Dia da Palavra


Neste dia 23 de novembro, comemora-se o "Dia da Palavra como vínculo da Humanidade", promovido pela Fundação César Egídio Serrano, de Madrí, Espanha, que é também a mantenedora do "Museo de la Palabra" naquela cidade.

Em homenagem a esta data, publicamos texto da Socióloga e Acadêmica Maria Lucia Victor Barbosa (*):

No princípio era o verbo

Disse Zaratustra, o filósofo de Nietzsche: “Novos caminhos sigo, uma nova fala me empolga; como todos os criadores, cansei-me das velhas línguas. Não quer mais meu espírito caminhar com solas gastas”.

Novos rumos sigo nas veredas da palavra, talvez por ter percorrido antes muitos descaminhos nas trilhas do verbo onde tudo principia, ou quem sabe, porque a palavra hoje me conduz de forma mais intensa e não eu a ela. Na verdade, não apenas conduz como se leva uma criança pela mão, mas arrebata, subjuga, às vezes aniquila, esgota, pois a palavra pode ser turbilhão de amor. Como paixão de minha vida à qual dedico a existência, sei também que ela é traiçoeira. Foge de mim. Só vem quando cisma de aparecer. É como gato arredio, pois só deita no meu colo quando quer.

Com a palavra sou espadachim: corto, luto, firo e recebo de volta estocadas que ferem meu espírito hoje repleto de cicatrizes. Com a palavra posso fazer sombra, exalar perfume, ser buquê de rosas vermelhas, jasmins-do-cabo ao luar, suave trepidação de borboletas azuis ao pôr-do-sol. Com a palavra volto à casa de meu avô para descrever as cortinas brancas das janelas da grande sala de visita que esvoaçavam quais tênues fantasmas ao alvorecer.

Ah, palavra, à qual me escravizo, minha razão de ser, paixão candente, reverberação de dor. Com ela não tenho fronteiras, rompo mundos, alcanço estrelas, penetro em corações sequiosos de boas palavras e neles semeio sementes de flamboyants.

Ainda mais agora com essa a nona maravilha do mundo ao meu alcance, a Internet, potencializo a palavra e às vezes me vingo fazendo dela picadinho. De fato, a Internet é meu “fiat lux”. Através dela, como aprendiz de Deus, crio e me comunico com meus semelhantes. É só querer. Basta intuir. Está ao alcance dos dedos. Está dentro da mente ou no avesso do corpo.

Via computador as palavras são puro instrumento transmental, ligações extracorpóreas, comunicação atemporal, contatos de terceiro grau. Considere-se ainda que nesse universo mágico o que se escreve é de alta periculosidade, pois assim como nele se cria e se mantém também se destrói como na trindade dos deuses do hinduísmo: Brahma, Vishnu e Shiva.  Na internet muitos “crimes” são cometidos através da palavra, pois ela confere tanto o poder de exaltar quanto o de aniquilar sentimentos alheios.

Na palavra às vezes me refugio e ela me expulsa. Quando imploro por seu consolo ela me ignora. E se a quero comigo vai embora sem deixar rastro. Trabalhosa e difícil, sobretudo, quando escrita, me engana, me tortura com seus caprichos e se faz de rogada. E só quem a ela se submete para poder existir conhece o desespero de tentar desvendar seus mistérios. Ainda assim, ama a palavra.

Hoje entendo a simbologia de Thot, o deus dos escribas que pertenceu ao panteon egípcio. Para o povo que viveu na maior das civilizações já havidas, ele era o “senhor das palavras divinas” e os sacerdotes ligados à teologia de Heliópolis o qualificavam como “a língua de Aton”. Ao mesmo tempo, era considerado o inventor da palavra falada e escrita, assim como das fórmulas mágicas que conferiam poder aos deuses. Ele era a inteligência divina, o verbo divino. Também era o deus da lua, o guerreiro desse astro abençoado periodicamente por Seth. Elevado à categoria de demiurgo (criatura intermediária entre a natureza divina e a humana), lhe era atribuído o grito que saído de sua boca criou o universo. Ele era ainda o regulador do tempo e aquele que faz reinar a ordem no universo.

