Convívio, de São Paulo (1987). Nela, Leonardo Prota analisa amplamente a experiência universitária brasileira e os principais “Modelos de Universidade” da Europa e Estados Unidos da América, fazendo ao final uma avaliação crítica de tais modelos.
c) focou a preocupação de Prota com a temática por ele desenvolvida em obra específica sobre “As Filosofias Nacionais e a Questão da Universalidade da Filosofia” (Londrina. Ed. UEL, 2000). Na apresentação da obra, Leonardo Prota esclarece seus leitores sobre o Leitmotiv de seu texto, dizendo: “Ao longo de todos esses anos amadureceu em nosso espírito uma convicção inquietante: examinando o tema com isenção e sem envolvimento emocional, verifica-se que, contemporaneamente, somente existem filosofias nacionais. Tive, portanto, que tentar resolver este problema: em que consiste a universalidade da filosofia? Na obra que ora entrego ao público, espero haver conseguido transmitir toda a riqueza do esforço empreendido no sentido de compreender em que consistiriam precisamente as principais filosofias nacionais. E também que haja conseguido responder àquela pergunta no tocante à universalidade do saber filosófico.”
GOMES frisou ter sido agraciado com a oportunidade de ser aluno de Leonardo Prota no Curso de Mestrado em Direito, na UEL e, posteriormente, tê-lo como Membro da Banca Examinadora da monografia do Curso de Especialização em Filosofia Política e Jurídica (UEL,1999) e da Banca Examinadora do Doutorado em “Direito: Filosofia do Direito e do Estado”, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2006). Destacou que as eternas lições de vida e sabedoria de Leonardo Prota permanecerão sempre presentes nos corações e mentes de quem teve a fortuna de conviver com o querido e saudoso mestre. GOMES mencionou ainda que em seu último encontro com Prota - estando este já hospitalizado – percebeu claramente o quanto o olhar e perspectivas do humanista estavam muito além daquele reduzido ambiente, especialmente quando, ao despedirem-se, Prota repetiu a parêmia com a qual sempre animava as pessoas, dizendo-a em sua língua materna, a mesma de Dante Alighieri: “La vita è bella!!! ”.
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Leonardo Prota
Pelo Acadêmico Ricardo Vélez Rodríguez
A Acadêmica Ludmila Kloczak procedeu à leitura do texto |
Se há um termo para resumir a vida de Leonardo Prota é o de Educador. Um Educador de tempo integral, que alicerçou a sua vocação na mais larga missão de evangelizador, tendo como fulcro a ideia da dignidade de todos os seres humanos. O texto com que o historiador Jorge Jaime, fundador da Academia Brasileira de Filosofia (da qual Leonardo Prota foi também sócio fundador) e que forma parte do Projeto Ensaio Hispânico, da Universidade de Georgia, nos Estados Unidos, destaca em detalhe o caminho percorrido por Leonardo nessa sua bela carreira de educador, no México e no Brasil [cf. http://www.ensayistas.org/filosofos/brasil/prota/prota1.htm ]. Poucas coisas eu teria a adicionar à completa exposição do já falecido Jorge Jaime sobre a vida intelectual e pedagógica do Leonardo. Por esse motivo, gostaria, nestas linhas, de tecer um comentário mais pessoal acerca do Amigo que partiu.
Conheci Leonardo Prota em Londrina, em 1982, quando tive oportunidade de encontrá-lo na UEL. Nessa ocasião, eu me desempenhava como Diretor pro tempore do Centro de Ciências Humanas dessa Universidade, na qual tinha ingressado por concurso no Departamento de Filosofia no início do ano anterior. O então Reitor da UEL, o saudoso amigo José Carlos Pinotti, tinha me pedido que falasse com Leonardo para ver a possibilidade de ele se vincular à UEL. O encontro foi rápido. Descobri, em Leonardo, uma pessoa com formação humanística ampla, tendo cursado estudos de Filosofia, Educação e Teologia, uma tríade pouco comum no nosso meio. Considerei que a sua participação no Departamento de Filosofia, como docente, enriqueceria muito a ação educacional desenvolvida pelo Centro de Ciências Humanas.
