PALAVRA DO PRESIDENTE
Leonardo Prota
O significado da experiência moral
Presidente Leonardo Prota e Acadêmico Prof. Nelso Attílio Ubiali |
É inerente ao ser humano a busca do sentido de sua
existência, a vontade de se realizar, de ser alguém, de ser gente.
Há uma clara distinção entre individuo e pessoa, assim
como entre natureza e cultura. O individuo é constituído de acordo com leis
determinadas pela natureza; a pessoa é livremente constituída ao longo da
existência, em processo de construção da personalidade e da formação do
caráter.
Em síntese, essa distinção torna-se mais clara pelo
aprofundamento da questão natureza e cultura, determinismo e liberdade. Resulta
aqui a importância do elemento ético na constituição da pessoa.
É oportuno lembrar a distinção entre livre arbítrio e
liberdade.
A possibilidade de escolha entre o bem e o mal é própria
do livre arbítrio; a liberdade, por sua vez, é a escolha do bem, visto que a
escolha do mal escraviza o ser humano. No pensamento kantiano, é livre o ser
humano que não é escravo de suas inclinações.
O papel mais importante dos pais com relação aos filhos é
de projetar, pela palavra e o exemplo, o ideal de pessoa ou a idéia de pessoa
ideal, que, no dizer kantiano, vislumbrada em nossa existência serve como
modelo, como estimulo às decisões humanas: decisões que nos aproximam desse
modelo resultam em realização do ser; decisões que nos afastam desse modelo
resultam em frustração do ser.
É verdade que as decisões morais são próprias de cada um;
mas, criar condições favoráveis para a criança vislumbrar a prática do bem como
valor em si é próprio dos pais.
Gilbert Hottois, em “El paradigma bioético”, esclarece
que o “o homem foi dotado não de moral e de valores determinados, mas da
capacidade de adquiri-los. Os valores do homem são produto de sua cultura.
(...) O que é hereditário é o poder, a capacidade de ética. A cultura em que o
individuo nasce é que orienta as suas decisões éticas.”
A vivência ética dos pais é o pano de fundo da
experiência moral da criança, do futuro adulto.
A moral pode e deve ser ensinada, não só pelo
conhecimento, mas pela vivência. Os valores devem ser interiorizados pela
educação, evidenciando sempre que deve-se ter em vista a livre adesão.
A vida em família deve propiciar esse sentido da
existência que é busca de vivência de valores.
Aqui vem a indagação: por que isso não acontece hoje em
dia?
Uma tentativa de resposta nos é dada por Dante Donatelli
em seu livro “A vida em família – As novas formas de tirania”. Esse livro
apresenta uma radiografia da família brasileira e revela uma inquietante
inversão de valores: os pais deram aos filhos uma autoridade que não lhes cabe,
satisfazendo seus desejos e fantasias no limite da irracionalidade.
Tornaram-se, assim, reféns de sua atitude. A conseqüência mais imediata são
jovens que não toleram frustrações, não conseguem formar uma escala de valores
e colocam suas necessidades acima das dos outros.
Os filhos, hoje, estabeleceram uma relação tirânica com
os pais: os papéis se inverteram por completo. Pais obedecem aos filhos;
perguntam aos filhos o que desejam comer, onde desejam estudar, se desejam ir a
tal lugar, se desejam essa ou aquela roupa...
Quais as razões dessa inversão de papeis nas relações
entre pais e filhos? A ausência dos pais na tomada de decisões, com base em
ideologias, fora do contexto, relativas à igualdade social e humana, a ideais
democráticos, ao fortalecimento da individualidade pelo egoísmo. Essa ausência
foi preenchida pelos filhos.
Deve-se ter presente que as crianças são seres em
formação e devem obedecer a uma sucessão de etapas até que atinjam a vida
adulta; por isso necessitam de um adulto que se responsabiliza por elas nos
planos familiar e escolar. As crianças são sujeitos inteligentes, mas sua
compreensão limita-se ao seu estado formativo biológico é genético.
Pensar em relações democráticas é simplesmente
irresponsabilidade.
As vontades de uma criança, quando descabidas, se negadas
por um adulto não precisam de explicação. A negação não tem por base o
autoritarismo,mas a responsabilidade para com a criança. Entender os limites
que devem ser impostos a uma criança e ter com ela uma relação cooperativa é
tudo que realmente importa; fazer mais do que isso é não compreender as
divisões de papéis.
