Mais uma obra de Neusi Berbel

Brincos de Princesa.  Um pouco de cor para nossos olhos!





Acadêmica Neusi Berbel
Professora, artista plástica

Orgulho de ser imigrante

Navegando o vasto oceano,
via ao longe se afastando
as imagens derradeiras
de minha Terra Natal...

Algumas liras nas algibeiras...
Braços fortes, determinação!
Vibrando n’alma o grande ideal
de prosperar nesta Nação.

Tão comovente fora nossa partida...
Tangendo no peito saudade dorida!
Eis que aporto, enfim, em terras brasileiras,
paraíso de pássaros, palmeiras!

Aqui, aos poucos fui fincando raízes,
tão profundas, que não guardo cicatrizes
de algum descaso dos primeiros anos,
quando nos chamavam de carcamanos...

Quantos segredos escondidos nas terras
lavradas com enxadas forjadas na fé!
Viçosas lavouras contornando as serras
com imensos rosários de pés de café.

As cerejas maduras, no véu da saudade,
traziam-me lembranças da feliz mocidade
na Itália distante, de alegres tarantelas...
As ragazze dançando, tão jovens, tão belas!
Brasil!... Berço que me embalou com carinho!
Solo abençoado, que me deu um lar, um ninho,
onde criei os filhos, me vi envelhecer...
E onde, em meu sono infinito irei adormecer!

De sol a sol, ombro a ombro, lutamos.
Persistentes um espaço conquistamos.
Somos exemplos de audazes imigrantes,
com a garra e a coragem dos bandeirantes.

O sangue italiano pulsa na indústria,
lavoura, comércio, no cafezal.
Na voz dos padres em sagrada messe.
Na herança ancestral de piedosa prece!

Nessa labuta por um ideal,
nossa presença ficou na comida:
- No risoto, polenta, pizza, vinho...
Na lida do gado, no parreiral.

Vejam as roças, videiras mil!
Mesas fartas, macarronadas...
Gerações bonitas mescladas
com traços de Itália e Brasil!

O medo de desventura ou engano
perdeu-se no passado distante,
pois, no peito de cada italiano
palpita o orgulho de ser Imigrante!



Acadêmica Leonilda Yvonneti Spina
Advogada, escritora, poetisa, trovadora, declamadora

Dia dos Namorados


Véspera da Festa Litúrgica em comemoração a Santo Antônio de Lisboa.


(Fernão de Bulhões, que tomou à religião o nome de Antônio, nasceu numa casa junto da Sé Patriarcal de Lisboa; cresceu, estudou, viveu e entregou-se a Deus em Portugal e levou o seu saber e santidade à Itália e à França.) 

História de sua escolha como Patrono dos Namorados:

Pelos anos de 1450, viviam em Nápoles uma viúva e sua filha única, de rara beleza, virtude e espiritualidade. Originárias de família nobre, caíram na pobreza. A mãe, pensando que é a riqueza que dá aceitação social, e não tendo meios para dotar a filha de modo a permitir-lhe um casamento condigno, insistia em que a filha, usando de sua beleza, se prostituísse aos numerosos pretendentes que a assediavam. Ciosa da sua castidade, e fervorosa devota de Santo Antônio, dirigiu-se à igreja e prostrada diante da imagem do Santo, dolorosamente lhe pediu que lhe valesse. A imagem do Santo curvou-se; em sua mão trazia um papel em que estava escrito: “Dê a esta donzela, portadora deste papel, o peso do mesmo em moedas para constituir seu dote matrimonial”. E à moça, que estava de joelhos a seus pés, disse: “Vai à casa do mercador chamado... e da minha parte entrega-lhe este papel”. A menina obedeceu. Ao ler o escrito, o mercador deu uma risada trocista e mandou vir uma balança; num dos pratos colocou o papel e no outro, uma pequena moeda de mínimo valor. Mas a balança não se moveu. Então acrescentou mais uma outra moeda; e a balança continuou imóvel. E foi colocando moedas e mais moedas até que, atingindo 400 moedas de prata, a balança se equilibrou. Lembrou-se então o mercador que tempos passados prometera doar 400 moedas de prata a Santo Antônio, se conseguisse realizar um negócio em que ganhou muito mais. Esquecera-se da promessa e nunca a cumprira. Santo Antônio veio então pedir-lhe o seu cumprimento. A donzela conseguiu o seu dote e pôde casar honestamente segundo as leis da Santa Madre Igreja. 

