No dia 8 de junho de 2014, a ALCAL - Academia de
Letras, Ciências e Artes de Londrina promoveu sua Sessão Solene para dar posse
a quatro novos acadêmicos, visando preencher as vagas daqueles que faleceram ou
renunciaram no curso do último ano.
Tomaram posse:
- Clodomiro José Bannwart
Jr. na Cadeira 17 (Patrono Lauro Gomes da Veiga Pessoa)
- Nelso Attílio Ubiali na
Cadeira 21 (Patrono José de Alencar)
- Paulo Briguet na Cadeira
7 (Patrono Castro Alves)
- Ricardo Vélez Rodríguez
na Cadeira 18 (Patrono Hermes Fontes)
Seguindo o protocolo da Sessão Solene, tivemos os seguintes
pronunciamentos:
Do Acadêmico
Sérgio Alves Gomes, recepcionando os novos membros
Ilustríssimo Senhor Professor Doutor LEONARDO
PROTA, digníssimo presidente desta Academia de Letras, Ciências e Artes de
Londrina, caríssimos confrades e confreiras, prezados colaboradores de
nossa Academia, autoridades e demais convidados presentes, senhoras
e senhores:
Neste especial momento, ao fazer uso da palavra,
faço-o com emoção e sob o jugo da honrosa, grave, mas também
prazerosa responsabilidade que me foi atribuída pela Presidência
desta casa, a fim de apresentar e saudar os novos Membros
Acadêmicos que aqui aportam para enriquecer com seus talentos e obras a
Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina. São eles: os Professores
Doutores Clodomiro José Banwart Jr., Nelso Attilio Ubiali, Ricardo Vélez
Rodriguez e o jornalista Paulo Briguet.
Alegram-se os membros desta Instituição -
a qual se renova - sempre que tem a fortuna de poder
contar com novos e talentosos integrantes, na certeza de que suas
habilidades e qualificações estarão, doravante, também a serviço
das finalidades desta Academia, de modo especial , voltadas ao
aprimoramento das Letras, das Ciências e das Artes e à divulgação à
sociedade de trabalhos de autoria de seus membros, consoante rezam os
estatutos que a constituíram.
Toda Instituição, assim como cada pessoa física,
está contextualizada no tempo e no espaço. No entanto, tempo e espaço, por mais
que influenciem os contextos, não são grilhões capazes de prender o
pensamento e a criatividade humana, na elaboração da cultura e na atribuição de
sentido a tudo o que está relacionado com a vida e o convívio humano.
Neste sentido, por meio do pensar e do compreender o ser humano
ultrapassa limites do tempo e do espaço, apesar de condicionado por estes. Esta
ultrapassagem se expressa por meio das obras humanas e de modo especial por
todo aquele acervo cultural de conhecimentos que repousa sob as denominações de
LETRAS, CIÊNCIAS E ARTES. Por meio destas - tomada cada uma delas
no sentido mais lato possível - a humanidade desenvolve e perpetua
sua capacidade inventiva, suas descobertas, suas convenções sociais, faz o
registro de sua memória, supera a destrutividade também inerente ao ser humano
(para lembrar ERICH FROMM- em sua Anatomia da Destrutividade Humana) e
produz um imenso legado cultural às gerações futuras, a compor
as civilizações .
Infelizmente, em respeito ao tempo, teremos de
apontar apenas alguns dados curriculares de nossos novos acadêmicos, alertados,
todavia, de que tais dados se inserem num contexto de muitos outros não menos
relevantes.
Curriculum Vitae de Clodomiro José Bannwart
Jr.
Pós-doutorando em Filosofia do Direito, como
professor visitante na UNICAMP (bolsista CNPq); Professor dos Programas de Mestrado em Direito Negocial
e Mestrado em Filosofia na UEL; Professor convidado dos Cursos de Pós-graduação
da Escola de Magistratura do Paraná; do Instituto de Direito Constitucional e
Cidadania – IDCC; e da Pontifícia
Universidade Católica – PR. É Diretor vice-Presidente do Instituto Latino
Americano de Argumentação Jurídica – ILAAJ e membro da Comissão de
Assessoramento Técnico-pedagógico da DAEB/INEP do Ministério de Educação.
Curriculum Vitae de Nelso
Attílio Ubiali:
Natural de Zoalta, Distrito de Uruguai,
Município de Piratuba – SC. Licenciado em Letras e Pedagogia; Doutor em Letras;
pela UNESP; Professor da UEL, Departamento de Letras Vernáculas e
Clássicas, onde lecionou Língua Portuguesa e Prática de Ensino de Português.