Apresentei o nome do Leonardo ao colegiado do Centro, bem como aos professores do Departamento de Filosofia, e foi rapidamente aprovada a sua vinculação. Um dado curioso gostaria de lembrar: alguns colegas deste Departamento, após a contratação do Leonardo, vieram me questionar acerca da sua vinculação à Universidade, me dizendo que ele era uma pessoa de esquerda, pois figurava entre os fundadores do recentemente criado Partido dos Trabalhadores. Respondi aos meus colegas que essa consideração não tinha, para mim, nenhuma relevância, levando em consideração o currículo acadêmico do Leonardo, bem como a aprovação para a sua vinculação à UEL, que tinha sido dada pelos colegiados do Centro de Ciências Humanas e do próprio Departamento de Filosofia.
Se havia reservas ideológicas de parte de alguns dos meus colegas de Departamento, elas logo desapareceram, após Leonardo se integrar à equipe docente. A sua indiscutível preparação, a capacidade que tinha para se comunicar com os alunos e os colegas, a sua tolerância para com todas as pessoas, independentemente de ideologia ou religião, a sua dedicação aos discípulos, o seu brilhantismo como expositor, a sua cordialidade e modéstia, desfizeram rapidamente as nuvens dos empecilhos ideológicos que, aliás, jamais estiveram presentes nas atitudes do meu Amigo. Anos depois, quando constatou que o Partido que ajudara a fundar tinha se desviado dos ideais primigênios, distanciou-se dele, como fizeram outras tantas figuras intelectuais que não aceitaram os desvios no terreno da ética pública.
Uma vez vinculado o professor Leonardo ao Departamento de Filosofia, considerei, pela experiência que ele tinha como coordenador de atividades de pós-Graduação em outras instituições (dentre as quais a FASP, em São Paulo), que ele poderia me substituir como coordenador do Curso de Pós-graduação em História do Pensamento Político Brasileiro, que eu tinha criado na UEL em 1981. Apresentei o seu nome ao colegiado de Curso e Leonardo foi aprovado como coordenador do mesmo. Eu já tinha tomado a decisão de aceitar o convite formulado pelos professores Antônio Paim e Eduardo Abranches de Soveral, então coordenadores do Curso de Mestrado e Doutorado em Pensamento Luso-Brasileiro da Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro, para me integrar ao corpo docente desse programa. Em Janeiro de 1983 me desvinculei da UEL e parti para o Rio, a fim de assumir as minhas aulas no mencionado Curso.
Pouco tempo depois, no final de 1983, foi lançado novo edital para preencher as cinco vagas anuais que a Gama Filho abria no seu curso de Doutorado em Pensamento Luso-brasileiro. Leonardo Prota apresentou a sua candidatura com um projeto de pesquisa ligado à discussão dos pressupostos filosóficos presentes no modelo da Universidade brasileira. O meu Amigo foi selecionado pela Comissão da Pós-graduação da Universidade Gama Filho e iniciou, no começo de 1984, os seus estudos para o Doutorado, que terminou com brilhantismo, no final de 1986, com a sua tese sobre o modelo único de Universidade que terminou vingando no Brasil, analisado criticamente nos seus fundamentos filosóficos, ainda situados no contexto do cientificismo pombalino.
Ao ensejo das aulas no Curso de Pós-graduação, Leonardo Prota fez logo amizade com Antônio Paim, que foi o seu orientador. Impressionou-me vivamente a claridade com que Leonardo analisava a situação da Universidade brasileira, que no seu entender estava presa a um modelo que a empobrecia enormemente, porquanto fechada no estreito conceito de preparar técnicos a serviço do Estado, deixando de lado a formação humanística que, aliás, tinha também desaparecido do ensino de segundo grau. A sua proposta endereçava-se a retomar a tradição humanística da Universidade brasileira, mediante a sua estruturação polimórfica, atendendo às necessidades regionais. Uma proposta ousada que entrava em atrito com o modelo tecnocrático e estatizante em vigor. Admirava no meu amigo a claridade e a profundidade conceitual com que desenvolvia o seu projeto de pesquisa. A sua tese de doutorado logo foi publicada em livro, em 1987, pela Editora Convívio de São Paulo, com o seguinte título: Um novo modelo de Universidade.
