Alguns dos participantes, antes do início da reunião
Nosso Mestre de Cerimônias, Jonas Rodrigues de Matos, conduziu a reunião
O Credo Acadêmico da Academia foi lido pela Acadêmica Fátima Mandelli
Acadêmica Ludmila Kloczak
Caros acadêmicos, convidados e visitantes! Bem-vindos a esta reunião virtual da nossa Academia!
Em outubro, nossa cidade, Londrina, nos brinda com o amarelo ouro da florada das sibipirunas. O verde respingado de amarelo destas árvores frondosas e os cachos amarelo-brilhantes das acácias reais, enfeitam o mês para várias celebrações.
Para quê o Dia da Criança? Pela obrigação de presenteá-la e alegrá-la? Para aliviar a consciência de não brincar o suficiente durante o ano? E o que é brincar o suficiente?
A existência da criança atende, em primeiro lugar, à conservação da espécie, depois, à continuidade da família e, só então, ao desejo dos indivíduos em serem pais. Ao desejo de oferecer a um novo ser a oportunidade de constituir sua própria existência a partir de uma rede afetiva propiciada pela relação paterno-materna. É a oportunidade para meditar sobre a criança que está dentro de nós, buliçosa, curiosa, frágil, criativa. À medida que este ser se torna adulto, a criança não desaparece, incorpora-se, participa da adultez. É a fonte da leveza, da fantasia, da criatividade com a qual o adulto poderá conduzir sua vida. Meditar sobre o destino da criança em nós quando desprezamos esta fonte, e nos tornamos adultos insípidos, agressivos, frios, oportunistas, incapazes de fruir a vida.
Neste mês são lembrados os professores. Pela sua vocação em educar, ou seja, extrair de dentro da criança, do jovem e do adulto, a sua potência transformadora, é uma profissão apreciada pela sua abnegação, pelo seu caráter de sacerdócio. Há algo de sagrado no ato de abrir aos alunos a potência da revelação oferecida pelo conhecimento. Gratidão aos professores!
Outubro, há muitos anos, também é rosa. Cor vibrante que lembra o feminino através do qual flui a vida. Os seios que amamentam, podem se transformar em patologia grave. Os mesmos hormônios que estimulam a produção do leite materno, vital para o sustento das crianças, podem facilitar o surgimento de células cancerígenas. Rosa para alertar que, além da estética, a mulher deve a si mesma atenção com a sua saúde.
Este é o mês designado à celebração da Padroeira do Brasil. Para representar o mistério e a sabedoria espiritual, nós, brasileiros, encontramos na pequena imagem de Nossa Senhora negra, delicadamente adornada, a força do Sagrado e o sentido milagroso das nossas lutas cotidianas, dos nossos sonhos, a nossa fé e confiança na proteção divina. Aos que creem e aos que não creem, Nossa Senhora Aparecida rogai por nós!
Muito obrigada!
Acadêmico Sergio Alves Gomes
Ao fazer uso da palavra, o Orador destacou a riqueza e a variedade das temáticas presentes na pauta da reunião, com espaço para reflexões filosóficas, poesia e arte musical a serem vistas como expressões de potencialidades e realizações criativas, no mundo da cultura, no qual se situa a Academia de Letras, Ciências e Artes. Em seguida, introduziu o termo “Poder”, como tema para breves considerações reflexivas, relacionando-o com a noção de “bem comum”. Transcreve-se abaixo o inteiro teor do texto exposto, sinteticamente, durante a “Palavra do Orador”.