Desde 1985, lecionou Língua e Literatura Latina, na mesma Universidade.
Pesquisador, no Centro de Pesquisas do “Archivum Generale Poetarum
Brasiliensium”, órgão da UNESP – Assis (SP) - de Estudos de Literatura
Brasileira de Expressão Latina. Tem vários livros publicados.
Breve currículo de Paulo
Briguet (texto com redação do próprio cronista autor do currículo)
A pessoa em questão nasceu no começo de uma
noite de inverno paulistano, a 10 de julho de 1970. A mais remota imagem de sua
memória é a de seu pai lendo um livro na poltrona da sala, em um apartamento da
Alameda Barão de Limeira. Cresceu entre os livros do pai – (advogado, bancário
e cronista) e da mãe (professora de história). O pai evitou seguir o caminho
dos dois melhores amigos, que entraram para a luta armada, e resolveu formar
uma família. Os dois amigos morreram.
A pessoa em questão morou em São Paulo durante a
infância, em Araçatuba durante a adolescência e veio para Londrina há 25 anos,
em 1989, para estudar jornalismo na UEL e nunca mais ir embora. Traz no sangue
a essência das três cidades – a garoa de São Paulo, o boi de Araçatuba e o café
de Londrina. Como viveu a maior parte de sua vida em Londrina, acredita que a
sua alma é de um pé-vermelho. Aqui se casou com Rosângela e aqui nasceu seu
filho Pedro.
A pessoa em questão tem o privilégio de trabalhar atualmente como assessor de imprensa na ACIL, uma das instituições mais tradicionais da cidade. Antes atuou como repórter, redator e editor na Folha de Londrina e no JL. Foi assessor sindical, ateu e militante de esquerda. Hoje é católico romano, conservador, assessor de imprensa e acredita que a política é a única maneira de combater os políticos. Publicou três livros de crônicas: Diário de Moby Dick (1995, em parceria com o pai, Paulo Lourenço), Repórter das Coisas (2003) e Aos Meus Sete Leitores (2010). Especializou-se nesse gênero menor: pelas suas contas, já escreveu mais de 700 crônicas nos últimos quinze anos.
A pessoa em questão tem muito honra em ser o menor e último entre os acadêmicos de Londrina.
A pessoa em questão tem o privilégio de trabalhar atualmente como assessor de imprensa na ACIL, uma das instituições mais tradicionais da cidade. Antes atuou como repórter, redator e editor na Folha de Londrina e no JL. Foi assessor sindical, ateu e militante de esquerda. Hoje é católico romano, conservador, assessor de imprensa e acredita que a política é a única maneira de combater os políticos. Publicou três livros de crônicas: Diário de Moby Dick (1995, em parceria com o pai, Paulo Lourenço), Repórter das Coisas (2003) e Aos Meus Sete Leitores (2010). Especializou-se nesse gênero menor: pelas suas contas, já escreveu mais de 700 crônicas nos últimos quinze anos.
A pessoa em questão tem muito honra em ser o menor e último entre os acadêmicos de Londrina.
Curriculum Vitae de Ricardo
Vélez Rodríguez
Nascido em Bogotá (Colômbia, 1943). Naturalizado
brasileiro em 1997.
Estudos e Títulos: Licenciado em Filosofia pela Universidade Pontifícia Javeriana de
Bogotá (1963). Mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro (Área de concentração: Pensamento Brasileiro, 1974). Doutor
em Filosofia pela Universidade Gama Filho do Rio de Janeiro (Área de
concentração: Filosofia luso-brasileira, 1982). Pesquisa de Pós-Doutorado
realizada no Centro de Pesquisas Políticas Raymond Aron, Paris (Tema da
pesquisa: “Tocqueville au Brésil”, 1994-1996).
Matérias que leciona: Filosofia, Sociologia, Ciência Política, História das Idéias
Políticas, História do Direito, Filosofia Brasileira e Latino-americana,
Pensamento Político Brasileiro e Latino-americano, Ética no Serviço Público,
Ética Empresarial, História da Cultura, História das Idéias Filosóficas no
Brasil, História do Pensamento Político Brasileiro.