No decorrer do ano 1986, Leonardo propôs ao Prof. Paim e a mim, a criação do Instituto de Humanidades, que teria como finalidade preencher o vácuo de formação humanística nas Universidades brasileiras, mediante o oferecimento de Cursos Livres nessa área, adotando a modalidade de ensino à distância utilizada na Open University inglesa. Rapidamente foram elaborados os estatutos do Instituto, e começamos os trabalhos de preparação do material instrucional, nas áreas de: Introdução à História da Cultura Ocidental, Política, Religião, Filosofia e Ética. O trabalho foi intenso ao longo da restante parte da década de 80. Três educadores vincularam-se ao Instituto como membros do Conselho Acadêmico: Maria Clutilde de Abre (do Rio de Janeiro), Maria Christina de Oliveira Espínola (de Londrina) e Arsênio Eduardo Corrêa (de São Paulo). O próprio Leonardo Prota encarregou-se de publicar todos esses materiais, tendo criado, para tal finalidade, a Editora Humanidades, em Londrina. Ele já tinha assumido, na UEL, a coordenação da Editora, que foi por ele dinamizada até colocá-la entre as principais editoras universitárias do Brasil.
Com a finalidade de estimular o estudo das ideias filosóficas, Leonardo criou o Centro de Estudos Filosóficos de Londrina (CEFIL), a partir do qual desenvolveu uma dupla tarefa: organizar, a cada dois anos, os Encontros Nacionais de Professores e Pesquisadores da Filosofia Brasileira (tendo ocorrido o 1º encontro em 1989) e estimular o estudo das Humanidades no meio acadêmico do Paraná. Uma realização de vulto foi o convênio efetivado entre a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Campo Mourão e o Instituto de Humanidades, a fim de oferecer, aos funcionários municipais e à comunidade acadêmica local, em nível de Pós-graduação lato sensu, o Curso de Humanidades. O mencionado programa foi desenvolvido ao longo de uma década, sendo palpáveis os resultados que a formação humanística trouxe para o Município de Campo Mourão. A qualidade de vida melhorou sensivelmente, com a adoção de regras de trânsito civilizadas em que o pedestre era respeitado e de gestão humana do espaço público.
Na editora por ele criada, o professor Leonardo publicou os anais dos Encontros Nacionais de Professores e Pesquisadores da Filosofia Brasileira, que se realizaram ao longo de duas décadas, em Londrina, com apoio da UEL. Como fruto das suas pesquisas no terreno das Filosofias Nacionais (ponto que passou a ser estudado nos Encontros de Professores e Pesquisadores da Filosofia Brasileira), Leonardo publicou a sua obra: As filosofias nacionais e a questão da universalidade da Filosofia (Londrina: UEL, 2000).
O Acadêmico Prof. Ricardo Vélez Rodríguez, autor do texto |
Com aquela atitude meiga e discreta que o caracterizava, vi-o pela última vez, já na UTI do Hospital do Coração, semanas antes de falecer. Despediu-se de mim com um abraço trêmulo e com aquele sorriso inconfundível, que imprimia alegria e calor humano. Partiu na manhã do dia 19 de Março, festa de São José, o padroeiro da Congregação à qual tinha servido durante décadas e que o trouxe para o Brasil. A memória do nosso Amigo e Presidente ficará viva, para sempre, nos nossos corações!
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Lembranças...
Pelo Acadêmico Dr. José Ruivo
"A Memória é a vivência dos velhos".
Esta foi a abertura da bela fala do Acadêmico José Ruivo na sua homenagem ao Prof. Leonardo Prota.
Citou o poema "Ode a um amigo morto" do livro "Cabo da Boa Esperança" e teceu várias considerações
sob o ponto de vista cristão, Relembrou Manuel Maria Barbosa du Bocage, que morreu ainda jovem e contemplou a Humanidade com os Sonetos CCCLXXIII (sentimentos de contrição e arrependimento da vida passada) e CCCLXXVI (ditado entre as agonias do seu trânsito final). Prosseguiu citando seus "longevos 86 anos", que resultam nos "espaços em aberto, deixados vagos pela ausência daqueles a que nos ligavam os sagrados laços de família, ou os preciosos afetos de uma amizade sincera e duradoura".
Citou trechos da Encíclica "Verbum Domini" do Papa Bento XVI, do Livro de Confissões de Santo Agostinho e de escritos de Luís de Camões.
Relembrou ainda que ao final das reuniões o Prof. Leonardo Prota dele se despedia com um fraternal "arrivederci", repondendo -lhe "presto ritorno".
"Agora não poderei dizer mais 'presto ritorno'; porque não será ele que voltará para nós; mas sim nós que, um dia, o iremos encontrar na alegria e no seio da Casa do Pai, aonde ele já se encontra, no esplendor da Glória. Assim nós o consigamos merecer...
Ao final, declamou o verso "Saudade!":
Esta foi a abertura da bela fala do Acadêmico José Ruivo na sua homenagem ao Prof. Leonardo Prota.