Todo e qualquer ser humano é provido de vontade, e
portanto também os filhos. Não se leva em conta, porém, que a vontade está
sempre relacionada com o intelecto.
É noto o pensamento escolástico, voluntas sequitur intelectum; quanto maior o conhecimento, mais
acertada a vontade. Dante Donatelli refere-se aqui a Piaget: as crianças
possuem uma autodeterminação inteligente, que necessita ser organizada e
disciplinada pelo mundo adulto.
Piaget parte da premissa de que os seres humanos nascem
providos de uma inteligência que se desenvolve e se aprimora com os anos e com
a educação. Até os dois anos de idade, a criança possui uma inteligência
corpórea, que se orienta pelos sentidos; nesse momento, para a criança, tudo se
sustenta somente no empírico e se resume a ações praticas: esse período é
denominado de sensório-motor.
O período seguinte, chamado de simbólico, desenvolve-se
entre dois e quatro anos, aproximadamente. Nele, a criança tem na imaginação,
na criação imagética e simbólica das coisas, seu desenvolvimento. A
inteligência oferece arcabouço para a criação imagética ao mesmo tempo que
simboliza, já pela linguagem, coisas como “o computador vai dormir agora” por
exemplo.
Na terceira fase, que ocorre entre quatro e sete anos, a
intuição se apodera do processo com uma necessidade de explicação acerca da
realidade das coisas.
Entre sete e onze anos se consolida a inteligência, que
opera com lógica e ordena os pensamentos conhecidos por meio de conceitos,
colocando-os em esfera de conhecimentos e saberes diferentes. Aqui a linguagem
assume uma função plenamente social, possibilitando maior interação.
A última fase ocorre a partir dos onze anos, quando a criança
já estabelece relações abstratas com tudo aquilo que e conhecido, impondo às
coisas e aos fenômenos todas as categorias formativas da inteligência, como a
intuição e a imaginação; assume uma linguagem abrangente e argumentativa com a
qual forma hipóteses e princípios para estabelecer raciocínios e argumentos. É
a fase abstrativa.
Assim como Piaget – afirma Dante Donatelli – acreditamos
que essa inteligência pode ser educada passo a passo. A prevalência das
vontades infantis sobre as dos adultos seria, em um simples silogismo, uma
prevalência da inteligência ou da vontade dos filhos, (crianças) sobre a dos
pais, (adultos) o que implicaria uma inversão da prerrogativa de educador sobre
o educando, ou seja, aconteceria justamente o oposto do que deveria ocorrer.
Dante Donatelli passa a relatar alguns exemplos. “Por
diversas vezes ouvi na escola que dirigi, que eram os filhos que escolhiam onde
estudariam, e não os pais; o que prevalecia era a vontade deles, dos filhos, e
não necessariamente a dos pais, e estou falando de alunos com idades entre seis
e oito anos. Relato aqui um desses momentos edificantes:
o caso de uma mãe que acreditava que a escola na qual a filha estudava não
propiciava o que ela esperava; porém, a vontade da filha de onze anos era estudar
ali. Mais aterrador do que isso é pensar que há pais que levam crianças de
quatro, cinco, seis anos para conhecer a escola e saber se elas gostam do local!
A convivência no ambiente escolar está repleta de
exemplos como esses, nos quais os filhos determinam aos pais o que é sua
vontade, mesmo que faltem claramente elementos para que se produza um juízo
melhor estruturado sobre os fatos e a realidade. Por mais inteligência que
possua uma criança, ela não está provida de condições para construir uma idéia
sólida acerca de uma boa ou má escola. Os elementos advindos da realidade
necessitam da analise feita por uma inteligência que a criança ainda não
possui. É sempre bom lembrar que elas são sujeitos em formação.
É preciso esclarecer de que vontade estamos falando –
continua Donatelli. Nietzsche afirma que a vontade pode se mover em duas
direções: para uma finalidade ou para o vazio, o nada. O niilismo é por si um em vão, e estar em vão é estar sem sentido em um vazio de valores e
princípios. Ao impor sua vontade, as crianças deixam os pais envoltos em um
grande vazio valorativo.