Experiência Docente: Professor Associado da Universidade Federal de Juiz de Fora
(Departamento de Filosofia), a partir de fevereiro de 1985. Aposentado em Maio
de 2013. Na UFJF foi Coordenador do Centro de Pesquisas Estratégicas da UFJF e
do Núcleo de Estudos Ibéricos e Ibero-americanos. Professor Emérito da Escola
de Comando e Estado Maior do Exército, ECEME, Rio de Janeiro, a partir de
outubro de 2003. Professor Visitante do Programa de Mestrado e Doutoramento em
Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade Católica Portuguesa,
Lisboa, (2001). Trabalhou nas seguintes Universidades: Universidade Gama Filho,
Rio de Janeiro, Professor Adjunto, entre 1983 e 2002.
Universidade de São Paulo, entre 1979 e 1980 (professor da cadeira de EPB).
Fundação Armando Álvares Penteado, entre 1979 e 1980 (professor da Escola de Comunicação).
Universidade Estadual de Londrina, entre 1980 e 1983 (professor adjunto do Departamento de História e Filosofia, Diretor pro-tempore do Centro de Letras e Ciências Humanas e chefe do Departamento de História e Filosofia).
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Professor Adjunto entre 1984 e 1989.
Uni-Rio, Rio de Janeiro, Professor Adjunto entre 1985 e 1989.
Universidade de Medellín (Colômbia), entre 1975 e 1979 (exerceu o cargo de Pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa).
Universidade Externado de Colômbia, Bogotá, Professor de Tempo Completo entre 1972 e 1973.
Universidade Pontifícia Bolivariana, Medellín, Professor de Tempo Completo, entre 1968 e 1971.
Universidad de Antioquia, Medellín, Professor catedrático da Faculdade de Direito e Ciências Políticas, 1975-1978.
Academias e Entidades Culturais e de Pesquisa: Membro da Academia Brasileira de Filosofia (Rio de Janeiro), do Conselho Técnico da Confederação Nacional do Comércio (Rio de Janeiro), do Instituto Brasileiro de Filosofia (São Paulo), do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira (Lisboa), do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, do PEN Clube (Rio de Janeiro), do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil (Rio de Janeiro), do Conselho Editorial da Editora do Exército (Rio de Janeiro, de 2004 até abril/2008), da The Planetary Society (Pasadena-Califórnia).
Universidade de São Paulo, entre 1979 e 1980 (professor da cadeira de EPB).
Fundação Armando Álvares Penteado, entre 1979 e 1980 (professor da Escola de Comunicação).
Universidade Estadual de Londrina, entre 1980 e 1983 (professor adjunto do Departamento de História e Filosofia, Diretor pro-tempore do Centro de Letras e Ciências Humanas e chefe do Departamento de História e Filosofia).
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Professor Adjunto entre 1984 e 1989.
Uni-Rio, Rio de Janeiro, Professor Adjunto entre 1985 e 1989.
Universidade de Medellín (Colômbia), entre 1975 e 1979 (exerceu o cargo de Pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa).
Universidade Externado de Colômbia, Bogotá, Professor de Tempo Completo entre 1972 e 1973.
Universidade Pontifícia Bolivariana, Medellín, Professor de Tempo Completo, entre 1968 e 1971.
Universidad de Antioquia, Medellín, Professor catedrático da Faculdade de Direito e Ciências Políticas, 1975-1978.
Academias e Entidades Culturais e de Pesquisa: Membro da Academia Brasileira de Filosofia (Rio de Janeiro), do Conselho Técnico da Confederação Nacional do Comércio (Rio de Janeiro), do Instituto Brasileiro de Filosofia (São Paulo), do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira (Lisboa), do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, do PEN Clube (Rio de Janeiro), do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil (Rio de Janeiro), do Conselho Editorial da Editora do Exército (Rio de Janeiro, de 2004 até abril/2008), da The Planetary Society (Pasadena-Califórnia).
Tem vários livros publicados.
(Após as apresentações curriculares dos novos acadêmicos, prosseguiu o
Orador):
Senhor Presidente, este momento solene
está a exigir, obviamente, uma reflexão, ainda que breve, sobre o tema
“ACADEMIA”.
PIERRE HADOT, filósofo do College de France, estudioso da Filosofia Antiga, ensina-nos que na Academia de Platão (a primeira que recebeu a tal denominação) “o que conta é a prática do diálogo e a transformação à qual ela nos conduz”.
Sabe-se que a Academia platônica durou mais de 1000 anos ( de 386 ou 387 a. C .a 529 d. C.). Lamentavelmente, foi fechada por ordem do Imperador bizantino Justiniano. Mas, seu espírito, apoiado nas bases da filosofia helênica, continuará ecoando pelos séculos afora a inspirar a fundação de novas escolas, institutos, universidades e academias de Letras, Ciências e Artes, como esta que hoje festeja o ingresso de seus novos acadêmicos.