Citou o poema "Ode a um amigo morto" do livro "Cabo da Boa Esperança" e teceu várias considerações
sob o ponto de vista cristão, Relembrou Manuel Maria Barbosa du Bocage, que morreu ainda jovem e contemplou a Humanidade com os Sonetos CCCLXXIII (sentimentos de contrição e arrependimento da vida passada) e CCCLXXVI (ditado entre as agonias do seu trânsito final). Prosseguiu citando seus "longevos 86 anos", que resultam nos "espaços em aberto, deixados vagos pela ausência daqueles a que nos ligavam os sagrados laços de família, ou os preciosos afetos de uma amizade sincera e duradoura".
Citou trechos da Encíclica "Verbum Domini" do Papa Bento XVI, do Livro de Confissões de Santo Agostinho e de escritos de Luís de Camões.
Relembrou ainda que ao final das reuniões o Prof. Leonardo Prota dele se despedia com um fraternal "arrivederci", repondendo -lhe "presto ritorno".
"Agora não poderei dizer mais 'presto ritorno'; porque não será ele que voltará para nós; mas sim nós que, um dia, o iremos encontrar na alegria e no seio da Casa do Pai, aonde ele já se encontra, no esplendor da Glória. Assim nós o consigamos merecer...
Ao final, declamou o verso "Saudade!":
Disse o poeta:
"Esta palavra saudade!
Aquele que a inventou
A primeira vez que a disse,
Com certeza que chorou!"
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Enaltecendo o Prof. Leonardo Prota
Pelo Acadêmico Dr. José Eduardo de Siqueira
O Dr. José Eduardo de Siqueira, médico cardiologista,
escritor e professor de Bioética na UEL, usou da palavra para enaltecer a
figura do Prof. Leonardo Prota, pela sua enorme bagagem cultural, o talento e a
cordialidade na convivência entre ambos nas lides acadêmicas, nas áreas de
Educação e Bioética.
Referiu-se ao trabalho conjunto em publicações como: Ética,
Ciência e Responsabilidade (Editora Loyola).
Salientou também o
trabalho desenvolvido por ambos junto ao Conselho Editorial da Editora UEL, da
qual o Prof. Prota era presidente.
Discorreu sobre sua seriedade, dinamismo e capacidade ao
possibilitar a publicação de importantes obras, notadamente nas áreas de
Filosofia e Bioética. E ilustrou sua fala apresentando diversos livros.
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La vita è bella
Pelo Acadêmico Julio Bahr
Pelo Acadêmico Julio Bahr
Tive o privilégio de desfrutar de sua amizade nos últimos dois anos e meio, quando fui convidado para fazer parte da nova diretoria da Academia, que acabara de sofrer um duro golpe com a perda do então presidente e fundador, Dr. João Soares Caldas.
O professor usava um jargão que marcou a vida dos seus amigos: para ele “la vita è bella” sob todas as circunstâncias. Com esse jargão, nosso grupo da diretoria brindava a cada reunião, a cada encontro festivo, sempre com um bom vinho, fosse italiano ou não.
Prof. Prota e eu nos comunicávamos quase que diariamente – havia assuntos a serem analisados e resolvidos. Creio que fui uma espécie de “alter ego” para ele nesse período, pois nos entendíamos perfeitamente. Talvez o fato de ele ter convivido longamente com a vida acadêmica, de onde conhecia seus melhores amigos, e eu ter surgido da vida publicitária, um mundo absolutamente conflitante com o rigor das universidades, tenha moldado nosso perfeito entendimento.
No dia 2 de janeiro recebo dele um telefonema: estava nos convidando, a mim e à minha companheira Tânia para almoçarmos no restaurante Barolo (aqui em Londrina) que, descobri mais tarde, ser o seu predileto. Claro que o almoço foi acompanhado por um uma boa conversa e um excelente vinho italiano...
As mulheres têm uma percepção muito mais aguçada do que nós, homens: Tânia pressentiu que ele na verdade preparara uma despedida, pois Leonardo Prota já estava muito doente – ele internou-se no hospital dois dias depois, permaneceu poucos dias no quarto, onde ainda o visitei e em seguida foi removido para a UTI, onde faleceu.
Ficamos muito comovidos com a deferência do professor, que nos elegera para partilhar do seu último compromisso social.
Com ele, aprendemos muito, assim como seus incontáveis alunos espalhados por várias cidades brasileiras. Sua mente era brilhante, seus conceitos muito bem colocados, suas palestras na nossa Academia, profundas e muitas vezes contundentes. Deixa muitas saudades e um vácuo impossível de ser preenchido.