A permissividade que se vive hoje nas relações entre pais
e filhos remete a uma relação fundada em
alicerce do não sentido, da mais pura
irracionalidade; ao passo que, insistimos, o papel especifico dos pais é de
propiciar elementos do sentido da vida.
A indagação continua: por que os pais de hoje tem medo de
assumir o papel que lhes cabe, de autoridade e responsabilidade, na educação
dos filhos? A omissão deles abre espaço para os filhos se transformarem em
tiranos, cujos desejos devem prevalecer a qualquer preço. Resultado disso será
o de jovens adultos, privos de ideais, dominados por um egoísmo sem limites.
Seria interessante tratar, em seguida, das dimensões
constitutivas da pessoa; entre elas evidenciamos duas: a cidadania e a
solidariedade. Deixaremos esse assunto para a próxima reunião.
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APRESENTAÇÃO DO CORAL "MUSIARTE"
Breve trecho da apresentação do Coral Musiarte, do Instituto José Gonzaga Vieira, que veio enriquecer a reunião da Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina. A regência é do maestro Fernando Mourão de Oliveira.
(Ligue o som e assista em tela grande)
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CLARINADA
Apresentação da Acadêmica Rosa Maria Bomfim
O autor deste poema, além de poeta, foi diplomata, teatrólogo e ator. Filho de italianos imigrantes destacou-se como um dos renovadores do teatro brasileiro. Exerceu funções consulares em Londres, Atenas e Milão. Secretário de Cultura no governo de Juscelino Kubitschek, foi por ele intitulado "Agitador Cultural do Brasil". Organizou caravanas de cultura com estudantes de teatro por vários Estados brasileiros à procura de novos talentos movido pela paíxão à arte brasileira e muito me incentivou a cultivá-la.
Hoje, dia 8 de março, completa quatro décadas o Centro Cultural Paschoal Carlos Magno, em Niterói, que leva o nome do autor deste poema "Clarinada", que aqui apresento:
Eu acredito que me queres bem...
É bom acreditar numa afeição assim,
que nasceu não se sabe de que maneira,
mas que se saberá
certamente
como será o fim!...
Eu acredito que me queres bem...
É bom acreditar que se vive em alguém,
que a nossa imagem lhe enche o pensamento,
como de perfumes se enche a terra inteira
ao vir da primavera!
Que as nossas frases são
de longe repetidas ao compasso
acelerado de outro coração.
Eu acredito que me queres bem...
E abres tua alma ao meu olhar,
como quem abre as portas de uma casa,
ao sol e ao vento.
De par em par...
Eu acredito que me queres bem!
Tu só sabes dizer
apaixonadamente,
longamente,
as sílabas do meu nome vulgar,
e emprestas ao meu nome a doçura da flor
que se abre ao luar,
o brilho das pedras preciosas,
a inquietude de uma asa
que só quer voar sobre o jardim da tua boca!
Eu acredito que me queres bem!...
Se por acaso sinto em chamas a garganta
e a sede é tanta
que põe na minha boca a sede de um deserto,
toda te enche um desejo de cortar
as veias do pulso para matar
a minha sede ardente
com o vinho do teu sangue rutilante!...
Eu acredito que me queres bem!...
Um bem querer que tem qualquer coisa de leve e profundo,
qualquer coisa que não é deste mundo,
qualquer coisa que não tem explicação!
E este amor que se eleva alto como os condores,
é majestoso como as naus aventureiras,
é belo como a espada do horizonte
que degola a cabeça ígnea do sol!...
— Canta! E o seu canto é uma clarinada.
— Canta! E o seu canto lembra esses ventos vadios
que impulsionam a água dos rios
para a alucinação das cachoeiras!...
Eu acredito que tu me amas!
Teu amor tem mais fausto que o arrebol!
Teu amor tem as sete cores do arco-íris!
Teu amor é um turbilhão de músicas e chamas.
Teu amor de tão belo e tão violento
enchendo o céu de luz e a terra de canglores
teu amor é um canto de vitória!
Teu amor é um canto triunfal!
Eu acredito que me queres bem...
É bom acreditar numa afeição assim,
que nasceu não se sabe de que maneira,
mas que se saberá
certamente
como será o fim!...
Eu acredito que me queres bem...
É bom acreditar que se vive em alguém,
que a nossa imagem lhe enche o pensamento,
como de perfumes se enche a terra inteira
ao vir da primavera!