Nota-se, pois, que Academia é instituição vocacionada não apenas a permanecer na história, mas para participar da construção da própria história: história que é, ao mesmo tempo, das Letras, das Ciências e das Artes.
A história humana é também história das Letras. Letras que formam palavras. Palavras que compõem monólogos, diálogos, criam narrativas, elaboram descrições. Palavras que produzem ensaios dissertativos, teses, poesias, peças teatrais, versos e prosas. Palavras que dizem preces, sermões, palestras, conferências. Palavras que fazem livros, jornais, revistas, cartas, telegramas, e-mails... Elaboram textos que falam de tudo e de todos, pelas mais diversas formas de expressão, desde que se queira compreendê-los, interpretá-los, por meio da atenta e amorosa leitura. Textos compostos de múltiplas linguagens. Linguagens que narram mitologia, falam de religião, convidam à Filosofia, expressam as Ciências e possibilitam a difusão das Artes.
As letras estimulam vida, pois abrem caminhos a quem, de início, apenas as soletra e, em seguida, passa a namorá-las e a amá-las. E, quando o soletrar evolui, aumenta o desejo de letras, só letras, soletrar velozmente, ler, viajar com as letras. Em sua ótima companhia. Com elas, rompem-se os limites do trivial, amplia-se o mundo, viaja-se pelo universo, mesmo sem sair do lugar e sem correr riscos dos possíveis acidentes rodoviários, marítimos ou aéreos. Elas, as letras, são generosas, disponíveis. Para encontrá-las, basta abrir um livro, um periódico, sair na rua e olhar para os anúncios. E aí começa o diálogo com o texto escrito. Tamanho é o seu poder e influência que sempre acaba por nos transformar, ou seja, a provocar mudanças em nosso modo de pensar, ser e estar. Não por acaso o filósofo Wittgenstein, em lapidar frase afirma :” Die Grenzen meiner Sprache bedeuten die Grenzen meiner Welt: os limites da minha linguagem significam (são) os limites do meu mundo”.
Letras... o que que são as letras? Sinais, signos. São símbolos que apontam para e possibilitam o entendimento entre os seres humanos. Letras que se juntam a tantas outras letras em tantos idiomas, compondo a maravilhosa rede da COMUNICAÇÃO HUMANA.
Letras que são sinais a clamar por uma hermenêutica inspirada na metáfora mitológica do mensageiro deus Hermes e que, como ele, levam mensagens a todos os lugares do Planeta para aproximar, unir ou distanciar pessoas. Letras que num piscar de olhos e num clicar do “mouse”, sem passaporte ou qualquer outra barreira, atravessam os oceanos, celebram a paz ou declaram a guerra. Letras que por serem letras são muito mais do que letras.
Onde estão as letras? Em quase todos os lugares, mesmo onde não são percebidas. O que seria da Ciência sem as Letras? Não seria Ciência porque sem elas o saber não se comunicaria entre as gerações, não se multiplicaria ou até mesmo não existiria. Mas, de mãos dadas com as Letras nasce a Ciência, evolui e se expande pelo mundo, pelas escolas, pelos laboratórios, academias, bibliotecas, institutos e universidades.
Com as Letras também a Arte se faz. Seja em prosa, seja em verso. Na literatura de ficção, na poesia, nos palcos das artes cênicas, na voz dos atores, das atrizes, dos cantores e trovadores... Lá estão elas, as letras, discretas mas presentes, guardadas na memória por meio do texto decorado e interpretado nos teatros, nas casas de ópera e nos filmes.
Mas o que seria das letras sem a Arte? Não teriam beleza, soariam toscas, sem gosto e sem estilo. Seriam pobres, frias, miseráveis letras. Mas se assim não são é porque as letras amam a Arte e a Arte, em muitas de suas formas, também é uma apaixonada pelas Letras. É por isso que, dizer as letras com Arte e fazer a arte com letras é coisa para quem gosta de Letras. Dizer Ciência com letras é fazer das Letras Ciência. Fazer Ciência com arte é Arte de quem sabe as Letras .
PIERRE HADOT, filósofo do College de France, estudioso da Filosofia Antiga, ensina-nos que na Academia de Platão (a primeira que recebeu a tal denominação) “o que conta é a prática do diálogo e a transformação à qual ela nos conduz”.