Seja de qual lugar ele estiver agora, com certeza nos soprará nos ouvidos muitas e muitas vezes: “la vita è bella”, “la vita è bella”, “la vita è bella”...
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Destaques Acadêmicos:
Declamação pela Acadêmica e poetisa Leonilda Yvonneti Spina
BRASIL
Nesta hora de sol puro
Palmas paradas
Pedras polidas
Claridades
Faíscas
Cintilações
Eu ouço o canto enorme do Brasil!
Eu ouço o tropel dos cavalos de Iguaçu correndo na ponta
das rochas nuas, empinando-se no ar molhado, batendo
com as patas de água na manhã de bolhas e pingos verdes;
Eu ouço a tua grave melodia, a tua bárbara e grave melodia,
Amazonas, melodia da tua onda lenta de óleo espesso que
se avoluma e se avoluma, lambe o barro das barrancas, morde
raízes, puxa ilhas e empurra o oceano mole como um touro
picado de farpas, varas, galhos e folhagens;
Eu ouço a terra que estala no ventre quente do Nordeste,
a terra que ferve na planta do pé de bronze do cangaceiro,
a terra que se esboroa e rola em surdas bolas pelas
estradas de Juazeiro, e quebra-se em crostas secas,
esturricadas no Crato chato;
Eu ouço o chiar das caatingas — trilos, pios, pipios, trinos,
assobios, zumbidos, bicos que picam, bordões que ressoam
retesos, tímpanos que vibram, límpidos papos que estufam,
asas que zinem, rezinem, cris-cris, cicios, cismas, cismas
longas, langues — caatingas debaixo do céu!
Eu ouço os arroios que riem, pulando na garupa dos dourados
gulosos, mexendo com os bagres no limo da luras e das locas;
Eu ouço as moendas espremendo canas, o gluglu do mel
escorrendo nas tachas, o tinir da tigelinhas nas serigueiras;
E machados que disparam caminhos,
E serras que toram troncos,
E matilhas de “Corta Vento”, “Rompe-Ferro”, “Faíscas”
e “Tubarões” acuando suçuaranas e maçarocas,
E mangues borbulhando na luz,
E caititus tatalando as queixadas para os jacarés que
dormem no tejuco morno dos igapós...
Eu ouço todo o Brasil cantando, zumbindo, gritando, vociferando!
Redes que balançam,
Sereias que apitam,
Usinas que rangem, martelam, arfam, estridulam, ululam e roncam,
Tubos que explodem,
Guindastes que giram,
Rodas que batem,
Trilhos que trepidam.
Rumor de coxilhas e planaltos, campainhas, relinchos
aboiados e mugidos,
Repiques de sinos, estouros de foguetes, Ouro Preto,
Bahia, Congonhas, Sabará,
Vaias de Bolsas empinando números como papagaios,
Tumulto de ruas que saracoteiam sob arranha-céus,
Vozes de todas as raças que a maresia dos portos joga no sertão!
Nesta hora de sol puro eu ouço o Brasil.
Todas as tuas conversas, pátria morena, correm pelo ar...
A conversa dos fazendeiros nos cafezais,
A conversa dos mineiros nas galerias de ouro,
A conversa dos operários nos fornos de aço,
A conversa dos garimpeiros, peneirando as bateias,
A conversa dos coronéis nas varandas das roças...
Mas o que eu ouço, antes de tudo, nesta hora de sol puro
Palmas paradas
Pedras polidas
Claridades
Brilhos
Faíscas
Cintilações
É o canto dos teus berços, Brasil, de todos esses teus berços,
onde dorme, com a boca escorrendo leite,
moreno, confiante, o homem de amanhã!
Nesta hora de sol puro
Palmas paradas
Pedras polidas
Claridades
Faíscas
Cintilações
Eu ouço o canto enorme do Brasil!
Eu ouço o tropel dos cavalos de Iguaçu correndo na ponta
das rochas nuas, empinando-se no ar molhado, batendo
com as patas de água na manhã de bolhas e pingos verdes;
Eu ouço a tua grave melodia, a tua bárbara e grave melodia,
Amazonas, melodia da tua onda lenta de óleo espesso que
se avoluma e se avoluma, lambe o barro das barrancas, morde
raízes, puxa ilhas e empurra o oceano mole como um touro
picado de farpas, varas, galhos e folhagens;
Eu ouço a terra que estala no ventre quente do Nordeste,
a terra que ferve na planta do pé de bronze do cangaceiro,
a terra que se esboroa e rola em surdas bolas pelas
estradas de Juazeiro, e quebra-se em crostas secas,
esturricadas no Crato chato;
Eu ouço o chiar das caatingas — trilos, pios, pipios, trinos,
assobios, zumbidos, bicos que picam, bordões que ressoam
retesos, tímpanos que vibram, límpidos papos que estufam,
asas que zinem, rezinem, cris-cris, cicios, cismas, cismas
longas, langues — caatingas debaixo do céu!