Que as nossas frases são
de longe repetidas ao compasso
acelerado de outro coração.
Eu acredito que me queres bem...
E abres tua alma ao meu olhar,
como quem abre as portas de uma casa,
ao sol e ao vento.
De par em par...
Eu acredito que me queres bem!
Tu só sabes dizer
apaixonadamente,
longamente,
as sílabas do meu nome vulgar,
e emprestas ao meu nome a doçura da flor
que se abre ao luar,
o brilho das pedras preciosas,
a inquietude de uma asa
que só quer voar sobre o jardim da tua boca!
Eu acredito que me queres bem!...
Se por acaso sinto em chamas a garganta
e a sede é tanta
que põe na minha boca a sede de um deserto,
toda te enche um desejo de cortar
as veias do pulso para matar
a minha sede ardente
com o vinho do teu sangue rutilante!...
Eu acredito que me queres bem!...
Um bem querer que tem qualquer coisa de leve e profundo,
qualquer coisa que não é deste mundo,
qualquer coisa que não tem explicação!
E este amor que se eleva alto como os condores,
é majestoso como as naus aventureiras,
é belo como a espada do horizonte
que degola a cabeça ígnea do sol!...
— Canta! E o seu canto é uma clarinada.
— Canta! E o seu canto lembra esses ventos vadios
que impulsionam a água dos rios
para a alucinação das cachoeiras!...
Eu acredito que tu me amas!
Teu amor tem mais fausto que o arrebol!
Teu amor tem as sete cores do arco-íris!
Teu amor é um turbilhão de músicas e chamas.
Teu amor de tão belo e tão violento
enchendo o céu de luz e a terra de canglores
teu amor é um canto de vitória!
Teu amor é um canto triunfal!
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O GRANDE IRMÃO.
O OLHO QUE TUDO VÊ.
A CAMINHO DA NOVA ORDEM MUNDIAL.
Acadêmico e médico Dr. José Ruivo
O Acadêmico Dr. José Ruivo fez uma explanação lembrando "os amígos de sábado" - um grupo de estudiosos que há 10 anos começou a se reunir em Londrina, mas que lentamente foi se dissolvendo "ou porque achassem as reuniões sem interesse, ou porque, como as avestruzes, enterravam as cabeças na areia, para não tomar conhecimento do perigo".
Citou vários livros, especialmente "A Verdadeira História do Clube de Bilderberg", do jornalista russo Daniel Estulin, livro que lhe abriu os olhos para o entendimento dos acontecimentos que afligem o mundo. Citou também "O Instituto Tavistock - As Forças Ocultas que nos Controlam", do mesmo autor, considerações que levaram o palestrante a criticar um artigo publicado no jornal Folha de Londrina em 21/02 deste ano, versando sobre a implantação de "chips" em animais de estimação - que funcionariam na verdade como um GPS, com finalidades muito além da simples identificação dos animais, como o controle absoluto da Humanidade.
Em favor de sua tese, de que o uso de microchip será transposto para o ser humano, o que faria parte dos planos para uma Nova Ordem Mundial, partindo de citações bíblicas, analisou acontecimentos em tantas partes do mundo que, a seu ver, levarão à instalação de um governo mundial ditatorial único.
Em favor de sua tese, de que o uso de microchip será transposto para o ser humano, o que faria parte dos planos para uma Nova Ordem Mundial, partindo de citações bíblicas, analisou acontecimentos em tantas partes do mundo que, a seu ver, levarão à instalação de um governo mundial ditatorial único.
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MOMENTO DE ARTE
A artista plástica Marli Pedrina Zanini prestigiou nossa Academia, apresentando sua obra "Inverno", quadro pintado à óleo; a artista tem desenvolvido vários trabalhos, com aprimorada técnica.
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PALESTRA
"A FALTA DE COMPLEMENTAÇÃO SOBRE A COLONIZAÇÃO DO NORTE NOVÍSSIMO DO PARANÁ"
Válter Durães Monteiro *
O
palestrante contesta os dados históricos da exploração do Norte do Paraná – sua
origem, as datas que constam nos livros da região e o fato de que os ingleses
sejam considerados os pioneiros nesta exploração. Para reforçar sua tese,
analisou vários livros, autores e documentos, frutos das suas pesquisas, como:
- o
botânico francês Auguste de Provençal Saint Hilaire, autor do livro
“Viagem pela comarca de Curitiba”, escrito em 1822;
-
Temístocles Linhares, tradutor do livro “Novo caminho no Brasil Meridional: a
Provincia do Paraná”, de autoria do engenheiro ferroviário e escritor Thomas P.