Sabe-se que a Academia platônica durou mais de 1000 anos ( de 386 ou 387 a. C .a 529 d. C.). Lamentavelmente, foi fechada por ordem do Imperador bizantino Justiniano. Mas, seu espírito, apoiado nas bases da filosofia helênica, continuará ecoando pelos séculos afora a inspirar a fundação de novas escolas, institutos, universidades e academias de Letras, Ciências e Artes, como esta que hoje festeja o ingresso de seus novos acadêmicos.
Nota-se, pois, que Academia é instituição vocacionada não apenas a permanecer na história, mas para participar da construção da própria história: história que é, ao mesmo tempo, das Letras, das Ciências e das Artes.
A história humana é também história das Letras. Letras que formam palavras. Palavras que compõem monólogos, diálogos, criam narrativas, elaboram descrições. Palavras que produzem ensaios dissertativos, teses, poesias, peças teatrais, versos e prosas. Palavras que dizem preces, sermões, palestras, conferências. Palavras que fazem livros, jornais, revistas, cartas, telegramas, e-mails... Elaboram textos que falam de tudo e de todos, pelas mais diversas formas de expressão, desde que se queira compreendê-los, interpretá-los, por meio da atenta e amorosa leitura. Textos compostos de múltiplas linguagens. Linguagens que narram mitologia, falam de religião, convidam à Filosofia, expressam as Ciências e possibilitam a difusão das Artes.
As letras estimulam vida, pois abrem caminhos a quem, de início, apenas as soletra e, em seguida, passa a namorá-las e a amá-las. E, quando o soletrar evolui, aumenta o desejo de letras, só letras, soletrar velozmente, ler, viajar com as letras. Em sua ótima companhia. Com elas, rompem-se os limites do trivial, amplia-se o mundo, viaja-se pelo universo, mesmo sem sair do lugar e sem correr riscos dos possíveis acidentes rodoviários, marítimos ou aéreos. Elas, as letras, são generosas, disponíveis. Para encontrá-las, basta abrir um livro, um periódico, sair na rua e olhar para os anúncios. E aí começa o diálogo com o texto escrito. Tamanho é o seu poder e influência que sempre acaba por nos transformar, ou seja, a provocar mudanças em nosso modo de pensar, ser e estar. Não por acaso o filósofo Wittgenstein, em lapidar frase afirma :” Die Grenzen meiner Sprache bedeuten die Grenzen meiner Welt: os limites da minha linguagem significam (são) os limites do meu mundo”.
Letras... o que que são as letras? Sinais, signos. São símbolos que apontam para e possibilitam o entendimento entre os seres humanos. Letras que se juntam a tantas outras letras em tantos idiomas, compondo a maravilhosa rede da COMUNICAÇÃO HUMANA.
Letras que são sinais a clamar por uma hermenêutica inspirada na metáfora mitológica do mensageiro deus Hermes e que, como ele, levam mensagens a todos os lugares do Planeta para aproximar, unir ou distanciar pessoas. Letras que num piscar de olhos e num clicar do “mouse”, sem passaporte ou qualquer outra barreira, atravessam os oceanos, celebram a paz ou declaram a guerra. Letras que por serem letras são muito mais do que letras.
Onde estão as letras? Em quase todos os lugares, mesmo onde não são percebidas. O que seria da Ciência sem as Letras? Não seria Ciência porque sem elas o saber não se comunicaria entre as gerações, não se multiplicaria ou até mesmo não existiria. Mas, de mãos dadas com as Letras nasce a Ciência, evolui e se expande pelo mundo, pelas escolas, pelos laboratórios, academias, bibliotecas, institutos e universidades.
Com as Letras também a Arte se faz. Seja em prosa, seja em verso. Na literatura de ficção, na poesia, nos palcos das artes cênicas, na voz dos atores, das atrizes, dos cantores e trovadores... Lá estão elas, as letras, discretas mas presentes, guardadas na memória por meio do texto decorado e interpretado nos teatros, nas casas de ópera e nos filmes.
Mas o que seria das letras sem a Arte? Não teriam beleza, soariam toscas, sem gosto e sem estilo. Seriam pobres, frias, miseráveis letras. Mas se assim não são é porque as letras amam a Arte e a Arte, em muitas de suas formas, também é uma apaixonada pelas Letras. É por isso que, dizer as letras com Arte e fazer a arte com letras é coisa para quem gosta de Letras. Dizer Ciência com letras é fazer das Letras Ciência. Fazer Ciência com arte é Arte de quem sabe as Letras .