Eu ouço os arroios que riem, pulando na garupa dos dourados
gulosos, mexendo com os bagres no limo da luras e das locas;
Eu ouço as moendas espremendo canas, o gluglu do mel
escorrendo nas tachas, o tinir da tigelinhas nas serigueiras;
E machados que disparam caminhos,
E serras que toram troncos,
E matilhas de “Corta Vento”, “Rompe-Ferro”, “Faíscas”
e “Tubarões” acuando suçuaranas e maçarocas,
E mangues borbulhando na luz,
E caititus tatalando as queixadas para os jacarés que
dormem no tejuco morno dos igapós...
Eu ouço todo o Brasil cantando, zumbindo, gritando, vociferando!
Redes que balançam,
Sereias que apitam,
Usinas que rangem, martelam, arfam, estridulam, ululam e roncam,
Tubos que explodem,
Guindastes que giram,
Rodas que batem,
Trilhos que trepidam.
Rumor de coxilhas e planaltos, campainhas, relinchos
aboiados e mugidos,
Repiques de sinos, estouros de foguetes, Ouro Preto,
Bahia, Congonhas, Sabará,
Vaias de Bolsas empinando números como papagaios,
Tumulto de ruas que saracoteiam sob arranha-céus,
Vozes de todas as raças que a maresia dos portos joga no sertão!
Nesta hora de sol puro eu ouço o Brasil.
Todas as tuas conversas, pátria morena, correm pelo ar...
A conversa dos fazendeiros nos cafezais,
A conversa dos mineiros nas galerias de ouro,
A conversa dos operários nos fornos de aço,
A conversa dos garimpeiros, peneirando as bateias,
A conversa dos coronéis nas varandas das roças...
Mas o que eu ouço, antes de tudo, nesta hora de sol puro
Palmas paradas
Pedras polidas
Claridades
Brilhos
Faíscas
Cintilações
É o canto dos teus berços, Brasil, de todos esses teus berços,
onde dorme, com a boca escorrendo leite,
moreno, confiante, o homem de amanhã!
(Do Livro “Toda a América” – 1925) - Ronald de Carvalho
(Rio de Janeiro – 1893 – 1935)
Advogado, poeta, escritor, político, diplomata em vários países, grande expoente do Modernismo.
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Palestra:
Os Cavaleiros Templários
A história, o legado e sua importância nos dias de hoje
Por Glauco Borba *
Dr. Glauco Borba |
Trabalharam com fortunas de reis e famílias nobres num sistema de muita confiança e segurança para seus depositários e desta maneira deram início ao sistema bancário similar nos dias de hoje.
A Ordem durou por 200 anos; posteriormente a este período,
dissolveram-se, levando porém todo seu conhecimento e bens para outros países do continente onde continuaram supostamente com outros nomes o trabalho de desenvolvimento e prosperidade aos países que os receberam.
*O palestrante é Cirurgião Dentista, reside e trabalha em Londrina com clínica própria. Graduado pela Faculdade de Odontologia de Marília-SP, com Aperfeiçoamento em Prótese, Pós Graduação em Marketing de Serviços FGV-Rio, Curso de Oratória - certificado pelo Instituto Dale Carnegie - USA.
O palestrante Dr. Glauco Borba recebendo seu Cerificado de Participação das mãos do Acadêmico Julio Bahr |
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Livro em Homenagem ao
Prof. Leonardo Prota
Ao final da reunião, foram distribuídos exemplares do livro especialmente confeccionado para homenagear vida e obra do Prof. Leonardo Prota, com textos, fotos, cartas, comentários e um número expressivo de e-mails recebidos por ocasião do seu falecimento.
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A mesa diretora que conduziu a reunião: ao centro, a Presidente em Exercício, Acadêmica Leonilda Yvonneti Spina, ladeada pelo Acadêmico Professor Dr. Sergio Alves Gomes à esquerda. Completou a mesa o palestrante Dr. Glauco Borba, à direita
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