Thot era, pois, o grandioso senhor da palavra e a ele submeto simbolicamente meu incessante lavor que nunca se completa, que nunca satisfaz e que, ainda assim, me arrasta e faz de mim escriba que no Egito Antigo era tão valorizado, hoje nem tanto.

O que dirão diante deste texto os que porventura lançarem os olhos sobre ele?  Como traduzirão e decodificarão esses hieróglifos de minha alma? Nunca vou saber o que será alcançado, se produzi o tédio, se levei o leitor a abandonar essas poucas linhas, se conquistarei o plano de outras mentes que à minha virão através da palavra aqui lançada.

De todo modo, apresento aos que me lerem minhas escusas por planar sob os cumes altos da expressão onde é permitida a linguagem mais rarefeita dos sentimentos e dos sonhos.

Como rio caudaloso a palavra me arrastou, se impôs, me dominou. E assim, chego cansada ao final de mais essa jornada, ou seja, desse texto, consciente de que mesmo que um dia perca o pouco que tenho, ainda restará o que de mim faz um ser vivente: o verbo na forma escrita.

(*) Maria Lucia Victor Barbosa é nossa Acadêmica, socióloga por profissão, professora por missão, escritora por paixão.

Extratos da nossa reunião de 12/11/2017

Preparando-se para tomar assento à mesa diretiva: Presidente Pilar Álvares Gonzaga Vieira, ao centro, ladeada pela Vice-Presidente Maria Lucia Victor Barbosa 
e pelo Diretor de Divulgação Julio E. Bahr

Nesta reunião, a Mestre de Cerimônias foi a Acadêmica Ludmila Kloczak 


O Acadêmico Léo Pires Ferreira procedeu à leitura
do nosso Credo Acadêmico

MOMENTO DE ARTE
Para abrilhantar nossa reunião, os presentes foram contemplados com bela apresentação do Coral do Instituto José Gonzaga Vieira, dirigido pelo Maestro Fernando Mourão, com três canções do seu repertório. 
Trecho da apresentação. Clique para abrir.

O Acadêmico Julio E. Bahr entregou o Certificado de Participação ao 
Maestro Fernando Mourão

PALAVRA DA PRESIDENTE
Pilar Álvares Gonzaga Vieira

A busca da Felicidade

A felicidade, neste plano terreno, é almejada por todos os seres humanos, cada um tentando conquistá-la, segundo suas aspirações e desejos pessoais.
É necessário alcançarmos a compreensão de nossa verdadeira relação para com Deus e toda a humanidade, para recebermos a maravilhosa graça de sermos felizes aqui na Terra.
Deus criou o homem e nele infundiu uma parte de si mesmo, a fim de que o homem fosse feito a Sua semelhança ou a Sua imagem. Criados à imagem de Deus! Perfeitos, puros e imutáveis, imortais! E quando nos tornamos plenamente cônscios desta grande verdade, e sabemos que somos parte de Deus, a chamada individualidade humana perde todo o seu significado e nos apercebemos de nós mesmos, ou nos reconhecemos tão somente como humildes alunos, como parte intimamente ligadas a todas as outras almas, como partes necessárias a integrar e compor a Unidade do todo.
A interdependência do homem existe, porque é necessária a que o próprio homem exista. O homem não é hoje e nunca foi inteiramente independente. Ele gosta de pensar que o é, porém, quando se aprofunda nesta questão, apercebe-se e toma consciência de que, sem os outros, ele próprio não poderia ser o que é, nem estar onde está.
Podemos acaso admitir que algum indivíduo poderia subsistir se não fossem outros que suprissem suas necessidades? Como poderia alguém expressar seus pensamentos, seus ideais, dar expressão a seus talentos, a sua cultura, e a seu poder interior que está sempre buscando um canal de manifestação, e se não houvessem outras pessoas para apreciar todas estas coisas?
No entanto, a maioria dos homens, não se dá conta desta grande verdade. Pensa que, como deseja alguma coisa, deve recebê-la: e, assim, faz todo empenho em conseguir aquilo que quer, a despeito das consequências (aliás, nem pensa nas consequências), porque está concentrada em seu desejo de obter aquele objeto que considera tão necessário à sua felicidade.
Podemos acaso pensar que, com nossa mente preconceituosa, limitada, finita, podemos decidir o que é melhor para nós e, assim, simplesmente querer fazer qualquer coisa para obtê-la? Ao refletirmos sobre estas coisas, não podemos deixar de perceber como é absurdo pensarmos que nós podemos mudar as leis e os Decretos Divinos meramente porque queremos que algo seja feito!
Quando cessará o homem de pensar que sua vontade é o único fator a ser considerado?
O homem, em seu exagerado egocentrismo, pensa que sua vontade é tudo que se faz necessário considerar, e que seus desejos são, ou deveriam ser sempre satisfatórios com sua vontade. Como isto é egoístico!
Quando os amigos se voltam contra nós e nossa vida se torna insuportável, devemos parar e reconhecer isto: não é o mundo que está errado, e nem são as pessoas que estão erradas; somo nós!
E estamos errados porque estamos permitindo que todas essas coisas nos afetem, nos preocupem, nos influenciem.
Devemos considerar que, se compreendêssemos a Causa, o Motivo de todas essas condições, saberíamos então como enfrentá-las de modo que nunca provocassem um efeito desarmônico em nós mesmos.
Em primeiro lugar, não teríamos oferecido resistência e, assim não permitiríamos que adquirissem maior energia.
E, tendo-as compreendidas, sempre encontraríamos as causas de todas as discórdias da vida, e seríamos capazes de eliminá-las sem qualquer dificuldade.
O verdadeiro caminho da felicidade, aplicável a todos: tenhamos sempre a máxima consideração para com os outros, em todos nossos pensamentos, atos e palavras.
Deus nunca pretendeu que o homem fosse infeliz. A felicidade é um direito inato do homem, e o único fator que o está impedindo de desfrutar desse direito é o seu próprio e Insensato Egoísmo.
Por estarmos tão concentrados em nós mesmos, deixamos de gozar a felicidade que deveríamos ter e sempre viver.
Estamos tão orgulhosos de nossa pretensa independência que, construímos muralhas ao nosso redor, que a bondade, a alegria, a consideração e o amor não podem penetrar; e somente quando destruirmos essa muralha e nos conscientizarmos de que somos parte de Deus, e não criaturas separadas, é que a verdadeira felicidade estará conosco e conosco permanecerá.


DESTAQUES ACADÊMICOS

Dia da Palavra

O Acadêmico Julio E. Bahr fez uma breve intervenção para lembrar que no próximo dia 23 de novembro será celebrado o “Dia da Palavra como vínculo da Humanidade”. Informou que foi convidado pela Fundação César Egido Serrano, de Madri, que é mantenedora do "Museo de la Palabra” naquela cidade, para assumir aqui na cidade de Londrina o que denominam de “Embaixador da Palavra”, colaborando para desenvolver ações e iniciativas que tornem a palavra uma ferramenta contra a violência e que promova harmonia e convivência entre religiões e culturas diferentes.
Serão desenvolvidas algumas ações no próximo dia 23, com a participação da nossa Academia de Letras.
A Acadêmica Maria Lucia Victor Barbosa desenvolveu um artigo, com o título “No Princípio era o Verbo”, que deverá ser publicado em nosso site e em alguns veículos de comunicação.
E nossa Acadêmica Fátima Mandelli se prontificou a desenvolver no dia 23 um programa especial com os alunos do Colégio Estadual São José, em Cambé, onde é diretora, focando também a importância da palavra. 
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"O Nu na Vida"


Acadêmico José Ruivo

O Acadêmico Dr. José Ruivo enviou carta ao jornal Folha de Londrina solicitando espaço para a publicação da matéria que segue e que, a seu pedido, foi lida nesta reunião pela Acadêmica Ludmila Kloczak:

São tantas as pessoas que para ele (o jornal) escrevem, em especial na seção “Espaço Aberto”, fazendo alarde de seus Títulos Acadêmicos ou Profissionais, e são eles Professores, Mestres, Pós-Mestres, Doutores, Pós-Doutores, Investigadores, Escritores, Psicólogos, Pedagogos, etc., etc., que em presença de fatos simples e comuns do dia a dia, querem e podem influenciar todo o pensamento de pessoas menos informadas e mais crédulas, usando assim de sua especialidade de formadores de opinião, que eu, que me defino apenas como um Homem-comum que em breve completará 88 anos de vida, a caminho da Eternidade, me sinto quase inibido de pretender expor também algumas minhas reflexões pessoais.
Não pretendo falar aqui dos intelectuais, ou talvez pseudo-intelectuais que se limitam em glosar de múltiplas maneiras as ideias-mestras de outros emanadas, e que em geral pretendem defender  objetiva ou sub-repticiamente doutrinas que levam à negação da condição humana; no seu ser, no seu livre-pensar ou agir, na sua realização como seres humanos únicos e irrepetíveis; enfim: como Homens.
Recentemente dois fatos, em si aparentemente inocentes, despertaram uma furiosa verborreia, invocando múltiplos argumentos em sua defesa, largamente difundidos pelos meios de comunicação. Estou falando da apresentação de um homem nu, deitado no chão, exposto num Museu de São Paulo, e a que chamaram de nu artístico. Um segundo homem nu, dentro de uma enorme bolha de plástico foi apresentado nas margens do lago Igapó, em Londrina, segundo penso, inserido na sequência de um festival de dança. 
Para mim, cuja vida acadêmica e profissional de quase 70 anos, como aluno da Faculdade de Medicina de Lisboa, e especialista em Cirurgia Geral, a nudez exterior e, atrevo-me a dizer, também interior do corpo, sempre esteve presente no meu trabalho, como um fato normal no meu dia a dia. 
Se perscrutarmos a História (e Aristóteles dizia que, quem ignora a História, está condenado a repeti-la). Veremos que a nudez sempre esteve em todos os tempos.
Nos primórdios da humanidade, o homem primitivo, como qualquer outro animal, vivia nu, apenas caçando e coletando as frutas das árvores. E, quando teve frio, passou a usar as peles dos animais abatidos, como meio de proteção. E ainda hoje, em várias tribos que habitam em regiões de maior calor, em que a necessidade de livre transpiração condiciona a regular a temperatura do corpo, as pessoas, ou ainda andam nuas, ou usam roupas reduzidas. Assim na América, na África, na Austrália, ou em profissões que expõem os operários a calor excessivo. 
Na antiga Grécia, os atletas que participavam dos jogos olímpicos, os faziam nus; e talvez por isso as mulheres a eles não eram admitidas, nem como espectadoras. 
Outro aspecto se observa quando a exposição do nu tem por intenção última um apelo à erotização e ao livre uso do sexo.
O intento sexual é um dos mais impositivos instintos que, se não domados, controlam a vida humana. E, se habilmente manobrado, dá aos manipuladores poder sobre os outros homens.
Nada de novo sobre a face da Terra, diz o livro deo Eclesiastes. Já na Grécia Antiga, e a ela voltamos, há cerca de quase 3.000 anos, um senhor chamado Heliogábalo introduziu cenas de sexo explícito em suas representações teatrais. E se isto não era uma apelação ao uso do sexo livre, não sei o que seja. 
Mais tarde, em Roma, um imperador que reinou de 218 a 222 e cujo nome também era Heliogábalo, como sacerdote do Sol em Emeso, introduziu o culto do seu Deus Sírio. Excedeu-se em extravagâncias, mesmo na corrupta Roma – pelo que foi assassinado.
No dessoramento de costumes que se seguiu à Revolução Francesa, o apelo ao erotismo qujer pela exposição do nu masculino ou feminino está atingindo o seu apogeu.
No período da “Belle Époque”, em Paris, as cortesãs, também chamadas de “Preciosas”, eram sustentadas por grupos de seis amantes, que delas usufruíam os seus favores, um em cada dia da semana. O domingo era livre para descanso ou uma eventual aventura. Usavam roupas feitas de tecidos transparentes, que as deixavam praticamente nuas pelas ruas.
Hoje em dia, a transparência das roupas deixa por vezes à mostra o “soutien” e as calcinhas.
O nu feminino sempre foi usado como apelo à erotização, não só em prostíbulos, como nos teatros (“Folies Bergères”) como ainda nos mais variados anúncios que diariamente vemosem todos os meios de comunicação.
Por ser de difusão mais recente, embora nos clubes exclusivamente femininos exista em seus espetáculos de “strip-tease” em “privé”, a exposição pública do nu masculino, ao vivo, fez surgir esta agitação toda: que mais não é do que uma hábil propaganda de fato, tendendo a chamar a atenção para algo que, talvez até, tivesse passado despercebido pelo grande público.
É evidente (e lamentavelmente atualmente vivemos o século da negação da evidência) que os acontecimentos a que diariamente assistimos, e que aos olhos dos leigos desprevenidos podem parecer de geração espontânea, de há muito tempo estão programados, tendo em vista um fim último que é, na realidade, o tentar transformar a humanidade numa dócil manada de animais, controlados por um microchip implantado sob a pele da testa ou do dorso da mão direita; e seríamos como uma manada de bois, búfalos, elefantes, leões, ou lobos, em que apenas o instinto comanda, sem a existência de livre pensamento ou vontade, manada esta ao serviço de um pequeno grupo de senhores, absolutos donos de escravos.
As razões que movem estes senhores foram ensinadas por David Rockefeller que, da vetustez de seus 100 anos de vida dizia: “O exercício do poder absoluto tem um efeito orgásmico”. 
E nos perguntamos: porque será que os indivíduos que assim expõem suas intimidades o fazem? Será por dinheiro? Por prazer? Por puro exibicionismo? (que mais não é do que uma necessidade mórbida de ser admirado e incensado) ou são apenas levados a assim procederem pela clara intenção de defenderem as teorias mais em moda que a verdadeira liberdade transforma em libertinagem; que dos valores espirituais e morais que devem regulamentar as verdadeiras relações entre os homens fazem tábua rasa;  e da ilusão de que “podem ser como deuses” pretendendo abolir ou modificar as leis perenes da Biologia e da Anatomia, a seu bel-prazer.
Talvez que para o conjunto da sociedade fosse mais útil deixar caírem fatos como estes no esquecimento, do que estabelecer pseudodiálogos entre pessoas surdas e irredutíveis em suas posições.
Só há um diálogo verdadeiro quando as partes intervenientes estão dispostas, de mente aberta e desprovida de preconceitos, a ouvir, meditar, raciocinar sobre os argumentos em presença e sobre eles escolher os mais lógicos e coerentes com o pensamento humano: com a verdade.
Tudo o mais é pura perda de tempo ou um ineficaz exercício de masturbação intelectual.
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Relatório sobre o XII Encontro das 
Academias de Letras do Paraná
Acadêmica Fátima Mandelli

As Acadêmicas Fátima Mandelli e Leonilda Yvonneti Spina representaram nossa Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina no XII Encontro, que transcorreu na cidade de Cornélio Procópio. 
Fátima Mandelli fez um relato completo do evento, ilustrado por fotografias projetadas no nosso telão. 
(Veja no post anterior, abaixo, algumas das fotos exibidas na reunião).
Nossa Academia estará empenhada em promover o XIV Encontro, em 2019, na cidade de Londrina.
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PALESTRA


"TEMPO DE DÚVIDAS"
Acadêmica Maria Lucia Victor Barbosa

“A civilização brasileira, como a personagem de Machado de Assis, chama-se veleidade, sombra coada entre sombras, ser e não ser, ir e não ir, a indefinição das formas e da vontade criadora” -  Raymundo Faoro.

Teria alguma coisa mudado? Parece que nossa veleidade se acentuou neste quase admirável mundo novo Ocidental, no qual o ser humano se desestabiliza, se angustia e se perde nas dúvidas.  Prevalece a ditadura da esquerda, não a do proletariado porque essa não vingou, mas do politicamente correto através do qual ser tachado de intolerante, preconceituoso, conservador, estigmatiza quem ousa ostentar tais características. 
Não é possível relembrar em um pequeno espaço de tempo as teorias completas de Marx e Engels, passando por Lenin e Stalin até chegar à Antonio Gramsci e Louis Althusser que enfatizaram a importância das superestruturas. Bem observadas, porém, suas teorias têm uma essência comum que está sendo utilizada atualmente.
Marx e Engels enfatizarem a importância fundamental do que chamaram de infraestrutura (base econômica, modos de produção) que tudo determinaria em uma sociedade, ou seja, a superestrutura.  Também pregaram o fim da propriedade burguesa, da liberdade e da individualidade burguesas, da família burguesa, da moral e da religião burguesas, que são justamente as superestruturas que devem se harmonizar com a infraestrutura.
Gramsci distinguiu na superestrutura a “sociedade política” e a “sociedade civil”, sendo que esta última se assenta na persuasão e diz respeito à ideologia em todos seus aspectos (religião, filosofia, direito, ciência, arte, cultura, etc.) e às instituições que as criam e difundem (escolas, igrejas, meios de comunicação). Como a sociedade civil, na visão do pensador é “primitiva e gelatinosa”, a revolução socialista pode se limitar ao essencial: apropriar-se do aparelho coercitivo do Estado e em seguida desenvolver uma verdadeira sociedade civil em harmonia com a infraestrutura. 
Observe-se que Louis Althusser voltou ao tema e apresentou o problema da autonomia relativa das superestruturas, que chamou de aparelhos ideológicos do Estado (A.I.E), como o religioso (Igreja), o educacional (escolas, universidades), o familiar, o jurídico, os partidos políticos, o sindical, a mídia, o cultural (teatro, belas artes, literatura).
Destaca-se, segundo Althusser, a escola, que tem posição privilegiada por inculcar a ideologia dominante desde a infância.  Donde se conclui, que será fundamental que o Aparelho repressivo do Estado domine completamente os Aparelhos ideológicos.
O que acontece hoje mostra que a esquerda não desapareceu sob o fracasso soviético ou debaixo dos escombros do Muro de Berlin. Revive através de táticas mais sutis, baseadas na superestrutura e a escola se torna o grande foco através do qual se pode despersonalizar a delicada mente em evolução de crianças e jovens através do ensino da permissividade, da amoralidade, da dúvida sobre o próprio sexo.
Afrouxam-se, assim, normas sociais consensuais e intuições são neutralizadas para que não mais se distinga entre o certo e o errado. Abole-se diferenças físicas e decreta-se que não existem mais meninos e meninas, em obediência a diretrizes do MEC. Por exemplo, através da Base Nacional Comum, o MEC impõe que na rede pública e privada tem que ser debatidas questões de gênero nas artes e nas ciências.
Na ideologia de gênero não são levados em conta também características psicológicas da identidade humana. O ser humano é considerado como assexuado e deverá escolher se quer ser feminino ou masculino, porque a dualidade homem e mulher não passam de imposições sociais. É como revogar a lei da gravidade.
Em magistral seu artigo, “Educação Sexual Compulsória, publicada no O Estado de S. Paulo em 08/06/2015, analisou o jornalista Carlos Alberto di Franco os efeitos das distorções desta, digo eu, deseducação:
1º) “A Confusão causada nas crianças no processo e formação de sua identidade, fazendo-as perder referências”. 2º) “A sexualização precoce, na medida em que a ideologia de gênero promove a necessidade de uma diversidade de experiências sexuais para a formação do próprio gênero”. 3º) “A abertura de um perigoso caminho para a legitimação da pedofilia, uma vez que a pedofilia é considerada também um tipo de gênero”. 4º) “A banalização da sexualidade humana, dando ensejo ao aumento da violência sexual, sobretudo, contra mulheres e homossexuais”. 5º) “A usurpação da autoridade dos pais em matéria de educação dos filhos, principalmente em temas de moral e sexualidade, já que todas as crianças são submetidas à influência dessa ideologia, muitas vezes sem conhecimento dos pais”. 
Sem dúvida, grande quantidade de crianças e jovens, advindos desse processo estarão despersonalizados, problemáticos, cheios de dúvidas, sem parâmetros morais em que possam se amparar. Isto já está existindo e a prova é o grande número de suicídios entre jovens.
É algo que nem Marx em toda sua imaginação poderia conceber. Especialmente, se a tecnologia e a ciência, que avançam com grande rapidez, forem apropriadas pelo partido único ou dominante, ou melhor, pela nomenklatura (termo que quando aparece com k remete ao grupo de membros do Partido na União Soviética que tinham privilégios inacessíveis aos indivíduos comuns. A nomenklatura foi reproduzida em ditaturas ou partidos de esquerda na América Latina).
Alguns dirão que incursionei na ficção científica. Será? Especialmente durante o governo petista foi concreto e não ficcional o incessante trabalho feito nas escolas junto às crianças e jovens no tocante a chamada ideologia de gênero que no momento continua. Nisso se notabilizou o então ministro da Educação, o petista Fernando Haddad.
Nas universidades se acentuou a doutrinação de esquerda, feita não por “intelectuais orgânicos” oriundos do proletariado como profetizou Gramsci, mas por professores da classe média convertidos ao petismo ou docentes oportunistas que se intitulam petistas para obter os privilégios e regalias que só são dados aos companheiros universitários.
No tocante a destruição da família composta por mãe, pai e filhos, impressiona a doutrinação homossexual feita através de novelas, revistas e jornais. Destaca-se a TV com sua poderosa influência sobre comportamentos, costumes e valores, que antes eram transmitidos pela família e pela religião, instituições que aos poucos vão perdendo a capacidade educativa e de influência.
Sobre o Direito, nada mais evidente do que a veleidade que se observa, inclusive, no Supremo Tribunal Federal através de suas idas e vindas, suas gambiarras jurídicas, seus julgamentos baseados não nas leis, mas em amizades ou interesses particulares, o que gera tremenda insegurança jurídica.
Em uma chamada “arte” surge o apelo à zoofilia, à pedofilia e ofensas à religião.
Nesse tempo de dúvidas, algo também se desenvolve sobre o que se denomina de esquerda e de direita. Na esquerda permanece a dicotomia do “nós contra eles”, mas à luta de classes prevista por Marx e que não se consumou foi substituída pela luta racial (negros contra brancos), pela luta de “gêneros” (heterossexuais contra homossexuais) e outras esquisitices, mantendo-se assim a chama do ódio entre os contendores. É o conhecido dividir para dominar.
Ser de esquerda, como reza o politicamente correto, é ser intrinsecamente bom, a favor do aborto, antissemita, contra os Estados Unidos, defensor de ditaturas venezuelana como a cubana, a venezuelana, etc. e, especialmente ser amoral o que é denominado de progressista. Existe até cristão marxista. Tudo isso deve fazer Marx tremer na tumba porque não diz respeito às suas teorias.
Quanto a direita é classificada como radical, fascista, intolerante, preconceituosa, conservadora, o que não passa de uma afirmação falaciosa porque, quando pessoas se revoltam contra a manipulação mental de seus filhos ou da dita arte, não expressam uma ideologia de direita, mas seus princípios morais e religiosos.
Entrega do Certificado de Participação
à palestrante, pela Acadêmica
 Leonilda Yvonneti Spina
E bom lembrar, que o conservadorismo na sua essência se refere à natureza humana não modificável pela ação prática, porquanto mergulha suas raízes em uma realidade sobre-humana. Em outras palavras, somos dotados de uma consciência e sabemos distinguir entre o bem do mal, em que pesem as várias noções de moral de cada sociedade.
Ao mesmo tempo, o conservadorismo indica que o poder político confiado ao homem é intrinsecamente tirânico se não for controlado. Daí a constante preocupação dos conservadores com a supremacia da Lei no Estado Democrático de Direito.
No momento a esquerda brasileira conta com a volta de Lula da Silva para se consolidar. O futuro dirá se queremos continuar como escravos de nós mesmos.

Maria Lucia Victor Barbosa é acadêmica, socióloga, 
professora, escritora.