E se assim são, que sejam então para nós o
estímulo à amizade e ao contínuo diálogo da aprendizagem que é
sempre complementação . Que sejam elas – Letras, Ciências e
Artes e esta Casa (Academia de Letras Ciências e Artes) em que
habitam - a mola propulsora para o prosseguir e o
compartilhar do conhecimento, visando ao bem da humanidade. Que a
Academia, ao se renovar, seja cada vez mais a morada do falar e do ouvir,
do pensar e do fazer, do viver e do convívio,
do aprender a ser e do saber a aprender. Tudo com a dosagem
necessária do desprendimento, da gratuidade, da humildade, na AMIZADE.
Tudo, em busca de um mundo melhor. Um mundo para cuja leitura e compreensão
chamaremos sempre pelo socorro das Ciências, das Artes e das
Letras. Certamente, o diálogo, a dialética desta tríade pode nos levar para
muito além do comumente pensado, até às misteriosas fronteiras do INDIZÍVEL
que mesmo assim é PERCEPTÍVEL.
Com tais esperanças e perspectivas, saudamos os
novos integrantes desta ACADEMIA, que chegam para professar
conosco a crença nos valores proclamados em nosso credo acadêmico.
Bem vindos à ACADEMIA DE LETRAS. CIÊNCIAS E ARTES DE LONDRINA e que
Deus os ilumine sempre na realização de suas obras.
Muito obrigado.
Muito obrigado.
Em nome
dos novos acadêmicos, coube a palavra a Clodomiro José Bannwart Júnior:
Fatos, conceitos e paradigmas
Cumprimento inicialmente os membros
integrantes da Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina na pessoa de
seu presidente, professor Dr. Leonardo Prota. Faço menção à memória do fundador
desta Academia, Dr. João Caldas, que ao conhecê-lo e cumprimentá-lo em outubro
passado, sem saber, nos despedíamos.
Cumprimento os demais convidados,
autoridades, familiares, senhoras e senhores.
Na vida somos alvejados por um fluxo
continuo de fatos. Fatos de toda ordem: políticos, econômicos, sociais,
culturais, valorativos, existenciais, e tantos outros. Limitar-se a tão-
somente enxergar fatos reduz drasticamente a intensidade de nossa capacidade
compreensiva. O fluxo sucessivo de acontecimentos, em uma era digitalizada como
a nossa, tende a potencializar o sentido do devir heraclitiano, afastando de
nós a percepção do perene, do permanente, do eterno.
Contudo, há aqueles que se põem a
lapidar conceitos para assegurar, por intermédio destes, a inteligibilidade dos
fatos, da realidade dialética e contingencial na qual estamos mergulhados. Os
conceitos não podem nem devem ser vazios e desprovidos de sentido, pois são
ferramentas que nos dão acesso ao inteligível. Os conceitos desvelam o real
dando-lhe significado e sentido. Somos exatamente aquilo que construímos
conceitualmente. Como afirmou Buda: “Somos o que pensamos”. Nem mais nem menos.
Aí está, mais do que a ciência, a sabedoria dos que manejam os conceitos
conseguindo, de forma desafiadora, expandir a nossa compreensão de mundo, de
vida, de existência, de fé, de humanidade e, sobretudo, de esperança. Estes são
proclamados sábios.
Há, porém, aqueles que, além de
dominarem conceitualmente a inteligibilidade do mundo, compreendem igualmente a
estrutura do pensamento que molda os conceitos. Compreendem o paradigma de
pensamento que situa a época e a historicidade em que vivem. Estes, creio eu,
podemos chamá-los de mestres. Com os mestres enxergamos além do nosso tempo.
Com eles podemos projetar sonhos e delinear, ainda que em expectativa, o
futuro.
Em linhas gerais, sintetizo o meu
sentimento – e, creio, dos demais colegas, Paulo Briguet, Nelso Attilio Ubiali
e Ricardo Vélez Rodríguez – de alegria pela honrosa recepção na Academia de
Letras, Ciências e Artes de Londrina.
Estamos, na verdade, sendo acolhidos
numa casa muito especial que tece com cuidado e zelo o pensamento, que preserva
o lastro de inteligência e de cultura da sociedade, que insiste em não deixar
sepultar, em nossas memórias, aquilo que há de mais sagrado: o conhecimento. E,
acima de tudo, estamos sendo acolhidos por verdadeiros mestres, de envergadura
intelectual e ilibada reputação moral. Isso por si só nos alegra e nos
emociona. Em meu caso, em
particular, alegria não porque serei
como um dos senhores e senhoras, mas porque poderei estar entre os grandes e
aprender. Diante dos grandes desta Academia de Letras, Ciências e Artes de
Londrina eu me porto como Bernardo de Chartres que, no século XII, ao descobrir
as obras de Aristóteles e perceber a grandiosidade de seu conteúdo, disse:
“Somos anões, que ao subir no ombro desse gigante, poderemos enxergar muito
além das nossas condições”. Que
bom estar entre os gigantes e, ao
galgar os seus ombros, ter a sensação de visão ampliada, compreensão alargada,
pensamento aberto. Até porque, pensamento é como paraquedas. Só funciona se
aberto.
