Extratos da reunião de 09/02/2020

A primeira reunião do ano de 2020 celebrou um momento especial: a posse da nova diretoria eleita para o biênio 2020 - 2021

A presidente eleita, Ludmila Kloczak, procedendo à abertura dos trabalhos.
Sentados: Maria Lucia Victor Barbosa, Vice- Presidente em exercício e o
2o. Secretário Miguel Contani

Nosso Mestre de Cerimônias, Jonas Rodrigues de Matos comandou as apresentações

A Acadêmica Leonilda Yvonneti Spina leu o nosso Credo Acadêmico

A Vice Presidente em exercício, Maria Lucia Victor Barbosa, na ausência da Presidente Pilar Alvares Gonzaga Vieira, encarregou-se de proceder à transição de diretorias

A nova diretoria eleita posando para a foto: da esquerda para a direita, Neusi Berbel (2a. Conselheira Fiscal), Dr. José Ruivo (1o. Conselheiro Fiscal), Ludmila Kloczak (Presidente), Leo Pires Ferreira (2o. Tesoureiro), Miguel Contani (2o. Secretário) e Julio Ernesto Bahr (Diretor de Comunicações, nomeado na reunião). Ocorreu também a nomeação do Acadêmico Sergio Alves Gomes como Orador. Infelizmente, alguns diretores estiveram ausentes, viajando a trabalho. 


Kudmila Kloczak, a nova presidente eleita, leu o discurso de posse preparado pelo Vice-Presidente Clodomiro Bannwart Jr.

Bom dia a todos!
Gostaria, em nome da nova diretoria e desta Academia, dar as boas-vindas a todos os presentes.
Muitas vezes o que mais desejamos é compreender o caminho onde perfilhamos nossos passos. Hegel, o grande filósofo alemão, no entanto, já alertava-nos que o entendimento da temporalidade, escorreito na precisão cartesiana do deus Cronos, sempre chega até nós tardiamente. Como a coruja de Minerva que se lança a voar ao entardecer, assim também nós, no entardecer dos anos contabilizados, é que conseguimos perceber os rastros deixados por aqueles que construíram os alicerces desta instituição e do tempo presente, que agora desfrutamos.
Desde a fundação desta Academia Letras, Ciências e Artes, em 1978, no salão nobre do Palácio do Comércio, pelo saudoso Dr. João Soares Caldas, passando pela presidência do igualmente saudoso Dr. Leonardo Prota, e das duas presidentes que a conduziram na sequência, as acadêmicas Leonilda Yvonneti Spina e Pilar Alvares Gonzaga Vieira, estamos nós, integrantes desta nova diretoria, assumindo, nesse momento, honrado desfio de dar continuidade ao trabalho de nossos precursores.
Cito uma frase conhecida do poeta espanhol, Antonio Machado: “Caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao caminhar”. O presente completou a obra daqueles que vieram antes de nós. Cabe-nos, agora, parafraseando o poeta, fazer o caminho, caminhando. Se o passado envelheceu, fez história e recolheu-se à memória, é tempo, uma vez mais, de a coruja levantar voo ao cair o crepúsculo. É testada a nossa capacidade de enxergar no escuro, de tatear o futuro e de acolhê-lo com responsabilidade e firmeza.
A nova diretoria assume o compromisso de honrar os pilares estruturantes desta Academia que é, sempre foi, e continuará sendo o compromisso com a cultura e com as letras e, acima de tudo, a convicção de que as ciências e as artes, a epistemologia e a estética, a verdade e a beleza, jamais serão contidas pela ignorância ou distorcidas por aqueles que desejam falseá-las ou aniquilá-las. Temos, sim, enquanto acadêmicos e acadêmicas, um compromisso inarredável com a cultura e com o conhecimento – patrimônio da humanidade.  Estes pilares constituem o candeeiro a iluminar nossos passos, a clarear o caminho, a desenhar, por fim, o próprio caminho. 
Como dizia Cícero, “as dificuldades não estão no caminho, mas na forma de caminhar”. E eu posso dizer aos senhores e senhoras, confrades e confreiras, que não temos um caminho novo a apresentar. O que temos de novo a oferecer, talvez, seja um jeito diferente de caminhar. E queremos caminhar irmanamos no espírito que agrega e unifica esta Academia.
De nossa parte, parafraseando o filósofo Montaigne, queremos deixar firmada “a possibilidade de sonhar coisas impossíveis, e de caminhar livremente em direção aos sonhos”. E se nos questionarem:  por que os sonhos? A resposta, valendo-nos do escritor uruguaio Eduardo Galeano: para que não deixemos de caminhar! Sonhos, enfim, que queremos materializar de forma partilhada, por meio das letras, das artes e do conhecimento conferido pelas ciências.
Muito obrigada!

O decano de nossa Academia, Dr. José Ruivo da Silva, preparou um pronunciamento que foi lido pela Acadêmica Neusi Berbel. Externou os cumprimentos à presidente Pilar Alvares Gonzaga Vieira pela gestão que se encerra e pelos trabalhos desenvolvidos, agradecendo-lhe inclusive pela gentileza em ceder à Academia as instalações do Instituto José Gonzaga Vieira; desejou também muito sucesso à nova  Diretoria eleita. Fez ainda uma análise aprofundada sobre o 14o. Encontro das Academias do Paraná, que foi realizado nos dias 15, 16 e 17 de novembro aqui na cidade de Londrina, organizado por nossos acadêmicos. E conclamou nossos acadêmicos a colaborarem com uma participação mais ativa nas atividades da instituição.


O Maestro Fernando Mourão, acompanhado das cantoras Luana Corrêa e Juliana Petrucci, brindou os presentes com várias belas canções

“A pequena Kim Phuc e a Guerra do Vietnã”
Mário Jorge de Oliveira Tavares *

O palestrante procurou apresentar uma visão panorâmica envolvendo a Guerra do Vietnã, uma guerra ideológica das mais violentas depois da Segunda Guerra Mundial, no contexto da Guerra Fria, onde estavam em jogo duas visões opostas do mundo, a do capitalismo e do comunismo.  Procurou também mostrar a importância do fotojornalismo e da imprensa livre, despertando na sociedade protestos pela paz em diferentes frentes e dimensões. Estes extratos são uma versão resumida da palestra.

A partir de 1858, expedições enviadas por Napoleão III (1º Presidente da Segunda República Francesa e, depois, Imperador dos Franceses do Segundo Império Francês, sobrinho e herdeiro de Napoleão Bonaparte), para proteger as missões francesas, levaram ao estabelecimento de um protetorado no Camboja (1863); com os tratados de Saigon e Hue a Cochinchina (denominação por 431 anos de 1516 a 1947, dada pelos portugueses ao extremo sul do Vietnã), que foi cedida à França.
Em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, os japoneses ocuparam o Vietnã, ainda colônia francesa, até a derrota do Japão em 1945.  
Os franceses não queriam abrir mão do domínio sobre o país, travando uma guerra ideológica de 1946 a 1954, conhecida como Guerra da Indochina, tendo o grupo Viet Minh (liga comunista chefiada pelo líder Ho Chi Minh), derrotado os franceses e declarando a independência do Vietnã. 
Em decorrência, houve a conferência de Genebra de 1954, tendo sido a região repartida em 4 partes: Laos, Camboja, Vietnã do Norte e Vietnã do Sul  O Viet Minh ficou com o controle do Vietnã do Norte, sob a presidência do comunista Ho Chi Minh. O controle do Vietnã do Sul ficou com Bao Dai (o último imperador do Vietnã), submisso aos franceses. 
Após a proclamação da República do Vietnã do Sul, assumiu Jean-Baptiste Ngô Dình Diệm implantando um regime ditatorial  marcado por autoritarismo, perseguição religiosa, nepotismo e corrupção.
O governo de Ho Chi Minh mantinha milhares de guerrilheiros infiltrados que realizavam atos de sabotagem no Vietnã do Sul. As tensões entre os lados aumentaram gradativamente no período de 1955 a 1959, e Ho Chi Minh, líder do Norte, convocou seus guerrilheiros para promover ataques contra o Vietnã do Sul.
O Presidente dos Estados Unidos à época, John F. Kennedy (1961-1963) era um crente fervoroso em conter o comunismo. Em seu primeiro discurso ao se tornar presidente, Kennedy deixou claro que continuaria a política do ex-presidente Dwight Eisenhower e apoiaria o governo de Diem no Vietnã do Sul. Observando o que vinha ocorrendo no Vietnã do Sul, convenceu-se de que Diem nunca poderia unir o Vietnã e concordou que a CIA deveria iniciar um programa para derrubá-lo.
Diem foi derrubado e executado em 2 de novembro de 1963 e Kennedy, assassinado em Dallas, 20 dias após, assumindo o vice Lyndon B. Johnson (ambos democratas). Em 1964, após o ataque vietnamita ao contratorpedeiro americano USS Maddox em  águas do golfo de Tonkin, o Congresso dos EUA autorizou o  presidente Lyndon B. Johnson a ampliar a participação dos Estados Unidos na guerra, que acabou ocorrendo em 1965.  
Em 1968, os Estados Unidos já contavam com mais de 500 mil soldados no Vietnã. Unidades militares pequenas da Coreia do Sul, da Austrália, da Nova Zelândia, da Tailândia e das Filipinas também ajudaram os sul-vietnamitas. Os governos comunistas da União Soviética e da China apoiaram o Vietnã do Norte e os vietcongues. Em fevereiro de 1968 os comunistas atacaram cerca de trinta cidades do Vietnã do Sul. Os vietcongues sofreram baixas pesadas nessas batalhas, mas também morreram muitos soldados
americanos. Houve o registro fotográfico do general Nguyen Ngoc Loan, chefe da Polícia Nacional do Vietnã do Sul, executando um prisioneiro vietcong algemado.  A imagem do fotojornalista Eddie Adams, foi mundialmente divulgada como símbolo antiguerra no período (recebendo o prêmio Pulitzer). 
O principal aliado vietnamita durante a maior parte da guerra foi a China. O fato do Vietnã do Norte ter optado, no fim da década de 50, por reconquistar o Vietnã do Sul através de uma guerra de guerrilha já revelava a aproximação com os chineses e a adesão à estratégia maoísta. Aviões de guerra americanos despejaram bombas sobre estradas e pontes do Vietnã do Norte – inclusive bombas de napalm (fluido incendiário pegajoso que adere de maneira inexorável a qualquer coisa que tocar, inclusive na pele humana, transformando seu alvo em cinzas). 
Na Guerra do Vietnã, o fotógrafo Huynh Công “Nick” Ut, a serviço da Associated Press, fez um registro histórico em 8 de junho de 1972, na estrada número 1 da cidade de Tran Bang. Julgou que quando viu pela primeira vez a explosão do napalm, não acreditou que houvesse civis na aldeia. Quatro bombas de napalm foram lançadas por avião Skyraider. Milhares de refugiados já haviam fugido da aldeia. Então avistou pessoas saindo da bola de fogo e começou a fotografar: primeiro houve uma avó carregando um bebê que morreu na frente da câmera. Então viu através do visor, a garota nua correndo sem roupas, que foram consumidas pelo fogo, assim como a pele das costas e do braço esquerdo. A garota era "a pequena Kim Phuc”, que originou o título da palestra.
Em 27 de janeiro de 1973, o Vietnã do Norte, o Vietnã do Sul, os vietcongues e os Estados Unidos assinaram um acordo para por fim aos combates. Os EUA então retiraram quase todas as suas forças do país. Mas a guerra não terminou, tendo os EUA, conforme acordado, mantido o fornecimento de equipamentos militares ao Vietnã do Sul. 
Contudo, em agosto de 1974, decorrente do “Watergate”, o presidente Nixon (republicano) renunciou. O Congresso agora de maioria democrata, não autorizou a continuidade de fornecimento de ajuda ao Vietnã do Sul, de nada adiantando o apelo dramático transmitido por rede de TV em 10.04.1975 do presidente Gerald Ford (republicano). 
O palestrante Mario Jorge Tavares com a
presidente da Academia, Ludmila Kloczak
Nos dias que antecederam a queda de Saigon, entre 15 e 28 de abril de 1975, os Estados Unidos montaram uma gigantesca operação de retirada de seis mil norte-americanos e 50 mil sul-vietnamitas. Mas na madrugada do dia 29, os revolucionários bombardearam pesadamente o aeroporto e Saigon tornou-se um beco sem saída. Assim, o Vietnã do Sul oficialmente se rendeu ao Vietnã do Norte comunista em 30 de abril de 1975, cessando assim 14 anos (1961 a 1975) dessa guerra ideológica das mais violentas depois da Segunda Guerra Mundial.,
Em 2 de julho de 1976, o Vietnã foi unificado como um país comunista, a República Socialista do Vietnã, tendo como capital Hanói.

* Nasceu em Portugal em 1947. residiu na França de 1949 a 1956, quando veio para Londrina. Especialista em Administração e Engenharia de Telecomunicações. Trabalhou como desenhista de Arquitetura e Eletrônica, foi profissional de telecomunicações na SERCOMTEL, professor de Engenharia de Telecomunicações na UNOPAR, no curso de Técnico de Telecomunicações no Ipolon e no Colégio Estadual Professor Vicente Rijo.
Associado ao Foto Clube de Londrina, onde foi presidente de 2008 a 2012. Autor do livro “SERCOMTEL – Marca de pioneirismo” Colaborou na elaboração do livro: "Londrina - Raízes e Dados Históricos 1930-2004" e no livro “Cliques e Escritos” do Foto Clube de Londrina em 2011. 

Ao final da palestra, houve intervenções dos convidados Dr. Luis Parellada Ruiz (Membro Benemérito) e Dr. Lauro de Castro Beltrão, que estenderam comentários sob o ponto de vista histórico e político da Guerra do Vietnã 





A Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina agradece pela inestimável colaboração de Ivan Luis Berbel de Carvalho e Daniel Martinon, que nos forneceram as fotos desta reunião