O PODER E SEUS EFEITOS NO BEM COMUM
1. Alguns Conceitos de Poder
Para o sociólogo MAX WEBER (1864-1920), “poder significa toda probabilidade de impor a própria vontade numa relação social, mesmo contra resistências, seja qual for o fundamento dessa probabilidade”1
A filósofa HANNAH ARENDT (1906-1975) não vê o poder como “imposição da própria vontade”, mas sim como “habilidade humana não apenas para agir, mas para agir em concerto. O poder nunca é propriedade de um indivíduo; pertence a um grupo e permanece em existência apenas na medida em que o grupo conserva-se unido. Quando dizemos que alguém está “no poder”, na realidade nos referimos ao fato de que ele foi empossado por um certo número de pessoas para agir em seu nome. A partir do momento em que o grupo, do qual se origina o poder desde o começo (potestas in populo, sem um povo ou grupo não há poder), desaparece, “seu poder” também se esvanece.”2
Segundo o pensador MICHEL FOUCAULT (1926-1984), conforme observa o Prof. ROBERTO MACHADO, da UFRJ, “os poderes não estão localizados em nenhum ponto específico da estrutura social. Funcionam como uma rede de dispositivos ou mecanismos a que nada ou ninguém escapa, a que não existe exterior possível, limites ou fronteiras. Daí a importante e polêmica ideia de que o poder não é algo que se detém como uma coisa, como uma propriedade, que se possui ou não. Não existe de um lado os que têm poder e de outro aqueles que se encontram dele alijados. Rigorosamente falando o poder não existe; existem sim práticas ou relações de poder. O que significa dizer que o poder é algo que se exerce, que se efetua, que funciona. E que funciona como uma maquinaria, como uma máquina social que não está situada em um lugar privilegiado ou exclusivo, mas se dissemina por toda a estrutura social. Não é um objeto, uma coisa, mas uma relação (negritamos).3
2. O Poder e o Bem Comum: exigências éticas e jurídicas em tal relação
Com base nos conceitos mencionados, resta claro que a manifestação do poder sempre ocorre no âmbito das relações sociais. Sejam estas de natureza política, econômica, jurídica, religiosa, educacional ou outras similares.
Tecem-se, nesta reflexão, apenas breves considerações sobre alguns dos efeitos - benéficos e maléficos - do poder político e econômico em relação ao “bem comum”.
O Papa João XXIII, com muita clareza, conceituou “bem comum”, ao dizer que este " consiste no conjunto de todas as condições de vida social que consintam e favoreçam o desenvolvimento integral da personalidade humana".4
A presença ou ausência do “bem comum” na sociedade depende de como se dão as relações de poder. Quando o poder presente em tais relações é exercido de forma equilibrada, sem opressão, tal poder, orientado pelos limites do Direito, compromissado com a promoção do que é justo e razoável, produzirá efeitos benéficos para todos os partícipes das relações em foco. Ao contrário disso, quando o poder trata algum dos partícipes da relação social em foco como uma coisa, um objeto descartável, de consumo, ao invés de considerá-lo como “pessoa”, então tal exercício se torna autoritário, e até mesmo despótico, tirânico e totalitário. Isso ocorre porque no exercício desequilibrado do poder, tem-se a presença da desproporção, da desmedida e até da violência, ou seja, daquilo que os pensadores gregos denominavam “HYBRIS”. Heráclito de Éfeso (aprox. 540-474 a.C) envia um alerta à humanidade que continua a fazer sentido nos tempos atuais, com os seguintes fragmentos: “mais do que o incêndio é necessário apagar a “hybris”. E, em outro trecho proclama: “o povo deve lutar pela lei como pelos muros da cidade”.5
Todas as formas de totalitarismo, autoritarismo, ditadura, enriquecimento ilícito e corrupção expressam exercício do Poder contrário ao “bem comum”, isto é, o “bem de todos”. A Constituição Federal de 05 de outubro de 1988 é fruto da percepção ética, política e jurídica sobre o correto e benéfico exercício do poder em prol do bem comum e sobre os malefícios dos regimes políticos e sistemas econômicos sem freios de qualquer natureza, onde o homem escraviza o homem, abusa do poder, pisa sobre o mais fraco, transforma a relação de poder em opressão. Tal percepção enseja a bandeira da democracia e a instituição do Estado Democrático de Direito, onde a tripartição dos poderes defendida por MONTESQUIEU é adotada exatamente para impedir a opressão e a dominação. É norma constitucional, em forma de “cláusula pétrea”, isto é, mandamento jurídico que não pode ser abolido pelo Congresso Nacional nem mesmo mediante emenda à Constituição. E por que? A resposta está nas palavras do próprio Montesquieu: «Para que não se possa abusar do poder é preciso que, pela disposição das coisas, o poder freie o poder». E mais adiante complementa o célebre pensador, em sua magna obra «Do Espírito das Leis”, publicada em 1748: “Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer as leis, o de executar as resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as divergências dos indivíduos”.6