O apóstolo Paulo é um grande exemplo
nesse sentido. Em sua pregação em Atenas, coração do pensamento filosófico,
antes de ser conduzido ao Areópago para proferir seu discurso, andou pela
cidade observando atentamente aos seus detalhes. E pôde notar que os gregos
cultuavam vários deuses e, também, por receio de não prestarem culto a alguma
destas
divindades, reservaram um pequeno
altar com a seguinte descrição: “ao Deus desconhecido” (Ignoto Deo). No
areópago, Paulo expôs, com cuidado, as seguintes palavras:
“Cidadãos atenienses! Vejo que, sob
todos os aspectos, sois os mais religiosos dos homens. Pois, percorrendo a
vossa cidade e observando os vossos monumentos sagrados, encontrei até um altar
com a inscrição: ‘Ao deus desconhecido’’. Ora bem, o que adorais sem conhecer,
isto venho eu anunciar-vos”. (Atos, 17, 22-23)
O apóstolo Paulo não estava ali como
um mercador da últimas novidades do Oriente. Não apresentou aos gregos nenhum
produto ou tecnologia de ponta. Estava simplesmente munido de palavras
portadoras de sentido e de valores que tocavam a mente e o coração daqueles
homens. E “a palavra” como disse Rui Barbosa “é o instrumento irresistível da
conquista da liberdade”. A palavra foi suficiente para que, em pouco tempo,
toda iconográfica pagã fosse
convertida em cristã. Com a palavra,
Paulo desmobilizou o panteão de deuses que habitavam o Olimpo, havia mais de
mil anos, para ceder lugar ao grande Mestre que, no entanto, se apresentou como
humilde filho de carpinteiro: Jesus Paulo conhecia muito bem parte daquele
público que dava pouco ou quase nenhum crédito às suas palavras: os filósofos
epicureus, estócios e céticos.
Os primeiros, presos ao materialismo,
não enxergavam além da própria matéria. Respondiam mais aos apelos da sensação
do que da própria razão. Os segundos, imbuídos de exagerada autoconfiança
cósmica compartilhavam, em muitos aspectos, da máxima que os nossos manuais
contemporâneos de autoajuda proclamam com pouca tematização: “O universo
conspira a nosso favor”. E os céticos, grande maioria naquela época,
alimentavam-se da
desconfiança e da descrença,
precipitando o pensamento e seus conceitos no niilismo.
A Academia de Letras, Ciências e Artes
de Londrina nos incumbe de desafios que não estão distantes da realidade
provada por São Paulo. Os “ismos” que aprisionam o pensamento continuam por
toda parte. Porém, o mais significativo do debate acadêmico é que ele não
apresenta nem a euforia radical tão-pouco o pessimismo dos materialistas, nem a
utopia desmedida e tão-pouco o niilismo, mas a reflexão. A reflexão como ponto
de encontro, diverso, amplo e aberto, de ideias e de conceitos. A reflexão
enquanto palavra pensada. Como
disse José Saramago “Se Deus é o
silêncio do universo, o homem é o grito que dá sentido a esse silêncio”. Sentido
que as palavras grafam em nossas ações, atitudes e comportamentos.
E não poderia expressar o sentimento
de alegria que invade a nossa vida nesse dia tão especial, senão por meio de
palavras.
Encerro dispensando uma palavra ao
presidente desta Academia, Dr. Leonardo Prota. Quero dizer, professor, que sou
muito grato, pois parte significativa de minha formação foi obra silenciosa de
seus conselhos e ensinamentos. Posso afirmar que o senhor tem uma
característica singular que poucos possuem: a de fazer do distante um próximo,
e do próximo um amigo.
E é como amigos que Paulo Briguet,
Nelso Attilio Ubiali, Ricardo Vélez Rodríguez e eu batemos à porta desta
Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina.
Muito obrigado.