Bigg Wither, que fora motivado a vir para o Brasil conforme relato do botânico
Auguste de P. Saint Hilaire de 1872;
- a ordem
econômica (capitalismo) que predominava à época na Inglaterra;
- a
missão coordenada pelo Visconde de Mauá, denominada “Mato Grosso Surrey
Expedition”, que contou com a participação de Bigg Wither;
- o
objetivo dos ingleses, que seria a implantação da ferrovia posteriormente
denominada Transcontinental no ano de 1872;
- Simon
Joseph Frazer (Lord LovatT) o qual, atraído pela narrativa de Bigg Whiter
decide montar a Brasil Plantations Sindycate Company em nosso pais, entre
1910 a 1912;
-
brasileiros radicados anteriormente aos ingleses que vieram de forma esparsa e
fragmentada em volta de 1925;
-
desvirtuamentos no contexto da história de Londrina, cuja fundação nos é
passada como se fosse apenas em 1934;
- a
propriedade do então presidente do Estado do Paraná, Afonso Alves Camargo,
denominada Fazenda Cuati, que contou com Bertoldo Durães (antepassado do
palestrante), liderando 80 homens e uma mulher integrados no processo da
implantação do café na região de Londrina ainda em 1927.
* Filho e neto de pioneiros de Londrina, que posteriormente foram agentes da Cia. do Norte do Paraná. Estudou no Colégio Diocesano de Botucatu e Cristo Rei de Jacarezinho, ambos dirigidos pelos Padres Palotinos
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OS OITO PILARES DA SABEDORIA GREGA
OS OITO PILARES DA SABEDORIA GREGA
Autor: STEPHEN BERTMAN
Traduzido do inglês (título original: The
Eight Pillars of Greek Wisdom) por Maria Luíza Newlands. Rio de
Janeiro: Sextante, 2011 com 216 páginas
Sobre o Autor:
Doutor
(PH.D.) em literatura grega e latina pela Universidade de Colúmbia.
Especialista em estudos clássicos pela Universidade de Nova York e em estudos
judaicos e sobre o Oriente Médio pela Universidade Brandeis. Professor,
consultor educacional e palestrante.
Ao longo do texto, o autor analisa cada um dos “Oito Pilares” por ele detectados na construção e sustentação da sabedoria grega. Tais pilares são os seguintes:
1º pilar: o humanismo; 2º pilar: a busca da excelência; 3º pilar: a prática da moderação; 4º pilar: o autoconhecimento; 5º pilar: o racionalismo; 6º pilar: a curiosidade incansável; 7º pilar: o amor à liberdade; 8º pilar: o individualismo.
Seguem alguns destaques do texto, referentes aos três primeiros pilares focados pelo autor. Espera-se que tal degustação intelectual estimule a curiosidade e o desejo de ler a obra em sua integralidade.
Ao falar sobre o humanismo (1º pilar), o autor assevera que atualmente, “enfrentamos obstáculos que os gregos não conheceram. Não se trata de nenhum turbilhão ou monstro de três cabeças, mas de novas forças que conspiram para roubar nossa humanidade pedindo que sejamos menos do que somos. Entre algumas dessas forças estão, por exemplo, tecnologias que cada vez mais substituem o calor do contato humano pela fria eficiência das máquinas, mercados que nos convencem de que nosso valor é medido pelas coisas que possuímos e governos que, por serem muito grandes, nos convencem de que somos pequenos demais para realizar mudanças. No entanto, todas essas coisas- teconologia, mercado e governo – são criações humanas. Tudo o que é concebido pelo homem, nos lembram os gregos, pode ser modificado pelo homem, desde que haja empenho pessoal e vontade coletiva suficientes. Nossa tarefa é nada menos que reaver a nossa humanidade, tanto como indivíduos quanto como sociedade. E se quisermos modificar a sociedade, temos de começar por nós mesmos.” (p.29-30).