3. A Ambiguidade do Poder
Por que tudo estaria perdido? Porque o poder é ambíguo, conforme bem aponta o magistrado português José Maria Rodrigues da Silva, em sua excelente obra “O Homem e o Poder”. Diz o autor: “o poder é como Jano, o deus de duas caras, essencialmente ambíguo”.7 E tal ambiguidade fica bem caracterizada quando SILVA exemplifica com a presença do poder em duas situações distintas e em atitudes opostas, frisando: “os cidadãos da velha e experimentada democracia britânica veem o Poder à imagem dos seus fortes e simpáticos polícias, os bobbies, que ajudam as crianças e os velhos a atravessar as ruas. Mas os desgraçados judeus que o Estado nazi internara em Auschwitz e que aguardavam sem esperança que soasse a hora de morrerem nas câmaras de gás, não podiam ver nos seus verdugos os representantes de uma ordem legítima. Para eles, o Poder era a negação do homem; não o seu complemento”.8 Há, pois, poder legítimo e poder ilegítimo. Poder legítimo é exercido por “autoridade” competente e como tal reconhecida e aprovada pelo Direito e pela população. Poder ilegítimo se traduz no exercício violento da força e contraria os fundamentos éticos do Direito.9 É poder destruidor das condições sociais necessárias ao bem comum.
Nas relações econômicas e, de modo especial naquelas em que capital e trabalho se encontram, o poder também pode libertar ou escravizar. Especialmente se o poder econômico se alia ao poder político. Atualmente, os freios aos seus abusos para a não escravização são estabelecidos pelo Direito, mediante normas constitucionais, pactos internacionais, legislação infraconstitucional e a jurisprudência comprometida com o reconhecimento efetivo dos direitos humanos e fundamentais, especialmente aqueles conectados com a ordem econômica e financeira. Tal ordem, segundo a Constituição Federal (art. 170), está “fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa” e “tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social”. São estímulos e freios. Estímulos à construção de uma convivência equilibrada entre o capital e o trabalho orientada por princípios de justiça que levam em conta a necessidade de proteção dos economicamente mais frágeis. Isto porque, nesta seara, vale lembrar célebre frase de LARCORDAIRE: “Entre o fraco e o forte, a lei liberta e a liberdade escraviza”. Por exemplo, a desregulação ou ausência de normas protetoras e o afastamento da tutela jurídica ao trabalhador, no âmbito das relações de trabalho, resultam, frequentemente, em abuso do poder econômico, mascarado mediante a má utilização do conceito de “trabalhador autônomo” para, em verdade, se negarem direitos sociais inerentes à relação trabalhista cujo vínculo entre patrão e empregado se quer ocultar.
4.Conclusão
Conscientes de que o poder “se manifesta em todas as dimensões da vida humana”10 e que, com frequência, usa máscaras11 para impedir a transparência, despi-lo de suas máscaras é um grande desafio à democracia. Esta exige a transparência, respeito à cidadania, solidariedade, cooperação, mútuo respeito, participação e reconhecimento à dignidade inerente a todo ser humano, pelo simples fato de ser ele uma PESSOA e não uma coisa.
Quando um povo se educa para a convivência democrática, ele, mediante suas leis, retira as máscaras do poder, estabelece freios necessários a evitar abusos e exige sua atuação em prol da concretização do bem comum. Quando isso não ocorre, têm-se a tragédia da perversão do Poder. A história traz múltiplos exemplos em ambos os sentidos. Por isso, urge que se preste atenção - antes e na hora de se fazerem as escolhas dos futuros governantes - se o candidato apresenta ou não qualificação moral ilibada e nível educacional compatível com a relevância do cargo.