Na sequência, as palavras do presidente da Academia de Letras, Ciências e Artes de
Londrina, Prof. Leonardo Prota:
A criação de academias, desde o século
XV, foi estimulada pelo desejo, de alguns intelectuais, de emancipar-se da
tutela das universidades medievais. Com isso, contribuíram não só para tornar
possível a investigação científica, como sobretudo para preservar suas
descobertas.
Em certo momento, tais academias
tiveram um sentido nitidamente conspiratório, e em meados do século XVI, na
Itália, chamaram-se Academia dos Incógnitos; dos Secretos; dos Corajosos; dos
Confiantes; e assim por diante. Galileu pertenceu à Academia dei Lincei,
fundada em Roma em 1603, que, entre outras coisas, deu publicidade a seus
livros.
Com o progresso da ciência moderna,
foram criadas academias em inúmeros lugares, não mais com intuito
conspiratório, mas com claro espírito de cooperação com outras instituições
culturais.
Quanto à nossa Academia, em seu
“Convite para Instalação da Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina”,
no dia I/ de Setembro de 1978, nosso saudoso Presidente e Fundador Dr. João
Soares Caldas designava a futura criação de nossa Instituição como
“acontecimento que poderá marcar mais uma efeméride significativa na vida
londrinense” (fato que efetivamente se verificou).
E prossegue o nosso autor: “Com grande
conteúdo de fé na resposta à nova estrutura que está criando para fazer surgir
os membros efetivos da Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina, que vão representar os
valores desta região, a demonstrar que o processo civilizatório aqui instituído
já chega a um patamar desejado, de realização, nas letras, nas ciências e nas
artes, a sua primeira diretoria executiva fará instalar, no dia 23 de setembro
de 1978, a nova entidade, que pertence a todos”.
Permito-me sublinhar: “fazer surgir os
membros efetivos da Academia, que vão representar os valores desta região”; a
história de 35 anos de existência da Academia, sob o pulso sabiamente firme do
imortal Presidente e de seu acertado norteamento impresso nessa travessia
tornou-se patente realidade essa visão do Dr. João Soares Caldas; se lançarmos
um simples olhar sobre os membros efetivos operadores dessa história podemos,
com certeza, afirmar que representam os valores de nossa região. E este é o
momento adequado para, uma vez mais, prestarmos homenagem ao nosso muito amado
Presidente.
Continuando com o mencionado
pronunciamento, ele afirma: “Na verdade as manifestações de cultura e ciência,
o sentido espicaçado pelas emoções estéticas, que pressupõem a criação
artística, constituem patrimônio comum, como a Academia que se pretende e se
quer projetar”.
Toda herança histórica bem sucedida
exige atualização meritória de continuação com vistas a um contínuo
aperfeiçoamento, em particular quando o objeto é a cultura, que nunca pode ser
considerada estática, mas sempre em contínua criação. Objeto de investigação e
de discussão em reuniões de nossa Academia, portanto, será o conceito de
cultura, hoje, socialmente, tão equivocadamente interpretado. Possivelmente,
tomando como premissa uma conceituação de cultura geral que, de acordo com o
pensamento do meu eminente mestre Antonio Paim, enfatiza os seguintes aspectos:
1-familiaridade com os valores de
nossa civilização, assimilados criativamente de forma a poder avaliar com
equilíbrio a experiência brasileira;
2-capacidade de expressar-se de modo
correto, mediante o conhecimento da língua portuguesa e das obras clássicas de
sua literatura, bem como das regras da lógica formal;
3-conhecimento do objeto, do método e
da história das principais disciplinas científicas;
4-compreensão de que a cultura forma
uma totalidade viva, em permanente enriquecimento, e que não se seciona em
compartimentos estanques; cultivo de atitude respeitosa e interessada diante de
suas diversas manifestações, e compromisso com o subsequente
autoaperfeiçoamento.
Com relação às Ciências, pretende-se
evidenciar a especificidade da ciência moderna, em seu sentido próprio, tanto
como descoberta da verdade quanto como saber de índole operativa, de modo a
evitar o equívoco muito frequente em nossa cultura onde se supõe que os outros
tipos de saber, para terem alguma validade, deveriam perder a sua
especificidade e reduzir-se à ciência, ou ainda que esta se acha conclusa e
acabada, não nos restando nada a fazer senão cuidar de sua aplicação;
No que se refere às Artes e à
Literatura, a forma mais adequada é a de inserir sua apresentação no contexto
de que se trata.
Concluindo, esse é o plano de
atividades de nossa Academia, que apresentamos aos Acadêmicos, hoje solenemente
empossados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário