Academia empossa quatro novos acadêmicos





No dia 8 de junho de 2014, a ALCAL - Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina promoveu sua Sessão Solene para dar posse a quatro novos acadêmicos, visando preencher as vagas daqueles que faleceram ou renunciaram no curso do último ano.

Tomaram posse:
- Clodomiro José Bannwart Jr. na Cadeira 17 (Patrono Lauro Gomes da Veiga Pessoa)
- Nelso Attílio Ubiali na Cadeira 21 (Patrono José de Alencar)
- Paulo Briguet na Cadeira 7 (Patrono Castro Alves)
- Ricardo Vélez Rodríguez na Cadeira 18 (Patrono Hermes Fontes)

Seguindo o protocolo da Sessão Solene, tivemos os seguintes pronunciamentos:

Do Acadêmico Sérgio Alves Gomes, recepcionando os novos membros

Ilustríssimo Senhor Professor Doutor LEONARDO PROTA, digníssimo presidente desta Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina, caríssimos confrades e confreiras, prezados colaboradores de nossa  Academia, autoridades e demais convidados presentes,  senhoras e senhores:
Neste especial momento, ao fazer uso da palavra,  faço-o com emoção e sob o jugo da honrosa, grave, mas também  prazerosa  responsabilidade que me foi atribuída pela Presidência desta casa, a fim de  apresentar e saudar  os novos Membros Acadêmicos que aqui aportam para enriquecer com seus talentos e obras a Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina. São eles: os Professores Doutores Clodomiro José Banwart Jr., Nelso Attilio Ubiali, Ricardo Vélez Rodriguez e o jornalista Paulo Briguet.   
Alegram-se os membros desta Instituição -  a qual se renova - sempre que    tem a fortuna de poder contar com novos e talentosos  integrantes, na certeza de que suas habilidades e qualificações estarão, doravante,  também  a serviço das finalidades desta Academia, de modo  especial , voltadas  ao aprimoramento das Letras, das Ciências e das Artes e à  divulgação à sociedade  de trabalhos de autoria de seus membros, consoante rezam os estatutos  que a constituíram. 
Toda Instituição, assim como cada pessoa física, está contextualizada no tempo e no espaço. No entanto, tempo e espaço, por mais que influenciem os contextos,  não são grilhões capazes  de prender o pensamento e a criatividade humana, na elaboração da cultura e na atribuição de sentido a tudo o que está relacionado com a vida e o convívio humano.  Neste sentido, por meio do pensar e do compreender o ser humano ultrapassa limites do tempo e do espaço, apesar de condicionado por estes. Esta ultrapassagem se expressa por meio das obras humanas e de modo especial por todo aquele acervo cultural de conhecimentos que repousa sob as denominações de LETRAS, CIÊNCIAS E ARTES.  Por meio destas -  tomada cada uma delas no sentido mais lato possível - a humanidade desenvolve e perpetua sua capacidade inventiva, suas descobertas, suas convenções sociais, faz o registro de sua memória, supera a destrutividade também inerente ao ser humano (para lembrar ERICH FROMM- em sua Anatomia da Destrutividade Humana) e produz  um  imenso legado cultural às gerações futuras, a compor  as civilizações . 
Infelizmente, em respeito ao tempo, teremos de apontar apenas alguns dados curriculares de nossos novos acadêmicos, alertados, todavia, de que tais dados se inserem num contexto de muitos outros não menos relevantes.

Curriculum Vitae de Clodomiro José Bannwart Jr. 

Pós-doutorando em Filosofia do Direito, como professor visitante na UNICAMP (bolsista CNPq); Professor  dos Programas de Mestrado em Direito Negocial e Mestrado em Filosofia na UEL; Professor convidado dos Cursos de Pós-graduação da Escola de Magistratura do Paraná; do Instituto de Direito Constitucional e Cidadania – IDCC;  e da Pontifícia Universidade Católica – PR. É Diretor vice-Presidente do Instituto Latino Americano de Argumentação Jurídica – ILAAJ e membro da Comissão de Assessoramento Técnico-pedagógico da DAEB/INEP do Ministério de Educação.