Em suas considerações sobre “a busca da excelência” (2º pilar), observa que “Na Gramática do universo grego, huamanidade não era um substantivo, mas um verbo: movimentando-se, mudando, evoluindo para uma realização mais plena de seu potencial interior. É algo que nenhum deus jamais poderia experimentar ou conhecer sentado presunçosamente no altar do Olimpo. O humanismo, o primeiro pilar, não consistia unicamente em congratulação pessoal, em aplaudir a humanidade pelo que era, mas implicava um processo dinâmico e progressivo de crescimento espiritual: a busca da excelência".
Afirma ainda que “O Poeta grego Píndaro nos deixou uma ode exaltando um competidor que vencera uma corrida de bigas em Delfos: Humilde quando a humildade é necessária, orgulhoso quando o orgulho o permite, servirei ao destino que preocupa minha mente, honrando-o com todas as minhas forças.
Esses versos, melhor do que quaisquer outros, expressam a justificativa da busca da excelência : a crença de que dentro da alma humana existe uma centelha divina e que é dever de todos soprar essa centelha para que ela se transforme em chama”. (p. 33, 38 e 39).
Ao destacar a importância da “prática da moderação” (3ºpilar), lembra o autor que “a necessidade de moderação era tão importante que havia uma inscrição gravada na pedra acima da entrada de um dos santuários mais reverenciados, o templo do deus Apolo em Delfos:Mêden ágan, ou seja, ‘Nada em excesso’ (p.48). Observa também que “a busca da excelência às vezes se torna tão absorvente que perdemos a perspectiva do restante de nossas vidas por causa de uma pressa compulsiva para atingir nossos objetivos. Os gregos antigos reconheciam isso e aconselhavam que se procurasse o equilíbrio e se evitassem extremos. (p.48). [...] “...os dois princípios, a excelência e a moderação, não são contraditórios: são complementares, na verdade. Pense no automóvel que você dirige. No piso, há o acelerador e o pedal do freio. Um faz você andar mais depressa; o outro diminui a sua velocidade. Mas para ter um carro de verdade você necessita dos dois. Num paralelo com a civilização grega, o pedal do acelerador representa a busca da excelência e o freio, a prática da moderação. Da mesma forma que precisamos dos dois pedais para dirigir um carro, os gregos antigos precisavam dos dois princípios para conduzir a civilização. E nós também precisamos deles para levar uma vida produtiva” (p.82)
Todos os pilares são interligados, é claro, na composição da ideia de sabedoria, no pensamento helênico. E, por isso, nos convidam a examiná-los, minuciosamente.
Para tanto, almeja-se a todos uma ótima leitura da referida obra.
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QUERO UMA ROSA VERMELHA
Apresentação pela Acadêmica Maria Lucia Victor Barbosa, de sua autoria
No dia 8 de março quero uma rosa vermelha para enfeitar meus cabelos e
me deixar mais faceira. Uma rosa que perfume minha feminilidade, que me
inspire a descobrir nos confins da humanidade o porquê de minha essência
e os mistérios que abrigo ao conter a maternidade.
E neste dia que é meu, que me deram de presente, quero um vestido rendado todo branco, imaculado, onde possa colocar entre frisos e babados a rosa vermelha orvalhada das lágrimas de outras mulheres que nunca foram felizes. Quem sabe assim eu pudesse resgatar-lhes a alegria.
Ah, neste dia que é das Marias de todo jeito e feitio, umas pobres, outras ricas, outras brancas de luar, outras tisnadas de ébano e aquelas orientais com seus olhinhos de amêndoa assim puxados para trás, não quero nem discursos nem palestras, nem queixumes, nem lamúrias, nem cantilenas, nem nada que seja falso mesmo que seja um poema.
Só quero meu alvo vestido, a minha rosa vermelha e quero descer a ladeira de outros séculos passados. Olhar nas brumas distantes, afastar véus e cortinas e me entrever sinhazinha na casa colonial de chão de tábuas corridas, de janelas de treliça por onde a rua espiasse e logo reconhecesse o trajeto tricotado com os novelos da história das mulheres brasileiras.
Na verdade muito espiei a partir daquele quadrado tão restrito e acanhado, mas do qual eu avistava um divertido planeta de onde um dia viria de maneira infalível e num cavalo montado o meu príncipe encantado, o namorado escolhido e por meus pais adotado.
