Extratos da reunião de 12 de março de 2017

Mesa diretiva, composta pelo palestrante Prof. Dr. Nestor Razente, nossa Presidente
Leonilda Yvonneti Spina e pela Vice-Presidente Maria Lucia Victor Barbosa

A reunião foi conduzida pelo nosso Mestre de
Cerimônias, Jonas Rodrigues de Matos

Leitura do nosso Credo Acadêmico, pela Acadêmica 
Dinaura Godinho Pimentel Gomes

DESTAQUES ACADÊMICOS

Homenagem ao Presidente Prof. Leonardo Prota, por ocasião do primeiro ano de seu falecimento.
Pelo Acadêmico Clodomiro José Bannwart Júnior

TRAVESSIA
Em novembro de 2011, pela última vez, eu caminhei ao lado do meu pai. Ao cruzar a avenida central da minha cidade natal, notei a lentidão de seus passos. O seu caminhar vagaroso indicava que, mais que atravessar uma avenida, ele estava concluindo a travessia da vida. Inúmeras foram as vezes que Jesus convidou os discípulos a empreenderem travessias em sua companhia.
Em Mateus, 14:22, lemos que Jesus convidou os discípulos a embarcar e aguardá-lo na outra margem, para que despedisse as multidões”. Porém, às vezes vagamos resignados no grande rio da existência – parafraseando Guimarães Rosa – em canoa de pau vinhático sem pojar em nenhuma das duas beiras. Buscamos distantes, isolados, a terceira margem do rio. A fé, alentada e sedimentada na alma, nos conduz confiantes a alcançar o outro lado. A vida é uma grande travessia. E Jesus afirmou que nós O reencontraríamos do outro lado da margem.
Eu e o pai atravessamos a avenida em silêncio e alcançamos o paço da Igreja Matriz, o Santuário da Mãe Aparecida. Os sinos repicavam lentamente onze horas. E como não há travessia sem despedida, foi ali, aos pés de Nossa Senhora, que, sem saber, eu estava me despedindo daquele que foi, além de pai, um grande amigo. 
E foi assim também que, em novembro de 2015, pela última vez, eu caminhei ao lado do meu segundo pai, o pai intelectual, mestre e professor Leonardo Prota. Seus passos lentos me recobraram, num instante, que a vida guarda sua limitação cingida à temporalidade. Ao atravessar a paisagem da vida, somos, ao mesmo tempo, feridos pelo tempo que crucifica nossa carne e transpassa nossa alma. É ele, o tempo, que mesmo sem autorização para devassar o nosso ser, revolve em nós as lembranças passadas, projeta a esperança vindoura e brinda-nos, de maneira fugaz e sorrateira, com o deleite do presente, com a vida presente, com o presente da vida.
O professor Prota, com sua maestria em manejar conceitos, sempre ensinou com palavras e ações o sentido da vida. Com ele dei os primeiros passos na compreensão do conteúdo de conceitos universais, tão caro ao debate medievo, avivado pela dicotomia entre realistas e nominalistas. O professor Prota sempre ensinava que a universalidade dos conceitos, sobretudo, os conceitos de humanidade e de pessoa, servem de suporte à proteção do núcleo essencial do ser humano, evitando que ele seja desalojado de sua dignidade. O professor Prota, antes de ser (tido) um renomado filósofo, foi um grande humanista.
Ao chegar na UEL, em 1994, como acadêmico do primeiro ano do curso de Filosofia, eu e os demais estudantes da época nos deparamos com um cenário acadêmico em ebulição, ainda sob o efeito da queda do muro de Berlin, em 1989. Os professores que haviam sido formados mais próximos à esquerda, alguns, inclusive, guerrilheiros confessos nas décadas de 1960 e 1970, oscilavam entre o discurso social democrata e o liberal. Alguns poucos marchavam sob a continência da ortodoxia marxista. Outros ainda, um bom número de ex-padres, se posicionavam à margem oposta da fé, na tessitura de argumentos céticos que faziam implodir no expediente de poucas aulas a pretensão metafísica do pensamento filosófico. No meio dessa torre de Babel filosófica estava o professor Leonardo Prota, um porto seguro para estudantes que, como eu, necessitava de calma para o amadurecimento de ideias e pensamentos. Sempre disposto a uma palavra amiga e que rapidamente se transformava em precioso ensinamento, o Professor Prota nunca deixou de portar o indispensável equilíbrio nos debates acalorados e o respeito para com a pluralidade de pensamentos e posicionamentos ideológicos. Nunca se deixou prisioneiro de “ismos” que sufocam a capacidade reflexiva, própria do fazer filosófico. Nele refletia a aura do pensador por excelência, do filósofo prático que conseguia assegurar inteligibilidade aos conceitos, ao mesmo tempo que conferia exemplo e atitude ao conteúdo ensinado.
A confiança que paira acima da dúvida e a irrenunciável convicção que brota da fé fortalecem o meu coração, fazendo-me crer que estes dois homens, sacerdotes do amor e do conhecimento, alcançaram a outra margem e desfrutam da eternidade, na presença de Cristo. Certamente nos deixaram, com seus exemplos, farta orientação para que tenhamos uma travessia segura.
Obrigado pai, pelo dom da vida!
Obrigado professor Leonardo Prota, por ter me formatado naquilo que eu sou: uma pequena nau, muito frágil por sinal, mas consciente da necessidade de empreender a navegação. Como afirma Fernando Pessoa: “É tempo de travessia/E se não ousarmos fazê-la/ Teremos ficado para sempre / À margem de nós mesmos.” 
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NÓS E OS ALGORITMOS  
Acadêmica Maria Lucia Victor Barbosa

Na sua magistral obra, Homo Deus, Yuval Noah Harari trata de temas extremamente complexos e instigantes de forma compreensível e didática. Entre outros assuntos ele mostra com clareza o que é um algoritmo, termo que vai entrando na moda, mas que é pouco entendido pela maioria:
“Um algoritmo é um conjunto metódico de passos que pode ser usado para realização de cálculos, na resolução de problemas e na tomada de decisões”. Como exemplo simples de algoritmo ele dá uma receita de sopa em que os “passos metódicos” são os ingredientes usados para fazer o alimento.
Acrescenta o autor do best-seller que já vendeu mais de dois milhões no mundo, “que os algoritmos que controlam os humanos funcionam mediante sensações, emoções e desejos”. Este é o ponto que desejo abordar rapidamente, deixando aos leitores de Harari o privilégio de mergulhar em sua obra que leva a profundas reflexões quanto ao futuro da humanidade. Isto porquê, se a tecnologia é algo extraordinário, dependendo do uso que se faz dela pode ser usada não para o bem e sim para o mal como tudo que é humano.
Um dos usos perigosos da tecnologia é o aperfeiçoamento da manipulação que sempre existiu, mas que agora é elaborada por técnicas cada vez mais avançadas. Sem perceber a maioria obedece aos interesses de governos, de partidos políticos, da mídia, do marketing, do mercado, da opinião pública, de outras entidades ou grupos. Isso se faz através de passos metódicos baseados em algoritmos que manipulam sensações, emoções e desejos.
Relembro que a manipulação é facilitada por conta das características psicossociais do ser humano. Uma delas é o aprendizado por imitação. Desse modo, a TV se torna um grande difusor de comportamentos. Através de novelas, modos de vestir de pentear de falar, de pensar caem rapidamente no gosto popular. Cantores medíocres são transformados em astros pop cujas canções são prontamente assimiladas. Participantes de programas de baixo nível ganham eleições.
Ao mesmo tempo, há uma necessidade do indivíduo se identificar com seus grupos que podem ser políticos, religiosos, de trabalho, de profissão, de amizade, etc. Por isto, comportamentos não aceitos pelos grupos resultam em sofrimento causado pela exclusão.
Em termos da própria sociedade que enquadra comportamentos, a opinião pública funciona com controle social e fator de manipulação. Por isso hoje em dia poucos se atrevem a ir contra o “politicamente correto”. Mesmo porquê, além de não ser agradável destoar dos demais existem sanções pesadas para o que passou a ser considerado como preconceito.
Porém, não dizer certas coisas não significa que se concorde com elas. Certamente Donald Trump ganhou a eleição para presidência dos Estados Unidos porque foi politicamente incorreto. Ele disse coisas que pessoas pensavam, mas não tinha coragem de dizer.
A mídia é outro poderoso instrumento de manipulação. Mesmo porquê existe o “setting”, um tipo de efeito social que compreende a seleção, a disposição e a incidência de notícias sobre temas que o público falará e discutirá. A agenda é pautada por diversas conveniências do governo e a necessidade de verba de publicidade dos meios de comunicação. O que um canal de TV, um jornal ou uma revista postam, todos seus concorrentes seguirão a pauta”.
Não se pode esquecer do marketing, hoje enriquecido pela Internet e sofisticado pelo uso de computadores que ditam o que devemos consumir. Inclusive, em quem devemos votar. Na verdade, em grande parte quem ganha uma eleição é o marqueteiro que constrói a imagem perfeita e irreal do político que o público deve consumir, ou seja, votar.
Inclusive, pesquisas sobre candidatos podem funcionar como marketing, pois as pessoas preferem votar em quem está na frente para se sentirem também vitoriosas.  
A mídia e o marketing são usados por governos e, como não podia deixar de ser, foi largamente utilizada pelo governo petista. Desse modo, Lula se tornou intocável e inimputável. Criticá-lo era sacrilégio, crime de lesa-majestade, algo politicamente incorreto. Ele teve bons marqueteiros que fizeram a mágica de apresentar aos eleitores o “Lulinha de paz e amor”.
Eleito presidente da República na quarta tentativa, Lula foi reeleito malgrado o escândalo do mensalão e, para provar que detinha quase a maioria do povo a seu favor elegeu e reelegeu sua sucessora, uma façanha política e tanto. 
Entretanto, uma das características da vida e das sociedades é o dinamismo e por um processo ligado a uma série de fatores mudanças acontecem mesmo em sistemas autoritários e totalitários. Nas democracias a satisfação ou a insatisfação popular se manifestam livremente e existe algo com relação ao qual nenhum marketing consegue fazer sua mágica, ou seja:  nenhum governo resiste quando a economia vai mal.
Os governos Lula da Silva e Dilma Rousseff mergulharam o Brasil na pior recessão da nossa história. Como consequência aconteceu o impeachment na esteira da insatisfação popular. Atentos às suas necessidades de votos, parlamentares foram sensíveis à reivindicação de milhões de brasileiros, que nas maiores manifestações já havidas no País foram às ruas pedir a saída de Rousseff.
O governo petista esboroou na esteira da insatisfação popular com o desemprego, a inflação, a inadimplência. Nas eleições municipais de 2016 o PT perdeu 60% de suas prefeituras e Lula viu minguar seu prestigio.
Diante disto, lideranças petistas agora fazem cálculos para recuperar o enorme poder que já desfrutaram, mas sabem que só podem resgatá-lo mediante a volta à presidência da República do seu único candidato viável, Lula da Silva, em que pese ele ser cinco vezes réu.
Lula sabe instintivamente manipular sensações, emoções e desejos. Em 2018 tudo vai depender das circunstâncias, mas é bom lembrar do que escreveu Nicolau Maquiavel, em 1513, na sua eterna obra, O Príncipe: “Os homens são tão pouco argutos e se inclinam de tal modo às necessidades imediatas, que quem quiser enganá-los encontrará sempre quem se deixe enganar”.

Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga, professora, 
autora entre outras obras de 
“O Voto da Pobreza e a Pobreza do Voto – a ética da malandragem” 
e “América Latina – em busca do paraíso perdido”. 
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Os jesuítas como educadores
Acadêmico Sergio Alves Gomes

Em harmonia  com a homenagem  prestada a José de Anchieta, pela Presidente da ALCAL,  Leonilda Yvonneti Spina, mediante a apresentação de poema de sua autoria, o acadêmico Sergio Alves Gomes fez a leitura  do seguinte texto histórico, pertinente ao tema,  escrito por Moreira de Azevedo, em 1893  e   citado por Arnaldo Niskier, na obra  “Educação Brasileira: 500 anos de história” (p.36-37), 2ªed. Rio de Janeiro:Consultor,1995.
“[...] Os jesuítas como educadores  [...] ‘A educação era feita pelos jesuítas, que foram os primeiros que abriram aulas no mundo descoberto por Cabral. Em seus colégios instituíram aulas, onde ensinavam os elementos da instrução e entregavam-se com todo o zelo à educação da mocidade, de sorte que entre os serviços importantes que prestaram esses padres à terra de Santa Cruz é preciso não esquecer o ensino que distribuíam à juventude.
Eram aulas desses regulares as únicas no abandono completo em que Portugal deixava viver em sua colônia. Nas capitanias em que tinham colégios ensinavam gratuitamente Gramática Latina, Filosofia, Teologia Dogmática e Moral, primeiras letras e Matemáticas Elementares. E essas disciplinas eram exercidas por professores de verdadeiro merecimento. Davam graus científicos, literários e teológicos, entre outros o de Mestre em Artes, que era então mais estimado do que é hoje o de doutor por qualquer academia. No colégio da Bahia, além daquelas aulas, criaram logo da de Retórica.
No Colégio de Piratininga, depois chamado de São Paulo, ostentou todo o seu zelo e manifestou sua dedicação evangélica o padre José de Anchieta. Encarregado do ensino dos neófitos, escrevia, na falta de livros, as lições nos cadernos que distribuía por cada aluno. Aprendiam assim os jovens catecúmenos e os filhos dos colonos os princípios das línguas portuguesa, espanhola, latina e brasílica ou tupi, indispensável para o trato com os indígenas. E para ensinarem esta última disciplina abriram os jesuítas escolas, que frequentavam chamando graciosamente, lá entre si, a língua indígena de grega, como escreve Varnhagen.
Para derramar na alma dos discípulos as sãs virtudes da fé e da caridade compunham eles romances ou antes baladas todas baseadas na moral cristã. Entoavam hinos sagrados, que eram repetidos pelos meninos índios de ambos os sexos, desenvolvendo neles o amor pela religião e a inclinação para a música.  E assim conseguiram muito. Bem conheciam eles a utilidade do meio que empregavam. Dizia o padre Manuel da Nóbrega: ‘Com a música e a harmonia atrevo-me a atrair a mim todos os índios da América’. Introduziram também as representações teatrais, como fizeram em Coimbra e em Évora. Em 1575 representaram em Pernambuco o Rico Avarento e o Lázaro Pastor. Punham em cena nesses dramas os mistérios do catolicismo, improvisando os teatros ou no adro ou no interior das igrejas, como por ocasião da quaresma, em que com cores vivas e naturais eram repetidos os grandes quadros dos martírios do divino homem do Calvário’.