Curriculum Vitae de Nelso Attílio Ubiali:

Natural de Zoalta, Distrito de Uruguai, Município de Piratuba – SC. Licenciado em Letras e Pedagogia; Doutor em Letras; pela UNESP; Professor  da UEL, Departamento de Letras Vernáculas e Clássicas, onde lecionou Língua Portuguesa e Prática de Ensino de Português. Desde 1985, lecionou Língua e Literatura Latina, na mesma Universidade. Pesquisador, no Centro de Pesquisas do “Archivum Generale Poetarum Brasiliensium”, órgão da UNESP – Assis (SP) - de Estudos de Literatura Brasileira de Expressão Latina. Tem vários livros publicados.

Breve currículo de Paulo Briguet (texto com redação do próprio cronista autor do currículo)

A pessoa em questão nasceu no começo de uma noite de inverno paulistano, a 10 de julho de 1970. A mais remota imagem de sua memória é a de seu pai lendo um livro na poltrona da sala, em um apartamento da Alameda Barão de Limeira. Cresceu entre os livros do pai – (advogado, bancário e cronista) e da mãe (professora de história). O pai evitou seguir o caminho dos dois melhores amigos, que entraram para a luta armada, e resolveu formar uma família. Os dois amigos morreram.
A pessoa em questão morou em São Paulo durante a infância, em Araçatuba durante a adolescência e veio para Londrina há 25 anos, em 1989, para estudar jornalismo na UEL e nunca mais ir embora. Traz no sangue a essência das três cidades – a garoa de São Paulo, o boi de Araçatuba e o café de Londrina. Como viveu a maior parte de sua vida em Londrina, acredita que a sua alma é de um pé-vermelho. Aqui se casou com Rosângela e aqui nasceu seu filho Pedro.
A pessoa em questão tem o privilégio de trabalhar atualmente como assessor de imprensa na ACIL, uma das instituições mais tradicionais da cidade. Antes atuou como repórter, redator e editor na Folha de Londrina e no JL. Foi assessor sindical, ateu e militante de esquerda. Hoje é católico romano, conservador, assessor de imprensa e acredita que a política é a única maneira de combater os políticos. Publicou três livros de crônicas: Diário de Moby Dick (1995, em parceria com o pai, Paulo Lourenço), Repórter das Coisas (2003) e Aos Meus Sete Leitores (2010). Especializou-se nesse gênero menor: pelas suas contas, já escreveu mais de 700 crônicas nos últimos quinze anos.
A pessoa em questão tem muito honra em ser o menor e último entre os acadêmicos de Londrina.

Curriculum Vitae de Ricardo Vélez Rodríguez

Nascido em Bogotá (Colômbia, 1943). Naturalizado brasileiro em 1997.  
Estudos e Títulos: Licenciado em Filosofia pela Universidade Pontifícia Javeriana de Bogotá (1963). Mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (Área de concentração: Pensamento Brasileiro, 1974). Doutor em Filosofia pela Universidade Gama Filho do Rio de Janeiro (Área de concentração: Filosofia luso-brasileira, 1982). Pesquisa de Pós-Doutorado realizada no Centro de Pesquisas Políticas Raymond Aron, Paris (Tema da pesquisa: “Tocqueville au Brésil”, 1994-1996).
Matérias que leciona: Filosofia, Sociologia, Ciência Política, História das Idéias Políticas, História do Direito, Filosofia Brasileira e Latino-americana, Pensamento Político Brasileiro e Latino-americano, Ética no Serviço Público, Ética Empresarial, História da Cultura, História das Idéias Filosóficas no Brasil, História do Pensamento Político Brasileiro.
Experiência Docente: Professor Associado da Universidade Federal de Juiz de Fora (Departamento de Filosofia), a partir de fevereiro de 1985. Aposentado em Maio de 2013. Na UFJF foi Coordenador do Centro de Pesquisas Estratégicas da UFJF e do Núcleo de Estudos Ibéricos e Ibero-americanos. Professor Emérito da Escola de Comando e Estado Maior do Exército, ECEME, Rio de Janeiro, a partir de outubro de 2003. Professor Visitante do Programa de Mestrado e Doutoramento em Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, (2001). Trabalhou nas seguintes Universidades: Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, Professor Adjunto, entre 1983 e 2002.
Universidade de São Paulo, entre 1979 e 1980 (professor da cadeira de EPB).
Fundação Armando Álvares Penteado, entre 1979 e 1980 (professor da Escola de Comunicação).
Universidade Estadual de Londrina, entre 1980 e 1983 (professor adjunto do Departamento de História e Filosofia, Diretor pro-tempore do Centro de Letras e Ciências Humanas e chefe do Departamento de História e Filosofia).
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Professor Adjunto entre 1984 e 1989.
Uni-Rio, Rio de Janeiro, Professor Adjunto entre 1985 e 1989.
Universidade de Medellín (Colômbia), entre 1975 e 1979 (exerceu o cargo de Pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa).
Universidade Externado de Colômbia, Bogotá, Professor de Tempo Completo entre 1972 e 1973.
Universidade Pontifícia Bolivariana, Medellín, Professor de Tempo Completo, entre 1968 e 1971.
Universidad de Antioquia, Medellín, Professor catedrático da Faculdade de Direito e Ciências Políticas, 1975-1978.
Academias e Entidades Culturais e de Pesquisa: Membro da Academia Brasileira de Filosofia (Rio de Janeiro), do Conselho Técnico da Confederação Nacional do Comércio (Rio de Janeiro), do Instituto Brasileiro de Filosofia (São Paulo), do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira (Lisboa), do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, do PEN Clube (Rio de Janeiro), do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil (Rio de Janeiro), do Conselho Editorial da Editora do Exército (Rio de Janeiro, de 2004 até abril/2008), da The Planetary Society (Pasadena-Califórnia).
Tem vários livros publicados.

         (Após as apresentações curriculares dos novos acadêmicos, prosseguiu o Orador):

Senhor Presidente,  este momento solene está a exigir, obviamente,  uma reflexão, ainda que breve, sobre o tema “ACADEMIA”.
PIERRE HADOT, filósofo do College de France, estudioso da Filosofia Antiga, ensina-nos que na Academia de Platão (a primeira que recebeu a tal denominação)  “o que conta é a prática do diálogo e a transformação à qual ela nos conduz”.
Sabe-se que a  Academia platônica durou mais de 1000 anos ( de 386 ou 387 a. C .a 529 d. C.). Lamentavelmente, foi fechada por ordem do Imperador bizantino Justiniano. Mas, seu espírito,  apoiado nas bases da filosofia helênica, continuará ecoando pelos séculos afora a inspirar a fundação de novas escolas,  institutos, universidades e academias de Letras, Ciências e Artes, como esta que hoje festeja o ingresso de seus novos acadêmicos. 
Nota-se, pois, que  Academia é instituição   vocacionada  não apenas a permanecer na história, mas  para participar da construção da própria  história: história que é, ao mesmo tempo,  das Letras, das Ciências e das Artes.
A história humana é também história das Letras.  Letras que formam palavras. Palavras que compõem monólogos, diálogos, criam narrativas, elaboram  descrições. Palavras que produzem ensaios dissertativos, teses, poesias, peças teatrais, versos e prosas.  Palavras que dizem preces, sermões, palestras, conferências. Palavras que fazem livros, jornais, revistas, cartas, telegramas, e-mails...  Elaboram textos que falam de tudo e de todos, pelas mais diversas formas de expressão, desde que se queira compreendê-los, interpretá-los, por meio da atenta e amorosa  leitura.  Textos compostos de múltiplas linguagens. Linguagens que narram mitologia, falam de religião, convidam à Filosofia, expressam as   Ciências e possibilitam a difusão das  Artes. 
As letras estimulam vida, pois abrem caminhos a quem, de início, apenas  as soletra e, em seguida,  passa a namorá-las  e a amá-las.  E, quando o soletrar evolui, aumenta o desejo de letras, só letras, soletrar velozmente, ler, viajar com as letras. Em sua ótima companhia. Com elas, rompem-se os limites do trivial, amplia-se o mundo, viaja-se pelo universo, mesmo sem sair do lugar e sem correr  riscos dos possíveis acidentes rodoviários, marítimos ou aéreos. Elas, as letras, são generosas, disponíveis. Para encontrá-las, basta abrir um livro, um periódico, sair na rua e olhar para os anúncios. E aí começa o diálogo com o texto escrito. Tamanho é o seu poder e influência   que sempre acaba por nos transformar, ou seja, a provocar mudanças  em nosso modo de pensar, ser e estar.  Não por acaso o filósofo Wittgenstein,  em lapidar frase afirma  :” Die Grenzen meiner Sprache bedeuten die Grenzen meiner Welt: os limites da minha linguagem significam (são)  os limites do meu mundo”. 
Letras... o que que são as  letras? Sinais, signos. São símbolos que apontam para e possibilitam o entendimento  entre os seres humanos. Letras que se juntam a tantas outras letras em tantos idiomas, compondo a maravilhosa rede da  COMUNICAÇÃO HUMANA.
Letras que são sinais a clamar por uma hermenêutica inspirada na metáfora mitológica do mensageiro deus Hermes e que, como ele,  levam mensagens a todos os lugares do Planeta para aproximar, unir ou distanciar pessoas.  Letras que num piscar de olhos e num clicar do “mouse”, sem passaporte ou qualquer outra barreira, atravessam os oceanos, celebram a paz ou declaram a guerra.  Letras que por serem letras são muito mais do que letras.
Onde estão as letras? Em quase todos os lugares, mesmo onde não são percebidas. O que seria da Ciência sem as Letras? Não seria Ciência porque sem elas o saber não se comunicaria entre as gerações, não se multiplicaria  ou até mesmo não existiria. Mas, de mãos dadas com as Letras nasce a Ciência,  evolui e se expande pelo mundo, pelas escolas, pelos laboratórios, academias, bibliotecas,  institutos e  universidades.
Com as Letras também a Arte se faz. Seja em prosa, seja em verso. Na literatura de ficção, na poesia, nos palcos das artes cênicas, na voz dos atores, das atrizes, dos cantores e trovadores... Lá estão elas, as letras, discretas   mas presentes, guardadas na memória por meio do  texto decorado e interpretado nos teatros, nas casas de ópera e nos filmes. 
Mas o que seria das letras sem a Arte? Não teriam beleza, soariam toscas, sem gosto e sem estilo. Seriam pobres, frias, miseráveis letras. Mas se assim não são é porque as letras amam a Arte e a Arte, em muitas de suas formas, também é uma apaixonada pelas Letras.  É por isso que, dizer as letras com Arte  e fazer a arte com letras é  coisa para   quem gosta de Letras. Dizer Ciência com letras é fazer das Letras Ciência. Fazer Ciência com  arte  é Arte de quem sabe as Letras .
E se assim são, que sejam então para nós o estímulo à  amizade e ao contínuo diálogo da aprendizagem que é sempre  complementação .  Que sejam elas – Letras, Ciências e Artes  e esta Casa (Academia de Letras Ciências e Artes)  em que habitam -   a mola propulsora para o  prosseguir e o compartilhar do conhecimento, visando ao bem da humanidade.  Que a Academia, ao se renovar, seja cada vez mais a morada do falar e do ouvir, do pensar e do fazer,  do viver e do convívio, do  aprender a ser e do saber a aprender. Tudo com a dosagem necessária do desprendimento, da gratuidade, da humildade, na AMIZADE. Tudo, em busca de um mundo melhor. Um mundo para cuja leitura e compreensão   chamaremos sempre pelo socorro das Ciências, das Artes e das Letras. Certamente, o diálogo, a dialética desta tríade pode nos levar para muito além do comumente pensado, até às  misteriosas fronteiras do INDIZÍVEL que mesmo assim é PERCEPTÍVEL.      
Com tais esperanças e perspectivas, saudamos os novos integrantes desta  ACADEMIA, que chegam para professar  conosco  a crença nos valores proclamados  em nosso credo acadêmico. Bem vindos à ACADEMIA DE LETRAS. CIÊNCIAS E ARTES DE LONDRINA  e que  Deus os ilumine sempre na realização de suas obras.
Muito obrigado.

Em nome dos novos acadêmicos, coube a palavra a Clodomiro José Bannwart Júnior:
 
Fatos, conceitos e paradigmas


Cumprimento inicialmente os membros integrantes da Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina na pessoa de seu presidente, professor Dr. Leonardo Prota. Faço menção à memória do fundador desta Academia, Dr. João Caldas, que ao conhecê-lo e cumprimentá-lo em outubro passado, sem saber, nos despedíamos.
Cumprimento os demais convidados, autoridades, familiares, senhoras e senhores.
Na vida somos alvejados por um fluxo continuo de fatos. Fatos de toda ordem: políticos, econômicos, sociais, culturais, valorativos, existenciais, e tantos outros. Limitar-se a tão- somente enxergar fatos reduz drasticamente a intensidade de nossa capacidade compreensiva. O fluxo sucessivo de acontecimentos, em uma era digitalizada como a nossa, tende a potencializar o sentido do devir heraclitiano, afastando de nós a percepção do perene, do permanente, do eterno.
Contudo, há aqueles que se põem a lapidar conceitos para assegurar, por intermédio destes, a inteligibilidade dos fatos, da realidade dialética e contingencial na qual estamos mergulhados. Os conceitos não podem nem devem ser vazios e desprovidos de sentido, pois são ferramentas que nos dão acesso ao inteligível. Os conceitos desvelam o real dando-lhe significado e sentido. Somos exatamente aquilo que construímos conceitualmente. Como afirmou Buda: “Somos o que pensamos”. Nem mais nem menos. Aí está, mais do que a ciência, a sabedoria dos que manejam os conceitos conseguindo, de forma desafiadora, expandir a nossa compreensão de mundo, de vida, de existência, de fé, de humanidade e, sobretudo, de esperança. Estes são proclamados sábios.
Há, porém, aqueles que, além de dominarem conceitualmente a inteligibilidade do mundo, compreendem igualmente a estrutura do pensamento que molda os conceitos. Compreendem o paradigma de pensamento que situa a época e a historicidade em que vivem. Estes, creio eu, podemos chamá-los de mestres. Com os mestres enxergamos além do nosso tempo. Com eles podemos projetar sonhos e delinear, ainda que em expectativa, o futuro.
Em linhas gerais, sintetizo o meu sentimento – e, creio, dos demais colegas, Paulo Briguet, Nelso Attilio Ubiali e Ricardo Vélez Rodríguez – de alegria pela honrosa recepção na Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina.
Estamos, na verdade, sendo acolhidos numa casa muito especial que tece com cuidado e zelo o pensamento, que preserva o lastro de inteligência e de cultura da sociedade, que insiste em não deixar sepultar, em nossas memórias, aquilo que há de mais sagrado: o conhecimento. E, acima de tudo, estamos sendo acolhidos por verdadeiros mestres, de envergadura intelectual e ilibada reputação moral. Isso por si só nos alegra e nos emociona. Em meu caso, em
particular, alegria não porque serei como um dos senhores e senhoras, mas porque poderei estar entre os grandes e aprender. Diante dos grandes desta Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina eu me porto como Bernardo de Chartres que, no século XII, ao descobrir as obras de Aristóteles e perceber a grandiosidade de seu conteúdo, disse: “Somos anões, que ao subir no ombro desse gigante, poderemos enxergar muito além das nossas condições”. Que
bom estar entre os gigantes e, ao galgar os seus ombros, ter a sensação de visão ampliada, compreensão alargada, pensamento aberto. Até porque, pensamento é como paraquedas. Só funciona se aberto.
O apóstolo Paulo é um grande exemplo nesse sentido. Em sua pregação em Atenas, coração do pensamento filosófico, antes de ser conduzido ao Areópago para proferir seu discurso, andou pela cidade observando atentamente aos seus detalhes. E pôde notar que os gregos cultuavam vários deuses e, também, por receio de não prestarem culto a alguma destas
divindades, reservaram um pequeno altar com a seguinte descrição: “ao Deus desconhecido” (Ignoto Deo). No areópago, Paulo expôs, com cuidado, as seguintes palavras:
“Cidadãos atenienses! Vejo que, sob todos os aspectos, sois os mais religiosos dos homens. Pois, percorrendo a vossa cidade e observando os vossos monumentos sagrados, encontrei até um altar com a inscrição: ‘Ao deus desconhecido’’. Ora bem, o que adorais sem conhecer, isto venho eu anunciar-vos”. (Atos, 17, 22-23)
O apóstolo Paulo não estava ali como um mercador da últimas novidades do Oriente. Não apresentou aos gregos nenhum produto ou tecnologia de ponta. Estava simplesmente munido de palavras portadoras de sentido e de valores que tocavam a mente e o coração daqueles homens. E “a palavra” como disse Rui Barbosa “é o instrumento irresistível da conquista da liberdade”. A palavra foi suficiente para que, em pouco tempo, toda iconográfica pagã fosse
convertida em cristã. Com a palavra, Paulo desmobilizou o panteão de deuses que habitavam o Olimpo, havia mais de mil anos, para ceder lugar ao grande Mestre que, no entanto, se apresentou como humilde filho de carpinteiro: Jesus Paulo conhecia muito bem parte daquele público que dava pouco ou quase nenhum crédito às suas palavras: os filósofos epicureus, estócios e céticos.
Os primeiros, presos ao materialismo, não enxergavam além da própria matéria. Respondiam mais aos apelos da sensação do que da própria razão. Os segundos, imbuídos de exagerada autoconfiança cósmica compartilhavam, em muitos aspectos, da máxima que os nossos manuais contemporâneos de autoajuda proclamam com pouca tematização: “O universo conspira a nosso favor”. E os céticos, grande maioria naquela época, alimentavam-se da
desconfiança e da descrença, precipitando o pensamento e seus conceitos no niilismo.
A Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina nos incumbe de desafios que não estão distantes da realidade provada por São Paulo. Os “ismos” que aprisionam o pensamento continuam por toda parte. Porém, o mais significativo do debate acadêmico é que ele não apresenta nem a euforia radical tão-pouco o pessimismo dos materialistas, nem a utopia desmedida e tão-pouco o niilismo, mas a reflexão. A reflexão como ponto de encontro, diverso, amplo e aberto, de ideias e de conceitos. A reflexão enquanto palavra pensada. Como
disse José Saramago “Se Deus é o silêncio do universo, o homem é o grito que dá sentido a esse silêncio”. Sentido que as palavras grafam em nossas ações, atitudes e comportamentos.
E não poderia expressar o sentimento de alegria que invade a nossa vida nesse dia tão especial, senão por meio de palavras.
Encerro dispensando uma palavra ao presidente desta Academia, Dr. Leonardo Prota. Quero dizer, professor, que sou muito grato, pois parte significativa de minha formação foi obra silenciosa de seus conselhos e ensinamentos. Posso afirmar que o senhor tem uma característica singular que poucos possuem: a de fazer do distante um próximo, e do próximo um amigo.
E é como amigos que Paulo Briguet, Nelso Attilio Ubiali, Ricardo Vélez Rodríguez e eu batemos à porta desta Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina.
Muito obrigado.


Na sequência, as palavras do presidente da Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina, Prof. Leonardo Prota:

A criação de academias, desde o século XV, foi estimulada pelo desejo, de alguns intelectuais, de emancipar-se da tutela das universidades medievais. Com isso, contribuíram não só para tornar possível a investigação científica, como sobretudo para preservar suas descobertas.
Em certo momento, tais academias tiveram um sentido nitidamente conspiratório, e em meados do século XVI, na Itália, chamaram-se Academia dos Incógnitos; dos Secretos; dos Corajosos; dos Confiantes; e assim por diante. Galileu pertenceu à Academia dei Lincei, fundada em Roma em 1603, que, entre outras coisas, deu publicidade a seus livros.
Com o progresso da ciência moderna, foram criadas academias em inúmeros lugares, não mais com intuito conspiratório, mas com claro espírito de cooperação com outras instituições culturais.
Quanto à nossa Academia, em seu “Convite para Instalação da Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina”, no dia I/ de Setembro de 1978, nosso saudoso Presidente e Fundador Dr. João Soares Caldas designava a futura criação de nossa Instituição como “acontecimento que poderá marcar mais uma efeméride significativa na vida londrinense” (fato que efetivamente se verificou).
E prossegue o nosso autor: “Com grande conteúdo de fé na resposta à nova estrutura que está criando para fazer surgir os membros efetivos da Academia de Letras, Ciências  e Artes de Londrina, que vão representar os valores desta região, a demonstrar que o processo civilizatório aqui instituído já chega a um patamar desejado, de realização, nas letras, nas ciências e nas artes, a sua primeira diretoria executiva fará instalar, no dia 23 de setembro de 1978, a nova entidade, que pertence a todos”.
Permito-me sublinhar: “fazer surgir os membros efetivos da Academia, que vão representar os valores desta região”; a história de 35 anos de existência da Academia, sob o pulso sabiamente firme do imortal Presidente e de seu acertado norteamento impresso nessa travessia tornou-se patente realidade essa visão do Dr. João Soares Caldas; se lançarmos um simples olhar sobre os membros efetivos operadores dessa história podemos, com certeza, afirmar que representam os valores de nossa região. E este é o momento adequado para, uma vez mais, prestarmos homenagem ao nosso muito amado Presidente.
Continuando com o mencionado pronunciamento, ele afirma: “Na verdade as manifestações de cultura e ciência, o sentido espicaçado pelas emoções estéticas, que pressupõem a criação artística, constituem patrimônio comum, como a Academia que se pretende e se quer projetar”.
Toda herança histórica bem sucedida exige atualização meritória de continuação com vistas a um contínuo aperfeiçoamento, em particular quando o objeto é a cultura, que nunca pode ser considerada estática, mas sempre em contínua criação. Objeto de investigação e de discussão em reuniões de nossa Academia, portanto, será o conceito de cultura, hoje, socialmente, tão equivocadamente interpretado. Possivelmente, tomando como premissa uma conceituação de cultura geral que, de acordo com o pensamento do meu eminente mestre Antonio Paim, enfatiza os seguintes aspectos:
1-familiaridade com os valores de nossa civilização, assimilados criativamente de forma a poder avaliar com equilíbrio a experiência brasileira;
2-capacidade de expressar-se de modo correto, mediante o conhecimento da língua portuguesa e das obras clássicas de sua literatura, bem como das regras da lógica formal;
3-conhecimento do objeto, do método e da história das principais disciplinas científicas;
4-compreensão de que a cultura forma uma totalidade viva, em permanente enriquecimento, e que não se seciona em compartimentos estanques; cultivo de atitude respeitosa e interessada diante de suas diversas manifestações, e compromisso com o subsequente autoaperfeiçoamento.
Com relação às Ciências, pretende-se evidenciar a especificidade da ciência moderna, em seu sentido próprio, tanto como descoberta da verdade quanto como saber de índole operativa, de modo a evitar o equívoco muito frequente em nossa cultura onde se supõe que os outros tipos de saber, para terem alguma validade, deveriam perder a sua especificidade e reduzir-se à ciência, ou ainda que esta se acha conclusa e acabada, não nos restando nada a fazer senão cuidar de sua aplicação;
No que se refere às Artes e à Literatura, a forma mais adequada é a de inserir sua apresentação no contexto de que se trata.
Concluindo, esse é o plano de atividades de nossa Academia, que apresentamos aos Acadêmicos, hoje solenemente empossados.

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