Agora me vejo senhora. Tenho um senhor meu marido que me deram aos treze anos e me valeu sobrenome e muitos filhos bonitos que nem me deram trabalho porque Quitéria cuidou, deu seu leite, seu amor, enquanto eu ficava na rede me abanando de calor, engordando com os doces que me trazia Quitéria e pensando no domingo.
Domingo, que belo dia! É dia de sair, é dia do passeio esperado, de ver o mundo lá fora, o sol brilhando no espaço e me esquentando por dentro do espartilho apertado. De ir à missa bem cedo, de ouvir no campanário a melodia dos sinos. E de me jogar de joelhos nos degraus do confessionário. Que coisa melhor é esta de poder contar meus mistérios ao bom Padre Eleotério? Nem tanto por meus pecados que não são tão graves, mas sim de desabafar, pois o senhor meu marido anda para lá de esquisito. Vira e mexe aparece com um novo afilhado. E esses meninos morenos que brincam com meus lourinhos pondo toda a casa-grande em tremendo burburinho de onde brotam meu padre? Que fazer com essa minha ingenuidade?
“Faz nada não, minha filha. Isso é assunto de homem. Cuide de seus afazeres. Reze mais três rosários. Deus quis homem e mulher em destinos separados. O que o homem pode fazer nunca pense em repetir nem em seus sonhos sonhados, porque fazendo você Deus considera pecado”.
Agora venho de volta nessa ladeira do tempo subindo por cada século, sempre com a rosa vermelha e meu vestido rendado que arrasta pelo chão seus bordados delicados. A paisagem mudou. Vejo fábricas, lojas escritórios, lugares a fervilhar onde posso trabalhar se assim tiver vontade e o marido deixar. Vou a festas e teatros, além, é claro, da Igreja, onde rezo para Maria nossa rainha e padroeira. E a ela pergunto em vão: “Por que, minha Mãe, por que, ainda não veio permissão para a mulher receber bem mais alta educação?”
E a Santa a sorrir parecia me dizer: “Espera, minha filha, espera, que essas coisas hão de vir, mas nada vai lhe ser dado, é preciso conquistar, é necessário querer e sempre se paga um preço por aquilo a receber. Além do mais dobrará sua responsabilidade e muito cuidado com o que chamam de liberdade. Se dela não fizer bom uso, virá a liberalidade e isso jamais trouxe ao mundo a sonhada felicidade”.
Eis-me agora retornada das ladeiras da vida ao ponto de minha partida. Reparo, então, em coisas que antes não reparava. Há diplomas conquistados no universo feminino. E quantas mulheres vejo em cargos dos mais elevados. Por todas as partes estão, pois muito se obteve com trabalho e educação. Conquista, é bem verdade, que fez redobrar tarefas entre a chefia da empresa e as lides do fogão.
Outras dão continuidade apenas à tradição e ainda espiam o mundo das janelas de treliça. Esperam pelo domingo e o dia da procissão. Desconfiam do marido se ele chega atrasado.
E existem muitas daquelas que em nome da liberdade trazida por novos tempos, apenas se aviltaram e mais se coisificaram sem perceber as coitadas que liberdade é uma coisa que deve ser bem usada.
Tampouco há liberdade no tolo palavreado cavado sobre o abismo do machismo e do feminismo. Nem na falta de cavalheirismo ou mesmo de romantismo tidos como obsoletos, mas cuja falta frustra, pois relações que se prezam vêm mesmo é do coração.
No dia 8 de março quero uma rosa vermelha, um vestido branco e rendado que arraste pelo chão um leque bem delicado, levemente perfumado, um amor e uma canção."
E neste dia que é meu, que me deram de presente, quero um vestido rendado todo branco, imaculado, onde possa colocar entre frisos e babados a rosa vermelha orvalhada das lágrimas de outras mulheres que nunca foram felizes. Quem sabe assim eu pudesse resgatar-lhes a alegria.
Ah, neste dia que é das Marias de todo jeito e feitio, umas pobres, outras ricas, outras brancas de luar, outras tisnadas de ébano e aquelas orientais com seus olhinhos de amêndoa assim puxados para trás, não quero nem discursos nem palestras, nem queixumes, nem lamúrias, nem cantilenas, nem nada que seja falso mesmo que seja um poema.
Só quero meu alvo vestido, a minha rosa vermelha e quero descer a ladeira de outros séculos passados. Olhar nas brumas distantes, afastar véus e cortinas e me entrever sinhazinha na casa colonial de chão de tábuas corridas, de janelas de treliça por onde a rua espiasse e logo reconhecesse o trajeto tricotado com os novelos da história das mulheres brasileiras.
Na verdade muito espiei a partir daquele quadrado tão restrito e acanhado, mas do qual eu avistava um divertido planeta de onde um dia viria de maneira infalível e num cavalo montado o meu príncipe encantado, o namorado escolhido e por meus pais adotado.
Agora me vejo senhora. Tenho um senhor meu marido que me deram aos treze anos e me valeu sobrenome e muitos filhos bonitos que nem me deram trabalho porque Quitéria cuidou, deu seu leite, seu amor, enquanto eu ficava na rede me abanando de calor, engordando com os doces que me trazia Quitéria e pensando no domingo.
Domingo, que belo dia! É dia de sair, é dia do passeio esperado, de ver o mundo lá fora, o sol brilhando no espaço e me esquentando por dentro do espartilho apertado. De ir à missa bem cedo, de ouvir no campanário a melodia dos sinos. E de me jogar de joelhos nos degraus do confessionário. Que coisa melhor é esta de poder contar meus mistérios ao bom Padre Eleotério? Nem tanto por meus pecados que não são tão graves, mas sim de desabafar, pois o senhor meu marido anda para lá de esquisito. Vira e mexe aparece com um novo afilhado. E esses meninos morenos que brincam com meus lourinhos pondo toda a casa-grande em tremendo burburinho de onde brotam meu padre? Que fazer com essa minha ingenuidade?
“Faz nada não, minha filha. Isso é assunto de homem. Cuide de seus afazeres. Reze mais três rosários. Deus quis homem e mulher em destinos separados. O que o homem pode fazer nunca pense em repetir nem em seus sonhos sonhados, porque fazendo você Deus considera pecado”.
Agora venho de volta nessa ladeira do tempo subindo por cada século, sempre com a rosa vermelha e meu vestido rendado que arrasta pelo chão seus bordados delicados. A paisagem mudou. Vejo fábricas, lojas escritórios, lugares a fervilhar onde posso trabalhar se assim tiver vontade e o marido deixar. Vou a festas e teatros, além, é claro, da Igreja, onde rezo para Maria nossa rainha e padroeira. E a ela pergunto em vão: “Por que, minha Mãe, por que, ainda não veio permissão para a mulher receber bem mais alta educação?”
E a Santa a sorrir parecia me dizer: “Espera, minha filha, espera, que essas coisas hão de vir, mas nada vai lhe ser dado, é preciso conquistar, é necessário querer e sempre se paga um preço por aquilo a receber. Além do mais dobrará sua responsabilidade e muito cuidado com o que chamam de liberdade. Se dela não fizer bom uso, virá a liberalidade e isso jamais trouxe ao mundo a sonhada felicidade”.
Eis-me agora retornada das ladeiras da vida ao ponto de minha partida. Reparo, então, em coisas que antes não reparava. Há diplomas conquistados no universo feminino. E quantas mulheres vejo em cargos dos mais elevados. Por todas as partes estão, pois muito se obteve com trabalho e educação. Conquista, é bem verdade, que fez redobrar tarefas entre a chefia da empresa e as lides do fogão.
Outras dão continuidade apenas à tradição e ainda espiam o mundo das janelas de treliça. Esperam pelo domingo e o dia da procissão. Desconfiam do marido se ele chega atrasado.
E existem muitas daquelas que em nome da liberdade trazida por novos tempos, apenas se aviltaram e mais se coisificaram sem perceber as coitadas que liberdade é uma coisa que deve ser bem usada.
Tampouco há liberdade no tolo palavreado cavado sobre o abismo do machismo e do feminismo. Nem na falta de cavalheirismo ou mesmo de romantismo tidos como obsoletos, mas cuja falta frustra, pois relações que se prezam vêm mesmo é do coração.
No dia 8 de março quero uma rosa vermelha, um vestido branco e rendado que arraste pelo chão um leque bem delicado, levemente perfumado, um amor e uma canção."