(Texto de M.D. Moreira de Azevedo, “Instrução Pública nos Tempos Coloniais”, 
conforme citado por Arnaldo Niskier, na obra deste supra referida. 
Este mesmo autor informa como fonte de sua pesquisa a “Revista Trimestral 
do Instituto Histórico, tomo LXV, pp.141-142, publicada no Rio de Janeiro, em 1893).
     
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JOSÉ DE ANCHIETA
Poema apresentado pela Acadêmica Leonilda Yvonneti Spina, de sua autoria, em homenagem aos 420 anos da morte do Santo Jesuíta:


“Canário de Tenerife”, alça vôo
a Coimbra, que lhe aprimora o canto,
suaviza-lhe o trinado...
Vem gorjear em selvas brasileiras
para espalhar, com amor, a semente
da fé cristã que exalava fervente!

Anchieta chegou quando a Pária nascia
e ainda emitia selvagens vagidos.
Enfrentou desavenças, doenças, crueza, 
das flechas a destreza de índios temidos.

Pelo antigo caminho do litoral à serra, 
em áspera jornada, o jesuíta
funda São Paulo de Piratininga, 
que o futuro contempla pujante e bonita!

Quantos caminhos e veredas trilhou
a ensinar, catequizando, os curumins!
Pelo batismo, a fé cristã derramou
em almas pagãs de distantes confins.

“Caçador de almas”, invade o sertão 
com férrea coragem, áureo coração.
Nenhum sacrifício minava-lhe a vontade
de agradar a Deus, servir à Humanidade!

De tantos ofícios, de tanto saber,
não os queria somente para si...
Para isso aprendeu e ainda ensinou 
 a língua nativa Tupi-Guarani.

Franzino, pequeno, o Apóstolo bondoso 
sereno se entrega à sagrada messe.
Humilde, piedoso, logo se agiganta 
pelo saber que transborda com força tanta!

Saúde precária, de físico frágil, 
misteres diversos exercia tão ágil:
professor, carpinteiro, alfaiate, barbeiro,
(médico e enfermeiro, quando ali não havia..).
Manejava, ainda, com arte o fogão
 e calçados (para outros...)  também fazia,
pois, lhe aprazia andar de pés no chão...

Arauto da literatura brasileira,
escritor pioneiro, poeta de escol!
 encontrava tempo para versejar
em português, latim, tupi, espanhol.

Fronte aureolada de casta virtude, 
no duro trabalho, na lida tão rude!
À Virgem suplica que forças lhe traga,
quando em Iperoig em silêncio vaga, 
pois dos Tamoios de vê prisioneiro.
- Justo ele tão santo, tenaz, verdadeiro!

Pelas índias tamoias por vezes tentado, 
enquanto o corpo com a mente guerreia, 
com o bordão, a afugentar o pecado,
escreve, encurvado, mil versos na areia.

No longo poema em louvor à Virgem,
que imensa prova nos deixou de amor 
o imaculado “Embaixador da Paz”, 
dos Tamoios o “Pacificador”!

Divino menestrel que o solo brasileiro
fecundou com a força viva da fé!
Que com doçura, professor primeiro,
 amargando sofrimento, revolta e ira
acendeu na selva claro luzeiro, 
gênio incansável, como igual não se vira!

No altar da Pátria, teu vulto sagrado
se cobre de glória e respeito profundo.
Serás, para sempre, venerado!
Anchieta - Santo e herói do Novo Mundo!

A Acadêmica Saide Maruch apresentou sua tela retratando José de Anchieta, pintura a óleo
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PALESTRA

POVOAÇÕES ABANDONADAS NO BRASIL
Prof. Dr. Nestor Razente *

Livro do Prof. Dr.
Nestor Razente, que trata
do tema
A temática “povoações abandonadas” não é tratada cientificamente no Brasil. No restante do mundo, com exceção dos Estados Unidos e Chile, ocupa espaço reduzido nos diferentes campos do conhecimento, embora o fenômeno do abandono de povoações se apresente em diferentes países, desde os mais pobres até os mais ricos. Por povoação abandonada o autor entende um conjunto de edificações que outrora foi um lugar com moradias, escola, igreja e atividades comerciais, tendo sido arraial, vila ou cidade, e que, na atualidade (2015), encontra-se em ruínas (ou não), desabitado ou com pouquíssimas pessoas residindo. 
A pergunta fundamental que orienta a questão das “cidades fantasmas” é: por que, num mundo cada vez mais urbanizado, há cidades ou povoados com pouquíssimos (ou nenhum) morador?
Frente à complexidade da temática, na  palestra, assim como em seu  livro “Povoações Abandonadas no Brasil”, Nestor Razente discute as expressões consagradas para referir-se ao tema: cidade fantasma, cidade deserta, cidade morta, vila abandonada, atrofia urbana, decadência urbana, urbicídio, ruínas modernas, urban decline, entre outras. Para todas comparece um descontentamento com a imprecisão das denominações. Por isso mesmo, adota a expressão “povoações abandonadas”.
Cidades abandonadas são formações sócias da modernidade e pós-modernidade. Elas não foram construídas somente com a urbanização intensiva. Os vários exemplos existentes no mundo após o século XX, permitem tal afirmação. 
Para estudá-las, Razente refuta todas as teorias que tentam explicar a construção e abandono das povoações, em especial o declínio urbano (urban decline) largamente utilizado por intelectuais de língua inglesa. Conclui que não há uma teoria que dê conta do fenômeno. 
Assim como Janus, deus da mitologia clássica romana, que tinha duas faces, uma para cada lado, povoações abandonadas têm diferentes cargas conceituais. Mas todas indicam dois sentidos. Uma remete para a tarefa da construção, a outra aponta o horizonte da destruição. Encontrar os elos entre elas é a tarefa metodológica para conhecermos as povoações abandonadas.
Elas podem estar vazias de gente, mas não de História. Se repousam teimosamente, resistindo ao poder transformador do tempo, muitas delas em processo de degradação física, último estágio para a volta à Natureza, um dia conheceram a energia e a força da ação do homem e a vitalidade da vida urbana.
Apresentando seu livro
Belas e horrendas, evocando o passado e o presente, aparentando e ocultando, sendo testemunhas e vítimas do tempo, povoações abandonadas – e suas ruínas arquitetônicas – são inebriantes. Nelas quase tudo se personifica: Natureza, guerra, registro da História e do tempo, memória contra o esquecimento, futuro, alegorias, fascínio, simbologia e objeto estético. 
Assim, para reconstruir o esvaziamento populacional e o abandono do lugar deve-se ver tais povoações como vivências pretéritas encrustadas nos fragmentos ruinosos. São processos sociais e espaciais, faces de uma mesma moeda. Para tanto, deve-se explorar vários domínios do conhecimento humano: sociologia, história, geografia, urbanismo, arqueologia, economia, meio ambiente e arte. 
É o que o palestrante faz em seu livro quando reconstrói a história de oito povoações brasileiras, seis delas em ruínas: Airão Velho (Amazonas), Fordlândia (Pará), Ouro Fino (Goiás), Biribiri e Desemboque (Minas Gerais), Bom Jesus do Pontal (Tocantins), Cococi (Ceará) e Ararapira (Paraná). Em síntese, uma viagem pela história do Brasil.

Nestor Razente é licenciado em Filosofia, graduado em Arquitetura e Urbanismo, mestre em Desenvolvimento Urbano e doutor pela Universidade de São Paulo (USP). 
É professor da Universidade Estadual de Londrina desde 1981. 
Seu livro tem 325 páginas, dezenas de fotos e mapas. 
Está sendo lançado pela Editora da Universidade Estadual de Londrina (EDUEL)

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Mais uma vez tivemos a grata surpresa de receber o Sr. Klaus Nixdorf, que presenteou nossa Academia com a Coletânea 2016 da ALM - Academia de Letras de Maringá. Nossos agradecimentos!

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