Este é um fato. E por que é festejada à véspera? Nos tempos antigos, em que não havia as facilidades que existem nos dias de hoje, as peregrinações aos lugares sagrados eram feitas a pé, ou quando muito, em carroças puxadas a cavalos ou carros de bois. A viagem demorava dias e era calculada de modo a chegar, ao local da festa, na véspera de sua realização. Nessa noite, então, ao redor de uma fogueira, se fazia uma outra festa popular: o arraial. Com comida, bebidas, cantos e danças se trocavam os tradicionais vasinhos com manjericos, com cravo de papel espetado e, em cima, uma quadra. (Manjerico, meu manjericão; Amor da minh’alma, dá-me a tua mão.) Alcachofras se queimavam e se plantavam na terra. Se, no dia seguinte estivesse florido, em breve seria encontrado um marido. (Uma esperança para as solteironas.) E se o Santo não atendesse ao pedido, então a sua imagem era pendurada de cabeça para baixo, no poço do quintal até que atendesse os desejos.

Bons tempos! Em que a religiosidade, a ingenuidade, e a fé andavam de mãos dadas. Disse o Senhor: “Se não vos tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos Céus”.





Acadêmico José Ruivo da Silva   
Médico

Internet, e-mails e a língua portuguesa

Na introdução do meu livro “Encontro na barca e outras histórias de bahr” incluí alguns dados publicados na Revista Veja daquele ano (2005) reportando que 91% dos alunos da rede pública que terminavam o ensino fundamental simplesmente não conseguiam compreender os textos que liam.
As pesquisas atuais sugerem que nada mudou nestes quinze anos. Talvez tenha até piorado. Temo que não sejam apenas os alunos do ensino fundamental que tenham essa dificuldade. Quando leio alguns textos de estudantes universitários e até de profissionais formados respondendo e comentando artigos publicados nos blogs, portais de notícias e jornais, fico estupefato com as conclusões absurdas que emitem, geralmente fora do contexto principal do tema... sem contar o português pessimamente escrito. São pessoas que aparentam não entender nada de sátira, duplo sentido, escárnio, paródia ou de interpretações pessoais nos textos. São apenas leitores, no sentido literal.
Essa incompreensão tem origem na falta de leitura e nas deficiências do ensino. É por isso que aparecem tantos erros de escrita em e-mails, cartas, opiniões dos leitores, artigos de jornais e portais, comentários nas redes sociais e nos textos dos próprios jornalistas. Concordância, palavras e frases erradas, além de tempos de verbos mal utilizados, surgem com uma frequência assustadora. 
A informalidade na escrita não deveria ser confundida com a liberalidade de se utilizar um linguajar chulo, ofensivo e pleno de erros, como muitos fazem. 
Vários professores universitários com quem conversei já ficaram rubros de raiva em alguma ocasião ao revisarem provas e dissertações dos seus alunos, pois raros são os que conseguem escrever bem. 
A língua é o maior tesouro de uma nação. É a língua bem escrita e bem falada que abre as oportunidades de emprego, convivência, sucesso e realizações das pessoas. 
Espero que não seja a minha intolerância causada pela idade que me impeça de enxergar, talvez, o futuro da comunicação entre as pessoas. Estarei eventualmente ignorando que essa linguagem misturada a hieróglifos, símbolos, sinais, erros e palavrões seja a nova linguagem internacional, o substituto do Esperanto, idioma criado em 1887 pelo filólogo polonês Ludovic Lazarus Zamenhof e que deveria unir todos os povos do mundo? 
Para ilustrar como a ignorância se espalha, seguem algumas frases estapafúrdias escritas por especialistas forenses, que recebi de um amigo por e-mail:

- Laudo descritivo de um perito judicial:
"um barracão com pé direito de 5 metros e pé esquerdo de 4 metros"

- Frase de um termo de encerramento de laudo judicial de processo na Vara Cível do Fórum João Mendes em São Paulo:
"Os anexos seguem em separado". 

- Relatório de um perito do Banco do Brasil:
"Visitamos um açude nos fundos da fazenda e depois de longos e demorados estudos constatamos que o mesmo estava vazio"  

- Avaliação feita por um oficial de justiça:
“Incluir na penhora um crucifixo, em madeira, estilo country - colonial, marca INRI, sem número de série" 

Acadêmico Julio Ernesto Bahr