Para tanto, é aconselhável colocar-se diante da seguinte cena imaginária, mas profícua: vê-se do alto de seu eterno púlpito, a PRUDÊNCIA, como virtude indispensável à realização da EQUIDADE e da JUSTIÇA entre os humanos, a conclamar e a aconselhar em alto e bom som a seu auditório universal: cidadãos e cidadãs de todos os quadrantes, prestai muita atenção na hora de concederdes poderes políticos e jurídicos por meio do voto, pois ele, o voto, é a autorização expressa para o exercício do poder político. E tal exercício poderá produzir o “bem comum” ou, em lugar deste, a miséria e insegurança em vosso meio. A escolha está em vossas mãos. Prestai atenção! Prestai muita atenção! Sois responsáveis por vossas escolhas!
Além de se dar ouvido aos conselhos da prudência, é preciso ressaltar que a presença do poder em todos os espaços da sociedade não retira dos seres humanos a possibilidade de se verem como irmãos em um único e mesmo barco da vida , cujo destino pode ser o alcance do “bem comum” ou o naufrágio de toda a humanidade. Ainda resta esperança de que tal naufrágio possa ser evitado se as relações de poder presentes em tal convívio forem exercidas com sabedoria, senso de justiça e fraternidade, levando-se em conta inclusive as gerações futuras. E é isso que se espera quanto ao exercício do poder, ao se defender sua colocação ao estrito serviço em prol da humanidade e do bem comum.
1 WEBER, Max. Economia e Sociedade, 4ªed. Brasília,DF: Universidade de Brasília. São Paulo: Imprensa Oficial, 1990, p.33.
2 ARENDT, Hannah. Sobre a Violência.Rio de Janeiro:Relume-Dumará, 1994, p.36.
3 MACHADO, Roberto. Introdução. In:FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder, 8ªed. Rio de Janeiro: Graal, 1979, p.XIV.
4 Papa João XXIII, Pacem in Terris (Eincíclica, I,58).
5 CHARLES H. KAHN assim comenta sobre os dois fragmentos heraclitianos citados: “Da mesma forma que um ataque inimigo contra os muros da cidade ameaça todos os seus habitantes, uma casa em chamas ameaça toda a vizinhança de destruição. E assim como a defesa da lei cívica é vista [...]como algo tão vital quanto a defesa dos muros, aqui a supressão da ybris – supressão daquela violência que desconsidera a lei e ameaça a comunidade – é vista como algo mais urgente do que apagar um fogo em vias de fugir ao controle.”Cf. KAHN, Charles H. A Arte e o Pensamento de Heráclito. São Paulo: Paulus, 2009 (Col. Philosophica), p.375.
6 MONTESQUIEU, Charles Louis de Secondat, baron de de la Brède et de. Do Espírito das Leis, 2ªed. São Paulo:Abril Cultural, 1979 (col. Os Pensadores), p.148 e 149.
7 SILVA, José Maria Rodrigues da. O Homem e o Poder. Lisboa: Bertrand Editora, 1988, p.36.
8 Idem, p.35.
9 Vicente de Paulo Barretto também nota “a existência de duas faces do poder: uma que se expressa pelo poder nu e que se exerce pela violência; outra que caracteriza a forma de poder qualificada pela autoridade. A distinção entre os dois tipos de poder, o poder dotado de autoridade e o poder ilegítimo, reside no fato de o primeiro expressar um valor moral, do qual se origina. Assim sendo, o exercício do poder em todas as instâncias das relações humanas, no âmbito público, que encontra a sua forma mais elaborada no poder estatal ou no âmbito das relações privadas, tem na autoridade a pedra de toque da sua legitimação. Por conseguinte, a legitimação atestada na autoridade em que se investe de todas as formas de poder é condição para que as suas determinações sejam aceitas e sancionadas, quer no espaço público, quer no espaço privado . Cf. BARRETTO, Vicente de Paulo. As Máscaras do Poder. São Leopoldo, RS: Unisinos, 2012 (coleção Aldus,37), p.77.
10 BARRETTO, Vicente de Paulo. Op. Cit. p.19.
11 BARRETTO assevera que “o poder veste muitas máscaras e, assim, encobre a sua verdadeira face. Como as máscaras usadas pelos atores no teatro da Roma clássica, chamadas personas, o poder aparece encoberto por disfarces diversos. Essas máscaras escondem o fato de que o poder veste e procura legitimar a força, que, quando deixada em estado puro, converte as pessoas em coisas, em cadáveres, em pó, como lemos na Bíblia. Entendemos então por que, na longa história da humanidade, processou-se a luta constante entre a força, que se manifesta na sua forma extrema pela violência, e o poder, que procura controlar e regular as suas manifestações. O poder surge, portanto, como uma rede de relações sociais que tem a função principal de impedir que a força, latente na condição humana, se torne instrumento da sua própria autodestruição”. Op. Cit. p.15.
Elimar Plínio Machado e Flautistas
Tetracorde 2020*
Nosso Momento de Arte contou com a apresentação da "Viola da Gamba", com três números musicais.
TETRACORDE
1- Tedescha et Saltarello do Il Primo libro de Balli, 1578 - Giorgio Mainerio (~1530/40 - 3 ou 4 de maio/1582)
2- Recercada Quarta para viola da gamba baixo solo do Tratado de Glosas, 1553 - Diego Ortiz (1510 - ~1576)
TETRACORDE
3-Ballo Anglese et Saltarello – G. Mainerio.
Giorgio Mainerio nasceu em Parma, Itália, entre 1530 e 40. Acredita-se que seu pai era de origem escocesa, chamada Mayner. Estudou Música e em 1560 como presbítero, procurou trabalho como capelão e altarista na igreja de Santa Maria Annunziata em Udine. Permaneceu 10 anos em Udine e graças a seus conhecimentos musicais anteriores e aulas com os contrapontistas Gabriele Martinengo [Maestro de Capela (1562-67) e Ippolito Chamaterò [Maestro de Capela (1567-70) iniciou sua carreira musical. Após 3 anos em Udine, interessou-se por ocultismo (astrologia, mágica e necromancia) e havia muitos rumores que juntamente com algumas mulheres realizava ritos noturnos. A Inquisição em Aquileia iniciou uma investigação mas o caso foi encerrado por ausência de evidências. Após o episódio, Mainerio teve mais problemas com seus colegas por aspirar uma posição na Basílica Patriarcal de Aquileia, deixou parcialmente o trabalho em Udine, motivando sua decisão por “razões impelentes, mas honestas”. Foi aceito em Aquileia e se mudou para lá vivendo no quieto e isolado patriarcado. Tornou-se, em 1578, Maestro di cappella na S. Chiesa d’Aquilegia. Teve problemas de saúde em seus últimos anos de vida e frequentemente deixava a igreja para viajar a Veneza, Ancona e outros lugares com águas termais. Faleceu em 4 de Maio de 1582.
Escreveu obras de música sacra, embora tenha publicado uma coleção de canções e danças populares – Il primo libro de’ balli – Veneza, 1578
Seu Magnificat octo tonorum ... cum quatuor vocibus contendo um Regina Coeli foi publicado em Veneza, alguns anos antes, 1574.
Mais tarde publica outros 10 Magnificats sob o título de Sacra Cantica Beatrissimae M. Virg. Omnitonum Sex Vocum Parium Canenda, integrando um moteto (a 6 partes) conhecido como O Sacrum Convivium, impressos em Veneza no ano de 1580.
Mainerio serve de inspiração até os dias de hoje seja como compositor ou personagem de uma estória de um popular livro de quadrinhos de terror “DAMPYR”. A estória intitulada “Il musicista stregato” [“O músico enfeitiçado”] publicada no no. 107 da série de 2009, foi escrita por Mauro Boselli em um enredo de Mario Faggella e desenhada por Mario Rossi. Ele reinterpreta aspectos reais da vidad de Mainerio (particularmente seu interesse por ocultismo e magia) em um tom fantástico, combinando-os com alguns mitos do folclore Friulano como Agane, demônios aquáticos femininos semelhantes às Bean-nighes escocesas (mensageiras da morte e do além – personificadas como lavadeiras que lavavam as roupas nos riachos daqueles que estavam prestes a morrer).
GRUPO TETRACORDE - 2020
Criado através da Monitoria de
Flauta Doce, orientada pelo Prof. Hélcio Müller, no ano de 2000, com a
experiência de alunos do curso de Lic. em Música coordenando e colaborando com
suas respectivas classes. Foi um trabalho de grande repercussão formando assim
um quinteto de flautistas da matéria Flauta Doce. Ao final do ano (2000) o
grupo sentiu-se motivado a continuar as atividades na forma de quarteto. Em
Fevereiro de 2001 iniciam-se os ensaios do grupo que recebeu o nome de
TETRACORDE. O conjunto teve atividades ininterruptas até o ano de 2008. Por
questões diversas foram interrompidas as atividades e volta neste ano de 2020
com a seguinte formação:
Gabriel Schmidt – Flautas Doces
Soprano e Contralto; Luciana Nishi – Flautas Doces Contralto e Soprano; Luciana Schmidt -
Flautas Doces Baixo e Tenor e Plínio Machado Flautas Doces Tenor, Baixo e
Direção Geral.
Plínio Machado – Londrinense,
iniciou seus estudos musicais através do piano com Heloiza Branco e através dos
Festivais de Música de Londrina teve seus primeiros contatos com a Música
Historicamente Informada – conhecida na época como Música Antiga. Foi fundador
do Grupo Arabesco e com este conjunto mudou-se a Basiléia – Suíça para estudar
o Fagote Barroco, Viola da Gamba e Fiedel, na Schola Cantorum Basiliensis.
Retornou ao Brasil e desenvolve na UEL a proposta da Música Histórica desde
1995, que neste ano completa 25 anos de atividades. Apresentou-se em várias
cidades da Europa e América do Sul. Estudou Viola da Gamba em Buenos Aires com
Juan Manuel Quintana, Ricardo Massun e Hernán Cuadrado, sendo o primeiro aluno
a graduar-se no instrumento na única escola de nível superior da América
Latina. Participou de várias gravações com
música Medieval, Renascentista e Barroca com a Camerata Antiqua de Curitiba -
PR, ATEMPO – RJ, Julián Polito y los Lírios del Campo – Argentina, além de
concertos de lançamento dos referidos registros. Retornando de seus estudos
ampliou as atividades da MHI com os grupos Orquestra Barroca Capriccio
Stravagante e o Coro de Ópera Barroca Color Rhetoricus. Além das atividades com
os grupos NEUMA (medieval), Tetracorde, desenvolve atividades de consultoria e
assessoria especializada na Interpretação e Performance no Brasil, Argentina
entre outros países. É membro-fundador da Associação Brasileira de Viola da
Gamba criada em 2017.
"Vida"
Acadêmico Clodomiro Bannwart
Falar a respeito da vida não é assunto dos mais fáceis. Talvez eu tenha de render-me à Clarice Lispector, que afirmava: “Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento”. Oscar Wilde nos ajuda do ponto de vista conceitual quando diz que “viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe”.
Santo Agostinho, importante teólogo e filósofo do século IV d.C., trabalhava com a hipótese de haver uma hierarquia na natureza. Uma pedra, dizia ele, apenas existe. Um animal e uma planta, além de existirem, possuem vida. O Ser humano, além de existir e de viver, possui a singularidade do pensamento. O pensamento é o que nos fornece a consciência de que existimos e de que vivemos. Por meio do pensamento, temos ciência de que não basta existir como uma pedra ou simplesmente viver como uma planta. O pensamento nos projeta ao bem viver, a uma vida com propósito, sentido e valor. E nisso consiste a nossa riqueza: o pensamento nos leva além do que somos, além de nossas limitações. Leva-nos, segundo Agostinho, a Deus. Há um propósito no existir e no viver.
Para um alpinista, as montanhas não existem apenas para alcançar o topo, mas para curtir a adrenalina da conquista e, sobretudo, para aprender o valor da escalada. Da mesma forma que um chef confere sabor a um prato, também nós, cada qual a seu modo, somos convidados a temperar nossas existências, dando sabor à vida. A questão, no entanto, é que não há receitas e tampouco ingredientes predefinidos a azeitar o sabor que desejamos imprimir às nossas biografias.
Faz certo tempo que eu espalhei no chão de casa uma porção de peças de lego e fiquei observando a forma curiosa com que minha filha, na época com pouco mais de um ano, olhava para cada pecinha colorida. De imediato, ela começou a tocá-las e prontamente percebeu que as minúsculas peças podiam ajustar-se mutuamente. Então eu comecei a encaixá-las, uma a uma, até formar uma figura que a deixou ainda mais surpresa. O contentamento expresso em seu sorriso aberto, dócil e ingênuo, demonstrava encantamento.
A vida, a cada novo amanhecer, revela um encantamento indescritível. Cercada de experiências e de ensinamentos, de alegrias e de sofrimentos, de esperanças e de desânimos, de amigos e de momentos de reclusão, a vida é semelhante a um lego. Várias são as ocasiões em que, ao depararmo-nos com fatos e acontecimentos corriqueiros do dia a dia, parece que estamos diante de uma peça que tende a encaixar-se com outra. Fica a impressão de que os fatos e as experiências grafados em nossas histórias pessoais concorrem para arquitetar o sentido mais amplo e completo de nossas existências.
A minha filha, tão rápido se encantou com a figura, também a desmontou e chateou-se por não conseguir restituir o sentido que eu, pai, havia lhe conferido. Ela chorou e veio ao meu encontro murmurando com suas palavrinhas embargadas de lágrimas: “Papai faz.... papai faz....”. Ela sabia que eu era capaz de restituir o sentido da imagem que havia tocado seus sentimentos e cativado seus olhinhos brilhantes.
Assim também parece acontecer na vida. Suplicamos, em oração, o auxílio do Pai na tentativa de compreender melhor os encaixes das peças da vida. Há peças traiçoeiras que parecem desconectadas e sem o menor sentido para nós. Muitas vezes ficamos atônitos, sem saber qual peça nos falta. Em momentos assim, rendemo-nos como crianças que suplicam e imploramos Àquele a quem acreditamos conhecer a configuração plena das peças a ajudar-nos a assimilar, ainda que parcialmente, a imagem desse grande quebra-cabeça, de infinitas peças, que é a vida. E oramos, sim, como crianças. “Deixai as crianças e não as impeçais de virem a mim, pois delas é o Reino dos Céus” (Mateus, 19:14).
Parece que na percepção dos encaixes das peças da vida está o pressuposto da fé. Elas tendem a realizar algo maior do que podemos ver ou compreender no momento. As peças minúsculas do dia a dia, ao serem encaixadas com o auxílio das pessoas que cultivamos, ajudam-nos a potencializar a maturidade de uma fé que é construída e sustentada coletivamente.
E quando observamos que somos também as peças desse grande quebra-cabeça, compreendemos que todo o esforço que empreendemos a encaixar o sentido coletivo de cada peça (cada pessoa), estamos, na verdade, contribuindo para a realização do sentido e da plenitude de nós mesmos. É no desdobramento da temporalidade, no correr do tempo que asseguramos sentido à vida e ao que somos. O que aflige em tudo isso é a finitude da vida. A esse respeito, Rubem Alves fixou a seguinte questão: “Resta quanto tempo?” Sua resposta: “Não sei. O relógio da vida não tem ponteiros. Só se ouve o tique-taque. Só posso dizer ‘Carpe Diem’ – colha o dia como um morango vermelho que cresce à beira do abismo. É o que tento fazer”.
“俳諧
HAICAI - Três linhas de Poesia
Lucrecia Welter Ribeiro*
A Acadêmica Lucrecia Welter Ribeiro, presidente da Academia de Letras de Toledo e da Associação das Academias de Letras, Ciências e Artes do Paraná, apresentou sua palestra com o tema “俳諧 HAICAI – TRÊS LINHAS DE POESIA” abordando os seguintes itens:
1) definição do termo Haicai; 2) sua origem e chegada ao Brasil; 3) Quem foi Matsuo Bashô; 4) Características e Regras Clássicas do Haicai; 5) Conselhos práticos.
Definição
Haicai é uma forma poética de origem japonesa, que valoriza a concisão e a objetividade. Em português, é escrito haicai devido à influência francesa, mas encontramos nos modos: haiku, haikai, hai-kai, aicai.
Haicai é a emoção concentrada na observação da natureza, convertida em poema de três linhas, com dezessete sons, e grande carga poética. Haicai é uma sugestão poética. O haicai não diz tudo o que se quer dizer, mas continua dizendo nas linhas não escritas.
"Haijin ou haicaísta" é o nome que se dá a quem escreve haicais.
O formato tem suas raízes no Tanka (5-7-5 7-7) e no Renga, importante manifestação literária da cultura japonesa que remonta ao século XIII. Os versos eram escritos por vários autores, que respondiam a uma forma de “desafio elegante” entre si ao escrever. Imigração Japonesa
Em 18 de junho de 1908, o navio Kasato Maru chegou ao Porto de Santos, trazendo a bordo 781 japoneses. O encarregado dos imigrantes, poeta Shûhei Uetsuka “Pai da Imigração Japonesa”, promovia desafios elegantes entre os tripulantes durante os 52 dias de viagem. Ao chegar ao Porto de Santos, vendo a Serra do Mar, escreveu este haicai:
Karetaki o miagete tsukinu iminsen
a nau imigrante / chegando: Vê-se lá no alto / a cascata seca
Masuda Goga, em entrevista concedida a Epaminondas Alves, publicada no Jornal do Nikkey (São Paulo) de 06/06/1998 afirma:
Existem mais ou menos três tipos de haicai: 1) O haicai com título, com rima e 17 sílabas rigorosas. 2) O haicai com 17 sílabas, sem rima, sem título, sem kigo. 3) O haicai com 17 sílabas, sem rima, sem título, com kigo, (haicai clássico), que a palestrante segue e divulga nas escolas.
Os grandes mestres haicaístas que da escola clássica: Matsuo Basho (1644-1694), Kyoshi Takahama (1874–1959), Nenpuku Sato (1898-1979), Goga Masuda (1911-2008) e Teruko Oda (1945).
Alguns haicaístas, autores de haicais livres: Helena Kolody, Guilherme Almeida, Paulo Leminski, Millor Fernandes, Mário Quintana, Alice Ruiz.
Foi apresentada uma síntese das características e regras do haicai clássico e os cuidados para com sua composição:
• Teikei (forma) é composta de 17 sílabas poéticas ou pés métricos (5-7-5).
• Kire (corte) que o divide em duas partes, com o uso da pontuação ou não.
• Kigo (palavra da estação, termo de estação ou termo sazonal). Kidai (tema da estação). O kigo/kidai reside na descoberta do transitório e dá profundidade ao haicai. É o eixo do haicai, a sua sustentação.
HAIMI - Aquela sensação poética que nos eleva, o algo mais que se lê entre as linhas, isso é o haimi, a essência da poesia.
O haicai é uma arte que mostra um caminho de elevação espiritual, um distanciamento contemplativo. Nesse estado zen se revela o haimi (perfume de haikai... ou toque de poesia). No ideograma kanji, haimi significa literalmente: sabor + haicai.
MAKOTO - Consiste em pôr em nossas ações a máxima da verdade interior, despertando uma conexão entre o ato, o espírito e o universo. Literalmente seria colocarmos nossa “ALMA” naquilo que fazemos.
Finalizou falando das quatro edições do Concurso de Haicai de Toledo – Kenzo Takemori, da fundação do Grêmio Haicai Sakura (fixação da placa do Grêmio com o nome de seus fundadores e plantio de três árvores de Cerejeira do Japão – sakura na Pracinha do Japão em Toledo). Falou também das fontes de consulta do tema abordado.
*Nasceu em Toledo-PR, formação superior na área de Ciências Exatas; Presidente da Associação das Academias de Letras, Ciências e Artes do Paraná; Presidente da Academia de Letras de Toledo-PR; membro do Clube da Poesia de Toledo-PR; coordenadora e fundadora do Grêmio Haicai Sakura de Toledo-PR; Delegada da UBT – União Brasileira de Trovadores em Toledo-PR; Coordenadora Geral da Revista Philos; poeta multipremiada em concursos literários. Tem livros publicados.